A produção de carne bovina no Brasil emite mais do que o dobro do limite de metas estipuladas internacionalmente, segundo pesquisa da Unifesp publicada na revista científica Environmental Science and Pollution Research.
Até 2030, as emissões podem variar de 0,42 a 0,63 gigatonelada de CO² equivalente (GtCO2e), de acordo com o estudo. No entanto, a meta estipulada no Acordo de Paris, assinado em 2015, é de 0,26 GtCO2e.
Recentemente, o Brasil se comprometeu na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) a reduzir emissões líquidas de gases de efeito estufa entre 850 milhões e 1,05 bilhão de toneladas de CO² equivalente até 2035.
Integração entre acadêmicos e produtores pode ser solução (Imagem: Alfribeiro/iStock)
Importância econômica
O estudo evidencia os desafios de um setor de grande importância econômica para o país: em 2024, por exemplo, o Brasil bateu recorde de abates, com aumento de 15,2% frente a 2023, até então o maior valor da série monitorada pelo IBGE.
“Sabemos da importância do setor de carne bovina não só para a economia como para o cardápio dos brasileiros. Nosso objetivo não é dizer: produzam ou comam menos carne, mas sim trazer uma discussão sobre a forma atual de produção, que vem atrelada ao desmatamento, a altas emissões e sem adotar técnicas sustentáveis”, disse a bióloga Mariana Vieira da Costa, primeira autora do artigo, à Agência Fapesp.
“Nossas descobertas mostram que é preciso adotar na cadeia produtiva práticas que mitiguem as emissões. Isso contribui também com a redução dos custos associados às mudanças climáticas”, afirmou a especialista Laboratório de Economia, Saúde e Poluição Ambiental (Lespa) da Unifesp.
Produção de gado está atrelada a altos níveis de desmatamento (Imagem: Mailson Pignata/iStock)
Alguma luz no fim do túnel?
Para as pesquisadoras, uma das soluções está no trabalho em conjunto entre acadêmicos e produtores rurais em busca de práticas de produção mais eficientes e de baixa emissão. O governo federal também tem papel importante na adoção de tecnologias sustentáveis, segundo o estado.
A adoção de novas técnicas na produção de bovinos pode reduzir custos entre US$ 18,8 bilhões e US$ 42,6 bilhões até 2030 dependendo do cumprimento das metas, de acordo com o estudo. As cifras consideram medidas que mitigariam danos provocados por eventos climáticos extremos e impacto sobre o meio ambiente e a saúde humana.
Um estudo publicado esta semana na revista ACS Energy Letters apresenta um avanço promissor rumo a uma indústria siderúrgica mais limpa. A pesquisa propõe uma nova forma de produzir ferro – principal componente do aço – sem depender de carvão ou altas temperaturas, dois grandes vilões das emissões globais de carbono.
Em poucas palavras:
Cientistas desenvolveram um novo método para produzir ferro sem usar carvão nem altas temperaturas;
A técnica usa eletricidade para extrair ferro do minério, reduzindo emissões e operando de forma mais limpa;
No laboratório, o processo funcionou bem com materiais puros, mas os minérios naturais são mais complexos;
Para entender esse impacto, os pesquisadores testaram partículas com diferentes estruturas internas;
As partículas porosas permitiram uma produção mais rápida e eficiente do que as densas;
Com essa velocidade, o processo pode competir com o modelo tradicional e ajudar a tornar a siderurgia mais limpa.
Parte essencial da vida moderna, o aço hoje está em construções, carros, eletrodomésticos, pontes e maquinários. No entanto, seu processo de fabricação, baseado em altos-fornos alimentados por carvão, torna a siderurgia uma das indústrias mais poluentes do mundo. A produção de ferro, etapa inicial dessa cadeia, é responsável por grande parte dessas emissões.
Presente em quase tudo ao nosso redor, o aço se tornou indispensável no cotidiano moderno – de edifícios e veículos a eletrodomésticos, pontes e equipamentos industriais. Crédito: Giulio_Fornasar – Shutterstock
Processo usa eletricidade na produção do aço ecológico
Com a demanda por aço crescendo no mundo inteiro, cientistas buscam alternativas que mantenham a produtividade sem comprometer o meio ambiente. Nesse cenário, pesquisadores da Universidade de Oregon (OSU), nos EUA, apostam na eletroquímica como solução.
Liderada pelo químico Paul Kempler, a equipe desenvolveu um processo que usa eletricidade para extrair ferro do óxido de ferro, um tipo comum de minério. Esse método opera em temperaturas mais baixas e sem o uso de combustíveis fósseis. Além disso, gera cloro como subproduto – uma substância valiosa para outras aplicações industriais.
No laboratório, a técnica funcionou bem com materiais puros. Mas os minérios naturais são mais complexos, com variações de forma, composição e estrutura. Para levar a ideia do laboratório à indústria, era preciso entender como esses fatores interferem na eficiência do processo eletroquímico.
Foi isso que os pesquisadores se propuseram a investigar. Eles criaram partículas de óxido de ferro com composições semelhantes, mas com arquiteturas internas diferentes (algumas porosas, outras densas) e testaram seu desempenho na produção de ferro.
O resultado foi claro: porosidade faz diferença. As partículas porosas permitiram uma produção de ferro mais rápida e eficiente. Isso ocorre porque elas têm uma maior área de superfície interna, o que facilita as reações químicas envolvidas no processo eletroquímico.
