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Relatório revela programa nuclear secreto do Irã e aumenta tensão internacional

Uma investigação conduzida pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), braço nuclear da Organização das Nações Unidas (ONU), aponta que o Irã manteve atividades nucleares secretas usando material não declarado em três locais que há anos estão sob análise. O conteúdo foi divulgado em um relatório confidencial enviado aos Estados-membros da agência e obtido pela Reuters.

Segundo a agência de notícias, o relatório foi solicitado pelo Conselho de Governadores da AIEA, composto por 35 países. As conclusões podem levar potências como EUA, Reino Unido, França e Alemanha a pedir que o Irã seja formalmente acusado de violar suas obrigações internacionais de não proliferação nuclear. Essa acusação abriria caminho para novas sanções e pressão diplomática.

Se isso acontecer, será a primeira vez em quase duas décadas que o Irã será declarado oficialmente em descumprimento. Segundo diplomatas, os quatro países pretendem apresentar uma proposta de resolução na próxima reunião da AIEA, marcada para a semana de 9 de junho. A decisão deve aumentar as tensões entre Teerã e os países ocidentais.

Rafael Grossi, diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), braço nuclear da ONU. Crédito: ADA_photo – Shutterstock

O governo iraniano reagiu com firmeza. Em uma nota conjunta, o Ministério das Relações Exteriores e a agência nuclear do país chamaram o relatório de “politicamente motivado”. Eles disseram que o Irã tomará “medidas apropriadas” se forem adotadas ações contra o país, mas não deram detalhes.

O Irã afirma há anos que sua tecnologia nuclear é apenas para fins pacíficos, como geração de energia. No entanto, o novo relatório da AIEA afirma que as atividades secretas foram organizadas e tinham potencial para produzir armas nucleares. Algumas dessas ações ocorreram até os anos 2000.

Ainda de acordo com o documento, a cooperação do Irã com os inspetores da AIEA continua insatisfatória. Em dois dos locais investigados, foram encontrados vestígios de urânio enriquecido, sinal de uso de material nuclear não declarado. Em um terceiro, houve armazenamento de equipamentos contaminados entre 2009 e 2018.

Os locais mencionados são Lavisan-Shian, Varamin e Turquzabad. Em Lavisan-Shian, por exemplo, um disco de urânio metálico foi usado em testes com fontes de nêutrons explosivas, tecnologia que pode ser usada para iniciar a detonação de uma bomba atômica. Esses testes teriam ocorrido em 2003.

Com base nesses dados, diplomatas afirmam que o Irã pode acabar sendo encaminhado ao Conselho de Segurança da ONU, embora essa decisão deva ficar para uma reunião futura. Mais urgente, no entanto, é a possibilidade de o país acelerar seu programa nuclear como resposta, algo que já aconteceu antes.

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Irã tem volume suficiente de urânio para nove bombas atômicas, diz relatório

Um segundo relatório da AIEA revelou que o estoque iraniano de urânio enriquecido a 60% aumentou para mais de 400 quilos. Esse nível de pureza está próximo do necessário para fabricar armas nucleares. Segundo especialistas, o volume seria suficiente para produzir até nove bombas, se for enriquecido ainda mais.

A situação preocupa países como Israel, que há anos alertam para o risco de um Irã com armas nucleares. O governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou que o mundo precisa agir imediatamente para impedir isso. A AIEA também classificou o nível de enriquecimento do Irã como “motivo de séria preocupação”.

Investigação da ONU aponta que o estoque iraniano de urânio enriquecido a 60% aumentou para mais de 400 kg. Crédito: FOTOGRIN – Shutterstock

Autoridades dos EUA e da AIEA acreditam que o Irã manteve um programa secreto de armas nucleares até 2003. Desde então, o país nega ter buscado esse tipo de armamento. Apesar disso, negociações diplomáticas com os EUA podem ganhar novo capítulo.

No sábado (31), o chanceler iraniano Abbas Araqchi afirmou que Omã intermediou uma nova proposta norte-americana para um possível acordo nuclear. A Casa Branca confirmou o envio de uma proposta, mas não revelou os detalhes. O Irã prometeu responder com base em seus “interesses e direitos nacionais”. Uma nova rodada de negociações entre os dois países deve acontecer em breve, mas ainda não tem data definida.

