Em séries de investigação policial é muito comum ver os personagens buscando por resíduos de pólvora. Essa nova tecnologia facilitaria muito o trabalho deles, fazendo esses vestígios brilharem em verde-fluorescente.
É muito comum nesses seriados e filmes ver os profissionais forenses investigando cada centímetro das cenas de crime atrás de qualquer sinal de que uma arma foi disparada. Isso tudo sem contar no transporte dessas amostras e a análise em laboratório.
Esse processo todo demanda tempo, algo que é escasso para uma investigação de crime. Durante o período em que as provas estão sendo coletadas e analisadas, o criminoso pode muito bem fugir ou cometer outro delito. Por isso é essencial a agilidade nos processos forenses.
Como a tecnologia ajuda na investigação policial
Por esse motivo, o método desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Amsterdã será um grande aliado dos investigadores. O produto desenvolvido consiste em um líquido baseado em álcool isopropílico que pode ser borrifado em superfícies da cena de crime, segundo informações do portal New Atlas.
Em qualquer disparo de arma de fogo há a presença de chumbo, que quando reage com o brometo de metilamônio, presente no líquido produzido pelos cientistas, gera uma substância reagente a luz ultravioleta. A perovskita, que quando colocada contra este tipo de luz, brilha em um verde-fluorescente intenso, fácil de ser identificado.
Cientistas criam tecnologia que faz a pólvora brilhar (Imagem: Universidade de Amsterdã/Reprodução)
Na prática, a tecnologia funciona da seguinte forma: após um disparo de arma de fogo, resíduos do tiro (conhecidos como GSR, sigla em inglês para “gunshot residue“) podem se depositar em superfícies próximas, como roupas ou objetos. Se essas superfícies forem pulverizadas com o líquido reagente, qualquer presença de chumbo será convertida em perovskita.
Nos testes realizados em estande de tiro, a tecnologia foi eficaz em detectar GSR em pedaços de tecido de algodão, posicionados a até 2 metros de distância do disparo. Os voluntários utilizaram duas pistolas de calibre 9 mm: uma Glock 19 Gen5 e uma Walther P99Q NL.
A fluorescência após a aplicação da luz UV indicava com precisão a presença de resíduos de chumbo, mostrando o potencial da técnica para investigações forenses rápidas e visuais.
A polícia de Amsterdã está testando uma tecnologia baseada no kit Lumetallix, usado para detectar chumbo em obras, agora adaptado para cenas de crime. O sistema identifica resíduos de tiro ao reagir com chumbo e formar perovskita, que brilha em verde sob luz UV, facilitando a detecção visual de GSR.
A Força de Autodefesa Marítima do Japão divulgou imagens de seu novo e poderoso armamento. As autoridades japonesas compartilharam registros da instalação do primeiro canhão eletromagnético do mundo em um navio militar do país.
Ao contrário das munições tradicionais, esta nova arma aproveita a energia cinética para disparar projéteis em velocidades hipersônicas. Isso o torna uma alternativa econômica aos mísseis guiados em determinados contextos.
EUA tinham um projeto semelhante, mas acabaram desistindo
Os trabalhos de desenvolvimento do canhão eletromagnético do Japão começaram em 2016, mas os primeiros testes só foram realizados em 2022.
Um dos principais desafios era garantir a estabilidade do projétil lançado em velocidades hipersônicas, além de reduzir o desgaste do cano.
Esse problema levou à interrupção de projetos semelhantes nos Estados Unidos, que acabaram sendo abandonados posteriormente.
No total, a Casa Branca investiu mais de US$ 500 milhões no armamento.
O gasto do governo japonês não foi informado oficialmente.
Segundo a Força de Autodefesa Marítima do Japão, a nova arma do país pesa oito toneladas e possui um cano de 6 metros de comprimento. O sistema pode lançar projéteis de aço de 40 mm pesando aproximadamente 320 gramas cada.
