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SXSW London 2025: ‘Beautiful Collisions’, novos rumos e o que vale ver

Quando penso em SXSW, minha memória vai direto para o Austin Convention Center: o ar-condicionado texano congelando, food trucks alinhados e músicos indie nas esquinas esperando um olheiro. Mas agora, o festival cruza o Atlântico: de hoje até o dia 7 de junho, o SXSW London chega ao Leste de Londres, prometendo “beautiful collisions” — o tema oficial — que só Shoreditch, Hoxton e Brick Lane podem proporcionar.

Esqueça os 200 mil visitantes de Austin, Texas, dez dias e 25 trilhas. Agora, são 40 mil pessoas previstas para invadir cafés, galerias, armazéns industriais e ruas onde o passado vitoriano se mistura com grafite e aromas de falafel. O convite do festival? “Colisões bonitas”: multiculturalismo vibrante de Londres batendo de frente com a ancestralidade britânica, fish & chips duelando com ramen, o clássico e o disruptivo costurando o cotidiano de um bairro que nunca dorme (dizem, porque eu mesma faz tempo que não piso ali).

Depois de mais de uma década frequentando Austin, minha expectativa é sentir o contraste de atmosferas. Shoreditch não foi uma escolha casual: é a síntese do que Londres tem de mais pulsante, diversa e imprevisível. Para mim — e para a centena de brasileiros já confirmados —, a missão é clara: furar as bolhas culturais americanas, ouvir vozes pluriversais sob tetos centenários e experimentar o festival como um organismo vivo, adaptado ao caos criativo londrino.

Os grandes temas do SXSW London

O SXSW London 2025 se organiza em seis grandes temas, que refletem debates urgentes sobre tecnologia, sociedade, saúde e negócios:

  • AI, Robotics and Automation;
  • Humanity, Machines and the Future of AI;
  • New Tech Frontiers;
  • Our Future Health;
  • Tech, Governance and the Future of Society;
  • Navigating Business in a Changing World.
(Imagem: Divulgação)

Esses eixos não são só buzzwords: eles dão o tom de um festival que quer ir além do hype e realmente discutir o impacto (positivo e negativo) das novas tecnologias, da criatividade e das transformações sociais. Veja a programação oficial aqui.

Quem falará e por que prestar atenção

Entre centenas de nomes, alguns se destacam por provocar debates reais e fugir do lugar-comum. Vale acompanhar:

Demis Hassabis, do DeepMind, falando durante Google I/O de 2025
Demis Hassabis, do Google DeepMind, está entre speakers do SXSW London 2025 (Imagem: Google/YouTube)
  • Demis Hassabis (DeepMind): Um dos principais nomes da inteligência artificial no mundo, sempre direto ao ponto sobre riscos, ética e futuro das máquinas;
  • Alex Kendall (Wayve): Líder em mobilidade autônoma, discute como IA e veículos autônomos podem transformar as cidades;
  • Deepak Chopra: Figura polêmica, mistura ciência e espiritualidade em debates que dividem opiniões — mas nunca passam despercebidos;
  • Mati Staniszewski: Explora a revolução da voz via IA, tema fascinante para quem acredita que tecnologia pode (e deve) humanizar as interações digitais;
  • Ben Lamm (Colossal Biosciences): Fala sobre biologia sintética e de-extinção — e, sinceramente, já vi todos os anos desde o lançamento lá no Texas. Vale a reflexão: até onde vai a fronteira entre ficção científica e realidade?
  • Dan Clancy (Twitch): Mergulha no universo do streaming ao vivo e na cultura digital;
  • Katie King e Bianca Cefalo: Discutem o espaço como próxima fronteira — e, honestamente, é uma das coisas que ainda me fascinam sobre o SXSW;
  • Jane Goodall: Traz a urgência da sustentabilidade para o centro do debate, sempre com lucidez e autoridade;
  • Keily Blair (OnlyFans): CEO da OnlyFans, Keily Blair vai além da polêmica: discute economia de criadores, liberdade de expressão, regulação de plataformas digitais e os desafios de liderar uma das empresas mais disruptivas da internet;
  • Sadiq Khan (Prefeito de Londres): Abre o evento falando sobre inovação e cultura, mas o que mais me interessa são os debates sobre regulação, desinformação e confiança;
  • Jimmy Wales (Wikipedia): Discute o desafio de construir confiança em tempos de fake news;
  • Ed Balls & George Osborne: Levam política e economia digital para o palco, num formato de podcast ao vivo;
  • TS Anil (Monzo): Revela os bastidores de construir um banco digital amado;
  • Sir Ian Livingstone: Fala sobre a criação de mundos, da fantasia ao metaverso.

Confira todos os speakers confirmados aqui.

Muito além das palestras: ativações e experiências

O que realmente me empolga no SXSW em Austin não está só nas paredes da conferência. E lá em Londres, também tenho essa expectativa.

Pôster do SXSW 2025
(Imagem: Divulgação)

Leia mais:

No fim, minha expectativa é sair de lá provocada, inspirada e, quem sabe, ver mais inovação nos “festivais de inovação”. E você pode acompanhar tudo em tempo real — ou, quem sabe, já planejar sua ida para a próxima edição.

Quer saber mais?

