floresta-amazonia-1-1024x677

Amazônia: impulsionado por incêndios, desmatamento cresce 91%

Novos dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontam para a grave situação da Amazônia. Além disso, revelam os impactos das mudanças climáticas neste fundamental bioma.

O levantamento destaca que o desmatamento na região aumentou 91% no mês de maio, atingindo 960 km². O número é o segundo pior da série histórica para o mês, atrás apenas do ano de 2021, quando 1.391 km² estavam ameaçados.

Números acendem um alerta para a situação na Amazônia (Imagem: Photo Spirit/Shutterstock)

Fogo foi o principal causador do desmatamento em maio

De acordo com o secretário executivo do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, João Paulo Capobianco, o trabalho revela que a floresta tropical está sofrendo um impacto “muito grande” da mudança climática. Ele afirmou que “os dados infelizmente começam a aparecer agora”.

Para se ter uma ideia, em maio do ano passado o desmatamento atingiu 502 km² de floresta. Já considerando os últimos dez meses, de agosto à maio desde ano, houve aumento de 9,7% na área desmatada.

Número de incêndios no bioma tem aumentado (Imagem: Toa55/Shutterstock)

Capobianco ainda explicou que a proporção de desmatamento em vegetação nativa atingida por incêndios aumentou de 10%, em 2023, para 23,7% neste ano. E que, em maio, o fogo foi o principal causador da devastação na floresta.

O impacto dos incêndios florestais ao longo da história foi relativamente baixo sobre a taxa de desmatamento. Mas, agora, com o agravamento das mudanças climáticas, com a maior fragilidade da cobertura florestal, primária inclusive, estamos começando a assistir uma mudança de cenário.

João Paulo Capobianco, secretário executivo do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima

Leia mais

Efeitos das mudanças climáticas propiciam aumento do desmatamento (Imagem: PARALAXIS/Shutterstock)

Muitos incêndios são causados pela atividade humana

  • Apesar do aumento do número de focos de incêndio na Amazônia ter ligação direta com os efeitos das mudanças climáticas, isso não exclui os impactos da atividade humana.
  • De acordo com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), nove mil propriedades foram notificadas por relação com os incêndios no bioma
  • Foram aplicadas multas que totalizam R$ 3 bilhões.
  • Além disso, foi reforçada a fiscalização com mais helicópteros e viaturas.
  • Para o combate ao fogo, o governo prevê a maior estrutura da história, com ampliação das equipes e repasse de R$ 405 milhões aos estados da Amazônia Legal.

O post Amazônia: impulsionado por incêndios, desmatamento cresce 91% apareceu primeiro em Olhar Digital.

floresta-amaznica-minerao-de-ouro-1024x673

Florestas não estão se recuperando após a mineração de ouro na Amazônia

Um artigo publicado nesta segunda-feira (2) na revista Communications Earth & Environment revela que as florestas da Amazônia no Peru não estão se recuperando após a mineração de ouro

Segundo o estudo, o problema vai além da contaminação por metais pesados: o solo está seco e sem capacidade de reter água. Um tipo específico de operação, chamada “mineração por sucção”, altera o terreno, esvaziando a umidade e aquecendo o solo, o que impede que novas árvores cresçam.

Em poucas palavras:

  • Florestas da Amazônia peruana não se regeneram após mineração de ouro por sucção intensa;
  • Além da contaminação, o solo fica seco, quente e incapaz de reter água, inviabilizando o reflorestamento;
  • Pesquisadores usaram drones e sensores para estudar áreas mineradas próximas à Bolívia e ao Brasil;
  • A mineração por sucção remove todo o solo fértil, criando montes de areia estéreis e lagoas contaminadas;
  • Essas pilhas de areia drenam água rapidamente e aquecem até 60 °C, matando mudas recém-plantadas;
  • Cientistas propõem rebaixar montes e nivelar terreno para ajudar raízes a acessarem a água subterrânea.
Áreas de mineração de ouro não se recuperam nas florestas da Amazônia peruana. Crédito: Kakteen – Shutterstock

A pesquisa ajuda a entender por que tentativas de reflorestamento na região de Madre de Dios, no sul do Peru, têm falhado. Em um comunicado, Josh West, geólogo da Universidade do Sul da Califórnia e coautor do estudo, explica que a mineração não apenas destrói o solo, como também o transforma num ambiente inóspito, seco e quente demais para qualquer planta sobreviver – mesmo mudas replantadas.

