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Quais cidades brasileiras são mais propensas a terremotos?

A ideia de que não existem terremotos no Brasil foi divulgada por muito tempo, principalmente pelo fato de que os abalos sísmicos que acontecem no país não tem a mesma intensidade de outros, como no Japão e nos Estados Unidos, por exemplo.

Apesar dessa crença, estudos mais aprofundados sobre as características do nosso solo já provam que isso não é verdade. Até a década de 1970, os tremores de terra no Brasil eram atribuídos à “acomodação de terra”, ou então eram vistos como consequência dos terremotos de países vizinhos, como Peru e Argentina.

Isso até pode acontecer, mas a maioria dos eventos sísmicos do nosso país está associada ao acúmulo de energia no interior da placa Sul Americana. A energia pode causar a reativação de antigas falhas geológicas, ou, ainda, que seja mais difícil, formar novas falhas que dissipam a energia acumulada, que provoca os terremotos.

Como algumas cidades do Brasil estão localizadas em cima de falhas geológicas, diversas regiões do país estão propensas a ocorrência de terremotos. Veja abaixo quais são elas.

O que são falhas geológicas e qual sua relação com terremotos?

Antes de falar sobre as cidades, vamos abordar um pouco sobre as chamadas falhas geológicas, importantes para entender os terremotos e a ocorrência deles no Brasil.

O Brasil está praticamente no centro da placa tectônica sul-americana, fazendo com que a possibilidade de tremores fortes seja mais raro, já que eles geralmente são registrados nas bordas de placas de tamanho continental. (Imagem: Carlos Uchôa/UEFS/Divulgação)

Também conhecidas como falhas tectônicas, são estruturas da crosta do planeta que originam os terremotos. Em geologia, “falha” significa uma fratura na rocha, onde há um movimento relativo entre os blocos rochosos fraturados.

Então, o local onde existe o rompimento do bloco e a liberação de energia é o foco do terremoto. De acordo com estudos geológicos recentes, essas formações geológicas existem no Brasil, e diversas cidades do país estão em cima delas.

A diferença principal é que nosso país está praticamente no centro da placa tectônica sul-americana, fazendo com que a possibilidade de tremores fortes seja mais raro, já que eles geralmente são registrados nas bordas de placas de tamanho continental.

Apesar disso, terremotos ainda podem ocorrer no solo brasileiro. Veja mais a seguir.

Quais cidades brasileiras são mais propensas a terremotos? Conheça algumas

1 – Salvador (BA)

Na capital da Bahia, há um exemplo muito conhecido de falha geológica: o elevador Lacerda é o marco que une as cidades conhecidas como baixa e alta.

Elevador Lacerda na capital da Bahia
Elevador Lacerda na capital da Bahia (Reprodução: Vinicius Dattwyler/Pexels)

Ali, há um desnível de relevo que teve origem há aproximadamente 140 milhões de anos, quando a América do Sul começou a se separar da África. Nesse período, um bloco rochoso desceu em relação ao outro, formando a Falha de Salvador, o que aconteceu ao longo de milhões de anos.

O primeiro registro de terremoto no Brasil ocorreu justamente em Salvador, em 1724. Então, a partir de meados do século 19, muitos pesquisadores começaram a registrar outros eventos sísmicos, principalmente no Nordeste.

2 – João Câmara (RN)

A cidade do Rio Grande do Norte está localizada na falha de Samambaia, e já registrou diversos tremores de terra.

Um deles aconteceu em 2022, quando moradores sentiram nove abalos sísmicos na cidade. O maior terremoto registrado no local foi em 1986, com magnitude de 5.1, e sendo sentido em grande parte do Nordeste brasileiro.

De acordo com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, a falha de Samambaia é considerada a maior do tipo no Brasil, com 38 km de comprimento, 4 km de largura e uma profundidade que varia de 1 a 9 km.

3 – Cubatão (SP)

Descoberta em 1987, a falha de Cubatão, localizada no litoral de São Paulo, faz parte de um sistema de mais de 2.000 km de extensão.

