Arqueólogos descobriram uma rara inscrição do faraó Ramsés III no sul da Jordânia. Os hieróglifos revelaram novas informações sobre as relações do Antigo Egito com a Península Arábica.
A equipe encontrou as marcações cravadas em uma rocha na Reserva de Wadi Rum, localizada perto da fronteira com a Arábia Saudita. Elas estão divididas em dois cartuchos: um com o nome de nascimento de Ramsés III e outro com seu nome de faraó. Essas informações confirmaram seu reinado sobre o Alto e Baixo Egito entre 1186 a.C. e 1155 a.C.
“Esta é uma descoberta histórica que aumenta nossa compreensão das conexões antigas entre o Egito, a Jordânia e a Península Arábica”, disse a Ministra do Turismo e Antiguidades da Jordânia, Lina Annab, em uma coletiva de imprensa.
As inscrições estão numa rocha entre a Jordânia e a Arábia Saudita. (Imagem: Ministério do Turismo e Antiguidades da Jordânia)
O Ministério de Turismo e Antiguidades da Jordânia está conduzindo a pesquisa e as escavações. O projeto é parte de uma iniciativa maior de documentar evidências das campanhas militares e culturais de Ramsés III para além das fronteiras do Egito.
A Jordânia nunca foi parte do Império Egípcio, mas estava em diversas rotas de comércio entre o Egito, o Levante e a Arábia. Os hieróglifos descobertos podem revelar mais sobre a relação entre essas regiões.
“A descoberta é crucial. Ela pode abrir caminho para uma compreensão mais profunda das interações do Egito com o sul do Levante e a Península Arábica há mais de 3.000 anos”, disse o Dr Zahi Hawass, arqueólogo e ex-ministro do Conselho Supremo de Antiguidades do Egito.
Ramsés III entrou para a história por defender o Egito contra invasores, principalmente os chamados Povos do Mar, e pela construção de grandes projetos. Sua história foi marcada pela batalha do Delta, quando o faraó derrotou os invasores marítimos.
Uma análise mais profunda do artefato está em processo — com a possibilidade de mais escavações no local. A equipe irá lançar um panorama maior da descoberta assim que o estudo estiver completo.
Pela primeira vez na história, arqueólogos encontraram provas físicas de um gladiador que lutou contra um leão. A descoberta ocorreu em York, no Reino Unido, e oferece uma confirmação concreta de uma das cenas mais icônicas da cultura do Império Romano: o confronto direto entre homem e animal.
Até hoje, o que se sabia sobre essas lutas vinha de textos antigos, esculturas e mosaicos. Filmes e séries ajudaram a popularizar essas histórias, mas nenhuma evidência física havia sido localizada – nenhum osso humano com marcas típicas de ataque por animais selvagens.
Isso mudou com a análise de um esqueleto batizado de 6DT19, encontrado em York há cerca de 20 anos. A ossada foi descoberta durante escavações no quintal de uma casa, quando os proprietários planejavam uma reforma e se depararam com indícios de um cemitério.
Diversas obras de arte retratam lutas entre gladiadores e grandes felinos. Crédito: Sofoklo – Shutterstock
Mais de 80 gladiadores foram sepultados no local
Arqueólogos descobriram mais de 80 esqueletos no local, a maioria de homens jovens. Muitos apresentavam lesões compatíveis com combates violentos. Os ferimentos e o padrão de sepultamento sugeriam que aquelas pessoas poderiam ter sido gladiadores.
O esqueleto 6DT19 despertou atenção por uma razão específica: havia marcas estranhas no osso do quadril. Eram pequenos sulcos que não combinavam com cortes de espada ou impactos comuns em batalhas humanas.
Outros especialistas já haviam cogitado que as marcas fossem mordidas de um animal de grande porte, como um leão. Mas, ninguém havia conseguido provar isso até o estudo liderado pelo antropólogo Tim Thompson, da Universidade Maynooth, na Irlanda, que foi publicado na quarta-feira (23) na revista PLOS One.
Primeira evidência concreta de que homens lutaram contra grandes felinos
Para chegar a uma conclusão, Thompson e sua equipe precisaram de uma base de comparação. Eles recorreram a zoológicos britânicos, pedindo acesso a ossos de animais mortos por grandes felinos como leões, tigres e chitas.
Com o material em mãos, os cientistas iluminaram os ossos com uma grade de luz especial e criaram mapas tridimensionais das mordidas. Depois, fizeram o mesmo com o esqueleto 6DT19 e compararam os padrões de marca.