Drones examinam locais de mineração na fronteira com o Brasil e a Bolívia

Liderada pela cientista Abra Atwood, do Centro de Investigação Climática Woodwell, em Massachusetts, a equipe, formada por cientistas dos EUA e do Peru, estudou dois locais de mineração desativados próximos à fronteira com o Brasil e a Bolívia. Eles usaram drones, sensores e imagens subterrâneas para investigar como o solo foi modificado após a mineração.

A mineração por sucção, comum em operações familiares, usa jatos de água de alta pressão para soltar a terra. Esse material passa por filtros que separam o ouro, enquanto o restante, incluindo o solo fértil, é descartado. O que sobra são lagoas sujas e grandes montes de areia, que chegam a dez metros de altura, onde quase nada volta a crescer.

Diferentemente da mineração por escavação, que às vezes preserva parte do solo original, o processo por sucção deixa o terreno quase estéril. Os cientistas usaram um método chamado resistividade elétrica para medir como a água se move no solo e descobriram que os montes de areia drenam a chuva até 100 vezes mais rápido que o normal.

Garimpeiros pereuvianos usando eclusa para encontrar ouro na margem do rio. Crédito: Ken Griffiths – Shutterstock

Essas áreas também secam muito mais rápido após as chuvas, perdendo a umidade essencial para as plantas. Em comparação com florestas intactas, os solos das áreas mineradas estavam sempre mais quentes e secos. Em alguns pontos, a superfície atingia 60°C – o suficiente para matar qualquer muda recém-plantada.

Leia mais:

“Só existe uma Amazônia”

Imagens de câmeras térmicas instaladas em drones mostraram claramente o contraste: enquanto o solo afetado pela mineração “fritava” sob o Sol, áreas próximas à floresta ainda mantinham temperaturas mais amenas. “É como tentar plantar uma árvore dentro de um forno”, resume West.

Mesmo com alguns sinais de vida nas bordas das lagoas e áreas mais baixas, boa parte do solo segue estéril, especialmente nas regiões onde há acúmulo de areia. Esses locais ficam longe do lençol freático e perdem umidade rapidamente, o que dificulta o replantio de árvores.

Imagens aéreas sobre o desmatamento devido à mineração ilegal de ouro. Crédito: Christian Inga – Shutterstock

Entre 1980 e 2017, a mineração artesanal de ouro destruiu mais de 95 mil hectares de floresta tropical apenas em Madre de Dios. Isso equivale a uma área sete vezes maior que a cidade de São Francisco. A atividade segue crescendo e ameaça tanto a biodiversidade quanto comunidades indígenas da região.

Para recuperar essas áreas, os cientistas propõem uma solução simples: reconfigurar o terreno. Rebaixar as pilhas de areia e preencher lagoas abandonadas pode ajudar as raízes a alcançarem a água subterrânea, favorecendo o reflorestamento. Esperar pela erosão natural é inviável, já que o processo pode levar décadas.

“Só existe uma Amazônia”, lembra West. “É um ecossistema único no planeta. Se a perdermos, não há substituto.”

O post Florestas não estão se recuperando após a mineração de ouro na Amazônia apareceu primeiro em Olhar Digital.

floresta-amazonica-1-1024x576

Exploração de minerais estratégicos para a energia limpa ameaça Amazônia

Conhecida por abrigar a maior biodiversidade do planeta e funcionar como um grande filtro de carbono, a maior floresta tropical do mundo está no centro de uma nova corrida global: a Bacia Amazônica agora também atrai atenção por seus minerais estratégicos, essenciais à chamada energia limpa – como lítio, cobre, níquel e cobalto.

Esses minerais são fundamentais para fabricar baterias de carros elétricos, turbinas eólicas, painéis solares e até armas de alta tecnologia. No entanto, a extração desses recursos ameaça repetir velhos erros. A busca por “minerais verdes” pode causar novos danos ao meio ambiente e às comunidades locais.