Localização da área de estudo da falha de Cubatão (escala original da imagem de satélite: 1:50.000; Imagem: Projeto SIIGAL)

Possui uma rede de falhas diferentes entre si, sendo nomeado de Sistema de Falhamento Cubatão. Mesmo com seu tamanho e estando abaixo de uma região industrial, existe um baixo risco de possíveis terremotos iminentes nesse sistema de acordo com pesquisas.

Além disso, a estrutura esteve comprovadamente ativa entre 400 e 10 mil anos atrás. Contudo, ainda não há registros de terremotos em Cubatão ou no estado de São Paulo.

4 – Itacarambi (MG)

Falando de estado, Minas Gerais é o que mais registra atividades sísmicas no Brasil. De acordo com o mapa tectônico elaborado na pesquisa citada acima, sete falhas geológicas cortam Minas Gerais, sendo elas: BR 24, 25, 26, 27, 28, 29 e 47.

A 47 está localizada no norte do estado, exatamente abaixo do município de Itacarambi. O local registrou um terremoto de 4.9 graus na escala Richter em dezembro de 2007.

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5 – Taruacá (AC)

Esta cidade no Acre encontra-se próxima do epicentro do maior terremoto já registrado no Brasil, o qual atingiu 6.6 graus na escala Richter em 20 de janeiro de 2024.

A descida da placa de Nazca se choca com a placa Sul Americana,
originando em diferentes profundidades os pontos de acúmulo e liberação de energia. (Imagem: Carlos Uchôa/UEFS/Divulgação)

O tremor aconteceu na região amazônica perto da cidade, mas as coordenadas exatas apontam para Ipixuna, no Amazonas. Antes disso, foi registrado o segundo maior terremoto no país nessa mesma região, em 2022, chegando a 6.5 pontos.

A cidade acreana também é o município do estado com mais ocorrências de abalos sísmicos, uma vez que está em cima da falha de Taruacá, que corta o estado em duas partes. Mesmo com os abalos constantes na região, a profundidade deles passa dos 500 km, diminuindo o risco de danos e de serem percebidos pelos moradores.

Em 2015, ano em que estudos completos foram feitos na região, mais de 15 terremotos foram sentidos na cidade.

Esses fatos são reforçados pela localização da cidade, que está próxima de duas placas tectônicas muito ativas: a Sul-Americana e a de Nazca, ambas nos Andes.

6 – Porangatu (GO)

Já o município de Porangatu, localizado no norte de Goiás, é uma região localizada em cima da falha geológica brasileira que leva o nome da cidade: Zona de Falhas de Porangatu.

Foi registrado um terremoto de 3.7 pontos na escala Richter em abril de 2022, assustando os moradores durante a madrugada.

Outros tremores mais intensos foram sentidos em Goiânia e até em Brasília em outras ocasiões, como o acontecido em outubro de 2010

7 – Vale do Jaguaribe (CE)

A 300 km da capital do Ceará, Fortaleza, está uma grande falha geológica sobre a cidade cearense de Vale do Jaguaribe.

O local gera terremotos considerados de baixa magnitude, sendo que alguns dos mais recentes aconteceram em março de 2016, com magnitudes de 3.1 e 3.4 graus na escala Richter.

Os pesquisadores suspeitam que a água de um açude na região se infiltrou na falha, o que pode estar aumentando o número de abalos.

8 – Curitiba (PR)

Curitiba é a única capital do Brasil que fica diretamente em cima de uma falha geológica, sendo a mesma que atravessa a cidade de Cubatão.

Curitiba é a única capital do Brasil que fica diretamente em cima de uma falha geológica, sendo a mesma que atravessa a cidade de Cubatão. (Imagem: Pedro Ribas/SMCS)

Apesar disso, a região Sul é a que menos tem falhas geológicas no Brasil. Entretanto, é mais comum que as cidades do entorno da capital paranaense registrem terremotos, como São Jerônimo da Serra, a 351 km de Curitiba.

O local sofreu um abalo de 5.1 graus em setembro de 2017. Já em outros dados registrados entre 2006 e 2019, o estado apresentou sete terremotos de magnitude elevada.

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Por que é tão difícil prever desastres naturais?

Em um mundo onde eventos climáticos extremos, terremotos, enchentes e incêndios florestais se tornam cada vez mais frequentes, a prever desastres deveria ser uma prioridade constante.