O resultado foi surpreendente: as marcas no osso do gladiador eram compatíveis com a mordida de um leão. A semelhança nos ângulos, profundidade e espaçamento das marcas eliminou outras possibilidades.
Lesões nos ossos de um esqueleto humano encontrado em York, no Reino Unido, são consistentes com marcas de mordidas de animais. Crédito: Thompson et al., 2025, PLOS One
A descoberta representa a primeira evidência física direta de que gladiadores lutaram contra grandes felinos, como sugerem os relatos históricos. Um símbolo do entretenimento brutal promovido pelos romanos.
Segundo Thompson, a mordida no quadril não parece ter sido fatal. A hipótese mais provável é que o homem já estivesse ferido ou inconsciente quando foi atacado. O leão teria mordido e arrastado o corpo, como fazem com presas na natureza.
A antropóloga Kathryn Marklein, da Universidade de Louisville, que não participou da pesquisa, afirmou ao jornal The New York Times que esse achado ajuda a compreender melhor como Roma usava a violência como espetáculo e mecanismo de poder.
Trazer leões de regiões distantes e colocar humanos para lutar com eles era uma maneira de mostrar força. Era um lembrete cruel do que poderia acontecer com quem desobedecesse ao Império. “Era mais do que entretenimento”, disse Marklein. “Era um teatro de dominação. Quem assistia entendia o recado: respeite Roma ou arrisque terminar assim”.
Os arqueólogos descobrem novos achados constantemente, e, em alguns casos, essas descobertas incluem múmias. Essa informação é relevante porque o título de “múmia mais antiga já encontrada” pode mudar a qualquer momento (como já aconteceu no passado). Além disso, a datação dos exemplares pode ser questionada (como também já ocorreu). Por isso, responder a essa pergunta pode ser bastante complexo, mas vamos aos fatos.
O tema voltou a gerar dúvidas recentemente com a publicação de um artigo na revista American Antiquity, que revelou mais detalhes sobre a descoberta do Spirit Cave Man, ocorrida em 1940. A múmia, encontrada em uma caverna no estado de Nevada, nos Estados Unidos, pertencia a um nativo americano.
Inicialmente, os arqueólogos estimaram que a múmia tinha menos de 2 mil anos. No entanto, uma datação por radiocarbono realizada em 1997 revelou que o corpo foi enterrado na caverna há 10.700 anos. Seria esse, então, o exemplar de mumificação mais antigo já conhecido no planeta?
Imagem: Museu do Estado de Nevada
A resposta não é tão simples. Existe uma diferença entre mumificação natural e mumificação intencional, e, normalmente, quando falamos de múmias antigas, referimo-nos a casos intencionais, como os do Antigo Egito.
Embora o corpo de Spirit Cave estivesse envolto em esteiras de fibra vegetal e uma mortalha de pele animal, ele não foi intencionalmente mumificado. O processo ocorreu por secagem natural devido ao clima desértico da caverna.
O Spirit Cave Man é um caso bastante raro e, se considerarmos apenas múmias naturais, seria o mais antigo já encontrado. Porém, se nos referirmos a múmias que foram intencionalmente mumificadas, o título passa para outro achado.
Nesse caso, a coroa fica com a famosa múmia do Vale do Sado, em Portugal, descoberta em 2021 e datada de aproximadamente 8.000 anos atrás (6.000 a.C.). Pesquisadores da Universidade de Uppsala (Suécia) e da Universidade de Lisboa identificaram sinais de embalsamamento intencional. O solo seco e salino da região ajudou na preservação, mas as evidências de manipulação confirmam que se tratou de um processo ritualístico.
Imagem: Peyroteo-Stjerna et al/European Journal of Archaeology
O corpo foi amarrado em posição fetal para expelir líquidos e preenchido com terra e argila para manter sua forma. A descoberta mostrou que as técnicas de mumificação são mais antigas do que se imaginava.
Até então, a múmia mais antiga conhecida datava de 5.000 a.C., encontrada no deserto do Atacama, no Chile. O processo teria sido realizado pelos Chinchorros, uma antiga civilização que habitou regiões da América do Sul, entre o atual Chile e o Peru.
Diferentemente dos egípcios, que mumificavam principalmente membros da elite, os Chinchorros preservavam homens, mulheres e até crianças, sugerindo um aspecto mais igualitário e ritualístico em suas práticas.
