O aumento da conta de luz se tornou um dos principais fatores de insatisfação popular e um desafio concreto para a economia brasileira, como mostra um artigo da professora Clarice Ferraz, da Escola de Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), publicado no The Conversation.
Em fevereiro de 2025, a tarifa de energia elétrica subiu em média 17%, puxando a inflação do mês para o maior patamar em 22 anos. A alta foi agravada pela retirada do “bônus de Itaipu”, mecanismo que no mês anterior reduziu temporariamente os preços da eletricidade.
Problema no Brasil é estrutural e complexo
Esse “efeito rebote” escancara um problema maior: a escalada histórica do custo da energia no Brasil, agravada por falhas estruturais, falta de planejamento e impactos das mudanças climáticas.
Tarifas imprevisíveis desorganizam cadeias produtivas, inibem investimentos e dificultam a transição energética.
Além do preço, a qualidade do serviço também piorou. Em 2024, brasileiros ficaram em média mais de 10 horas sem luz.
A expansão desordenada da geração distribuída, especialmente solar, impôs novos desafios ao setor de distribuição.
Falta de investimentos, corte de custos e terceirizações afetam a manutenção, aumentam os riscos e elevam os acidentes de trabalho – com terceirizados morrendo três vezes mais que os funcionários efetivos.
Alta nas tarifas de energia pressiona inflação e afeta a vida de muitas famílias (Imagem: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
Governo buscou soluções
Diante disso, o vice-presidente Geraldo Alckmin sugeriu excluir energia e alimentos do cálculo da inflação, o que poderia reduzir artificialmente os juros. Embora a proposta critique, com razão, a política monetária atual, ela não enfrenta a raiz do problema: a crise estrutural do setor elétrico.
O Brasil precisa de uma nova política energética: com tarifas previsíveis, fiscalização eficaz, planejamento de longo prazo e ampliação do acesso à energia de forma segura e justa.
A reforma do setor, se conduzida com seriedade e participação social, pode restabelecer a confiança, atrair investimentos e contribuir para uma retomada econômica sustentável – além de aliviar a pressão sobre o governo.
Cenário atual expõe a urgência de uma reforma no setor elétrico brasileiro – Crédito: Evgeny_V – Shutterstock
A palavra “gambiarra” tem um uso amplo no Brasil, principalmente para descrever soluções que se utilizam do improviso, muitas vezes engenhosas, mas nem sempre seguras. No contexto tecnológico, o termo se tornou ainda mais comum, referindo-se a adaptações em circuitos elétricos, programação, hardware e até mesmo redes de internet.
Mas de onde vem essa palavra e por que ela se tornou tão emblemática no vocabulário brasileiro?
Qual a origem da palavra “gambiarra”?
O significado da palavra “gambiarra” tem suas raízes na eletricidade e no teatro. Segundo o Dicionário de Michaellis, originalmente, o termo designava uma extensão elétrica improvisada, composta por um fio longo com uma lâmpada na extremidade, permitindo iluminação em diferentes pontos.
Remendo com um fio de material diferente do original em uma tela de proteção em uma janela de apartamento. / Crédito: ricardo bayerlein (shutterstock/reprodução)
Essa solução era especialmente útil no teatro, onde “gambiarras” eram usadas como refletores posicionados acima da ribalta ou no teto da plateia.
Etimologia e evolução do termo
A origem exata da palavra “gambiarra” é incerta, mas há algumas hipóteses interessantes. O filólogo Antenor Nascentes sugere que “gambiarra” derive de “gâmbia”, que, por sua vez, vem do italiano “gamba” (perna).
O sufixo “-arra” teria um sentido aumentativo ou até depreciativo, o que poderia sugerir uma relação com algo improvisado ou fora do padrão.
Outra teoria sugere que o termo surgiu mesmo das extensões de fios elétricos utilizadas para iluminação no século XIX. Há ainda a hipótese de que “gambiarra” tenha relação com “gâmbias” (pernas ligeiras), remetendo a vendedores ambulantes e camelôs que precisavam improvisar soluções rápidas.
Gambiarra na tecnologia
Hoje, a palavra “gambiarra” se expandiu para além da eletricidade e tem um uso amplo, que também se faz presente no mundo da tecnologia.
Em programação, por exemplo, ela se refere a códigos improvisados que resolvem um problema temporariamente, mas sem seguir as melhores práticas. No design eletrônico, pode significar a adaptação de componentes para fazer um circuito funcionar sem a solução ideal.
