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Biometria: a tecnologia que transformou a nossa vida sem que percebêssemos

Por Thiago Ribeiro, diretor de Negócios da Griaule
Você chega a um prédio comercial para uma reunião ou consulta médica e recebe já na recepção a orientação para olhar para a câmera depois de entregar um documento. Uma foto é capturada e você está cadastrado no sistema. Em segundos, a catraca é liberada após o escaneamento do seu rosto.

No fim da manhã, precisa de dinheiro, mas esqueceu o cartão em casa. Vai ao banco e saca a quantia no caixa eletrônico após a leitura de impressões digitais.

Na hora do almoço, precisa renovar a carteira de identidade; vai a um posto de atendimento do governo e faz a captura da coleta biométrica.

No fim do dia, autentica sua biometria para acessar um aplicativo no próprio celular como, por exemplo, acessar seu e-título ou validar sua identidade para receber um benefício social.

A biometria continuará mudando a segurança digital. (Imagem: ImageFlow / Shutterstock.com)

Biometria: uma tecnologia em crescimento

O uso da biometria tem crescido significativamente nos últimos anos, impulsionado pela busca por maior segurança e conveniência. De um lado, essa expansão foi possível graças à inclusão de técnicas de inteligência artificial – como as redes neurais – e o processamento de dados cada vez mais eficazes, que melhoram a precisão e confiabilidade dos sistemas biométricos.

De outro, há uma popularização de smartphones com câmeras e sensores biométricos, que permitem a identificação em qualquer lugar, e que tiveram um grande avanço na qualidade dos seus hardwares e processadores de alta performance.

Um relatório realizado pela empresa de tecnologia HID mostrou a biometria como uma das principais tendências do mercado de segurança e identidade em 2025. A pesquisa – divulgada em fevereiro deste ano – entrevistou 1.800 usuários e profissionais da indústria de T.I. ao redor do mundo. Cerca de 35% afirmam usar a tecnologia biométrica atualmente, enquanto 13% planejam usá-la.

Na distribuição geográfica, a América Latina é o local onde há o maior uso de tecnologias biométricas, com 58%. Na sequência aparecem:

  • Ásia/Pacífico: 43%
  • Europa/Oriente Médio e África: 38%
  • Estados Unidos: 31%.

Entre os líderes que foram entrevistados, 72% dizem que querem implementar o reconhecimento de impressões digitais e 52% estão focados no reconhecimento facial.

Uma questão de segurança

A sensação de segurança gerada pelos sistemas biométricos faz sentido quando se olha mais atentamente para o funcionamento da tecnologia. Do ponto de vista técnico, é uma forma de identificação extremamente segura, pois autentica a pessoa pelo que ele é, com suas digitais, íris e faces.

O termo biometria vem do grego “bios” (vida) e “metron” (medida). Trata-se do estudo e aplicação de características fisiológicas e comportamentais únicas de cada indivíduo. Além das impressões digitais e do reconhecimento facial – que são atualmente as soluções mais difundidas – existem outras formas de biometria para fins de identificação e autenticação, como a leitura da íris, o reconhecimento por voz e a impressão palmar.

Consumidores confiam mais na biometria do que em senhas padrões
Biometria traz praticidade para burocracias. Imagem: PopTika/Shutterstock

Praticidade para burocracias

Assim como em diversos países do mundo, no Brasil, a biometria é aplicada na emissão de documentos oficiais, como o título de eleitor, a carteira de identidade, o passaporte e a CNH. Documentos e bases de dados de cidadãos confiáveis são fundamentais para garantir uma sociedade justa, segura e organizada.

Com a biometria, o governo pode, por exemplo:

  • evitar fraudes na concessão de benefícios sociais e gerar economia aos cofres públicos;
  • identificar falsidade ideológica em documentos oficiais evitando registros duplicados;
  • promover uma rápida identificação de pessoas em situação vulnerável e entrar em contato com seus familiares;
  • habilitar serviços digitais para a população, como o título de eleitor digital;
  • agilizar investigações policiais com o recolhimento de fragmentos em cenas de crimes;
  • evitar erros de identificação de pessoas inocentes com nomes semelhantes aos de procurados.

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Como todo avanço tecnológico, é imprescindível que a utilização da biometria venha acompanhada por rígidos padrões éticos e pactuados com toda a sociedade. A Organização das Nações Unidas, por exemplo, tem sérias diretrizes para o uso das câmeras e tecnologias de reconhecimento facial pelo setor público, com o objetivo de assegurar que essas tecnologias sejam utilizadas de forma ética.

Na esfera privada, é imprescindível que as empresas que lidam com biometria sigam rigorosamente a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD 13.709/2018), que estabeleceu diretrizes e princípios que regulam a coleta, tratamento, armazenamento e compartilhamento de dados pessoais garantindo o direito à privacidade.

Mas, para além da LGPD, é importante continuar avançando na atualização de normativas e estabelecimentos de critérios claros voltados ao uso dos dados biométricos com o intuito de preservar a privacidade das pessoas ao mesmo tempo em que permite o convívio com sistemas eficientes e seguros.