Imagem: World History Documentaries
E as múmias do Egito?
As famosas múmias egípcias ficariam em terceiro (ou quarto) lugar nessa lista. Apesar de serem a civilização mais associada à mumificação, não foram os primeiros a realizar esse tipo de ritual.
No Egito, os exemplares mais antigos datam de cerca de 2.400 a.C. A múmia de Tutancâmon, por exemplo – conhecida por ter sido encontrada em uma tumba praticamente intacta –, foi descoberta em 1922 e tem aproximadamente 1.323 a.C., sendo bem mais recente que os achados de Portugal e do Chile.
Você já deve ter ouvido que contraste social é algo impossível de evitar, quase uma “lei da natureza”. Mas e se disséssemos que povos antigos viveram por milênios sem super-ricos nem explorados? Um estudo analisou 50 mil casas de civilizações antigas ao redor do mundo e chegou a uma conclusão surpreendente: a desigualdade não acompanha a humanidade como uma sombra. Ela surge (ou não) de acordo com as regras que escolhemos seguir.
Em vez de pirâmides com faraós e camponeses, alguns povos construíram cidades onde ninguém acumulava demais. A diferença entre casas era mínima. Ninguém vivia em palácios enquanto outros passavam fome. E o mais curioso: isso não dependia do tamanho da população ou da complexidade do governo.
A chave estava nas decisões coletivas. Regras claras impediam o acúmulo exagerado. Leis, impostos e até festas públicas financiadas pelos mais ricos ajudavam a manter o equilíbrio. Em algumas culturas, heranças eram limitadas. Em outras, dívidas eram perdoadas após a morte. A desigualdade, ao que tudo indica, seria uma invenção — não um destino.
Desigualdade tem história — e exceções
O desequilíbrio não foi sempre a norma. De acordo com a revista Live Science, um estudo recente revela que várias sociedades viveram por séculos com baixos níveis de disparidade social. Os arqueólogos envolvidos na pesquisa usaram o tamanho das moradias como um indicador de riqueza e descobriram que nem o crescimento populacional nem a complexidade dos governos são fatores determinantes para o surgimento de elites dominantes.
Pesquisadores comandam as escavações na residência da Plataforma 11 em El Palmillo, México (Imagem: Linda Nicholas e Gary Feinman/Divulgação)
Cidades como Mohenjo-Daro, no Vale do Indo, e os assentamentos tripilianos, na atual Ucrânia, cresceram com planejamento urbano sem sinais de concentração de riqueza. Em contraste, outras regiões só registraram desigualdade expressiva muitos séculos após o início da agricultura.
A pesquisa também destaca o papel da cultura e da ideologia. Em sociedades onde a cooperação era valorizada mais do que a competição, o acúmulo excessivo de riqueza era malvisto — ou até impedido por normas sociais. Já em contextos onde o prestígio vinha da ostentação, as diferenças tendiam a se ampliar.
O que as ruínas nos ensinam sobre o presente
Os dados levantados pelo estudo cobrem um intervalo de tempo que vai do fim do Pleistoceno até o início do colonialismo europeu — cerca de 10 mil anos de história. Com essa escala, os arqueólogos conseguiram mostrar que a desigualdade não é um produto inevitável da civilização, mas algo que varia de acordo com as decisões humanas ao longo do tempo.
Sociedades complexas podem prosperar sem a necessidade de elites dominantes, segundo estudo (Imagem: rustamank/Shutterstock)
Essa perspectiva histórica ajuda a colocar em xeque discursos modernos que tratam disparidades sociais como naturais ou imutáveis. Se povos antigos conseguiram desenvolver cidades organizadas, com redes de troca, cultura complexa e pouca desigualdade, o que impede sociedades atuais de buscar modelos mais justos? A pesquisa oferece um contraponto poderoso ao conformismo econômico.
Para Gary Feinman, autor principal do estudo, a arqueologia pode servir como um espelho — mostrando que há alternativas viáveis ao modelo atual. Ao estudar o passado com método e dados comparáveis, é possível entender que o futuro também está aberto a escolhas. Afinal, se a desigualdade foi evitada antes, ela pode ser enfrentada de novo.
Pesquisadores acreditam ter encontrado as ruínas de Lyncus, a cidade ancestral que foi a capital do Reino de Lyncestis, na atual Macedônia do Norte. Se a descoberta for confirmada, pesquisas podem revelar mais sobre o local onde a avó paterna de Alexandre, o Grande, nasceu.