Em poucas palavras:

  • Rica em biodiversidade e carbono, a Amazônia agora atrai mineradoras atrás de metais estratégicos para energia limpa;
  • Lítio, cobre e cobalto são disputados para fabricar baterias, turbinas e painéis, mas extraí-los ameaça florestas;
  • Países amazônicos, como Brasil e Bolívia, viram alvos de potências globais que disputam influência sobre seus minérios;
  • A mineração ilegal cresce, polui rios e fortalece grupos armados, enquanto a fiscalização continua frágil e desigual;
  • Para evitar novo ciclo de destruição, é preciso combinar justiça ambiental, participação local e regulação eficaz e global.
De borracha a soja, a Amazônia sempre atraiu exploradores; hoje, os minerais são o novo foco de interesses externos. Crédito: Nelson Antoine – Shutterstock

Historicamente, a Amazônia já foi moldada por ciclos de exploração. Borracha, madeira, carne e soja são exemplos de atividades impulsionadas por interesses externos. Agora, o foco é o subsolo. 

O Brasil é destaque nesse cenário, com o Complexo de Carajás, no Pará, que abriga uma das maiores minas de ferro do mundo, além de cobre, manganês e ouro. Mineradores internacionais também exploram bauxita no município paraense de Paragominas, reforçando o papel da Amazônia nas cadeias globais. 

Outros países da região amazônica também têm seus tesouros. A Bolívia tem reservas de estanho, ouro e terras raras. A Colômbia abriga o projeto Minastyc, que extrai tântalo e nióbio. Equador, Guiana e Suriname também se abrem para novos projetos.

Floresta Amazônica vira alvo de disputa por áreas de exploração 

A China, líder no refino de terras raras, amplia investimentos na América do Sul. Está presente no triângulo do lítio (Argentina, Chile e Bolívia) e mira também o Brasil e o Peru. EUA, Europa, Japão e Canadá reagem, buscando fornecedores fora da influência chinesa.

Com isso, a floresta vira alvo de disputas por áreas de exploração. Em muitos casos, os locais são remotos, com pouca infraestrutura e fiscalização. Dados da Rede Amazônica de Informação Socioambiental e da Agência Nacional de Mineração mostram que várias concessões minerárias se sobrepõem a terras indígenas e unidades de conservação.

De acordo com um artigo publicado pelo cientista político canadense Robert Muggah no site The Conversation, a falta de controle favorece práticas ilegais.

Cofundador do Instituto Igarapé, uma organização independente dedicada à integração das agendas de segurança pública, climática e digital e espaço cívico, e da Bioverse, uma startup de inteligência florestal, Muggah afirma que dissidentes das FARC e milícias armadas controlam parte do comércio de coltan e ouro na Colômbia. No Brasil, o garimpo ilegal cresce na área do Tapajós, apesar das ações governamentais.

Comunidades ribeirinhas na Amazônia correm risco de contaminação por mercúrio. Crédito: Divulgação/Polícia Federal

Além do desmatamento, a contaminação de rios por mercúrio afeta a vida aquática e intoxica comunidades ribeirinhas e indígenas. A crise vai além do ambiental: a mineração ilegal enfraquece o poder do Estado, corrompe autoridades e aumenta a violência. Na Venezuela, o Arco Mineiro do Orinoco virou palco de conflitos entre o Exército e grupos armados, com trabalho forçado e destruição em larga escala.

Países amazônicos buscam melhorar a regulação

Segundo Muggah, alguns países tentam melhorar a regulação. A Colômbia criou um registro digital para rastrear a origem dos minerais. O Brasil conta com o Código Florestal e órgãos como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Bolívia e Equador oferecem plataformas com dados ambientais, mas a fiscalização ainda é falha, principalmente em áreas de fronteira.

A comunidade internacional também tenta ajudar. Programas como a Iniciativa para a Transparência nas Indústrias Extrativas (EITI) propõem maior controle e participação social. A Convenção da Organização das Nações Unidas Contra o Crime Organizado Transnacional também é citada como ferramenta de cooperação. No entanto, sem apoio dos governos e da sociedade, esses mecanismos pouco avançam.

O grande desafio é encontrar equilíbrio. Como fornecer os minerais que o mundo precisa para abandonar os combustíveis fósseis sem causar novos danos à Amazônia? Para Muggah, não basta reduzir as emissões se isso significar destruir florestas, contaminar rios e desrespeitar povos tradicionais.