Durante a fase testes, os disparos atingiram uma velocidade inicial de aproximadamente 2.230 metros por segundo. Isso significa que foi possível alcançar uma velocidade superior a Mach 6. Apesar da instalação em um navio militar, o canhão ainda vai passar por novos experimentos.
Canhão foi testado pelas autoridades japonesas nos últimos anos (Imagem: Força de Autodefesa Marítima do Japão)
O objetivo das autoridades japonesas é aumentar ainda mais a capacidade de lançamento, bem como a velocidade e o potencial destrutivo dos disparos. Não há uma previsão de quando o armamento pode ficar disponível para uso em campos de batalha.
As novas tecnologias modificaram as guerras. Ainda existem soldados, infantaria, tanques, caças, bombas e lançamento de mísseis. Mais da metade do conflito, porém, pode ocorrer por detrás de um computador, ou de um controle remoto.
Segundo especialistas, os drones representam o futuro dos confrontos. Muito embora já sejam realidade. A Guerra na Ucrânia dá uma medida disso. Os exércitos ucraniano e russo já lançaram mais de 20 mil veículos do tipo, que são mais baratos, escapam de linhas de defesa inimigas e possuem um alto poder destrutivo.
Diante desse quadro, os países começam a estudar novas formas de enfrentar a nova ameaça – e o Reino Unido acaba de apresentar o seu candidato. Esse canhão da imagem acima atende pelo nome de RF DEW, sigla para Radiofrequency Directed Energy Weapon.
A ideia é exatamente o que diz o nome: uma arma que dispara ondas de radiofrequência. São ondas inofensivas para nós, seres humanos. Elas, no entanto, podem fritar os componentes eletrônicos de vários drones de uma só vez.
Os drones merecem um capítulo à parte na extensa Guerra Russo-ucraniana – Imagem: Drop of Light/Shutterstock
O que sabemos sobre a nova arma
Os primeiros testes foram muito bem-sucedidos.
Num experimento no País de Gales, o Exército Britânico conseguiu eliminar 100 drones de uma só vez – e com um único disparo.
O projeto em si custou algo em torno de 40 milhões de euros (cerca de R$ 250 milhões).
Cada disparo, entretanto, não custa quase nada para os cofres públicos: aproximadamente 10 centavos de euro por tiro.
Isso ajudaria a equilibrar as contas da guerra: uma arma barata para lidar com drones “baratos” (que custam infinitamente menos do que bombas e aviões).
Vale destacar que já existem mecanismos para enfrentar esses veículos aéreos não tripulados.
A maioria dos equipamentos, porém, trabalha com interferência de sinal.
Na Guerra na Ucrânia, por exemplo, essa interferência é capaz de neutralizar cerca de 75% dos drones.
A outra parte, e isso inclui os chamados Lancet, são “imunes” ao processo, uma vez que são totalmente autônomos depois que um alvo é definido.
É justamente aí que entraria o RF DEW: suas ondas de rádio são capazes de fritar qualquer tipo de drone dentro de um raio de 1 quilômetro.
E, embora estejamos falando de guerra apenas, essa máquina também teria sua utilidade em outras situações.
É o caso de um aeroporto civil, onde drones podem causar acidentes graves com aeronaves.
Em testes, o Exército Britânico conseguiu eliminar 100 drones de uma só vez. Imagem: Andrey_Popov/Shutterstock
Os drones e a Guerra na Ucrânia
Voltando a falar no conflito, por se tratar de um novidade, muita gente não sabe como atuam os drones numa guerra. Na da Ucrânia, eles têm uma série de utilidades. Podem fazer reconhecimento de território. Seu uso principal, no entanto, é para destruição de alvos.
Esses drones receberam o apelido de kamikaze, pois se atiram contra instalações, veículos e até mesmo soldados inimigos. Existem vários tipos, mas, na maioria dos casos, eles carregam entre 1 e 2 quilos de explosivos, além de estilhaços.