A família de Alexandre está ligada a cidade por duas gerações. Seu pai, Felipe II, incorporou Lyncus ao Império Macedônio durante seu reinado de 359 a 336 a.C. A avó do imperador, Eurydice I, teria nascido no local e desempenhado um papel fundamental na formação do cenário político da região, segundo afirmaram os historiadores.
Em 1966, uma equipe de pesquisa encontrou os restos da cidade perto da vila de Crnobuki e nomeou o local de sítio arqueológico de Gradishte. Na época, o grupo acreditava que o local era uma base militar feita para resistir ao Império Romano.
Foi em 2023 que um novo time de arqueólogos usou a ferramenta de varredura a laser LiDAR (light detection and ranging) em drones para criar um mapa do local. Essa técnica penetrou nas folhas e no solo até certo ponto e pôde revelar o que os pesquisadores não conseguiam observar a olho nu.
“Estamos apenas começando a arranhar a superfície do que podemos aprender sobre este período”, disse Egin Nasuh, arqueólogo curador-consultor no Instituto e Museu Nacional–Bitola, em um comunicado.
Uma lâmpada de 2 mil anos reconstruída pelos pesquisadores. (Imagem: Cal Poly Humboldt’s Cultural Resources Facility)
Moeda do tempo de Alexandre muda perspectiva
Os arqueólogos descobriram que a cidade tinha uma acrópole com cerca de 2,8 hectares. Além dela, o grupo encontrou o que acreditam ser os restos de uma oficina têxtil e um teatro. A equipe também examinou diversos artefatos como vasos, moedas, peças de jogo e até mesmo um ingresso de teatro feito de argila.
Pesquisas anteriores acreditavam que os macedônios haviam construído a cidade somente após o reinado de Felipe V, de 221 a 179 a.C. No entanto, o grupo atual encontrou uma moeda cunhada entre 325 e 323 a.C., o que indica a existência de Lyncus durante o período de vida de Alexandre.
Moeda de 325 a.C. que mudou a perspectiva dos arqueólogos. (Imagem: Cal Poly Humboldt’s Cultural Resources Facility)
A equipe de pesquisadores está trabalhando para encontrar novos artefatos e desvendar a história completa da cidade. Estudos futuros prometem revelar mais sobre a cultura e política da antiga Macedônia.
“Todos esses estudos são apenas uma pequena parte da pesquisa sobre as primeiras civilizações europeias. Eu os vejo como um grande mosaico, e nossos estudos são apenas algumas pedrinhas nesse mosaico. A cada estudo subsequente, uma nova pedrinha é adicionada, até que um dia conseguimos o panorama completo”, concluiu Nasuh.
Um paleontólogo de Taiwan se deparou com um fóssil curioso em 2010. Era uma mandíbula que lembrava a de um gorila. A “peça”, encontrada no fundo do oceano por pescadores taiwaneses, intrigou cientistas por 15 anos. Agora, o mistério foi resolvido: o osso pertencia a um denisovano, parente dos neandertais.
A descoberta, publicada na revista Science nesta semana, amplia o que e sabe sobre onde denisovanos viveram. Até então, seus fósseis tinham sido encontrados apenas na Sibéria e no Tibete. Agora, Taiwan integra esta lista.
Fóssil de denisovano fazia parte de coleção particular
A mandíbula, chamada de Penghu 1, foi analisada por uma equipe internacional liderada por Chun-Hsiang Chang, do Museu Nacional de Ciências Naturais de Taiwan. Ele conheceu o fóssil por meio de um colecionador particular.
(Imagem: Yusuke Kaifu)
Ao estudar o fóssil, Chang percebeu que não era de um gorila. O formato não era em U, mas projetado para fora do queixo, como nas mandíbulas humanas. No entanto, não tinha o queixo proeminente dos Homo sapiens.
“Pensei que parecia humana, mas não de um humano moderno”, contou Chang, segundo o New York Times. Ele convenceu o colecionador a emprestar a peça ao museu. Ao longo dos cinco anos seguintes, trabalhou com outros cientistas para investigar sua origem.
Determinar a idade da mandíbula foi um desafio. Isso porque sua origem exata no fundo do mar era desconhecida. Pela química do osso, os cientistas descobriram semelhanças com fósseis de uma hiena asiática de cerca de 400 mil anos.