Leia mais:

Energia limpa: mineração irregular pode provocar novo ciclo de destruição

Soluções incluem melhorar a fiscalização, consultar as comunidades afetadas e adotar tecnologias menos poluentes. Formalizar a mineração artesanal e promover a economia local também são caminhos possíveis. No entanto, nenhuma dessas medidas é suficiente sem uma mudança na lógica de exploração.

A Amazônia não pode ser vista apenas como um depósito de recursos. É um ecossistema vital para o planeta, que regula o clima, abriga culturas diversas e oferece caminhos alternativos de desenvolvimento. Se a transição para a energia limpa repetir os padrões de exploração do passado, será apenas mais um ciclo de destruição.

Neste momento decisivo, a região enfrenta uma encruzilhada. Ou se torna mais uma fronteira sacrificada às demandas globais, ou se transforma em exemplo de uma transição justa e sustentável. A escolha feita agora pode definir não apenas o futuro da Amazônia, mas também o rumo da economia verde no mundo inteiro.

O post Exploração de minerais estratégicos para a energia limpa ameaça Amazônia apareceu primeiro em Olhar Digital.

satelite-1-1024x576

Novo satélite pode revelar segredos da Amazônia

A Amazônia é fundamental para o nosso planeta. Maior floresta tropical do mundo, ela é responsável por armazenar bilhões de toneladas de gás carbônico, o que ajuda a reduzir os impactos das mudanças climáticas.

No entanto, calcular a real capacidade deste bioma, composto por mais de um trilhão e meio de árvores, sempre foi praticamente impossível. Um cenário que pode mudar a partir do lançamento de um novo satélite da Agência Espacial Europeia (ESA).

Capacidade de armazenamento de carbono pela Amazônia será calculada

  • O dispositivo usa um sistema especial de radar para descobrir o que está escondido sob a copa de árvores.
  • Segundo a ESA, o equipamento pode ajudar a entender melhor a importância das florestas tropicais no armazenamento de carbono, bem como os impactos do desmatamento.
  • O satélite foi lançado de uma base em Kourou, na Guiana Francesa, e sobrevoou a Amazônia.
  • Ele foi apelidado de “space brolly” (guarda-chuva espacial, no português) devido a sua enorme antena de 12 metros de diâmetro, que enviará os sinais a serem analisados.
  • A Agência Espacial Europeia afirma que estas informações permitirão saber, pela primeira vez, e com alta precisão, a quantidade de carbono que é armazenado na floresta.
  • As informações são da BBC.
Satélite vai ajudar a entender melhor a importância das florestas tropicais no armazenamento de carbono, bem como os impactos do desmatamento (Imagem: ESA)

Leia mais

Satélite pode analisar o que está debaixo das copas das árvores

Atualmente, os cientistas analisam as árvores individualmente para determinar a capacidade de armazenamento de gás carbônico, o que torna a tarefa extremamente complexa e demorada. A maioria dos radares existentes no espaço só consegue captar o topo das florestas, não penetrando nas camadas mais profundas destes biomas.

Agora, o novo satélite poderá vencer este desafio. O equipamento conta com uma antena que utiliza um radar de banda-P, que tem um comprimento de onda muito longo e permite ver dentro das florestas, além de revelar os galhos e troncos ocultos pela copa.

Satélite conta com sistema altamente tecnológico que pode realizar varreduras nas árvores (Imagem: ESA)

A tecnologia possibilita vasculhar as árvores repetidas vezes, analisando pequenos pedaços e montando uma imagem de quanto material lenhoso está presente no local. Este pode ser usado como um indicador da quantidade de dióxido de carbono armazenado nas florestas.

Apesar das novas potencialidades do satélite da Agência Espacial Europeia, as medições em solo continuarão a serem feitas normalmente. Este trabalho servirá para verificar e validar os dados enviados do espaço.

O post Novo satélite pode revelar segredos da Amazônia apareceu primeiro em Olhar Digital.

insetos-rvore-1024x683

Amazônia esconde um mundo perdido no topo das árvores

A Amazônia é um dos biomas com maior diversidade de animais do mundo – e os insetos têm grande importância nisso. Só no Brasil, eles são 73% das espécies nacionais catalogadas. Ainda assim, alguns dos insetos da Floresta Amazônica são pouco conhecidos pela ciência… principalmente aqueles que vivem no topo das árvores.