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Loop de Marte e turbilhão de plasma nas Imagens Astronômicas da Semana

Toda semana, no Programa Olhar Espacial, exibimos duas imagens astronômicas que se destacaram na semana que passou. E na última semana, apresentamos um curioso fenômeno astronômico e um belíssimo teste mal sucedido. Confira:

Loop de Marte

[ Créditos: Tunc Tezel ]

A primeira imagem é uma composição de fotos registradas entre setembro de 2024 e maio de 2025 mostrando o movimento aparente de loop realizado pelo planeta Marte no céu. Neste movimento, o planeta parece estar em movimento retrógrado, mas na verdade, essa impressão ocorre pelo fato da Terra estar ultrapassando o Planeta Vermelho em sua órbita. O loop e o período retrógrado ocorrem com todos os planetas com órbitas além da órbita terrestre, mas Marte, por estar mais perto, é o que apresenta o loop mais evidente e bonito, como o visto nessa fantástica imagem.

Original em: https://apod.nasa.gov/apod/image/2505/Ma2024-5.jpg

Leia mais:

Turbilhão de Plasma 

[ Créditos: SpaceX ]

Já a segunda imagem exibe um turbilhão de plasma formado durante a reentrada da Starship da SpaceX em seu último voo de teste. A imagem mostra um brilhante e caótico fluxo de plasma, resultado do choque da nave espacial com as moléculas da atmosfera terrestre. O Nono Voo de Teste da Starship conseguiu não sofrer uma ‘rápida desmontagem não-programada’ nos primeiros minutos de voo, como ocorreu nos dois últimos testes. Entretanto, muitas coisas deram errado e a espaçonave planejada para levar a humanidade de volta à Lua e até Marte acabou sendo destruída por esse mesmo plasma gerou belas imagens no momento em que tudo deu errado.
Original em:https://x.com/SpaceX/status/1925929228232474849

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O Agro está produzindo mais. O mundo, comendo menos

Ozempic, Mounjaro e outros medicamentos que reduzem o apetite não só estão ficando mais comuns — estão virando mercado.

Enquanto a gente no Agro celebra recordes de produtividade e discute formas de alimentar 10 bilhões de pessoas até 2050, uma revolução silenciosa começa a mexer com as bases do consumo global.

Esses medicamentos, originalmente desenvolvidos para tratar diabetes tipo 2, estão sendo usados em larga escala para controle de peso. E seus efeitos já extrapolam o corpo humano — estão batendo direto no mercado de alimentos, bebidas e… até no combustível de avião.

Nos EUA, estima-se que esses medicamentos possam provocar uma redução de US$ 48 bilhões nos gastos com alimentos e bebidas nos próximos 10 anos. Empresas como PepsiCo e Mondelez já sentiram o baque na Bolsa.

E a Nestlé, atenta ao movimento, lançou uma linha de produtos pensada especificamente para quem usa esses remédios: pequenas porções, alto teor de proteína, baixa caloria. Produto novo para um consumidor novo.

Na aviação, o impacto também é real. Se os passageiros perderem em média 4,5 kg, a United Airlines economiza até US$ 80 milhões por ano em combustível. Isso porque menos peso significa menos gasto para voar. Parece detalhe, mas em um setor onde cada litro de querosene conta, é disrupção pura.

Ozempic e aviação: você já tinha pensado nessa relação? (Imagem: ShutterDesigner/Shutterstock)

E o que isso tem a ver com a gente, do Agro? Tudo.

A inovação que mais afeta o nosso setor… talvez nem venha dele.

Estamos tão imersos em fazer mais, em buscar eficiência dentro da fazenda, em otimizar ciclos, adubar com inteligência, irrigar por sensores — que esquecemos de olhar pro lado.

Leia mais:

Enquanto a gente tenta produzir mais comida, tem gente criando tecnologia para… comer menos.

Enquanto a gente investe em alimentar o mundo, a indústria farmacêutica está redesenhando o apetite global.

E sim, entendemos que existe um pano de fundo relacionado à saúde e tratamento da obesidade, por exemplo. Mas a análise aqui é outra. Estou falando de um efeito cascata – e não transmitindo um juízo de valor.

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Medicamentos como Ozempic podem mudar o mercado global de alimentos (Imagem: Mohammed_Al_Ali/Shutterstock)

Esse é o ponto cego da inovação.

Não foi a indústria alimentícia que reduziu o consumo.
Nem a aviação que cortou custos.
Foram medicamentos.
Desenvolvidos para um fim… e que acabaram virando pivô de transformação econômica.

E aí vem a provocação final:

Quantos “Ozempics” estão nascendo agora, em outros setores, prontos pra virar o seu mercado de cabeça pra baixo?

Quantas vezes a inovação que vai te impactar de verdade… nem sabe que você existe?

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O Globo de Gottorf: o universo em miniatura que encantou o século XVII

Muito antes de os planetários modernos surgirem, já havia quem sonhasse em colocar o Universo inteiro dentro de uma sala, ou até mesmo, dentro de um globo. E neste ano de 2025, quando celebramos os 100 anos do planetário moderno, por que não voltamos nossos olhos para um ancestral engenhoso e quase esquecido: o Globo de Gottorf, um “universo portátil” criado no século XVII para maravilhar e ensinar. Imagine entrar em um mundo onde as estrelas e constelações giram ao seu redor sem necessidade de feixes de luz ou projeções digitais. Essa experiência, que mesmo hoje, parece algo extraordinário, na época em que foi criado era uma verdadeira imersão cósmica, que encantava com a beleza do Universo e a mais pura poesia mecânica.