(Imagem: Cheng-Han Sun)
Taiwan era separado do continente naquela época. Mas houve períodos em que o nível do mar caiu, formando pontes de terra. Os pesquisadores acreditam que o homem de Penghu 1 viveu numa dessas épocas.
A hipótese de que o fóssil era de um denisovano já existia desde 2010, ano em que os primeiros restos desse grupo foram encontrados na caverna Denisova, na Sibéria. Um dente da mandíbula se assemelhava a outro encontrado lá. Porém, isso não bastava.
Os pesquisadores tentaram extrair DNA do osso, mas não conseguiram. Em 2015, a pesquisa emperrou.
Análise de proteínas antigas
Então, o cientista Frido Welker passou a trabalhar com análise de proteínas antigas. Em 2019, ele encontrou fragmentos de colágeno numa mandíbula de 160 mil anos no Tibete. E concluiu que era de um denisovano.
Descoberta recente expande mapa dos misteriosos denisovanos (Imagem: Gorodenkoff/Shutterstock)
Isso o levou a buscar outros fósseis com características parecidas. Foi aí que a mandíbula de Penghu, com seus dentes grandes, entrou no seu radar. E Welker contatou Chang.
Em 2023, o fóssil foi levado a Copenhague, na Dinamarca, para nova análise. O resultado confirmou: havia proteínas compatíveis com as de denisovanos.
Outro dado veio das proteínas do esmalte dentário. Elas mostraram que o fóssil era de um homem adulto. Isso porque carregava a versão masculina do gene do esmalte, localizada no cromossomo Y.
Com essa confirmação, o mapa dos denisovanos se expandiu. Ainda assim, os cientistas acreditam que outras pistas podem estar guardadas em cavernas do sudeste asiático. E também em coleções de museus mundo afora.
Um raro manuscrito medieval com trechos sobre Merlin, o mago conselheiro do Rei Arthur, da Inglaterra, foi restaurado por especialistas da Biblioteca da Universidade de Cambridge. O projeto durou três anos e uniu tecnologia de ponta à pesquisa histórica para recuperar o conteúdo sem causar danos ao documento original.
O fragmento foi reconhecido como parte do Suite Vulgata du Merlin, uma sequência em francês da lenda do Rei Arthur. A história fazia parte do ciclo Lancelot-Graal, um best-seller medieval, mas poucos agora permanecem.
Em poucas palavras:
Um manuscrito medieval com trechos sobre Merlin, conselheiro do Rei Arthur, foi encontrado em 2019 na capa de um livro antigo;
O material era frágil, dobrado e costurado, dificultando o acesso ao conteúdo original;
Especialistas da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, criaram métodos não invasivos para recuperar o texto;
Técnicas como modelagem 3D, tomografia e imagens multiespectrais revelaram trechos apagados.
O manuscrito escondido e o desafio da restauração
O manuscrito foi encontrado em 2019, escondido na encadernação de um livro antigo. Produzido à mão na Idade Média, em torno de 700 anos atrás, foi recuperado séculos depois. Estava dobrado, rasgado, manchado e costurado como parte estrutural da capa do livro, o que dificultava o acesso ao seu conteúdo.
Diante da fragilidade do material, os conservadores optaram por não desmontar o livro fisicamente, para não comprometer ainda mais o manuscrito. O desafio levou ao desenvolvimento de uma abordagem inovadora, que permitiu a leitura do texto por meio de métodos não invasivos.
A equipe utilizou modelagem 3D e técnicas de digitalização industrial para mapear os vincos e as dobras do papel em detalhes precisos. Com esses dados, foi possível simular digitalmente o desdobramento do manuscrito, evitando qualquer contato direto com o material.
O Laboratório de Imagens do Patrimônio Cultural da universidade (CHIL) também usou espelhos, ímãs e câmeras especiais para fotografar cada parte do fragmento. As imagens foram reunidas e montadas digitalmente, formando uma réplica tridimensional do documento.
O fragmento medieval foi descoberto em 2019 nesta caixa de rolos judiciais durante a recatalogação de registros senhoriais e imobiliários. Crédito: Universidade de Cambridge
Segredos revelados sobre Merlin e o Rei Arthur
Em seguida, os pesquisadores aplicaram imagens multiespectrais (MSI), uma técnica que capta diferentes comprimentos de onda de luz, como ultravioleta e infravermelho. Essa tecnologia revelou palavras apagadas ou escondidas por manchas, trazendo trechos do texto de volta à visibilidade.
