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Apocalipse da internet: entenda o que diz a Ciência

Depois do “bug do milênio”, o grande medo digital das pessoas atende pelo nome de “apocalipse da internet”. O tópico vem sendo repetido em diversos ambientes online, de fóruns a debates em redes sociais.

O apocalipse seria causado por uma supertempestade solar capaz de derrubar nossos sistemas, nossos cabos submarinos de fibra óptica e nossa conexão com os satélites. O termo foi cunhado pela professora Sangeetha Abdu Jyothi, da Universidade da Califórnia. Ela mesma, porém, diz se arrepender de ter usado essas palavras.

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Que fique claro: um evento desses pode realmente acontecer – cientificamente falando. As probabilidades, no entanto, são baixas. O grande problema, segundo a professora, é a proporção que o assunto tomou. E os desdobramentos e mentiras que surgiram na própria internet.

No ano passado, por exemplo, circulou a informação de que a Nasa teria emitido um alerta sobre o episódio. Isso é fake news. Desinformação que ganhou força graças a alguns dados científicos – que foram desvirtuados.

Algumas verdades científicas

  • O Sol tem ciclos de aproximadamente 11 anos – e ele entra agora em 2025 num período particularmente ativo conhecido como “máximo solar”.
  • Isso, porém, não significa que teremos uma supertempestade que vai derrubar a internet global.
  • O termo técnico para esse evento solar, aliás, é ejeção de massa coronal.
Tempestades solares são eventos poderosos, com repercussão em nossos sistemas de comunicação – Imagem: Artsiom P/Shutterstock
  • Na história moderna, apenas três casos mais violentos foram registrados desde 1859, mas nenhum deles com repercussão mundial.
  • Em 1859, o “Evento Carrington” fez com que as agulhas de bússolas girassem descontroladamente (sinal de que uma tempestade solar forte afetou o campo magnético da Terra).
  • Em 1929, um evento com três dias de duração causou um incêndio de média escala na Estação Grand Central de Nova York, derrubando também a rede de telégrafos da cidade.
  • Finalmente, em 1989, um evento moderado de ejeção de massa coronal derrubou a rede elétrica Hydro-Québec, no norte do Canadá, deixando a parte mais alta do país sem energia por aproximadamente nove horas.

O artigo da professora

O artigo Solar Superstorms: Planning for an Internet Apocalypse, da professora Jyothi, fala sobre como seria um evento desse tipo no mundo atual.

Ela disse que pensou nessa possibilidade durante a pandemia de Covid-19 – quando percebeu que o mundo não estava preparado para episódios assim.

De forma bem resumida, tempestades solares são erupções de gás altamente ionizado provenientes da coroa do Sol. Elas são carregadas até o campo magnético da Terra e podem derrubar por completo redes elétricas, de comunicação e estações do gênero, levando a blecautes de longa duração.

A professora observa que uma tempestade solar intensa tem chances de afetar infraestruturas grandes, como cabos de comunicação submarinos (de fibra óptica), o que poderia interromper a conectividade de longa distância.

Ilustração de cabos de internet submarinos
Segundo a professora, principal problema ocorreria nos cabos submarinos de fibra óptica – Imagem: Pedro Spadoni via DALL-E/Olhar Digital

O Hemisfério Norte também é especialmente vulnerável a tempestades solares, e é justamente nessa região que se concentra grande parte da infraestrutura da internet.

Não seria o fim do mundo

Apesar de todo o hype gerado, é importante repetir que não há motivos para pânico. Principalmente para nós, cidadãos comuns.

Governos e grandes empresas podem perder muito dinheiro. De acordo com a NetBlocks, o impacto econômico de apenas um dia sem internet só nos EUA é estimado em mais de US$ 11 bilhões.

Sim, você não poderia assistir à sua série favorita na Netflix. Nem fazer pagamentos por Pix ou cartão de crédito. A situação, porém, seria provisória e um dia voltaria ao normal (pode ser uma questão de horas ou de dias, mas voltaria ao normal).

E, na pior das hipóteses, ou seja, se a supertempestade realmente bagunçar a nossa internet, já existem cientistas preparados para isso.

Longe de querer ser o chato, mas existem diversas atividades que podemos fazer sem internet – Imagem: ViDI Studio/Shutterstock

É o caso de Peter Becker, pesquisador da Universidade George Mason, nos Estados Unidos. Ele lidera um projeto que tem por objetivo desenvolver um sistema capaz de alertar a população cerca de 18 horas antes que as partículas solares cheguem ao campo magnético terrestre com potencial de causarem um possível “apocalipse da internet”.

Ou seja, você teria tempo para se programar. Daria também para ver algumas fotos antigas impressas. Ou, pasmem, conversar com outras pessoas sem o celular nas mãos. Não seria, definitivamente, o fim do mundo.

Texto feito com base em uma reportagem do Olhar Digital de 06/03/2024.

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