Sabe aquele drone que filma casamento? Alguns deles foram adaptados e fazem parte da guerra na Europa. Outros, porém, são muito maiores, mais modernos e tecnológicos.
Segundo informa uma reportagem da BBC, os objetos possuem ainda câmeras que enviam vídeos em tempo real para seus operadores remotos. E as gravações indicam o impacto dessa nova tecnologia no conflito.
De acordo com a matéria, as últimas imagens das câmeras de drones normalmente mostram homens em pânico, com seus braços se debatendo e disparando tiros contra o drone antes da morte. Eis por que equipamentos como o RF DEW são tão importantes.
A Índia tem buscado se aproveitar das disputas globais para se tornar uma das potências do futuro. O país já atingiu avanços importantes no setor espacial e tem promovido grandes investimentos em chips semicondutores, por exemplo.
Mas os planos indianos não param por aí. O primeiro-ministro Narendra Modi quer transformar o país em um dos maiores fabricantes de armas do planeta. E a ideia é fornecer os armamentos com um preço muito abaixo dos demais.
Milhares de armamentos foram enviados para Kiev, enquanto as fábricas russas passaram a produzir munições quase exclusivamente para o conflito.
Isso fez com que outras nações que historicamente dependiam de Washington e Moscou, os dois maiores exportadores de armas do mundo, buscassem novas alternativas.
A ideia da Índia é absorver esta demanda de governos que sempre dependeram da importação de armas.
Em razão de estar em uma área bastante instável, sendo vizinha de países como China e Paquistão, a Índia sempre teve a sua própria indústria de armas. No entanto, foi só recentemente que as empresas privadas indianas começaram a fabricar munições e equipamentos de alta qualidade.
A Índia produziu, entre 2023 e 2024, US$ 14,8 bilhões em armas, um aumento de 62% desde 2020. O país ainda começou a intermediar reuniões entre delegações visitantes, além de demonstrar equipamentos mais sofisticados, como helicópteros de combate, durante exercícios militares.
Índia pode produzir munições de forma muito mais barata (Imagem: em_concepts/Shutterstock)
O governo de Modi estabeleceu uma meta de dobrar as exportações de armas e equipamentos para US$ 6 bilhões até 2029. O objetivo é vender munições, armas pequenas e outros componentes de equipamentos de defesa a preços mais baixos. O país pode produzir munição de artilharia de 155 mm por cerca de US$ 300 a US$ 400 cada, enquanto os equivalentes europeus são vendidos por mais de US$ 3 mil.
Uma arma de fogo é um dispositivo projetado para disparar projéteis a alta velocidade, utilizando a pressão gerada por uma reação química. Por trás do equipamento, há uma série de mecanismos que trabalham em conjunto para fazê-lo funcionar corretamente.
A principal característica dessas armas é o uso da pólvora: uma substância altamente explosiva que gera a energia necessária para impulsionar o projétil.
No entanto, as armas de fogo podem variar bastante em tipo e design, indo desde pistolas e revólveres até rifles e espingardas. Cada modelo tem uma mecânica própria, mas todos seguem um princípio básico de funcionamento.
Em sua essência, uma arma de fogo utiliza a ignição da pólvora para criar uma reação explosiva que expulsa um projétil. O conhecimento dos detalhes de seu funcionamento é fundamental para entender não apenas sua eficácia, mas também a segurança no seu uso.
Principais componentes de uma arma de fogo
Uma arma de fogo é composta por vários componentes interdependentes, e cada um desempenha um papel fundamental no disparo de um projétil.
Arma de fogo no meio de uma pradaria, mirando um alvo (Imagem: user25919452/Freepik)
Abaixo, exploraremos os principais elementos que formam essa complexa máquina.