Para aprofundar a análise, a equipe recorreu a um scanner do departamento de Zoologia da universidade. O equipamento, geralmente usado em fósseis, realizou uma tomografia computadorizada do manuscrito. O resultado foi um modelo 3D detalhado da encadernação do século XVI.
Sally Kilby (Departamento de Conservação) e Błażej Mikuła (CHIL) fotografando cuidadosamente dentro das dobras do manuscrito. Crédito: Universidade de Cambridge
Em um comunicado, Irène Fabry-Tehranchi, especialista da Biblioteca de Cambridge, explica que o objetivo não era apenas recuperar um texto antigo, mas também criar um método aplicável a outros casos semelhantes. Ela destacou que muitas bibliotecas enfrentam o mesmo desafio: fragmentos frágeis escondidos em encadernações históricas.
O fragmento conta dois episódios-chave do final do Suite Vulgata du Merlin. A primeira parte relata a vitória dos cristãos contra os saxões na Batalha de Cambénic. Conta a luta de Gauvain (com sua espada Excalibur, seu cavalo Gringalet e seus poderes sobrenaturais), seus irmãos e seu pai, o rei Loth, contra os reis saxões Dodalis, Moydas, Oriancés e Brandalus.
A segunda passagem apresenta uma cena mais cortês, ambientada na Festa da Assunção da Virgem Maria, com Merlin aparecendo na corte do Rei Arthur disfarçado de harpista – um momento que destaca suas habilidades mágicas e sua importância como conselheiro do rei.
A metodologia desenvolvida nesta abordagem serve como modelo para o estudo e acesso não invasivo a documentos delicados. A equipe espera que a iniciativa inspire novas buscas por manuscritos medievais esquecidos, como este sobre o universo do Rei Arthur e do mago Merlin.
Uma escavação arqueológica no noroeste do Marrocos revelou o primeiro assentamento da Idade do Bronze na região do Magreb, no norte da África. A descoberta muda a compreensão histórica sobre o continente, antes considerado “terra vazia” até a chegada dos fenícios.
O local escavado se chama Kach Kouch e fica perto do Estreito de Gibraltar, nas margens do rio Lau. Segundo os pesquisadores, trata-se do assentamento da Idade do Bronze mais antigo conhecido no norte da África mediterrânea, exceto pelo Egito.
A pesquisa é liderada por Hamza Benattia Melgarejo, doutorando da Universidade de Barcelona. As descobertas foram publicadas na revista Antiquity.
Assentamento descoberto desafia o que se sabe sobre história da África na Idade do Bronze
Durante as escavações, foram encontradas evidências de três períodos distintos de ocupação humana entre 2200 e 600 a.C. Isso desafia os relatos históricos que afirmavam não haver população fixa antes de 800 a.C.
Arqueólogos encontraram evidências de três períodos de ocupação humana, entre 2200 e 600 a.C, no assentamento da Idade do Bronze (Imagem: Universidade de Barcelona)
O primeiro período, entre 2200 e 2000 a.C., tem poucos vestígios materiais. Mas já representa presença humana importante.
Já entre 1300 e 900 a.C., Kach Kouch viveu uma fase próspera, com construções de tijolos de barro, silos e pedras de moagem. Ali floresceu uma sociedade agrícola, com plantação de cevada e trigo; e criação de animais.
O último período, de 800 a 600 a.C., mostra um povo adaptável e aberto às inovações. Ferramentas de ferro, cerâmica moldada em roda e arquitetura em pedra mostram influências externas, como as do Mediterrâneo oriental.
Escavação revela primeira evidência de vida sedentária anterior aos fenícios na região africana (Imagem: Universidade de Barcelona)
Para Benattia (líder do estudo, lembra?), essa é a primeira evidência de vida sedentária anterior aos fenícios na região. “Mostra a história de comunidades locais dinâmicas, longe de serem isoladas”, disse, em comunicado publicado pela Universidade de Barcelona.
A descoberta de Kach Kouch ajuda a corrigir antigos vieses sobre a história africana, segundo o pesquisador. “[O estudo] revela que o Magreb foi um participante ativo nas redes culturais, econômicas e sociais do Mediterrâneo”, conclui.
Arqueólogos do Museu de Viena identificaram uma vala comum com cerca de 150 soldados romanos no bairro de Simmering, na capital austríaca. A descoberta ocorreu durante as obras para a reforma de um campo de futebol em outubro passado. Agora, análises confirmam que os restos mortais são do século 1 e indicam um evento militar catastrófico.
