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Um ‘Sol artificial’ nascerá nos EUA – e com apoio das big techs

A startup Commonwealth Fusion Systems (CFS), empresa do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), arrecadou mais de US$ 1 bilhão (R$ 5,7 bilhões) para construir a primeira usina de energia de fusão em escala de rede do mundo nos Estados Unidos.

O investimento foi liderado por um desenvolvedor de hiperescala não identificado, segundo o Axios Pro. Grandes empresas de tecnologia, incluindo Google e Microsoft, já investiram no negócio. A Microsoft, aliás, é a provedora de serviços de nuvem da CFS.

O plano da nova usina de fusão, chamada ARC, foi revelado no fim do ano passado, com a promessa de início de operação no início da década de 2030.

Parênteses: o que é fusão nuclear?

A fusão nuclear busca reproduzir o processo que acontece no núcleo do Sol, onde átomos de hidrogênio se fundem para gerar energia – daí o termo ‘Sol artificial’. Essa tecnologia é vista como uma alternativa limpa à fissão nuclear, pois utiliza menos recursos e não gera resíduos radioativos de longa duração.

CFS está atualmente concluindo o desenvolvimento de sua máquina de demonstração de fusão, a SPARC (Imagem: CFS/Divulgação)

Como será a usina?

A ARC será capaz de gerar cerca de 400 megawatts de eletricidade limpa e livre de carbono — energia suficiente para abastecer grandes instalações industriais ou cerca de 150.000 residências.

A usina será construída no Parque Industrial James River, nos arredores de Richmond, por meio de uma colaboração não financeira com a Dominion Energy Virginia, que fornecerá desenvolvimento e expertise técnica, além de direitos de arrendamento para o local. A CFS financiará, construirá, possuirá e operará a usina de forma independente.

Vale lembrar que a Virgínia é o estado com o maior número de data centers do país. Em 2023, mais de 25% de toda a energia gerada por lá foi destinada aos centros de serviços em nuvem — e a previsão é que esse número suba para 46% até 2030.

A fusão pode gerar energia a partir de combustíveis abundantes, como isótopos de hidrogênio e lítio, que podem ser obtidos da água do mar, sem deixar emissões ou resíduos tóxicos. No entanto, aproveitar a fusão de forma a produzir mais energia do que consome tem se mostrado difícil devido às altas temperaturas necessárias para criar e manter a reação de fusão.

A CFS está atualmente concluindo o desenvolvimento de sua máquina de demonstração de fusão, a SPARC, em sua sede em Devens, Massachusetts. A previsão é que a SPARC produza seu primeiro plasma em 2026 e, em seguida, energia de fusão líquida, demonstrando pela primeira vez um projeto comercialmente relevante que produzirá mais energia do que consome.

Fusão pode gerar energia limpa a partir de combustíveis abundantes, como isótopos de hidrogênio e lítio (Imagem: CFS/Divulgação)

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Mercado incerto

Apesar do otimismo com a CFS, investimentos em fusão ainda são considerados arriscados — ainda mais em um cenário econômico incerto, com tensões geopolíticas. 

Este mês, o valor da First Light Fusion, do Reino Unido, caiu 60%, após abandonar os planos para uma usina de energia protótipo devido a dificuldades de financiamento, segundo o site Data Center Dynamics.

No Canadá, o CEO da General Fusion disse que foi forçado a demitir um quarto dos funcionários porque os investimentos secaram. “O cenário de financiamento atual é mais desafiador do que nunca, à medida que investidores e governos navegam em um clima político e de mercado incerto e em rápida mudança”, disse o CEO Greg Twinney.

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Exploração de minerais estratégicos para a energia limpa ameaça Amazônia

Conhecida por abrigar a maior biodiversidade do planeta e funcionar como um grande filtro de carbono, a maior floresta tropical do mundo está no centro de uma nova corrida global: a Bacia Amazônica agora também atrai atenção por seus minerais estratégicos, essenciais à chamada energia limpa – como lítio, cobre, níquel e cobalto.

