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Estudo revela armas de 20 mil anos feitas com ossos de baleia

Cientistas estudaram as ferramentas mais antigas feitas com ossos de baleia até o momento. Datados de 20 mil anos atrás, os artefatos lançam luz sobre o uso dos restos mortais desses gigantes dos mares por humanos e trazem pistas sobre a ecologia marinha da época.

O grupo explicou que as baleias são uma importante fonte de comida e outros materiais, como óleo, ossos e barbatanas. Elas foram animais importantes para a sobrevivência dos grupos humanos em áreas costeiras.

Porém, como foi os primórdios da interação entre o Homo sapiens e esses colossos dos oceanos? O novo estudo, publicado na Nature Communications, traz pistas para a resposta.

Parte dos artefatos foi encontrada em 2022 na caverna de Isturits, na França. (Imagem: Jean-Marc Pétillon)

Ossos revelam antiga relação

A equipe analisou 83 ossos de sítios de escavação na região da Cantábria, na Espanha, e no sudeste da França, e 90 amostras ósseas adicionais da caverna de Santa Catalina, na Baía da Biscaia, também em território espanhol. Os pesquisadores reconheceram a idade e a espécie dos fósseis por meio da datação de radiocarbono e da espectrometria de massa.

O artigo sugere que as ferramentas poderiam pertencer aos magdalenianos – grupo humano que habitou a região de 19 a 14 mil anos atrás, durante o fim do último período glacial

Em entrevista ao site ScienceAlert, o paleontólogo e autor do estudo Jean-Marc Petillon explicou que as técnicas para caçar baleias surgiram milhares de anos depois. Então, os povos da região provavelmente coletavam os ossos de baleias encalhadas nas praias e usavam esses materiais para fabricar ferramentas, principalmente a ponta de projéteis.

“O fato de algumas pontas serem feitas de osso de baleia mostra que esse material era preferido ao chifre em certos casos. Provavelmente devido às suas grandes dimensões: algumas de nossas pontas de osso de baleia tinham mais de 40 centímetros de comprimento, o que é difícil de obter com chifre”, disse o pesquisador.

Fragmento de uma vértebra de baleia-comum do sítio de Santa Catalina, Espanha, de cerca de 15.500 a 15.000 anos atrás.
Fragmento de uma vértebra de baleia-comum do sítio de Santa Catalina, Espanha, de cerca de 15.500 a 15.000 anos atrás. (Imagem: Jean-Marc Pétillon)

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Milhares de anos, poucas mudanças

Ao analisar os ossos, a equipe identificou espécies como cachalotes, baleias-comuns e baleias-azuis, todas ainda presentes no Golfo da Biscaia, bem como baleias-cinzentas, uma espécie atualmente restrita principalmente aos oceanos Pacífico Norte e Ártico.

“Nosso estudo revela que os ossos vieram de pelo menos cinco espécies de baleias grandes, sendo que a mais antiga data de aproximadamente 19 a 20 mil anos atrás. Estes representam algumas das primeiras evidências conhecidas de humanos usando restos de baleia como ferramentas”, disse Jean-Marc Pétillon, autor sênior da pesquisa, em um comunicado.

A análise química dos artefatos revelou que os hábitos alimentares desses animais eram diferentes das de suas representantes atuais. O paleontólogo sugeriu que isso se deva a diferentes padrões de migração ou disponibilidade de comida, mas ainda não é possível saber a resposta.

“O que foi mais surpreendente para mim foi que essas espécies de baleias permaneceram as mesmas, apesar da grande diferença ambiental entre o Pleistoceno Superior e a atualidade. No mesmo período, as faunas continentais eram muito diferentes: os ungulados caçados – que incluem renas, antílopes saiga, bisões, etc. – todos desapareceram da Europa Ocidental hoje”, explicou o cientista.