De acordo com a agência de notícias AP News, os esqueletos estavam desordenados e entrelaçados, o que sugere uma morte violenta em batalha. Segundo os pesquisadores, os homens tinham entre 20 e 30 anos e apresentavam ferimentos compatíveis com espadas, lanças e projéteis. Acredita-se que tenham sido vítimas de um conflito entre o Império Romano e tribos germânicas.
Em poucas palavras:
Arqueólogos encontraram 150 soldados romanos enterrados em Viena, na Áustria;
Os esqueletos indicam um massacre em batalha contra tribos germânicas;
O enterro em massa é raro, já que o comum para a época era a cremação;
Novas escavações podem revelar mais ossadas e evidências do conflito;
Pesquisadores analisam os restos mortais para entender a vida e a guerra romana.
Encontrar os corpos enterrados dos primeiros soldados romanos é algo extremamente raro. Crédito: Reiner Riedler, Museu de Viena
“Enterros de corpos inteiros eram uma exceção no Império Romano daquela época, pois a cremação era a prática predominante”, explicou Kristina Adler-Wölfl, chefe de arqueologia da cidade. O costume da cremação seguiu até o século 3 d.C., tornando essa descoberta extremamente rara.
A escavação começou com a identificação de 129 esqueletos, mas o número aumentou conforme os trabalhos avançavam. Os arqueólogos acreditam que ainda há mais ossos no local, reforçando a hipótese de que o sítio arqueológico guarda registros de um massacre.
Local pode trazer detalhes dos conflitos do Império Romano
Michaela Binder, que lidera a equipe de escavação, destacou a importância do achado. “Existem grandes campos de batalha na Alemanha onde armas foram encontradas, mas localizar os corpos dos combatentes é algo inédito na história romana”, afirmou. Para os pesquisadores, o local pode revelar detalhes desconhecidos sobre as estratégias militares e os conflitos da época.
A análise arqueológica dos restos mortais determinou que os homens foram mortos em batalha. Crédito: Reiner Riedler, Museu de Viena
A equipe continuará analisando os esqueletos para determinar suas origens, condições de vida e possíveis marcas de doenças ou desnutrição. Além disso, os arqueólogos esperam encontrar vestígios de armaduras, armas e outros objetos que ajudem a reconstruir o contexto do combate.
O Museu de Viena informou que a pesquisa está apenas no início e que novas descobertas podem surgir à medida que as escavações progridem. Apresentado ao público pela primeira vez na quarta-feira (2), o achado lança luz sobre um episódio violento da presença romana na região e pode modificar o que se sabe sobre a expansão e os conflitos do Império no norte da Europa.
Uma escavação realizada na Cidade Velha de Jerusalém, em Israel, revelou detalhes inéditos sobre o passado do local. A análise de vestígios biológicos sugere que, há cerca de 2.000 anos, oliveiras e videiras cresciam no terreno onde hoje está a Igreja do Santo Sepulcro. A descoberta reforça a descrição bíblica do Evangelho de João, que menciona um jardim próximo ao local da crucificação e sepultamento de Jesus.
Ora, no lugar onde ele foi crucificado havia um jardim; e no jardim um novo sepulcro, onde nunca fora posto ninguém. Ali, pois, puseram Jesus.
João 19:41-42
A nova pesquisa encontrou evidências que dão suporte a essa narrativa. Amostras retiradas das escavações revelaram vestígios de pólen e restos vegetais compatíveis com uma paisagem de oliveiras e videiras.
Escavações na Igreja do Santo Sepulcro revelaram um jardim que confirma relato do evangelho de João sobre o local de sepultamento de Jesus. Crédito: Custodia Terrae Sanctae
Francesca Romana Stasolla, arqueóloga da Universidade Sapienza de Roma, na Itália, lidera as escavações desde 2022. Segundo ela, a presença dessas plantas indica que, na época de Jesus, a área era um espaço verde e cultivado, o que se alinha com o relato bíblico. Testes de radiocarbono ainda serão realizados para confirmar a idade exata dos vestígios encontrados.
O que havia no local antes da igreja
Atualmente, a Igreja do Santo Sepulcro é um dos locais mais sagrados do cristianismo, por ser tradicionalmente considerada o ponto da crucificação e do túmulo de Jesus. Mas o terreno onde ela foi construída passou por diversas transformações ao longo dos séculos.