Fios desencapados e fita isolante: no ambiente doméstico, uma das gambiarras mais comuns é usar fita isolante para consertar eletrônicos, como um cabo de carregador;
Correções improvisadas em software: programadores muitas vezes fazem “gambiarras” para contornar um bug rapidamente, sem revisar todo o código;
Adaptações de hardware: colocar um cooler improvisado em um computador superaquecendo ou usar um clipe de papel para substituir um botão quebrado são exemplos típicos.
Apesar de sua conotação muitas vezes negativa, a gambiarra também pode ser vista como um reflexo da criatividade e da capacidade de adaptação. Em locais com poucos recursos, a improvisação é uma ferramenta essencial para resolver problemas do dia a dia.
Chuveiro improvisado em Copacabana / Crédito: Ana Clara Tito (shutterstock/reprodução)
Curiosamente, o conceito de gambiarra não é exclusivo do Brasil. Em inglês, existem termos como “kluge” ou “hack”, que também descrevem soluções improvisadas na tecnologia e engenharia.
Na ciência, a expressão “gambiarra evolutiva” é usada para descrever adaptações biológicas imperfeitas, mas funcionais, como deficiências estruturais do corpo humano que foram “remendadas” ao longo da evolução.
A eletricidade está presente no nosso dia a dia de inúmeras formas, alimentando desde aparelhos eletrônicos até sistemas de transporte. No entanto, um simples choque elétrico pode representar um risco grave à vida. Mas por que isso acontece? Como a corrente elétrica afeta o corpo humano e quais são os fatores que tornam um choque potencialmente letal?
Quando uma descarga elétrica percorre o organismo, ela interfere nos sinais elétricos naturais do corpo, podendo causar desde uma sensação de formigamento até paradas cardíacas. O perigo de um choque não está apenas na voltagem, mas também na corrente elétrica, na duração da exposição e no caminho que essa eletricidade percorre dentro do corpo. Um choque pode provocar queimaduras graves, danos neuromusculares e até mesmo comprometer funções vitais.
Como a eletricidade afeta o corpo humano
O corpo humano conduz eletricidade devido à presença de água e sais minerais, que facilitam o fluxo de corrente elétrica. Quando alguém sofre um choque, a eletricidade entra no corpo e segue o caminho de menor resistência, podendo atravessar órgãos vitais como o coração e o cérebro.
Os efeitos do choque variam conforme a intensidade da corrente elétrica:
Até 1 mA (miliampère): sensação de formigamento. Aqui entram choques em objetos com eletricidade estática.
1 a 10 mA: contrações musculares involuntárias. Um exemplo é o choque ao tocar na carcaça metálica de um notebook ligado em uma tomada sem aterramento.
10 a 100 mA: dificuldade em soltar o objeto eletrificado, dores intensas e risco de fibrilação ventricular. Neste caso, você pode experimentar o choque ao manusear fios descascados, tomadas defeituosas ou até eletrodomésticos danificados, como ferros de passar ou micro-ondas.
Acima de 100 mA: parada cardíaca, danos neurológicos severos e risco de morte. Exemplos de perigos potenciais são fios descascados na própria rede elétrica residencial; fios de alta tensão na rua; e fuga de corrente ou instalação irregular em chuveiro elétrico.
A corrente alternada (AC), presente na rede elétrica residencial, é mais perigosa do que a corrente contínua (DC), pois interfere mais facilmente nos impulsos elétricos do coração, aumentando as chances de arritmias fatais.
Crédito: ShutterStock
Principais fatores que tornam um choque fatal
Diversos elementos influenciam a gravidade de um choque elétrico. Entre os principais, estão:
Intensidade da corrente elétrica
A corrente elétrica é o fator mais determinante na letalidade de um choque. Acima de 30 mA, já há risco significativo de fibrilação ventricular, que pode levar à morte em minutos se não houver socorro imediato.
Tempo de exposição
Quanto mais tempo a eletricidade percorre o corpo, maiores são os danos. Um choque curto pode causar apenas uma contração muscular dolorosa, enquanto uma exposição prolongada pode ser letal.
Se a corrente passa pelo coração ou pelo cérebro, os riscos aumentam. Um choque que percorre de uma mão para outra pode ser mais perigoso do que aquele que afeta apenas um braço ou perna.