Cano: o cano é o tubo metálico pelo qual o projétil é disparado. Ele é projetado para garantir que a pressão gerada pela pólvora seja canalizada de maneira eficiente, impulsionando o projétil para a frente. A precisão de uma arma de fogo está diretamente relacionada à qualidade do cano, que pode ser liso ou estriado, dependendo do tipo de arma;
Câmara: a câmara é a parte da arma onde o cartucho é inserido. Ela é responsável por conter o projétil e a pólvora, garantindo que a ignição ocorra de maneira controlada. A câmara também deve suportar a pressão gerada pela explosão da pólvora sem sofrer danos;
Percussor: o percussor é uma peça essencial no disparo de uma arma de fogo. Sua função é impactar o estojo do cartucho, acionando a espoleta que, por sua vez, inicia a ignição da pólvora;
Gatilho: o gatilho é o mecanismo acionado pelo atirador para disparar a arma. Quando pressionado, ele libera o percussor, dando início ao processo de ignição. Em alguns modelos, o gatilho pode ser ajustado para variar a força necessária para disparar a arma, afetando sua sensibilidade;
Espoleta: a espoleta é uma pequena cápsula localizada na base do cartucho. Ao ser impactada pelo percussor, ela inicia uma reação química que gera uma faísca capaz de inflamar a pólvora dentro do cartucho.
O processo de disparo de uma Arma de Fogo
Agora que conhecemos os principais componentes de uma arma de fogo, podemos entender como eles trabalham em conjunto durante o processo de disparo.
Alvo de uma arma de fogo, preso a uma árvora na floresta (Reprodução: @ethanders/Unsplash)
Ao pressionar o gatilho, o percussor atinge a espoleta no cartucho, provocando a ignição da pólvora. A pólvora, ao ser queimada, gera uma enorme quantidade de gás e calor, o que cria uma pressão dentro da câmara.
Essa pressão é rapidamente transferida para o projétil, impulsionando-o para frente com grande velocidade através do cano. A velocidade do projétil pode variar dependendo do tipo de arma, do calibre do cartucho e do comprimento do cano.
Quando o projétil sai do cano, ele é direcionado para o alvo, que pode ser uma pessoa, um objeto ou um alvo específico de treinamento.
Existem vários tipos de armas de fogo, cada uma com suas características e finalidades específicas. A principal diferença entre elas está no mecanismo de disparo, no calibre e no alcance.
Pistolas e Revólveres: são armas de fogo portáteis e curtas, geralmente usadas para autodefesa ou em atividades de segurança. As pistolas usam um mecanismo de disparo semiautomático, enquanto os revólveres têm um cilindro giratório que contém vários cartuchos;
Rifles: são armas de longo alcance, projetadas para disparos de precisão a grandes distâncias. Rifles são usados tanto para caça quanto para operações militares;
Espingardas: são armas que disparam uma série de projéteis pequenos em um único disparo. Elas são comumente usadas para caça de aves e, em algumas situações, para defesa pessoal.
O conflito entre Rússia e Ucrânia provocou uma mudança importante no jeito de se travar uma guerra. Hoje, os drones são cada vez mais utilizados para provocar maiores danos e com um custo de produção muito menor do que outros armamentos.
Mas é claro que contramedidas estão sendo adotadas.
Este é o caso da China, que acaba de apresentar uma nova arma anti-drone. Este complexo sistema também é capaz de abater helicópteros, mísseis e foguetes.
Canhão tem 16 canos que podem ser usados simultaneamente
Segundo as autoridades chinesas, a arma dispara uma espécie de “barragem” que pode cobrir todas as posições e interceptar os alvos inimigos com alta precisão.
O sistema utiliza um novo conceito que segue uma arquitetura em que vários canhões de defesa aérea disparam juntos para aumentar a probabilidade de interceptação.
No total, o canhão tem 16 canos que podem ser usados simultaneamente.
Outra vantagem é a possibilidade de recarga rápida, o que diminui as chances de sucesso dos ataques inimigos.
Arma da China pode representar grande vantagem militar
Os armamentos contra drones existentes hoje são eficazes, mas não conseguem lidar com muitos equipamentos ao mesmo tempo. Por isso, é comum que os ataques sejam feitos com verdadeiros “enxames”, aumentando as chances de sucesso.