Esses minerais são fundamentais para fabricar baterias de carros elétricos, turbinas eólicas, painéis solares e até armas de alta tecnologia. No entanto, a extração desses recursos ameaça repetir velhos erros. A busca por “minerais verdes” pode causar novos danos ao meio ambiente e às comunidades locais.

Em poucas palavras:

  • Rica em biodiversidade e carbono, a Amazônia agora atrai mineradoras atrás de metais estratégicos para energia limpa;
  • Lítio, cobre e cobalto são disputados para fabricar baterias, turbinas e painéis, mas extraí-los ameaça florestas;
  • Países amazônicos, como Brasil e Bolívia, viram alvos de potências globais que disputam influência sobre seus minérios;
  • A mineração ilegal cresce, polui rios e fortalece grupos armados, enquanto a fiscalização continua frágil e desigual;
  • Para evitar novo ciclo de destruição, é preciso combinar justiça ambiental, participação local e regulação eficaz e global.
De borracha a soja, a Amazônia sempre atraiu exploradores; hoje, os minerais são o novo foco de interesses externos. Crédito: Nelson Antoine – Shutterstock

Historicamente, a Amazônia já foi moldada por ciclos de exploração. Borracha, madeira, carne e soja são exemplos de atividades impulsionadas por interesses externos. Agora, o foco é o subsolo. 

O Brasil é destaque nesse cenário, com o Complexo de Carajás, no Pará, que abriga uma das maiores minas de ferro do mundo, além de cobre, manganês e ouro. Mineradores internacionais também exploram bauxita no município paraense de Paragominas, reforçando o papel da Amazônia nas cadeias globais. 

Outros países da região amazônica também têm seus tesouros. A Bolívia tem reservas de estanho, ouro e terras raras. A Colômbia abriga o projeto Minastyc, que extrai tântalo e nióbio. Equador, Guiana e Suriname também se abrem para novos projetos.

Floresta Amazônica vira alvo de disputa por áreas de exploração 

A China, líder no refino de terras raras, amplia investimentos na América do Sul. Está presente no triângulo do lítio (Argentina, Chile e Bolívia) e mira também o Brasil e o Peru. EUA, Europa, Japão e Canadá reagem, buscando fornecedores fora da influência chinesa.

Com isso, a floresta vira alvo de disputas por áreas de exploração. Em muitos casos, os locais são remotos, com pouca infraestrutura e fiscalização. Dados da Rede Amazônica de Informação Socioambiental e da Agência Nacional de Mineração mostram que várias concessões minerárias se sobrepõem a terras indígenas e unidades de conservação.

De acordo com um artigo publicado pelo cientista político canadense Robert Muggah no site The Conversation, a falta de controle favorece práticas ilegais.

Cofundador do Instituto Igarapé, uma organização independente dedicada à integração das agendas de segurança pública, climática e digital e espaço cívico, e da Bioverse, uma startup de inteligência florestal, Muggah afirma que dissidentes das FARC e milícias armadas controlam parte do comércio de coltan e ouro na Colômbia. No Brasil, o garimpo ilegal cresce na área do Tapajós, apesar das ações governamentais.

Comunidades ribeirinhas na Amazônia correm risco de contaminação por mercúrio. Crédito: Divulgação/Polícia Federal

Além do desmatamento, a contaminação de rios por mercúrio afeta a vida aquática e intoxica comunidades ribeirinhas e indígenas. A crise vai além do ambiental: a mineração ilegal enfraquece o poder do Estado, corrompe autoridades e aumenta a violência. Na Venezuela, o Arco Mineiro do Orinoco virou palco de conflitos entre o Exército e grupos armados, com trabalho forçado e destruição em larga escala.

Países amazônicos buscam melhorar a regulação

Segundo Muggah, alguns países tentam melhorar a regulação. A Colômbia criou um registro digital para rastrear a origem dos minerais. O Brasil conta com o Código Florestal e órgãos como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Bolívia e Equador oferecem plataformas com dados ambientais, mas a fiscalização ainda é falha, principalmente em áreas de fronteira.