O grupo disse que realizar esse tipo de pesquisa tem sido uma tarefa difícil. A elevação do nível do mar altera as linhas costeiras em todo o mundo, o que prejudica a preservação dos sítios arqueológicos nessas regiões. Mesmo assim, o estudo está completo e revela informações sobre os primórdios da interessante relação entre humanos e baleias.

“O mais emocionante para mim é esclarecer o quanto o mar e os animais marinhos também podem ter sido importantes para as pessoas daquela época”, concluiu Pétillon.

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Saúde do oceano depende do… xixi das baleias!

Baleias movem toneladas de nutrientes por milhares de quilômetros oceano afora por meio do seu xixi. É o que revela uma pesquisa publicada na Nature Communications nesta semana. E não é só a urina das baleias que ajuda a saúde do oceano – o cocô delas também.

Quando defecam, as baleias movem toneladas de nutrientes das águas profundas para a superfície. Mas essa informação é antiga. Isso porque trata-se de algo descoberto por cientistas em 2010. Agora, 15 anos depois, sabe-se que a urina das baleias desempenha um papel parecido ao das suas fezes.

Xixi de baleia transporta nutrientes por bacias oceânicas – e salva ecossistemas inteiros

O transporte (horizontal) de nutrientes via xixi das baleias cobre bacias oceânicas inteiras. O trajeto vai das águas frias onde se alimentam até as águas quentes próximas à Linha do Equador. Lá, elas se acasalam e parem seus filhotes.

Jornada das baleias para acasalar e parir seus filhotes transporta nutrientes importantes para a saúde do oceano (Imagem: Kertu/Shutterstock)

A urina das baleias é o principal, digamos, meio de transporte para nutrientes. Mas pele descascada, carcaças, fezes de filhotes e placentas também contribuem.

Segundo a pesquisa, espécies como baleia-de-direita, baleia-cinzenta e baleia-jubarte transportam cerca de quatro mil toneladas de nitrogênio anualmente para áreas costeiras de regiões tropicais e subtropicais.

Além disso, elas trazem mais de 45 mil toneladas de biomassa. E, antes da era da caça industrial, que dizimou as populações, esses aportes de longa distância podem ter sido três vezes maiores. Ou mais.

Aporte de nutrientes

Por exemplo, milhares de baleias jubarte viajam de uma vasta área onde se alimentam no Golfo do Alasca para uma área mais restrita no Havai, onde se reproduzem. Lá, no Santuário Nacional Marinho das Baleias Jubarte, o aporte de nutrientes das baleias dobra o que é transportado pelas forças locais, estimam os cientistas.

Infográfico mostrando movimento de funil feito por baleias ao transportarem nutrientes pelo oceano
Movimento parecido com funil feito por baleias ao transportarem nutrientes pelo oceano durante jornada para acasalar e parir (Imagem: A. Boersma/Universidade de Vermont)

“Nós chamamos isso de ‘a grande correia transportadora das baleias’ ou também pode ser visto como um funil“, diz Joe Roman, biólogo da Universidade de Vermont, que co-liderou a pesquisa, num comunicado publicado no site da instituição de ensino.

Isso porque “as baleias se alimentam em grandes áreas, mas precisam estar num espaço relativamente confinado para encontrar um parceiro, acasalar e dar à luz“, explica. Além disso, as baleias provavelmente permanecem em águas rasas e arenosas porque abafam seus sons.

Com isso, nutrientes espalhados por vastos oceanos se concentram em ecossistemas costeiros e de recifes de corais bem menores. “É como coletar folhas para adubar seu jardim”, diz Roman. Isso salva ecossistemas inteiros.

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“Os nutrientes vêm de fora – e não de um rio, mas desses animais migratórios”, diz Andrew Pershing, um dos dez co-autores do novo estudo e oceanógrafo da organização sem fins lucrativos Climate Central, no comunicado.

“É superlegal e muda como pensamos sobre os ecossistemas no oceano. Não pensamos em animais, além dos humanos, tendo impacto em uma escala planetária. Mas as baleias realmente fazem [diferença].”

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