Parte disso acontece pela dificuldade em acessar e capturar esses animais para estudo, criando uma verdadeiro mundo perdido muitos metros acima do solo.

Duas iniciativas pretendem mudar isso, com uma expedição de seis dias e mais de 30 pesquisadores na Amazônia Central, voltada justamente para coletar e estudar os insetos.

(Imagem: O.Kemppainen/Shutterstock)

Insetos vivem em um mundo perdido na Amazônia

Apesar da grande diversidade de insetos na Amazônia, eles ainda são pouco conhecidos pela ciência. Os que vivem no dossel, a copa das árvores, ficam ainda mais difíceis de estudar.

Segundo o biólogo Dalton de Sousa Amorim, pesquisador da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador de um dos projetos, isso acontece pela falta de acesso a esses animais e pela inexistência de técnicas de coleta ideais. Ele conversou com o Jornal da USP.

É aí que entram os projetos BioInsecta (coordenado por Amorim) e BioDossel. A ideia é monitorar espécies de insetos em uma área de 10 mil hectares da floresta, ajudando na conservação.

Para isso, uma equipe de 34 pesquisadores passou seis dias durante o final de novembro de 2024 na Estação Experimental de Silvicultura Tropical, também conhecida como Reserva ZF2 do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), a cerca de 80 km de Manaus. A expedição foi formada exclusivamente por entomólogos (especialistas em insetos).

Além da coleta no topo das árvores, os pesquisadores realizaram a amostragem detalhada de insetos em outros habitats específicos da Amazônia, como corpos d’água e troncos.

fibra ótica amazônia
Projetos coletaram mais de 1.400 amostras de insetos (Imagem: Curioso.Photography / Shutterstock)

Como os pesquisadores coletaram os insetos

  • Os pesquisadores combinaram uma diversidade de mais de 30 técnicas, que resultaram na coleta de mais de 1.400 amostras de insetos;
  • Algumas delas coletaram exemplares um a um. Já outras permitiam a coleta de milhares de exemplares ao mesmo tempo. Cada uma era pensada considerando o micro-habitat e as ordens dos insetos (como besouros, abelhas e formigas);
  • Uma delas foi a armadilha em cascata, a principal técnica utilizada em ambos os projetos. Ela consiste em um sistema de cinco armadilhas integradas em cascata, içadas até a copa das árvores, e que ficam montadas durante 14 meses;
  • Outra, utilizada por Simeão de Souza Moraes, pesquisador de pós-doutorado da Fapesp na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), usou armadilhas de luz em lençóis para atrair especificamente mariposas no dossel;
  • O trabalho aconteceu nos períodos diurno e noturno, com revezamento entre equipes. A intenção era encontrar insetos com diferentes hábitos.

Depois da coleta, os exemplares foram levados até um alojamento improvisado em campo para análise, registro fotográfico e conservação para análise posterior do DNA.

De acordo com José Albertino Rafael, pesquisador do Inpa e coordenador do projeto BioDossel, também ao Jornal da USP, a amostragem das espécies coletadas deve demorar um pouco, mas é previsto o estudo do DNA de cerca de 500 mil exemplares. Estima-se que metade deles ainda sejam desconhecidos.

Armadilha em cascata para capturar os insetos (Foto: Larissa Queiroz/Jornal da USP/Reprodução)

Monitoramento dos insetos da Amazônia é um desafio

Revelar a dimensão do número de espécies que vivem na Amazônia, desde o solo até o topo das árvores, é considerado pelos coordenadores dos projetos um dos grandes desafios das florestas tropicais.

Para Rafael, além da importância em revelar a biodiversidade da Floresta Amazônia, a expedição vai criar um banco de dados que será muito útil no futuro, quando precisarmos analisar o impacto das mudanças climáticas na natureza.

Leia mais:

Esse será um banco de dados muito útil para daqui a seis, dez anos, fazermos novas coletas e vermos qual o impacto do aumento da temperatura, da diminuição de chuvas e das queimadas na população dos insetos.