[ Globo de Gottorf – Créditos: Commander-pirx / wikipedia ]

Essa maravilha da engenharia, o Globo de Gottorf é considerado um precursor dos planetários modernos. Sua construção teve início no ano de 1650, no Ducado de Schleswig, onde hoje é a Alemanha. O projeto foi uma encomenda do Duque Frederik III ao seu erudito conselheiro, o cartógrafo Adam Olearius, e sua execução ficou a cargo do armeiro Andreas Bösch. Frederick III queria um modelo que tornasse acessível a qualquer pessoa, a compreensão dos movimentos do Universo recentemente observado por Galileu e desvendado por Kepler, algo que simplesmente não existia até então. 

A obra envolveu arquitetos, caldeiros, relojoeiros, marceneiros, mecânicos, artistas e artesãos, e levou 14 anos para ser concluída. Por ironia do destino, o próprio Frederick III não viveu para ver a concretização de seu sonho. Ele foi morto em 1659, na Segunda Guerra do Norte. Coube ao seu filho Christian Albrecht inaugurar, em 1664, a obra de arte da engenharia e da ciência, idealizada por seu pai.

O Globo de Gottorf tinha cerca de 3 metros de diâmetro, esculpido em madeira. Do lado de fora, parecia um globo terrestre comum. Mas a maior beleza estava no seu interior, literalmente.

Em certa parte do globo, uma portinhola convidava o visitante a entrar, deixar o mundo real do lado de fora e ser transportado para uma representação mágica do cosmos. Uma pequena escada levava a um banco central, de onde podia se observar as estrelas douradas encravadas nas constelações, representadas por suas figuras mitológicas, pintadas à mão nas paredes internas da esfera. Mas não era só isso: o globo girava! Um intricado sistema de engrenagens, movido pela força da água, fazia o céu circular suavemente ao redor do observador, simulando o movimento aparente das estrelas ao longo da noite.

[ Interior do Globo de Gottorf – Créditos: Stiftung Schleswig-Holsteinische Landesmuseen / Marcus Dewanger ]

Era como numa sessão de planetário de hoje, mas tudo feito com pinceis, madeira, bronze e muita imaginação. Como o Universo numa casca de noz, um teatro celestial onde os espectadores eram convidados a sentar no centro da arena cósmica.

Toda essa estrutura ficava alocada dentro da “Casa Globo”, um pequeno palácio construído nos jardins do castelo especialmente para abrigá-lo. Mas infelizmente, este não foi o único endereço do Globo de Gottorf. 

[ Maquete da antiga “Casa Globo”, construída nos jardins do castelo para abrigar o Globo de Gottorf – Créditos: Felix Lühning ]

Desde que foi concluído, o Globo se tornou famoso. Despertou a curiosidade e o interesse de estudiosos e foi cobiçado pelos poderosos de toda a Europa. Apesar de ter resistido ao tempo, mais do que muitas nações, sua história foi marcada pelas guerras e revoluções que redesenham o mapa do continente há séculos. Em 1713, durante a Terceira Guerra do Norte, o Globo de Gottorf foi enviado para São Petersburgo de presente (ou como espólio de guerra) para o Rei Pedro, do então emergente império russo. Lá ele foi danificado por um incêndio em 1747, mas foi restaurado e ganhou uma versão atualizada da cartografia.

Em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial, tropas alemãs capturaram o globo e o enviaram em um trem especial para Neustadt, na Alemanha. Em 1946, foram as tropas britânicas que encontraram o Globo de Gottorf. Eles deixaram o artefato exposto por 3 semanas em Lübeck e depois, no ano seguinte, ele foi enviado de volta para São Petersburgo, onde permanece em exposição até hoje na Academia de Ciência da Rússia.

[ Acesso ao interior do Globo de Gottorf – Créditos: Stiftung Schleswig-Holsteinische Landesmuseen ]

Nos anos 90, iniciou-se um meticuloso trabalho de resgate histórico, no Castelo de Gottorf. Foram recuperados, relatos, desenhos e até parte do projeto original de Adam Olearius. Esse trabalho resultou na construção de uma réplica idêntica do Globo de Gottorf, instalado em uma nova Casa Globo, um pouco mais modesta, nos jardins do Castelo. Um trabalho artístico e histórico que trouxe de volta para casa essa preciosidade da engenharia do século XVII. Passados mais de 3 séculos, o globo idealizado por Frederick III segue encantando seus visitantes e mostrando que não há limites para a engenhosidade humana.

Mas o Globo de Gottorf não foi apenas uma curiosidade de época. Ele marcou um momento em que olhar para o céu era um ato tão artístico quanto filosófico e científico. Um precursor claro do que viriam a ser os planetários modernos. Ele estava tão à frente de seu tempo que foi preciso esperar mais de 250 anos até a próxima grande evolução: o planetário com projeção de estrelas, inaugurado um século atrás. Nas engrenagens de madeira do Globo de Gottorf, podemos ver o futuro dos projetores digitais; em seus astros pintados, a semente dos visores computadorizados que hoje encantam multidões.

[ Público no interior do Globo de Gottorf – Imagem: ostseefjordschlei.de ]

E, mesmo hoje, com nossas esferas de LED e mostradores holográficos, assistir à lenta e serena rotação do céu mecânico no interior do do globo é um lembrete de quanta paixão e criatividade moviam nossos antepassados. O Globo de Gottorf nos ensina que a fascinação humana por representar o céu nunca foi novidade; ela é tão antiga quanto o desejo de entender o universo. É um símbolo da inventividade de uma era em que ciência e arte ainda caminhavam de mãos dadas, onde a visão do cosmos podia ser desenhada com pinceladas de tinta sobre madeira, e onde um príncipe e seu cartógrafo tiveram a audácia de criar um cosmos em miniatura.