Esta vantagem, no entanto, pode se tornar nula a partir de agora. As autoridades da China informaram que os testes mostraram que o canhão pode abater todos os drones, mas não especificaram quantos equipamentos foram utilizados.
Drones estão sendo cada vez mais usados em guerra na Europa (Imagem: evan_huang/Shutterstock)
Pequim ainda destacou que o sistema pode ser instalado em caminhões, veículos blindados ou navios de guerra. E que, embora os principais alvos sejam ameaças aéreas, também pode atingir alvos terrestres ou na água quando necessário.
A fabricante de armas Taurus está desenvolvendo um tipo de drone inédito no mundo. Em fase de demonstração para venda, o equipamento pode receber fuzis e outros armamentos, sendo de uso exclusivo das forças de segurança.
O produto está sendo fabricado em São Leopoldo, na Região Metropolitana do Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Para entrar em operação, no entanto, a tecnologia ainda depende de regulamentação no Brasil.
Drone pode receber várias armas
Segundo a fabricante, o modelo Taurus TAS poderá substituir o uso de helicópteros em ações policiais, reduzindo o risco às equipes em solo.
O equipamento também minimiza a possibilidade de danos materiais em casos de alvejamento ou quedas.
O drone é equipado com um fuzil T4, mas pode receber também submetralhadoras, por exemplo.
O veículo ainda conta com uma câmera 4K estabilizada em 3 eixos, bem como rádio controle com transmissão em tempo real das imagens captadas.
Outras características do modelo são um sensor de distância, laser pointer, mecanismo de movimentação horizontal e vertical, além de inteligência artificial embarcada para identificação de alvos.
Drone militar está sendo fabricado no Rio Grande do Sul (Imagem: divulgação/Taurus)
A Taurus explica que ainda não há uma regulamentação para o uso de drone com armamento no Brasil. A legislação sobre os veículos aéreos não tripulados no Brasil é regulamentada pelo Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) e pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC).
Segundo especialistas em segurança pública ouvidos pelo G1, o uso de dispositivos semelhantes já é empregado em conflitos armados. No entanto, esta pode não ser a melhor solução para o combate à criminalidade nas cidades.
É claro que ele pode ser usado eventualmente em casos muito específicos, quando o crime eventualmente estiver com armas muito pesadas, mas me parece bastante arriscado pensar nesse tipo de armamento numa lógica de segurança pública.
Carolina Ricardo, diretora executiva do Instituto Sou da Paz
Drone será de uso exclusivo das forças de segurança (Imagem: Diy13/iStock)
Já Eduardo Pazinato, doutor em Políticas Públicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), acredita que o uso dos drones pode, inclusive, agravar o problema da segurança pública. Ele explica que o equipamento pode expor mais pessoas ao risco.
O especialista destaca ainda que há possibilidade da tecnologia errar o alvo de disparos, o que poderia resultar numa tragédia em uma grande cidade. Por isso, ele defende que o armamento de guerra só seja utilizado em combates.
Empresas de capital de risco, que há anos investem em startups de defesa nos EUA, agora, direcionam suas atenções para Israel, aplicando recursos em companhias de tecnologia militar que surgiram após os conflitos em Gaza e no Líbano.
A estratégia de investir em empresas israelenses parte da convicção de que elas terão cada vez mais oportunidades de disputar contratos tanto nos EUA quanto em países europeus, onde os gastos com defesa tendem a crescer nos próximos anos.
Um exemplo disso é a startup Kela, que, recentemente, atraiu aportes de dois dos maiores fundos de capital de risco dos EUA dedicados ao setor de defesa – além do investimento do braço de capital da CIA.
David Cahn, da Sequoia Capital, responsável por financiar toda a rodada inicial da Kela, afirmou ao The Wall Street Journal: “Esta é a primeira grande aposta de venture capital em Israel.” Em seguida, a Lux Capital participou da rodada Série A, elevando o montante total arrecadado pela empresa para US$ 39 milhões (R$ 171,22 milhões, na conversão direta).