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Qual é o local mais atingido por armas nucleares do planeta?

No nordeste do Cazaquistão, próximo à cidade de Semey, repousa um lago com um legado perigoso: o Lago Chagan, também conhecido pelo apelido de “Lago Atômico”.

Formado pela força colossal de uma explosão nuclear soviética em 1965, este corpo d’água serve como um lembrete sombrio do poder destrutivo e das consequências permanentes dos testes nucleares.

Principal local de testes nucleares da União Soviética

A cratera que hoje abriga o Lago Chagan, com seus imponentes 100 metros de profundidade e 400 metros de largura, é o resultado direto de um experimento nuclear conduzido pela União Soviética.

A vasta área serviu por quatro décadas como o principal campo de testes nucleares da URSS, palco para um total de 456 detonações, sendo 116 delas realizadas na superfície e 340 no subsolo.

O Lago Chagan, também conhecido como “Lago Atômico”. (Imagem: Druschba 4CC BY-SA 4.0, via Wikimedia Commons)

O marco inicial desta era nuclear para os soviéticos ocorreu em 29 de agosto de 1949, com a detonação da sua primeira bomba atômica, a RDS-1, no próprio Local de Testes Nucleares de Semipalatinsk, apelidado de “O Polígono”.

Este evento demonstrou o avanço tecnológico da União Soviética, rompendo o monopólio nuclear americano, e também acendeu a temida corrida armamentista que moldou a Guerra Fria. Ao longo dos anos seguintes, uma variedade de armamentos foi testada em Semipalatinsk, desde dispositivos de fissão até as devastadoras bombas termonucleares.

O Lago Chagan permanece como um lembrete perigoso do poder e do legado das explosões nucleares. Imagem: The Official CTBTO Photostream via Wikimedia Commons (CC BY 2.0).

Lugar “Ideal” para experimentos nucleares

A escolha de Semipalatinsk como local de testes não foi aleatória. Seu isolamento geográfico e a relativa facilidade de isolamento de áreas povoadas o tornavam um local “ideal” para os experimentos nucleares soviéticos.

No entanto, essa avaliação ignorou a presença de diversas aldeias nos arredores e a proximidade da cidade de Semey, que abrigava mais de um milhão de habitantes. Essa população foi exposta diretamente à precipitação radioativa liberada pelas inúmeras explosões na superfície, sem qualquer aviso por parte das autoridades soviéticas.

Placa de aviso de radiação
(Imagem: Milan Sommer/Shutterstock)

Consequências na saúde

As consequências para a saúde da população local foram devastadoras. O contato com partículas radioativas no ar e a ingestão de alimentos contaminados levaram a um aumento significativo no risco de diversas doenças crônicas.

Estudos realizados desde o final da década de 1980 documentam um impacto considerável na incidência de câncer, doenças da tireoide, distúrbios imunológicos e malformações congênitas entre os residentes da região.

Já em 1958, médicos do Dispensário Número 4 em Semipalatinsk e cientistas do Instituto de Biofísica da Academia de Ciências Médicas da URSS observaram que 22% dos indivíduos examinados apresentavam sintomas relacionados à doença crônica por radiação.

O legado sombrio da radiação não se limita aos efeitos físicos. Pesquisas recentes também destacam o trauma psicológico sofrido pelos moradores locais, marcado pelo estresse e pela ansiedade persistente em relação aos potenciais efeitos da radiação em sua saúde e no futuro de suas famílias.

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O Lago Atômico hoje

  • A última explosão nuclear soviética em Semipalatinsk ocorreu em 1989.
  • Com o colapso da União Soviética e a posterior independência do Cazaquistão, o local de testes foi finalmente fechado.
  • O Lago Atômico, antigamente palco de destruição, agora serve como um alerta silencioso sobre as cicatrizes deixadas pela era nuclear.
  • As pesquisas sobre as populações que viveram e ainda vivem na região continuam sendo fundamentais para compreender os efeitos a longo prazo da radiação, não somente nos indivíduos expostos, mas também nas futuras gerações.

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