Por isso, ao lembrarmos o centenário dos planetários modernos, celebremos também este precursor: o Globo de Gottorf, que por séculos, trouxe o céu para bem perto dos olhos humanos. Mesmo em plena era espacial, ainda é cativante e inspirador ver o que a paixão pelo Cosmos, a criatividade e a engenharia de séculos atrás eram capazes de fazer: transformar em uma realidade mecânica o sonho humano de se conectar com o Universo.

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Ovo do dragão e cadeia de Markarian nas Imagens Astronômicas da Semana

Toda semana, no Programa Olhar Espacial, exibimos duas imagens astronômicas que se destacaram na semana que passou. E na última semana, apresentamos mais duas imagens publicadas no site APOD Brasil. Confiram:

Nebulosa do Ovo do Dragão

[ Créditos: Fernando Magalhães ]

A primeira imagem mostra a curiosa Nebulosa do Ovo do Dragão (NGC 6164), uma nebulosa de emissão localizada a cerca de 4 mil anos-luz de distância na direção da Constelação da Norma. Sua forma peculiar, que lembra um ovo de dragão, foi  formada a partir da ejeção do gás da estrela central que também fornece a energia que mantém a nebulosa ionizada e, consequentemente, emitindo luz. A imagem revela um núcleo brilhante e filamentos de gás que se estendem para fora, cercado por uma bolha externa mais azulada e tênue, criando um cenário celestial intrigante e belo.

Original em: https://www.apodbrazil.com/gallery/353 

Cadeia de Markarian

[ Créditos: Alessandro Carrozzi ]

Já a segunda imagem apresenta uma visão espetacular da Cadeia de Markarian, um grupo de galáxias localizado na constelação de Virgem. A cadeia é composta por mais de uma dúzia de galáxias, interagindo gravitacionalmente entre si. Nas bordas da imagem, um  mosaico mostrando, em detalhe, cada uma das galáxias que formam a cadeia, com diferentes tamanhos, formas e graus de interação, oferecendo aos astrônomos um cenário único para o estudo da formação e evolução galáctica.  A proximidade e a variedade dessas galáxias tornam a Cadeia de Markarian um alvo privilegiado para pesquisas cosmológicas.

Original em: https://www.apodbrazil.com/gallery/352 

APOD Brasil

As escolhas das Imagens Astronômicas desta Semana foram feitas a partir do site APOD Brasil (https://www.apodbrazil.com/), um portal mantido por astrônomos e entusiastas da fotografia, dedicado à divulgação das belezas do Cosmos. O APOD Brasil tem o  objetivo de publicar uma fotografia astronômica a cada dia, divulgando o trabalho de brasileiros, e de outras nacionalidades, empenhados em revelar as maravilhas do nosso Universo. Os interessados em contribuir com o portal APOD Brasil, e também com as Imagens Astronômicas da Semana do Olhar Espacial, podem fazer isso através do formulário disponibilizado no site: https://www.apodbrazil.com/form 

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Atendimento invisível: a melhor cobrança é aquela que o cliente nem percebe

Imagine receber um lembrete sobre uma dívida, mas sem o peso emocional que normalmente acompanha esse tipo de comunicação. Sem ligações insistentes, sem vozes impacientes do outro lado da linha, sem o desconforto quase físico de se sentir em julgamento.

Em vez disso, uma notificação leve, quase imperceptível, enviada no momento certo, com a linguagem certa, pelo canal certo. Um convite à regularização, não uma intimação.

É isso que chamamos de atendimento invisível. Um novo paradigma de relacionamento com o cliente inadimplente, onde a cobrança deixa de ser um ato de pressão para se tornar uma ponte de reconexão. É a arte, ou melhor, a ciência de estar presente sem ser intrusivo. De cobrar sem constranger. De resolver sem atrito.

Num país como o Brasil, onde mais de 71,41 milhões de brasileiros estavam inadimplentes em março de 2024, segundo a Serasa, falar sobre cobrança não é apenas falar de finanças, é falar de milhões de histórias pessoais interrompidas por dificuldades. E é justamente por isso que a forma como cobramos precisa evoluir.

Durante décadas, o modelo de cobrança se baseou na lógica do confronto. Era quase uma guerra fria entre empresas e consumidores. E, sejamos francos, esse modelo nunca entregou os melhores resultados. Ele pode até recuperar parte do valor, mas deixa para trás algo muito mais valioso: o relacionamento com o cliente.

A cobrança da inadimplência precisa evoluir para recuperar valores sem perder clientes (Imagem: Jacob Wackerhausen/iStock)

Hoje, com o avanço das tecnologias cognitivas, da inteligência artificial e da análise de dados em tempo real, começamos a enxergar a inadimplência por outra ótica. E esse novo olhar muda tudo.

O atendimento invisível nasce dessa mudança de mentalidade. Ele reconhece que cada cliente tem seu próprio tempo, seu próprio canal preferido, seu próprio limite emocional. Algumas pessoas preferem negociar no fim do mês, quando recebem. Outras respondem melhor a uma mensagem objetiva no WhatsApp. Há quem se sinta mais confortável em um ambiente digital que permita renegociar em silêncio, sem precisar justificar nada para ninguém.