Resistência do corpo
O corpo humano tem certa resistência elétrica, que varia conforme a umidade da pele. Mãos molhadas ou suor diminuem essa resistência, facilitando a passagem da corrente e aumentando a gravidade do choque.
Tensão elétrica (voltagem)
Embora a voltagem por si só não determine a gravidade do choque, tensões elevadas aumentam a probabilidade de queimaduras e lesões severas.
Efeitos de um choque elétrico no organismo
Além dos danos internos, um choque pode provocar ferimentos graves, incluindo:
Queimaduras: a eletricidade gera calor intenso, podendo causar queimaduras internas e externas.
Danos neuromusculares: os impulsos elétricos podem causar espasmos musculares intensos e lesões permanentes nos nervos.
Parada cardíaca: fibrilação ventricular, que impede o coração de bombear sangue adequadamente.
Complicações respiratórias: um choque pode afetar o sistema nervoso e causar falhas na respiração.
(Imagem: RHJPhtotos/Shutterstock)
Como prevenir choques elétricos
Para evitar acidentes elétricos, algumas precauções são essenciais:
Evite mexer em equipamentos elétricos com as mãos molhadas.
Não use extensões ou fios danificados.
Desligue a eletricidade antes de realizar reparos em tomadas ou fios.
Use dispositivos de proteção, como disjuntores e DR (Diferencial Residual), que desligam a corrente elétrica em caso de fuga.
Mantenha crianças longe de tomadas e cabos expostos.
O que fazer em caso de choque elétrico?
Se alguém sofrer um choque, siga estas orientações:
Desligue a fonte de energia antes de tocar na vítima.
Afaste a pessoa da corrente elétrica usando um objeto isolante, como madeira ou borracha.
Chame o socorro imediatamente, especialmente se houver desmaio ou dificuldade para respirar.
Realize manobras de reanimação (RCP) se a vítima não estiver respirando e você for apto para tal.
Tomar um choque pode ser fatal dependendo da intensidade da corrente, do tempo de exposição e do caminho que a eletricidade percorre no corpo. Os efeitos vão desde queimaduras até paradas cardíacas. Para evitar riscos, é fundamental adotar medidas preventivas e agir rapidamente em caso de acidentes elétricos.
Uma nova técnica pode transformar minas desativadas em soluções de armazenamento de energia de longo prazo — criando uma fonte de energia renovável. O método é chamado de Underground Gravity Energy Storage (UGES) e foi proposto por pesquisadores do Instituto Internacional de Análise de Sistemas Aplicados (IIASA) da Áustria.
“As minas já têm a infraestrutura básica e estão conectadas à rede elétrica, o que reduz significativamente o custo e facilita a implementação de usinas UGES”, diz Julian Hunt, pesquisador do Programa de Energia, Clima e Meio Ambiente do IIASA e principal autor do estudo.
China, Índia, Rússia e Estados Unidos concentram o maior potencial de geração de energia a partir de minas desativadas, segundo o artigo, podendo variar de 7 a 70 TWh globalmente.
Potencial de energia gerada em minas varia de 7 a 70 TWh globalmente (Imagem: Dziurek/iStock)
Os principais componentes da UGES são o eixo, o motor/gerador, os locais de armazenamento superior e inferior e o equipamento de mineração;
Quanto mais profundo e largo o eixo da mina, mais energia pode ser extraída da planta e, quanto maior a mina, maior a capacidade de armazenamento de energia da planta;
O meio de armazenamento de energia do UGES é areia, o que significa que não há energia perdida para autodescarga, permitindo armazenamento de semanas a anos;
O sistema gera eletricidade pela liberação de uma carga pesada, permitindo que ela “caia”: a UGES baixa areia para uma mina subterrânea e converte a energia potencial da areia em eletricidade por meio de frenagem regenerativa;
Quando há excesso na rede, o sistema de bateria gravitacional usa parte dessa energia para puxar a carga de volta, efetivamente armazenando a energia para uso no futuro.
Meio de armazenamento de energia do UGES é areia (Imagem: Reprodução)
“Para descarbonizar a economia, precisamos repensar o sistema energético com base em soluções inovadoras usando recursos existentes. Transformar minas abandonadas em armazenamento de energia é um exemplo de muitas soluções que existem ao nosso redor”, conclui Behnam Zakeri, coautor do estudo e pesquisador do Programa de Energia, Clima e Meio Ambiente do IIASA.