Já as partículas densas limitaram a quantidade de ferro produzida e tornaram o processo mais lento. “Com as partículas realmente porosas, conseguimos fazer ferro rapidamente em uma pequena área”, explicou Andrew Goldman, coautor do estudo, em um comunicado. “As densas não conseguem atingir a mesma velocidade”.
É a forma e a porosidade, não o tamanho, das partículas de óxido metálico que importam para a eficiência na fabricação eletroquímica de ferro. Crédito: Paul A. Kempler et. al. / ACS Energy Letters
Essa velocidade de produção é um fator decisivo para viabilizar a tecnologia em escala industrial. Grandes usinas eletroquímicas são caras de construir, e sua rentabilidade depende da rapidez com que produzem materiais. Se o ferro puder ser fabricado de forma ágil e constante, o investimento se paga mais rapidamente.
Usando as partículas porosas, a equipe estima que o ferro pode ser produzido por menos de US$600 (em torno de R$3,5 mil) por tonelada métrica – um valor comparável ao do processo tradicional, que usa carvão. Isso mostra que a eletroquímica pode ser competitiva não só ambientalmente, mas também economicamente.
Além disso, melhorias futuras podem reduzir ainda mais os custos. A equipe pretende aperfeiçoar o design dos eletrodos e explorar novos materiais porosos como matéria-prima. O objetivo é aumentar a eficiência, diminuir o consumo de energia e ampliar a escala do processo.
Para acelerar essa transição, os pesquisadores firmaram parcerias com engenheiros civis da OSU e com uma empresa especializada em fabricação de eletrodos. Essas colaborações visam transformar a ideia experimental em uma tecnologia comercial viável.
Para Goldman, a pesquisa mostra que é possível conciliar produção industrial e responsabilidade ambiental. “Ainda temos muito a resolver, claro. Mas este trabalho serve como ponto de partida para repensar como soluções industriais podem ser mais sustentáveis”.
Se bem-sucedido, o método pode inaugurar uma nova era para a siderurgia – menos dependente do carvão, mais alinhada às metas climáticas e com menor impacto ambiental. Em um setor historicamente difícil de descarbonizar, esse avanço oferece uma nova perspectiva para um futuro mais limpo.
A crescente emissão de gases de efeito estufa está tornando as camadas superiores da atmosfera mais finas, reduzindo a resistência ao movimento dos objetos em órbita. Isso significa que o lixo espacial demora mais para reentrar na atmosfera e se desintegrar, aumentando a poluição ao redor do planeta.
Um estudo publicado recentemente na revista Nature Sustainability sugere que, se essa tendência continuar, a capacidade de operação segura de satélites na órbita baixa da Terra pode cair drasticamente até o fim do século.
Desde os anos 1990, cientistas sabem que mudanças climáticas podem reduzir a densidade da atmosfera superior. Com menos resistência do ar, satélites e fragmentos de detritos permanecem no espaço por mais tempo, elevando os riscos de colisões. A longo prazo, isso pode dificultar a operação de novas missões e comprometer a segurança de tecnologias essenciais, como telecomunicações e observação da Terra.
Estima-se que uma tonelada de lixo espacial atravesse a atmosfera da Terra a cada semana. Crédito: Christoph Burgstedt – Shutterstock
Pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos EUA, aprofundaram essa questão e calcularam os efeitos desse fenômeno na segurança do tráfego orbital. O estudo revelou um dado alarmante: até 2100, algumas regiões do espaço poderão comportar até 66% menos satélites do que hoje devido ao acúmulo de detritos.
A descoberta surge em um momento crítico. Empresas como SpaceX e Amazon planejam lançar milhares de satélites para fornecer internet global, mas o aumento de emissões de gases de efeito estufa pode reduzir a capacidade da órbita terrestre de comportar essas megaconstelações. Se nada for feito, algumas regiões já estão próximas do limite de saturação, elevando o risco de colisões em cadeia.
Na pesquisa, os autores analisaram diferentes altitudes e identificaram áreas onde a densidade de satélites já está no limite seguro. Nessas regiões, qualquer novo lançamento pode desencadear eventos de fragmentação, gerando ainda mais lixo espacial e reduzindo ainda mais a segurança orbital. Esse efeito pode levar a um cenário perigoso, no qual uma simples colisão desencadeia reações em cascata, dificultando a exploração e uso comercial do espaço.
As emissões de gases de efeito estufa reduzem a densidade do ar, prolongando permanência em órbita de satélites e detritos, o que eleva os riscos de colisões e acúmulo de lixo espacial. Crédito: Quality Stock Arts – Shutterstock
Apesar do cenário preocupante, ainda há tempo para agir. Reduzir as emissões de gases de efeito estufa pode ajudar a manter a densidade da atmosfera superior, garantindo que o arrasto aerodinâmico continue a remover naturalmente os detritos espaciais ao longo do tempo.
“Nosso impacto na atmosfera nas últimas décadas já está influenciando o futuro da exploração espacial”, alerta Richard Linares, professor do MIT e coautor do estudo, em um comunicado.
William Parker, principal autor da pesquisa, reforça: “Com o crescimento no número de satélites, precisamos administrar melhor nossas emissões para evitar um espaço orbital superlotado e repleto de detritos”.
Essa análise reforça a necessidade de ações para conter os impactos das mudanças climáticas, que já estão afetando não apenas a vida na Terra, mas também o futuro da exploração espacial.