O produto da Kela não é uma arma convencional, como drones ou mísseis, mas um software capaz de integrar tecnologias comerciais e militares para aplicações como a defesa de fronteiras.
Startup israelense Kela fornece software para aplicações, como defesa de fronteiras; seus fundadores incluem, da esquerda: Jason Manne, Hamutal Meridor, Alon Dror e Omer Bar-Ilan (Imagem: Divulgação/KELA)
Esse sistema representa apenas o começo dos planos da companhia, que ambiciona disputar contratos para desenvolver e integrar sistemas de armamentos mais complexos, conforme explica a cofundadora e presidente Hamutal Meridor. “Fora de Israel, nos EUA e na Europa, nosso foco serão os grandes programas”, afirmou.
Vale do Silício aposta em startups israelenses para chegar no mercado de defesa dos EUA
Enquanto Israel espera que haja fluxo maior de investimentos significativos no setor de tecnologia de defesa – atualmente dominado por gigantes, como Elbit Systems, Israel Aerospace Industries e Rafael Advanced Defense Systems –, o país já sediou, em dezembro, seu primeiro summit de defesa tecnológica. O evento, organizado pelo Ministério da Defesa e pela Universidade de Tel Aviv, reuniu investidores, empresas e autoridades governamentais;
Lorne Abony, da Texas Venture Partners, destacou no encontro que “vivemos um renascimento na tecnologia de defesa que se encaixa perfeitamente no ecossistema que temos em Israel”;
A empresa de Abony, lançada no ano passado com US$ 50 milhões (R$ 285,38 milhões), tem como objetivo investir em firmas de defesa israelenses;
Mesmo sendo novas no mercado, as startups israelenses de defesa contam com histórico tecnológico de excelência. “A chance de se criar um unicórnio tecnológico por meio de um investimento em Israel é cinco vezes e meia maior do que com um investimento nos EUA”, ressalta Abony, que, vale notar, não investiu na Kela.
Por sua vez, as startups de defesa estadunidenses já ganham destaque na administração do presidente Donald Trump. Elon Musk, CEO da SpaceX – também um importante contratante de defesa – está à frente do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês).
Além disso, a mudança de foco do Pentágono para novas tecnologias tem impulsionado empresas apoiadas no Vale do Silício, como a Palantir Technologies – cuja ação disparou após a última eleição presidencial – e a Anduril Industries, que se prepara para fechar sua última rodada de investimentos com avaliação de US$ 28 bilhões (R$ 159,81 bilhões).
Os fundos de capital de risco estadunidenses não são estranhos ao ecossistema de startups israelenses. Empresas de cibersegurança – muitas fundadas por ex-integrantes da renomada Unidade 8200 – já se beneficiaram dos aportes do Vale do Silício. Além disso, Israel possui diversas startups de drones, como a Xtend, cujos veículos aéreos não tripulados já foram empregados pelo exército israelense em Gaza.
A Startup Nation Central, organização sem fins lucrativos sediada em Tel Aviv (Israel), acompanha mais de 300 empresas israelenses que atuam no setor de defesa, número que dobrou em relação ao ano anterior, segundo seu CEO, Avi Hasson.
Para Hasson, o investimento expressivo na Kela demonstra a confiança dos investidores no potencial das startups israelenses de defesa. “É uma aposta estratégica tanto no mercado quanto nos empreendedores e no setor”, afirmou.
Contudo, as startups dos EUA, que conquistam apenas cerca de 1% dos contratos do Departamento de Defesa, enfrentam batalha difícil para competir com os cinco maiores grupos de defesa estadunidenses.
O desafio para uma empresa israelense adentrar o mercado do Pentágono pode ser ainda maior. Raj Shah, da Shield Capital, comenta que “há grande e crescente montante de recursos de venture capital investindo no fato de que os governos estão ampliando os gastos com defesa – e, mais importante, direcionando esses recursos para novas startups. A dúvida é se o Pentágono vai comprar de empresas não estadunidenses. Ainda não sabemos a resposta para isso”, ponderou.