No tempo de Jesus, essa região ficava fora dos muros da cidade de Jerusalém. Apenas no século II, quando o imperador Adriano reconstruiu Jerusalém como Aelia Capitolina, o local passou a fazer parte da cidade romana. Antes disso, a área era usada para agricultura e, possivelmente, para sepultamentos.
Vestígios de uma antiga pedreira foram identificados sob a igreja. De acordo com Stasolla, era comum que antigas pedreiras abandonadas fossem reaproveitadas para outros usos. Naquele período, o terreno começou a ser utilizado como cemitério, e algumas sepulturas foram esculpidas na rocha. Uma delas foi posteriormente identificada como o túmulo de Jesus.
Escavação na Igreja do Santo Sepulcro levaram a descoberta do local exato da crucificação de Jesus. Crédito: Universidade de Roma Sapienza
Como a igreja foi construída e transformada ao longo dos séculos
O primeiro edifício religioso erguido no local surgiu no século IV, quando o imperador Constantino adotou o cristianismo e ordenou a construção de uma grande basílica para marcar o local da crucificação e sepultamento de Cristo. No entanto, a igreja sofreu vários danos ao longo da história.
Em 614, o exército persa incendiou o templo. Em 1009, o califa muçulmano Al-Hakim ordenou sua destruição quase completa. No século XII, os cruzados reconstruíram a basílica, dando-lhe sua forma atual. Desde então, o edifício passou por restaurações contínuas, com sua última grande reforma ocorrendo no século XIX.
Após anos de disputas entre as três comunidades religiosas responsáveis pela administração da igreja (o Patriarcado Ortodoxo Grego, a Custódia da Terra Santa e o Patriarcado Armênio), uma nova reforma foi aprovada em 2019 para substituir o piso do edifício. Isso abriu uma oportunidade para as escavações arqueológicas, que vêm sendo conduzidas nos últimos anos.
Como os arqueólogos comprovaram a existência do jardim
A equipe de Stasolla utilizou métodos avançados para identificar os restos de vegetação na área. Foram analisadas camadas do solo e amostras de pólen preservadas por séculos sob o piso da basílica. Os resultados indicaram que, no passado, o local abrigava oliveiras e videiras, plantas comuns na região mediterrânea e citadas frequentemente na Bíblia.
A descoberta é significativa porque confirma que a área descrita nos evangelhos como um “jardim” realmente existiu. A pesquisa também sugere que o ambiente ao redor do túmulo de Jesus era diferente do que se imaginava. Em vez de um espaço árido e rochoso, o local provavelmente tinha vegetação e era utilizado para cultivo.
Vista da igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém. Crédito: WDG Photo – Shutterstock
Realizar escavações arqueológicas sob um dos templos mais importantes do cristianismo exige extrema cautela. A equipe italiana que trabalha no projeto precisou dividir o espaço em pequenas áreas, escavando uma de cada vez e cobrindo cada trecho antes de abrir um novo. Isso permitiu que os peregrinos continuassem visitando a igreja sem grandes interrupções.
“Se imaginarmos que estamos montando um quebra-cabeça, estamos escavando uma peça de cada vez, mas, no final, teremos uma reconstrução multimídia completa do quadro geral”, explicou Stasolla ao site The Times of Israel.
Os pesquisadores também enfrentaram desafios técnicos. Como a Igreja do Santo Sepulcro foi construída e reconstruída diversas vezes, há muitas camadas históricas sobrepostas. Escavar esse tipo de local requer um trabalho meticuloso para diferenciar cada período sem comprometer as estruturas mais recentes.
A confirmação do relato bíblico sobre o túmulo de Jesus
Embora a arqueologia não possa provar eventos religiosos, como a ressurreição de Jesus, as evidências encontradas reforçam elementos históricos descritos na Bíblia. A existência de um jardim próximo ao local da crucificação é um detalhe que, até agora, não tinha sido comprovado.
Para os estudiosos, essa descoberta não apenas confirma a descrição dos evangelhos, como também oferece uma nova compreensão sobre a paisagem da Jerusalém do século I. Saber que a área ao redor do túmulo de Jesus era um jardim ajuda a visualizar melhor o cenário em que ocorreram os eventos narrados na tradição cristã.
A pesquisa ainda está em andamento, e novas análises devem fornecer mais detalhes sobre o uso da terra antes da construção da igreja. Testes adicionais podem determinar a idade exata dos restos vegetais e confirmar se já havia um jardim ativo no período em que Jesus foi crucificado.