É por isso que o atendimento invisível exige muito mais sofisticação do que aparenta. Por trás da sutileza, existe uma arquitetura robusta: modelos preditivos que analisam o comportamento de consumo e endividamento, jornadas automatizadas de contato, personalização de linguagem baseada em perfil psicográfico, e algoritmos que testam continuamente qual abordagem funciona melhor para cada indivíduo.

Atendimento invisível é feito com tecnologia avançada e personalização para funcionar de forma simples e eficiente (Imagem: Tippapatt/iStock)

Mas atenção: invisível não significa ausente. Muito pelo contrário. Significa estar presente com inteligência e que o esforço não está na insistência, mas na relevância. É a diferença entre interromper e interagir. Entre empurrar e conduzir.

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As empresas que entenderam isso estão colhendo os frutos de uma nova lógica: menos desgaste, mais engajamento. Menos atrito, mais resolução. Porque a cobrança invisível não trata o cliente como um número em planilha, mas como alguém que momentaneamente atravessa um desafio e que pode, sim, retomar sua saúde financeira com dignidade.

Um exemplo concreto? Uma comunicação enviada por WhatsApp, com um link seguro e personalizado, onde o cliente pode renegociar sua dívida em poucos cliques, escolhendo data, valor da entrada, número de parcelas, tudo isso em menos de cinco minutos, sem precisar falar com ninguém. Sem filas, sem explicações e sem constrangimento.

Empresas que adotam a cobrança invisível colhem mais engajamento e menos desgaste (Imagem: rodrigobark/iStock)

Outro ponto-chave está na linguagem. Em tempos em que a humanização é o diferencial competitivo mais decisivo, uma mensagem robótica pode afastar. Já um texto empático, direto, que reconhece o momento do cliente, pode fazer toda a diferença. Isso é personalização de verdade aplicada à cobrança.

E não estamos falando de uma utopia digital. Estamos falando de um movimento concreto. Segundo o Panorama da Inadimplência do Consumidor, elaborado pelo SPC Brasil, mais de 60% dos consumidores afirmam que preferem renegociar suas dívidas por canais digitais, sem o contato direto com atendentes.

O comportamento mudou. E a cobrança precisa mudar também

O atendimento invisível, no fim das contas, é a resposta mais madura à nova era do consumo. Uma era em que o respeito ao tempo, ao contexto e à privacidade do cliente é tão importante quanto o valor a ser recuperado.

Cobrar nunca foi tão tecnológico, humano e, paradoxalmente, nunca foi tão invisível. Talvez esse seja o maior sinal de evolução no relacionamento entre empresas e consumidores: quando resolver uma dívida deixa de ser um trauma e passa a ser um alívio.

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Automação de processos robóticos: mais produtividade e menos erros

Nos últimos anos, a automação de processos robóticos, ou simplesmente RPA, tem ganhado cada vez mais espaço nas empresas. E não é por acaso: os “robôs de software” conseguem executar tarefas repetitivas com agilidade, precisão e sem pausa para o café.

A promessa é sedutora: mais produtividade, menos erros, redução de custos. Mas em meio a tanto entusiasmo, surge uma pergunta que nem sempre é feita: e as pessoas? Onde elas ficam nesse processo? O que sabemos é que automatizar é necessário. No entanto, há algo valioso que não pode se perder: a empatia.

Imagine um atendimento automatizado que não entende o que você está dizendo. Ou um processo de recrutamento que parece ter sido desenhado por um robô e para robôs. Sim, a tecnologia funciona, mas e a experiência? Fria, distante e desgastante.

É exatamente isso que muitos consumidores e colaboradores têm sentido e os dados mostram que essa desconexão é real.

Uma pesquisa da MindMiners revelou que apenas 12% dos consumidores brasileiros preferem ser atendidos por robôs, indicando uma forte preferência pelo contato humano no atendimento. O que isso nos diz? Que eficiência sem sensibilidade não entrega valor de verdade.

Automatizar com empatia não é algo técnico, mas é algo humano. É entender que cada processo envolve pessoas com expectativas, sentimentos, pressões e necessidades. Antes de desenhar um fluxo automatizado, é preciso se perguntar: “Como essa experiência será vivida por quem está do outro lado?”.

Automatizar é também cuidar da experiência humana em cada passo do processo (Imagem: KTStock/iStock)

Vamos pegar um exemplo simples: o processo de admissão de um novo colaborador. Do ponto de vista do RH, é um checklist de documentos, assinaturas e prazos. Mas, para quem está entrando na empresa, pode ser um momento de ansiedade, insegurança ou até entusiasmo.

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Um robô que apenas dispara e-mails e exige uploads sem qualquer cuidado com a comunicação pode gerar desconforto. Agora, se esse mesmo robô envia mensagens acolhedoras, claras, com um tom próximo e humano, a experiência muda completamente.

Outro ponto importante: empatia também é olhar para dentro, para os times da empresa. A automação não deveria ser uma ameaça e sim um apoio. Ela pode (e deve) liberar as pessoas das tarefas mecânicas para que elas tenham mais tempo para criar, pensar e se conectar com o que realmente importa.

Eficiência só gera valor quando vem com empatia (Imagem: Dilok Klaisataporn/iStock)

Quando bem usada, a RPA vira uma aliada para que os profissionais façam o que nenhum robô consegue: tomar decisões complexas, cuidar de relações, inovar, resolver problemas inesperados, ter empatia.