A comunidade internacional também tenta ajudar. Programas como a Iniciativa para a Transparência nas Indústrias Extrativas (EITI) propõem maior controle e participação social. A Convenção da Organização das Nações Unidas Contra o Crime Organizado Transnacional também é citada como ferramenta de cooperação. No entanto, sem apoio dos governos e da sociedade, esses mecanismos pouco avançam.

O grande desafio é encontrar equilíbrio. Como fornecer os minerais que o mundo precisa para abandonar os combustíveis fósseis sem causar novos danos à Amazônia? Para Muggah, não basta reduzir as emissões se isso significar destruir florestas, contaminar rios e desrespeitar povos tradicionais.

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Energia limpa: mineração irregular pode provocar novo ciclo de destruição

Soluções incluem melhorar a fiscalização, consultar as comunidades afetadas e adotar tecnologias menos poluentes. Formalizar a mineração artesanal e promover a economia local também são caminhos possíveis. No entanto, nenhuma dessas medidas é suficiente sem uma mudança na lógica de exploração.

A Amazônia não pode ser vista apenas como um depósito de recursos. É um ecossistema vital para o planeta, que regula o clima, abriga culturas diversas e oferece caminhos alternativos de desenvolvimento. Se a transição para a energia limpa repetir os padrões de exploração do passado, será apenas mais um ciclo de destruição.

Neste momento decisivo, a região enfrenta uma encruzilhada. Ou se torna mais uma fronteira sacrificada às demandas globais, ou se transforma em exemplo de uma transição justa e sustentável. A escolha feita agora pode definir não apenas o futuro da Amazônia, mas também o rumo da economia verde no mundo inteiro.

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Projeto internacional testa ímã superpoderoso para gerar energia com fusão nuclear

Um megaprojeto internacional de energia avançou com a montagem do ímã mais poderoso do mundo. O Reator Termonuclear Experimental Internacional (ITER), localizado no sul da França, tenta dominar a fusão nuclear, processo que imita o funcionamento do Sol para produzir energia limpa e praticamente inesgotável.

Em poucas palavras:

  • O ITER quer produzir energia limpa imitando a fusão do Sol;
  • O projeto reúne mais de 30 países, como EUA, China e União Europeia;
  • O principal ímã, essencial para prender o plasma, foi concluído;
  • A instalação atrasou quatro anos, mas agora avança rápido;
  • Testes devem começar em 2033, apesar de incertezas comerciais.

Mais de 30 nações participam do ITER, incluindo EUA, China, Rússia, Japão e países da União Europeia. 

O tokamak ITER e seus sistemas de plantas são vistos nesta representação artística integrados aos edifícios do Complexo Tokamak. Crédito: ITER/Divulgação

Como é a energia por fusão nuclear

A fusão ocorre quando átomos se combinam em temperaturas extremamente altas, liberando grandes quantidades de energia. Para isso, é preciso prender o plasma – gás superaquecido – dentro de uma “gaiola magnética”.

Esse confinamento será possível graças a um sistema de ímãs poderosos. O principal deles, chamado solenoide central, foi concluído e testado nos EUA. Agora, começa a ser instalado no reator. O componente é vital para manter o plasma estável durante os experimentos.

“É como a garrafa para o vinho. O conteúdo importa mais, mas sem a garrafa ele se perde”, disse Pietro Barabaschi, diretor do ITER, à agência de notícias Reuters. O ímã estava previsto para 2021, mas a complexidade do projeto levou a quatro anos de atraso.

Ilustração transversal do núcleo do tokamak ITER, com os ímas supercondutores destacados em azul claro. Crédito: ITER/Divulgação

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Segundo o professor Charles Seife, da Universidade de Nova York, o cronograma mostra as dificuldades da empreitada. Barabaschi, por outro lado, afirma que a fase mais crítica passou e que o ritmo atual de construção é o mais rápido da história do ITER.