No entanto, mesmo em regiões onde esses eventos são recorrentes, muitas comunidades, governos e até indivíduos ainda enfrentam grandes dificuldades para se preparar adequadamente.

Essa dificuldade não se resume à falta de informação ou de recursos financeiros, mas envolve uma série de fatores sociais, psicológicos e estruturais que tornam a prevenção e a preparação um desafio constante.

Por que é tão difícil estar preparado para desastres?

Deslizamento de terra causado por fortes chuvas na praia de Boiçucanga, cidade de São Sebastião, SP, no Carnaval de 2023. Imagem: Nelson Antoine – Shutterstock

Prever desastres exige não apenas planejamento técnico e logístico, mas também uma mudança cultural profunda, na qual a prevenção é valorizada tanto quanto a resposta emergencial.

No entanto, a natureza humana tende a minimizar riscos futuros e priorizar problemas imediatos. Esse comportamento, somado a políticas públicas muitas vezes reativas e a desigualdades socioeconômicas, cria um cenário em que a preparação eficaz raramente é colocada em prática da forma como deveria.

Subestimação do risco

Um dos fatores mais comuns que dificultam a preparação é a chamada normalização do risco. Comunidades que vivem em áreas propensas a inundações, furacões ou incêndios florestais frequentemente se acostumam com esses eventos e passam a considerá-los parte da rotina.

Esse fenômeno psicológico leva à minimização da gravidade dos riscos e reduz a percepção de urgência para adotar medidas preventivas. Em outras palavras, muitas pessoas acreditam que “da outra vez deu certo, então dessa vez também vai dar”.

Custos e prioridades econômicas

Preparar-se adequadamente para desastres demanda investimentos significativos, seja em infraestrutura, sistemas de alerta precoce, treinamentos comunitários ou criação de planos de evacuação.

Em regiões de baixa renda ou em comunidades já sobrecarregadas por problemas diários, a preparação para um evento que pode ou não ocorrer no futuro acaba sendo vista como um luxo. Governos e cidadãos frequentemente direcionam seus recursos para necessidades mais imediatas, como saúde, educação e segurança, deixando a preparação para desastres em segundo plano.

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Falta de coordenação e informação

(Imagem: Alaskagirl8821/Shuttestock)

Prever desastres de uma forma eficaz, depende de uma comunicação clara e eficiente entre diferentes níveis de governo, organizações de resposta e a população. Em muitos casos, essa coordenação é falha, gerando informações contraditórias, planos desconectados da realidade local ou falta de clareza sobre o que cada pessoa ou entidade deve fazer antes, durante e após o evento. Isso cria um ciclo de desinformação que enfraquece a preparação e gera confusão em momentos críticos.

Distância entre ciência e tomada de decisão

Os avanços científicos em previsão de desastres e modelagem climática são notáveis, mas frequentemente essas informações não chegam aos tomadores de decisão de forma acessível e prática.

Políticos e gestores públicos nem sempre possuem o conhecimento técnico necessário para interpretar dados científicos ou para integrá-los em políticas públicas efetivas. Essa desconexão entre ciência e gestão pública é uma barreira significativa para a criação de estratégias preventivas eficazes.

Desigualdade e vulnerabilidade social

A preparação para desastres também está diretamente relacionada ao nível de vulnerabilidade social. Populações de baixa renda geralmente vivem em áreas de risco, como encostas ou margens de rios, em habitações precárias e com acesso limitado a serviços públicos.

Essas comunidades são as mais afetadas por desastres e, ao mesmo tempo, as menos preparadas para enfrentá-los. A falta de acesso à informação, transporte seguro e recursos financeiros agrava ainda mais essa situação.

Tendência à resposta reativa

Carros destruídos por enchentes no Rio Grande do Sul. Crédito: Maurício Tonetto/Secom RS

Historicamente, a maior parte dos investimentos governamentais em desastres é direcionada à resposta e reconstrução, e não à prevenção. Esse modelo reativo, embora essencial em emergências, perpetua um ciclo de vulnerabilidade: a cada novo evento, os mesmos problemas se repetem, sem que sejam feitas mudanças estruturais para minimizar os impactos futuros.