No fim das contas, a experiência ainda é (e sempre será) humana

Automatizar com alma é reconhecer que nem tudo pode (ou deve) ser entregue a um robô. Que há momentos, contextos e interações que pedem mais do que agilidade: pedem sensibilidade.

Mais do que nunca, as empresas que se destacam são aquelas que conseguem unir o melhor dos dois mundos: a eficiência das máquinas com a empatia das pessoas. Porque, no fim do dia, por trás de cada processo automatizado, há alguém esperando ser bem atendido, bem recebido e bem cuidado. E isso, nenhum algoritmo consegue fazer sozinho.

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Por que toda empresa vai precisar de um Chief AI Ethicist

A inteligência artificial deixou de ser uma promessa para se tornar um elemento central das operações empresariais. Ela está presente em processos que vão desde o atendimento ao cliente até análises preditivas de mercado, passando por sistemas de recomendação, recrutamento e seleção, segurança cibernética e muito mais.

A IA já é, para muitas companhias, o que a internet foi nos anos 2000: um divisor de águas. Mas junto com esse potencial, vem uma nova camada de complexidade: a ética.

À medida que algoritmos tomam decisões com base em dados, as empresas se deparam com dilemas antes exclusivos do campo da filosofia, do direito ou das ciências sociais. É possível, por exemplo, usar dados de comportamento para prever inadimplência sem reforçar estigmas socioeconômicos?

É ético aplicar IA em entrevistas de emprego para analisar expressões faciais, sabendo que pessoas neurodivergentes ou de culturas diferentes podem ser interpretadas de forma enviesada? Qual o limite entre personalização e invasão de privacidade?

Essas não são perguntas hipotéticas. São questões reais, que já estão sendo enfrentadas diariamente por empresas ao redor do mundo e a forma como cada organização lida com elas pode afetar sua reputação, sua base de clientes, sua atratividade para talentos e até mesmo sua sustentabilidade jurídica. É nesse ponto que entra o Chief AI Ethicist — ou, em português, Diretor de Ética em Inteligência Artificial.

Ética como pilar estratégico e não mais periférico

O papel do Chief AI Ethicist vai muito além de um cargo consultivo. Essa pessoa será responsável por desenhar e implementar diretrizes éticas para o desenvolvimento, aquisição e aplicação de soluções baseadas em IA. Será sua função garantir que os algoritmos sejam justos, auditáveis, explicáveis e, principalmente, que estejam alinhados com os valores da empresa e com os princípios de direitos humanos.

Ética da IA liga tecnologia e humanidade. Imagem: Shutterstock/Beautrium

Isso envolve dialogar com desenvolvedores, líderes de produto, times jurídicos e até áreas de marketing e relacionamento com clientes. Envolve também formação contínua das equipes, construção de comitês de ética, análise de impacto social e participação ativa nas decisões estratégicas. O Chief AI Ethicist precisa transitar entre tecnologia, negócios e humanidades com empatia, autoridade técnica e visão sistêmica.

Grandes empresas já entenderam isso e esse movimento não é exclusivo das gigantes. Startups de tecnologia, empresas de serviços financeiros, varejistas e até instituições de ensino estão começando a criar áreas de governança de IA, muitas vezes dentro das diretorias de inovação ou compliance, mas com autonomia crescente.

Segundo relatório da MarketsandMarkets, o mercado global de governança de IA, que inclui soluções, consultorias e estruturas internas para ética e compliance algorítmico deverá crescer de US$ 890 milhões em 2024 para US$ 5,77 bilhões em 2029. Isso representa uma taxa de crescimento composta de 45,3% ao ano. Trata-se de um dos segmentos mais dinâmicos da economia digital atual.

Chefe de IA.
Governança de IA deve movimentar US$ 5,7 bilhões até 2029 (Imagem: gorodenkoff/iStock)

Além disso, uma pesquisa do IBM Institute for Business Value revelou que 75% dos executivos de tecnologia acreditam que a ética em IA será uma fonte de vantagem competitiva nos próximos anos. Empresas que adotam práticas responsáveis tendem a conquistar mais confiança dos consumidores, atrair melhores talentos, evitar litígios e construir reputações mais sólidas.

Leia mais:

Importante lembrar que a regulamentação também está batendo à porta. A União Europeia já aprovou a AI Act, uma das legislações mais completas do mundo sobre o tema, e o Brasil discute seu próprio marco legal. Em breve, ter uma estrutura interna capaz de demonstrar responsabilidade, rastreabilidade e mitigação de riscos éticos será não apenas uma boa prática, mas uma exigência legal.

O Chief AI Ethicist surge, portanto, como uma figura-chave: não para frear a inovação, mas para orientá-la rumo a um desenvolvimento tecnológico mais justo, inclusivo e sustentável.

O que está em jogo não é apenas eficiência, mas o tipo de sociedade que estamos construindo com base nos dados que coletamos e nas decisões que automatizamos. Toda empresa que deseja ser relevante e respeitada, no futuro, precisará de alguém com coragem e preparo para fazer as perguntas difíceis, defender o interesse coletivo e traduzir dilemas morais em políticas práticas.

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Do Big Data à IA autônoma: como criar uma cultura de dados nas empresas

Nos últimos anos, o volume de dados gerados pelas empresas cresceu de forma exponencial. Mas, ao contrário do que se esperava, a maioria delas ainda não sabe o que fazer com tanta informação. É como se tivessem recebido uma biblioteca inteira sem aprender a ler.