A expectativa é que os testes com plasma comecem em 2033. O diretor também destacou que, mesmo com tensões políticas entre os países envolvidos, o projeto segue unido. “Ninguém sinalizou desistência. O compromisso é forte”.

Enquanto isso, empresas privadas prometem reatores comerciais em até dez anos. Barabaschi é cético em relação a isso. “Já sabemos que a fusão funciona. A dúvida é se será barata. Francamente, isso pode levar mais de duas décadas”.

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Carros elétricos: EUA dão um passo para trás

Nos últimos anos, diversas fábricas de veículos elétricos e baterias de lítio surgiram nos Estados Unidos, impulsionadas por incentivos fiscais do Inflation Reduction Act. A promessa era gerar empregos, especialmente em estados republicanos, e fortalecer a produção interna de veículos elétricos.

No entanto, uma matéria do Washington Post revelou que muitos desses projetos estão sendo cancelados, gerando incertezas sobre a transição para energia limpa e o futuro do setor nos EUA.

Dados da Atlas Public Policy revelam que mais projetos foram cancelados no primeiro trimestre de 2025 do que nos dois anos anteriores. Fábricas como a de US$ 1 bilhão na Geórgia e uma de baterias de íons de lítio no Arizona estão entre os cancelamentos.

O analista Tom Taylor, ouvido pela equipe da publicação original, destacou que as incertezas em relação a tarifas, créditos fiscais e regulamentações dificultam a fabricação de veículos elétricos no país.

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Setor de energia limpa dos EUA vive momento de incerteza (Imagem: SweetBunFactory/iStock)

Políticas republicanas impedem avanços

  • Embora a lei climática de 2022 tenha oferecido incentivos para montadoras fabricarem veículos e peças nos EUA, mudanças lideradas pelos republicanos podem revogar esses benefícios, afetando diretamente as vendas de veículos elétricos.
  • Isso tem levado empresas como Aspen Aerogels a transferirem a fabricação para a China, alegando que o mercado norte-americano ainda não avançou tanto quanto o asiático.
  • Além disso, empresas de veículos elétricos, como a Nikola Motors e a Canoo, enfrentam dificuldades financeiras, com algumas indo à falência.
  • A desaceleração no setor de fabricação limpa e a falta de clareza sobre o futuro econômico geram preocupação sobre o impacto da transição energética.

Embora alguns projetos ainda sigam em frente, muitos estão diminuindo ou ajustando a produção de veículos totalmente elétricos, como a fábrica da Hyundai em Savannah, Geórgia.

A incerteza sobre os preços de insumos também tem dificultado novos investimentos, com a E2 relatando uma queda significativa nos anúncios de novos projetos de fabricação limpa em janeiro de 2025.

Essa desaceleração ameaça comprometer a cadeia de suprimentos de veículos elétricos nos Estados Unidos, que ainda precisa de um impulso significativo para decolar, caso contrário, o setor pode retroceder, segundo especialistas.

Futuro de diversas fábricas de veículos elétricos nos EUA está ameaçado (Imagem: SweetBunFactory/iStock)

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Brasil pode se tornar protagonista na transição energética global

Com recursos naturais em abundância, o Brasil está em posição privilegiada para liderar a transição energética mundial – uma transformação essencial para enfrentar a crise climática e reduzir a dependência de combustíveis fósseis.

O país já conta com uma matriz majoritariamente renovável, abastecida principalmente por hidrelétricas, além de crescente produção solar e eólica. Isso abre espaço para investir em novas tecnologias sustentáveis e ampliar a geração de energia limpa.

De acordo com profissionais consultados pela coluna Ecoa, do Uol, além de suprir sua própria demanda, o Brasil pode expandir a produção para atender setores industriais e exportar energia em novas formas, como o hidrogênio verde, produzido a partir de fontes renováveis.