A abordagem da Kela segue linha semelhante à adotada pela Palantir em seus primeiros anos, quando a empresa expandiu sua base de clientes com “engenheiros de software destacados que operavam junto aos soldados, em locais, como o Afeganistão”.
De forma análoga, a Kela promove seus engenheiros como “tecnoguerreiros” – profissionais que combinam expertise técnica com experiência em combate, capazes de compartilhar aprendizados adquiridos no campo de batalha com clientes dos EUA e da Europa.
As semelhanças com a Palantir não são por acaso. Hamutal Meridor, que já atuou como gerente geral da Palantir em Israel, utiliza retórica similar à do CEO da Palantir, Alex Karp, que costuma descrever a missão de sua empresa de forma quase messiânica, como uma luta para “salvar o Ocidente”.
“A criação da Kela está fortemente ligada ao 7 de outubro, obviamente. E percebemos que o Ocidente ainda vive sob a sombra do 6 de outubro. Sentimos que nossa missão é evitar que o Ocidente enfrente um novo 7 de outubro”, declarou Meridor.
Vale do Silício vê startups israelenses com bons olhos (Imagem: PHOTOGRAPHY IS ON/Shutterstock)
Alon Dror, CEO e cofundador da Kela, conta que a empresa se apoia intensamente na experiência de combate adquirida por Israel após o 7 de outubro. Ele relembrou que, na véspera de uma operação terrestre contra o Hezbollah no Líbano, circulou entre os pelotões para contar equipamentos – constatando que cada comandante de pelotão ou companhia dispunha de apenas alguns óculos de visão noturna.
Em contraste, as forças do Hezbollah possuíam um par de óculos para cada combatente, adquiridos online, o que, segundo Dror, “é surpreendente”. Dror ressaltou que a plataforma de software da Kela foi desenvolvida para permitir a integração de tecnologias comerciais e militares, como óculos de visão noturna, sensores e inteligência artificial (IA).
Brandon Reeves, sócio da Lux Capital, enfatiza que a experiência militar dos colaboradores da Kela é um diferencial decisivo. Ele observa que, entre os engenheiros das cinco maiores empresas de defesa dos EUA, a participação em combates é praticamente inexistente – enquanto, na Kela, essa característica se aproxima de 100%, “é uma DNA totalmente diferente.”
Clayton Williams, diretor da filial do Reino Unido da IQT (braço de capital de risco da CIA, anteriormente conhecido como In-Q-Tel), destacou que seu investimento na Kela se deu exatamente por conta desse tipo de vivência. “Empresas que aprendem diretamente dos campos de batalha e recebem feedback das linhas de frente estão evoluindo suas tecnologias a uma velocidade que, pessoalmente, nunca vi antes”, afirmou Williams.
Embora a IQT já tenha realizado outros investimentos em Israel, a Kela representa sua primeira participação direta em uma startup israelense voltada especificamente para o mercado militar. Apesar de seu aporte ser inferior aos feitos pela Sequoia e pela Lux, o selo de aprovação de um investimento da CIA tem ajudado outras empresas – como a Palantir – a entrar no setor de defesa. “Nós abrimos portas”, concluiu Williams.
Até mesmo os defensores das startups israelenses de defesa, como Abony, reconhecem que empresas bem-sucedidas em áreas, como cibersegurança e biotecnologia, muitas vezes, não estão preparadas para vender ao Pentágono.
A firma de Abony trabalha em estreita colaboração com companhias israelenses para aprimorar suas apresentações ao Departamento de Defesa dos EUA. “Chegamos a essa conclusão após observar diversas empresas investidas – ou potenciais investimentos – tentando apresentar propostas ao Departamento de Defesa e, francamente, foram péssimas. Não voltaremos a vê-las”, afirmou.