Dados não são valor por si só. Sem contexto, sem estrutura, sem perguntas inteligentes por trás, eles são apenas ruído. E mais: sem uma cultura de dados — aquela que orienta decisões, desafia intuições e sustenta estratégias — nem o melhor algoritmo pode salvar uma organização da mediocridade.

De acordo com uma pesquisa recente da NewVantage Partners, embora 91% das empresas entrevistadas estejam investindo em iniciativas de dados e IA, apenas 26,5% afirmam ter realmente conseguido criar uma cultura orientada por dados. O número assusta, mas explica muita coisa: temos tecnologia de sobra e mentalidade de menos. E cultura, nesse caso, não se compra — se constrói.

Muita gente ainda acredita que criar uma cultura de dados é adquirir plataformas, dashboards e ferramentas de business intelligence. Mas cultura não nasce de um software. Ela nasce de comportamento.

É quando o CEO pergunta “o que os dados dizem sobre isso?” antes de tomar uma decisão estratégica. Quando o RH antecipa pedidos de demissão com base em padrões de comportamento. Quando o marketing fala em comportamento preditivo, e não apenas em campanhas de alcance. Quando o chão da fábrica entende que um dado inserido errado pode comprometer toda uma cadeia de decisões.

Cultura de dados não vem de ferramentas, mas de atitudes: nasce quando decisões em todos os níveis são guiadas pelo que os dados realmente dizem (Imagem: FAMILY STOCK/Shutterstock)

Essa mentalidade é o alicerce necessário para que a inteligência artificial possa, de fato, agir com autonomia. Porque IA autônoma — aquela que aprende, ajusta, decide e executa — precisa de dados limpos, estruturados, confiáveis e disponíveis.

E isso não se improvisa. Não adianta sonhar com uma IA estratégica se os dados ainda estão trancados em silos, espalhados em planilhas desconectadas, com má governança e baixa confiabilidade. A IA só consegue aprender com o que oferecemos — e se oferecermos um ambiente caótico, os resultados refletirão exatamente isso.

O ponto mais crítico é que muitas empresas ainda usam os dados como justificativa para decisões já tomadas. Ao invés de guiar a estratégia, os números viram apenas uma chancela do que a alta liderança já decidiu por instinto.

Esse viés de confirmação destrói qualquer chance de desenvolvimento analítico real. Uma cultura de dados de verdade exige humildade: saber ouvir o que os dados dizem mesmo quando contradizem nossas crenças mais arraigadas.

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Em vez de guiarem decisões, os dados ainda servem como aval para escolhas intuitivas (Imagem: Gorodenkoff/Shutterstock)

E isso tem tudo a ver com o futuro. Estamos à beira de uma nova era, em que a IA não será apenas uma assistente, mas uma tomadora de decisão. Para isso, precisamos preparar o terreno agora.

Uma boa pergunta para começar: quem toma decisões na sua empresa — os dados ou os cargos? Se ainda é o cargo que pesa mais, a autonomia da IA vai continuar sendo uma promessa distante.

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Criar uma cultura de dados é uma jornada que começa no topo, mas que só se consolida quando chega na base.

E, paradoxalmente, quanto mais autônoma for a inteligência artificial, mais humana precisa ser a cultura que a sustenta. Porque, no fim das contas, dados não servem para desumanizar processos — mas para revelar padrões, entender comportamentos e melhorar a experiência de quem está na ponta.

Cultura de dados, IA
A cultura de dados começa na liderança, se consolida na base e, quanto mais sustenta a IA, mais precisa ser humana (Imagem: metamorworks/Shutterstock)

O dado mais importante ainda é o humano. E a empresa que entender isso, antes das outras, vai deixar de colecionar dados e começar a construir vantagem competitiva real. Não se trata apenas de transformação digital. Trata-se de transformação cultural.

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Seis lições que a IA generativa tem nos deixado

Vivemos uma era em que a inteligência artificial generativa não é apenas um avanço tecnológico — é um revelador brutal. Mais do que ferramenta, ela é espelho. Um espelho de alta precisão que reflete com crueza não só o que somos, mas aquilo que, por conveniência ou covardia, escolhemos fingir ser.

Projetamos nela nossa obsessão por produtividade, nossa fixação por escala, nosso desdém pelo tempo e, principalmente, nossa crescente impaciência com tudo aquilo que é humano demais: o erro, a hesitação, a travessia lenta.

Desde o surgimento do ChatGPT, da Midjourney e de suas inúmeras derivações, temos nos encantado com a capacidade das máquinas de simular o humano. Mas talvez o que nos incomode de verdade não seja o espanto com o que elas fazem — e sim o que isso revela sobre nós. A IA não nos ultrapassa: ela nos desmascara.

A generatividade da máquina escancara a estagnação do humano.

Nunca foi tão fácil produzir — e, paradoxalmente, tão difícil emocionar. A IA generativa trouxe à tona uma constatação incômoda, muitas vezes velada sob o volume de entregas: grande parte do que já se criava antes era, na verdade, superficial, redundante, automatizado sem automação.

A diferença agora é que a mediocridade ganhou concorrência — e ela é rápida, gratuita, escalável e, ironicamente, mais eficiente do que muitos humanos que a alimentam.