A matriz energética do Brasil é majoritariamente renovável, com domínio das hidrelétricas e avanço da energia solar e eólica. Crédito: Evgeny_V – Shutterstock

Potencial energético e estratégico do Brasil

Segundo o professor Ricardo Ribeiro, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), nosso país tem hoje cerca de 194 gigawatts (GW) de capacidade instalada em geração elétrica, com 85% vindo de fontes renováveis. Esse volume já é suficiente para suprir a demanda nacional, o que permite planejar um crescimento voltado à inovação.

Uma das grandes apostas é o hidrogênio verde, que pode ser usado em indústrias de difícil eletrificação, como a produção de fertilizantes e o transporte pesado. “Essa tecnologia pode reposicionar o Brasil como fornecedor global de energia limpa”, diz Ribeiro.

Outro destaque é o potencial da energia eólica offshore – gerada no mar. De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e a Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), o litoral brasileiro pode produzir até 700 GW. Desses, 160 GW já estão em processo de licenciamento ambiental, volume superior a muitas matrizes nacionais inteiras.

Turbinas de energia eólica offshore durante pôr do sol
Turbinas eólicas offshore durante anoitecer – o litoral brasileiro pode produzir até 700 GW de gerada no mar. Crédito: Pixabay

A professora Suani Teixeira Coelho, do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP), ressalta que o país vive uma “janela de oportunidade”. Para ela, o desenvolvimento desse setor exige políticas públicas que estimulem a inovação, com linhas de crédito específicas e incentivos à produção nacional.

Já Daniela Higgin Amaral, pesquisadora da USP, destaca a necessidade de equilibrar os avanços tecnológicos com medidas sociais. “A transição energética precisa ser inclusiva, promovendo empregos e garantindo acesso à energia para todos”.

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Corrida internacional por energia limpa

Por enquanto, países nórdicos estão no topo do ranking. A Dinamarca investe fortemente em energia eólica, inclusive offshore, e já transforma resíduos orgânicos em hidrogênio para abastecer ônibus urbanos. A Islândia obtém quase toda sua energia de fontes geotérmicas e hidrelétricas, enquanto a Noruega lidera o uso de carros elétricos.

China e EUA, apesar de estarem entre os maiores emissores globais, também avançam. A China foi responsável por 38% dos investimentos em energias renováveis em 2023, somando US$676 bilhões (quase R$4 trilhões). É também líder na fabricação de veículos elétricos e baterias. Já os EUA se destacam em pesquisa e têm forte mercado de energia solar e eólica.

Segundo Higgin, o diferencial desses países está na escala de produção e na capacidade de inovar. No caso brasileiro, ela alerta: “Não basta importar tecnologia, é preciso desenvolver soluções próprias e formar mão de obra qualificada”.

Para acelerar a transição, o Brasil precisa de políticas públicas mais ambiciosas. Isso inclui incentivos fiscais, metas claras de descarbonização, criação de um mercado regulado de carbono e apoio à pesquisa científica nacional.

Empresas também têm papel central ao investir em eficiência energética e geração própria com fontes limpas, como solar e eólica. Para o professor Ribeiro, essas práticas “reduzem custos operacionais e tornam as empresas mais competitivas”.

A sociedade pode contribuir adotando práticas sustentáveis, como economia de energia, reciclagem e apoio a projetos locais de geração renovável. A participação cidadã é essencial para manter o tema da transição energética como prioridade política e econômica.

Com sol, vento, água e capacidade técnica em expansão, o Brasil tem tudo para liderar esse novo capítulo energético – desde que haja planejamento, investimento e vontade política.

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Futuro está na energia oceânica – solução sustentável já é realidade em vários países

Em 2024, a ciência confirmou que a temperatura média da Terra ultrapassou 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais. O dado reforça um alerta: sem mudanças drásticas, o Acordo de Paris será apenas uma promessa vazia diante da crise climática.