José Albertino Rafael, pesquisador do Inpa e coordenador do projeto BioDossel

O post Amazônia esconde um mundo perdido no topo das árvores apareceu primeiro em Olhar Digital.

Fortaleza-Real-Prncipe-da-Beira-1024x676

Raio-x da Amazônia revela antiga cidade perdida

Pesquisadores brasileiros encontraram vestígios da cidade colonial de Lamego, construída no século 18, que permaneceu encoberta pela floresta amazônica por mais de 200 anos. A redescoberta foi possível graças ao uso de sensores LiDAR, tecnologia que permite mapear o relevo mesmo sob densa vegetação.

O achado foi liderado pelo arqueólogo Carlos Zimpel Neto, da Universidade Federal de Rondônia, e revelou uma complexa estrutura urbana composta por estradas, canais e construções de pedra. O sítio fica próximo à Fortaleza Real Príncipe da Beira, na fronteira entre Brasil e Bolívia, e altera a compreensão sobre a ocupação histórica da região. A descoberta foi apresentada em uma reportagem do The Washington Post.

A expedição ocorreu no começo de 2024, em plena estação chuvosa na Amazônia. Guiado por um tablet com imagens detalhadas geradas a partir de dados de varredura a laser, Carlos Zimpel avançou por uma região remota de floresta densa. O local guarda os vestígios da antiga cidade portuguesa de Lamego, uma colônia do século 18 cujos rastros estavam desaparecidos havia mais de um século.

O interesse pelo sítio remonta a 1913, quando foi redescoberta a Fortaleza Real Príncipe da Beira, mas os registros históricos indicavam a existência de uma estrutura urbana muito maior. A localização exata de Lamego e de suas construções — como igrejas, vilas e sistemas defensivos — permanecia um mistério até agora.

A Fortaleza Real Príncipe da Beira é considerada patrimônio nacional e o monumento mais antigo do Estado de Rondônia (Imagem: Governo do Estado de Rondônia)

Como o LiDAR mudou a arqueologia da Amazônia

  • A tecnologia LiDAR, ou Detecção e Alcance de Luz, tem desempenhado papel central em descobertas arqueológicas recentes.
  • O sensor emite pulsos de laser que atravessam a cobertura vegetal e retornam ao equipamento, permitindo a geração de mapas topográficos altamente precisos.
  • Com o auxílio dessa tecnologia, pesquisadores conseguem identificar estruturas encobertas pela vegetação densa, como muros, estradas e edificações antigas.
  • Em Rondônia, o uso do LiDAR revelou um intricado sistema urbano que inclui canais de drenagem, vias planejadas e bases de construções feitas de pedra.
  • Segundo Zimpel, o material coletado mostra que a ocupação portuguesa se sobrepôs a uma sociedade indígena anterior, que já havia deixado geoglifos circulares e fragmentos cerâmicos datados entre 1.200 e 2.000 anos.

Indícios de urbanização indígena pré-colonial

Além das estruturas coloniais, o levantamento expôs vestígios de uma sociedade indígena altamente organizada. Fragmentos de cerâmica e marcas no solo revelaram a existência de assentamentos complexos anteriores à chegada dos europeus. Para Zimpel, os povos originários que habitavam a região podem ter sido os autores das grandes figuras geométricas no solo amazônico, hoje visíveis apenas com tecnologia aérea.

Essa descoberta reforça a visão de que sociedades amazônicas do passado possuíam alto grau de organização e planejamento, contrariando teorias anteriores que apontavam o solo da floresta como incapaz de sustentar populações numerosas e estáveis.

A origem da pesquisa e a parceria com comunidades quilombolas

A trajetória de Zimpel com a localidade começou em 2016, quando visitou a fortaleza como turista. Na região, conheceu a comunidade quilombola local e ouviu de Elvis Pessoa, então presidente da associação comunitária, relatos sobre estruturas misteriosas na mata, conhecidas como “o labirinto”. A curiosidade levou Zimpel a explorar o local com apoio dos próprios moradores.

As primeiras escavações revelaram muros de pedra com até cinco metros de altura, arcos de entrada e fundações retangulares. Com o tempo, os mapas coloniais portugueses e espanhóis começaram a coincidir com o que era visto no terreno, fortalecendo a hipótese de que se tratava de Lamego.