A IA generativa torna a produção rápida, mas a mediocridade agora é mais eficiente e escalável (Imagem: Boy Anthony/Shutterstock)

De acordo com a Gartner, até 2026, 90% de todo o conteúdo digital será gerado por máquinas. Isso significa que, no novo paradigma, não competiremos mais por agilidade ou quantidade — mas por sentido, por significância.

O talento, antes diferencial, torna-se pré-requisito básico. O que nos distingue, no fim, não é mais a capacidade de entregar, mas a de interpretar, emocionar, transcender. Sentir, em profundidade, tornou-se um ato de resistência.

A IA tornou o conteúdo abundante. Mas não necessariamente relevante. Nunca se escreveu tanto — e nunca se disse tão pouco. Em meio a esse dilúvio de informações, a confiança tornou-se um recurso escasso, quase clandestino. Ela já não se conquista pelo conteúdo em si, mas pela reputação de quem o oferece e, sobretudo, pelas razões pelas quais o faz.

A inflação de conteúdo expôs a escassez de autenticidade.

O novo protagonismo não será dos que produzem mais, mas dos que dizem com propósito. Curadores, líderes de pensamento, vozes éticas e conscientes emergem como faróis em meio ao nevoeiro do conteúdo genérico.

A curadoria crítica — que separa o essencial do ruidoso, o verdadeiro do verossímil — assume papel de urgência civilizatória.

A IA não é neutra — e tampouco é ingênua.

Um dos maiores equívocos contemporâneos é tratar a inteligência artificial como algo imparcial, puro, inodoro. Isso é, no mínimo, perigoso. A IA aprende com o que já foi dito — e perpetua, com verniz de eficiência, os mesmos preconceitos que tentamos, há séculos, desconstruir. Racismo algorítmico, desigualdade de gênero, eurocentrismo epistêmico: tudo isso ganha fluidez, escala e polidez na voz da máquina.

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Tratar a IA como imparcial é perigoso, pois ela perpetua preconceitos históricos com a fluidez e eficiência da máquina (Imagem: Ole.CNX/Shutterstock)

Não faltam exemplos. O DALL·E, ao gerar imagens de liderança exclusivamente masculina e branca. Os sistemas de moderação enviesados. As bases de dados treinadas sobre conteúdos que refletem o mundo como ele é — e não como deveria ser. A tecnologia, sem a crítica humana, apenas reafirma a ordem vigente. E isso é tudo, menos inovação.

Escalamos a tecnologia — mas negligenciamos a governança.

Enquanto as aplicações de IA evoluem em ritmo exponencial, as regulamentações rastejam em compasso analógico. Essa assimetria é grave. Temos tratado a inovação como valor absoluto, sem ponderar sua ambiguidade essencial: toda tecnologia pode libertar ou aprisionar, democratizar ou explorar, dependendo de quem a controla — e com quais interesses.

Regulamentações acompanham devagar o avanço da IA, ignorando os riscos de controle e interesses envolvidos (Imagem: ImageFlow/Shutterstock)

O AI Act, aprovado pela União Europeia em 2024, é um alento. Mas ainda rascunha as complexidades envolvidas em temas como autoria intelectual, manipulação de massas, privacidade de dados e desinformação.

E no Brasil? A pauta ainda é periférica, quando deveria ser central. Enquanto isso, empresas seguem monetizando, sem freios, um campo que deveria ser tratado com responsabilidade e ética coletiva.

A ameaça real não é a IA — é a ausência de um projeto humano

A frase “a IA não vai roubar seu emprego, mas alguém que usa IA vai” tem servido como mantra nos corredores corporativos. Mas é raso demais para o abismo que se abre. A pergunta mais urgente não é quem será substituído — mas por que seguimos formando pessoas para serem substituíveis.

IA versus humanos
A frase “a IA não vai roubar seu emprego, mas alguém que usa IA vai” tem servido como mantra nos corredores corporativos. (Imagem: Leonardo Santtos/Shutterstock)

A IA escancara a obsolescência de funções humanas que sempre foram mais operacionais do que intelectivas, mais repetitivas do que reflexivas. É preciso redesenhar, com urgência, não apenas o que chamamos de trabalho — mas o que chamamos de valor, de criação, de inteligência. A IA é só o gatilho.
O que está em jogo é nossa própria relevância enquanto espécie criadora

A maior lição da IA generativa não é sobre a máquina — é sobre a humanidade que deixamos adormecer

Ela nos obriga a encarar nossa preguiça intelectual, nossa terceirização da autoria, nosso fascínio por atalhos. Nos lembra que ter acesso ao conhecimento não é o mesmo que compreendê-lo. Que escrever bem não é o mesmo que pensar bem. Que produzir rápido não é o mesmo que viver com profundidade.

IA e criatividade.
Cada vez somos mais confrontados pela IA com nossa preguiça intelectual e a ilusão de que rapidez e acesso ao conhecimento substituem reflexão e profundidade (Imagem: Bishop Iuliia/Shutterstock)

A inteligência artificial é uma ferramenta de poder imenso — mas perigosa quando utilizada por uma sociedade que ainda não aprendeu a lidar com sua própria ignorância, sua superficialidade e sua pressa.

No fim das contas, o maior legado da IA generativa pode ser paradoxal: nos forçar a lembrar o que significa ser humano. Não no sentido biológico, mas existencial. Preservar, diante da máquina que tudo simula, aquilo que nunca deveria ser simulado: o espanto, a dúvida, a experiência, a consciência. E, talvez, a beleza de não saber.

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