O papel da memória coletiva

Com o tempo, mesmo desastres de grande magnitude tendem a ser esquecidos por gerações que não os vivenciaram diretamente. Essa perda de memória coletiva enfraquece o senso de urgência e a disposição de investir em prevenção. Para que a preparação se torne parte da cultura de uma sociedade, é necessário manter viva a lembrança dos eventos passados e suas lições.

A preparação para desastres não é apenas uma questão técnica, mas também social, psicológica e política. Enfrentar esse desafio exige mudança de mentalidade em todos os níveis da sociedade, combinada com investimentos consistentes em educação, infraestrutura e redução de desigualdades. Somente assim será possível transformar a cultura de resposta em uma cultura de prevenção.

Com informações de Columbia Climate School.

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Satélite da Nasa vai mudar o jogo na resposta a eventos climáticos

A Nasa está trabalhando em satélites autônomos alimentados por IA que podem operar sem supervisão humana para aprimorar o monitoramento de desastres. Isso pode aprimorar o processamento de imagens em tempo real e acelerar a tomada de decisões — quando se trata do clima, cada segundo importa.

A nova empreitada da agência espacial americana é o Dynamic Targeting, um sistema controlado por IA que permite que os satélites processem dados de imagem a bordo. O equipamento foi desenvolvido em parceria com a startup de inteligência de satélites Ubotica, sediada na Irlanda.

A tecnologia foi testada recentemente durante os incêndios florestais em Los Angeles, nos Estados Unidos, e no período das enchentes históricas de Valência, na Espanha.

Sistema com mediu extensão das enchentes em Valência (Imagem: Nasa/Divulgação)

O sistema foi integrado ao satélite CogniSAT-6, equipado com a plataforma Live Earth Intelligence (LEI) e emparelhado com o SPACE:AI, que permite o processamento de dados de forma autônoma e a transmissão de insights para a Terra em minutos.

No caso da Espanha, o modelo executado a bordo estimou que 21% da região observada estava submersa, fornecendo uma avaliação imediata da gravidade da enchente. Em comparação, os sistemas tradicionais podem levar dias para que os dados brutos completos sejam baixados.

“Esta demonstração tecnológica destaca o papel vital dos satélites inteligentes, autônomos e habilitados por IA no fornecimento de dados críticos em tempo real para auxiliar na mitigação de desastres e, finalmente, salvar vidas”, disse Fintan Buckley, CEO da Ubotica.

Caso a captura de imagem seja prejudicada pela cobertura de nuvens, o sistema de IA alerta os demais satélites para tentarem novamente, eliminando a necessidade de os operadores remarcarem os equipamentos manualmente.

A Ubotica já trabalhou com a Nasa em outro projeto para aplicar o processamento de imagens orientado por IA a bordo da Estação Espacial Internacional. Em 2022, a startup fechou um contrato de US$ 632.000 com o Jet Propulsion Lab para criar o Dynamic Targeting.

Nasa monitorou incêndios florestais na Califórnia no início do ano (Imagem: Nasa/Divulgação)

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Corrida geopolítica

Esse tipo de tecnologia não é novidade do outro lado do mundo, na China. O país asiático já incorporou sistemas de IA para observação da Terra com os satélites Tiantuo e Zhuhai, operados em parceria com a empresa Zhuhai Orbita.

Satélites autônomos auxiliam não só na resposta a desastres climáticos, mas também podem fornecer inteligência estratégica sobre mudanças ambientais, segurança marítima e até movimentos militares.

A Nasa e a Ubotica estão trabalhando em conjunto com agências de defesa nos Estados Unidos e na Europa para proteger ativos marítimos, como cabos submarinos e parques eólicos offshore, além da detecção de atividades suspeitas de embarcações.

“É importante proteger a vasta rede de cabos de comunicação subaquáticos de alta velocidade, pois eles frequentemente estão sujeitos a danos acidentais ou deliberados”, disse Buckley ao site Fast Company. “A chave é identificar e avisar as embarcações antes que qualquer dano ocorra e, se um incidente acontecer, rastrear e responsabilizar o infrator.” 

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