Em 2022, o professor Eduardo Neves, da Universidade de São Paulo, conseguiu financiamento da National Geographic Society para utilizar LiDAR na região. Neves coordena o consórcio acadêmico Amazon Revealed, que busca mapear ao menos 50 sítios arqueológicos na floresta. Zimpel rapidamente indicou Lamego como uma das prioridades.

Após dez dias de sobrevoos, as imagens captadas pelo sensor confirmaram a presença de estruturas compatíveis com os registros históricos do século 18. “Encontramos a cidade perdida”, afirmou Zimpel ao comparar os mapas antigos com os dados de varredura a laser.

Leia mais:

A ameaça do desmatamento

Apesar da descoberta, a preservação do sítio arqueológico enfrenta uma ameaça imediata: a destruição florestal. A região está inserida no chamado arco do desmatamento, faixa do sul da Amazônia onde se concentram os maiores índices de degradação ambiental. Em 2023, incêndios atingiram 80% da vegetação que cercava as ruínas.

Moradores quilombolas suspeitam que as queimadas tenham sido provocadas para abrir espaço para a expansão de fazendas e plantações. Nucicleide da Paz Pinheiro, que assumiu a presidência da comunidade após a morte de Elvis Pessoa, disse que o fogo nunca havia chegado tão perto.

amazônia incendiada
Incêndios na Amazônia ameaçaram danificar as estruturas descobertas (Imagem: Toa55 / Shutterstock.com)

Em janeiro deste ano, Zimpel retornou à floresta para avaliar os danos e identificar novas estruturas. Mesmo diante de uma paisagem marcada por cinzas e árvores calcinadas, ele encontrou edifícios de pedra intactos, preservados da ação do fogo. As imagens de LiDAR continuam indicando a existência de múltiplas estruturas residenciais e defensivas que ainda não foram escavadas.

O post Raio-x da Amazônia revela antiga cidade perdida apareceu primeiro em Olhar Digital.

Brasil perdeu duas cidades de SP em superfície de água

O Brasil registrou uma redução alarmante de 400 mil hectares na superfície de água em 2024, área equivalente a mais de duas vezes o tamanho da cidade de São Paulo. De acordo com dados atualizados do MapBiomas Água, divulgados na sexta-feira (21), o território nacional coberto por corpos hídricos e reservatórios ficou em 17,9 milhões de hectares, uma queda de 2% em relação aos 18,3 milhões registrados em 2023. A tendência de diminuição se intensificou na última década, marcada por oito dos anos mais secos desde o início da série histórica em 1985.

A Amazônia, responsável por 61% da superfície hídrica do Brasil, foi fortemente impactada. O bioma perdeu 1,1 milhão de hectares de água em relação a 2023 e 4,5 milhões em comparação a 2022, afetado por secas extremas consecutivas. Sub-bacias importantes, como as do Rio Negro e do Tapajós, registraram perdas significativas.

Leia também:

No Pantanal, a situação é ainda mais crítica: o bioma alcançou apenas 366 mil hectares de água em 2024, representando uma redução de 4,1% em relação ao ano anterior e acumulando uma perda de 61% desde 1985. Enquanto isso, outros biomas apresentaram cenários mistos. A Caatinga teve um saldo positivo, consolidando um ciclo de cheias iniciado em 2018, mas áreas vulneráveis, como a bacia do São Francisco, continuam enfrentando secas recorrentes.

No Pampa, após estiagens severas no início do ano, ocorreu uma cheia extrema em maio, a maior registrada nos últimos 40 anos. Já o Cerrado experimentou uma transformação preocupante: corpos hídricos naturais, como rios e lagos, cederam espaço para reservatórios artificiais, que agora respondem por 60% da superfície hídrica do bioma.

Superfície de água no Brasil em 2024 (% do total):

  • Amazônia: 10,9 milhões de hectares (61%)
  • Mata Atlântica: 2,2 milhões de hectares (13%)
  • Pampa: 1,8 milhão de hectares (10%)
  • Cerrado: 1,6 milhão de hectares (9%)
  • Caatinga: 981 mil hectares (5%)
  • Pantanal: 366 mil hectares (2%)

O Brasil mais seco

No geral, o Brasil viu um aumento histórico de superfícies artificiais de água, com acréscimo de 1,5 milhão de hectares desde 1985. Esse crescimento, concentrado principalmente na Mata Atlântica e no Cerrado, reflete a expansão de reservatórios e hidrelétricas. Contudo, os corpos d’água naturais encolheram 15% no mesmo período, restando apenas 77% da cobertura total.