Estimativas da Precedence Research apontam que o mercado global de biometria está avaliado em US$ 60,32 bilhões atualmente e deve atingir US$ 307,24 bilhões em 2034, um crescimento anual de quase 20%. É um caminho sem volta. Cabe a nós, atores no desenvolvimento dessa tecnologia, garantir que todo esse crescimento se reverta em benefício para a sociedade.

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Computação dá grande salto com o primeiro computador biológico do mundo

Em avanço que promete transformar o cenário da tecnologia e da ciência, a empresa australiana Cortical Labs lançou o CL1, o primeiro computador a integrar neurônios humanos em seu funcionamento.

Oficialmente apresentado em Barcelona (Espanha) no domingo (2), o dispositivo inaugura nova era ao unir biologia e tecnologia para criar uma inteligência artificial (IA) biológica.

Cada unidade hospeda uma célula viva (Imagem: Cortical Labs)

Fusão entre silício e neurônios humanos na combinação computador-neurônios

Diferente dos computadores tradicionais, que se baseiam em circuitos eletrônicos de silício, o CL1 utiliza um sistema híbrido inovador.

A máquina emprega biochips equipados com microeletrodos para estimular e monitorar a atividade dos neurônios cultivados a partir de células-tronco. Esse arranjo possibilita processamento de informações mais dinâmico e adaptável, assemelhando-se ao funcionamento natural do cérebro humano.

O funcionamento do CL1 apoia-se em três pilares fundamentais:

  • Hardware bio-híbrido: biochips que possibilitam a comunicação direta com os neurônios;
  • Sistema de suporte vital: unidade responsável por manter os neurônios ativos, regulando temperatura, circulação de nutrientes e trocas gasosas, garantindo a viabilidade celular por até seis meses;
  • Software biOS: plataforma que cria ambiente simulado onde os neurônios interagem, aprendem e se organizam, replicando, de maneira surpreendente, os processos de um cérebro em funcionamento.

De acordo com o CEO da Cortical Labs, Dr. Hon Weng Chong, “hoje, é a culminação de uma visão que nos impulsionou nos últimos seis anos“. Além de ser um marco tecnológico, o CL1 apresenta vantagens significativas em comparação aos sistemas convencionais. Enquanto supercomputadores exigem altas quantidades de energia, um rack com 40 unidades do CL1 consome apenas entre 850 e mil watts, reduzindo, consideravelmente, a pegada de carbono.

Os neurônios, com sua capacidade natural de auto-organização e aprendizado rápido, permitem que o computador biológico supere as limitações dos modelos tradicionais de IA. Essa eficiência abre novas possibilidades para estudos em doenças neurológicas, desenvolvimento de medicamentos e, até mesmo, para a medicina personalizada, com a criação de avatares neurais específicos para cada paciente.

Um rack com vários CL1s
Um rack com 40 CL1s consome menos energia e, consequentemente, tem menos pegada de carbono (Imagem: Cortical Labs)

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Próximos passos

O New Atlas aponta que a Cortical Labs não pretende parar no CL1. Com investimentos que já ultrapassam US$ 25 milhões (R$ 143,70 milhões, na conversão direta), a empresa projeta expandir sua tecnologia por meio do lançamento da Cortical Cloud, que permitirá acesso remoto aos biocomputadores.

Essa estratégia, conhecida como “Wetware-as-a-Service” (WaaS), possibilitará que pesquisadores e empresas adquiram o dispositivo ou utilizem seu potencial pela nuvem, democratizando o acesso à tecnologia e incentivando novas pesquisas.

Paralelamente, a equipe trabalha no desenvolvimento do conceito de “Cérebro Mínimo Viável” – modelo neural que combina a eficiência dos neurônios cultivados com a complexidade necessária para avançar ainda mais na integração entre biologia e tecnologia.

Segundo o CSO da empresa, Brett Kagan, essa abordagem representa “forma diferente de inteligência, utilizando a base biológica dos neurônios para criar sistemas que se comportam de maneira mais orgânica e natural.”

A chegada do CL1 marca ponto de virada na história da computação, com potencial para revolucionar áreas tão diversas quanto a descoberta de fármacos, testes clínicos e até a construção de inteligências para robótica.

Ao possibilitar compreensão mais profunda dos mecanismos cerebrais, a tecnologia pode reduzir a dependência de testes em animais e oferecer novas abordagens para tratar doenças, como epilepsia e Alzheimer.

Células cerebrais vivendo em um chip de silicone
Células cerebrais vivendo em um chip de silicone (Imagem: Cortical Labs)

Com regulamentações e desafios éticos em discussão, a comunidade científica aguarda ansiosamente os próximos passos dessa tecnologia disruptiva.

O CL1, que estará amplamente disponível na segunda metade de 2025, demonstra como a fusão entre o biológico e o tecnológico pode abrir caminho para inovações que, até então, pareciam pertencer apenas à ficção científica.

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