Para especialistas, a combinação de eventos climáticos extremos e mudanças no uso da terra está tornando o Brasil mais seco. Os dados servem como um alerta para a necessidade urgente de políticas públicas e estratégias de gestão hídrica que revertam essa tendência preocupante.

Via Agência Brasil

O post Brasil perdeu duas cidades de SP em superfície de água apareceu primeiro em Olhar Digital.

Rio-dourado-no-Peru-1024x683

Mineração de ouro na Amazônia está destruindo depósitos naturais de carbono

Pesquisadores avaliaram em novo estudo os impactos da mineração artesanal de ouro no sul da Amazônia peruana. O grupo descobriu que essa prática está levando ao aumento maciço da destruição de turfeiras, que são acúmulos de restos de plantas responsáveis por estocar carbono. Constataram que a atividade destruiu mais turfas nos últimos dois anos do que nas três décadas anteriores combinadas.

Cerca de 70% da exploração de ouro em pequena escala no Peru acontece na região de Madre de Dios. Lá, os sedimentos dos rios têm abundância desse metal precioso, tanto que é possível ver o brilho por satélite

É estimado que a atividade gere emprego para mais de 30 mil pessoas. O número tem crescido desde a crise econômica de 2008.

Poços de prospecção de ouro ao lado do rio Inambari, no Peru
Poços de prospecção de ouro ao lado do rio Inambari, no Peru. (Imagem: NASA Earth Observatory)

A mineração na área é ilegal e considerada o principal fator que contribui para o desmatamento. Os cientistas descobriram uma nova camada dessa destruição ao estudarem o impacto da operação nas turfeiras amazônicas.

Elas são ecossistemas pantanosos e alagados, compostos por material vegetal em decomposição que atuam como reservatórios de carbono. São responsáveis por sequestrar CO2 sete vezes mais do que as árvores da região.

Grandes áreas desse terreno estão sendo desenterradas e destruídas por garimpeiros. Isso está liberando quantidades alarmantes de carbono na atmosfera, contribuindo para a crise climática.

Descoberta e destruição em uma década

O grupo de cientistas analisou mais de 35 anos de dados dos satélites Landsat da NASA e descobriu que mais de 550 hectares de turfeiras foram destruídos. Esse desmatamento liberou entre 0,2 e 0,7 milhões de toneladas de carbono na atmosfera e mais da metade disso ocorreu somente nos últimos dois anos.

“Se não desacelerarmos a destruição, os danos às turfeiras da Amazônia podem ser permanentes, com sérios impactos ambientais, sociais e econômicos no futuro”, disse o Dr. John Householder, um dos autores do estudo do Instituto de Tecnologia de Karlsruhe, na Alemanha, em um comunicado.

A comunidade científica descobriu esses terrenos pantanosos no sul do Peru somente em 2012. Uma década depois, o mesmo grupo de pesquisadores que estudou originalmente essas formações agora está descrevendo a sua extinção.

Turfeiras na Indonesia
Turfeiras tropicais em Jambi, na Indonésia. (Imagem: Eka Dana Kristanto / Shutterstock)

Leia mais

Cerca de 9% da mineração em Madre de Dios ocorre em turfeiras atualmente, mas espera-se que esse número cresça nos próximos anos. Se as tendências continuarem, a atividade mineradora em turfas deverá corresponder a 25% do total da mineração da região. Os cientistas alertam que isso poderia liberar mais de 14,5 milhões de toneladas de carbono.

“O que nosso artigo mostra é que, mesmo dentro de uma geração humana, é bem possível que grandes depósitos de turfa desapareçam da paisagem, antes que a ciência tenha a chance de descrevê-los. Para aqueles depósitos de turfa que já são conhecidos, essas descobertas da pesquisa são um chamado para protegê-los”, conclui o Dr. Householder.

O post Mineração de ouro na Amazônia está destruindo depósitos naturais de carbono apareceu primeiro em Olhar Digital.