Sobre  Acordo de Paris:

  • Estabelecido em 2015, entrando em vigor em 2016, o Acordo de Paris busca limitar o aquecimento global a menos de 2°C, idealmente 1,5°C;
  • Os países signatários definem metas de redução de emissões (NDCs), revisadas a cada cinco anos para maior ambição;
  • Nações desenvolvidas financiam ações climáticas em países em desenvolvimento para mitigar impactos;
  • Um sistema de transparência monitora os avanços e incentiva a cooperação global;
  • Entre os desafios, estão a resistência de alguns países e a transição energética lenta.

Desde os primórdios, o oceano sempre foi essencial para a vida. Há bilhões de anos, as primeiras formas vivas surgiram nas águas, e as cianobactérias deram início à produção de oxigênio

Atualmente, o mar continua desempenhando um papel vital, gerando mais da metade do oxigênio que respiramos e absorvendo 25% do dióxido de carbono emitido pelo ser humano.

Imagem aérea da fábrica de OTEC na costa de Kona, no Havaí. Crédito: Departamento de Energia dos EUA (Domínio Público)

Os oceanos regulam a temperatura do planeta

Os oceanos retêm 90% do calor gerado pelo excesso de gases de efeito estufa, regulando a temperatura do planeta. Esse fenômeno, no entanto, vem cobrando um preço: a superfície oceânica aquece cada vez mais, alterando padrões climáticos e impactando ecossistemas marinhos.

Mas, conforme destaca a colunista Beatriz Mattiuzzo, do Uol, em um texto em colaboração com o Ph.D. em engenharia Flaminio Levy Neto, nem todo esse calor se dissipa de forma homogênea. As camadas mais profundas do oceano permanecem frias, criando um contraste térmico que pode ser explorado para gerar energia limpa. Esse é o princípio da Conversão de Energia Térmica Oceânica (Otec, na sigla em inglês).

A tecnologia se baseia na diferença de temperatura entre a água quente da superfície e a fria das profundezas, geralmente a mais de 800 metros. Para que o processo funcione de forma eficiente, a variação precisa ser de pelo menos 20°C, condição encontrada em diversas regiões tropicais do planeta.

O funcionamento se assemelha ao das termelétricas convencionais, mas sem combustíveis fósseis. Em vez de queimar carvão ou gás, a Otec utiliza o calor da água superficial para evaporar um fluido de baixo ponto de ebulição, como a amônia. Esse vapor movimenta uma turbina geradora de eletricidade antes de ser resfriado e reutilizado no ciclo.

Diagrama simples de um sistema de conversão de energia térmica oceânica de ciclo aberto. Crédito: Departamento de Energia dos EUA

Essa tecnologia não é novidade. Desde os anos 1990, países como Japão, Malásia, Índia e EUA vêm testando e aplicando a Otec, especialmente em ilhas, onde o acesso à eletricidade e à água potável é mais caro e complexo.

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Brasil tem potencial para a Conversão de Energia Térmica Oceânica 

Além da produção energética, a Otec pode ser integrada a sistemas de dessalinização, impulsionando a produção de água potável. Também pode beneficiar a aquicultura, ao trazer para a superfície águas profundas ricas em nutrientes, favorecendo a criação de peixes e o cultivo de algas.

No Brasil, há potencial para implantação da tecnologia entre Salvador (BA) e Natal (RN), onde as condições oceânicas são favoráveis. Em Fernando de Noronha (PE), por exemplo, a Otec poderia substituir parte da energia gerada por termelétricas a diesel e contribuir para a autossuficiência hídrica da ilha.

Isoladas do continente, as ilhas servem como microcosmos da Terra, mostrando na prática a importância da gestão eficiente dos recursos naturais. Em vez de buscar soluções bilionárias fora do planeta, como as missões programadas a Marte, talvez a resposta para um futuro sustentável esteja no próprio oceano terrestre.

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O futuro da energia limpa pode estar nos oceanos

O avanço tecnológico, especialmente com o boom da inteligência artificial, está causando um aumento da demanda global de eletricidade. Este cenário tem gerado temores de que as fontes tradicionais de energia não deem conta do recado.

Mas existe uma alternativa para este problema. Os oceanos, que cobrem mais de 70% da superfície da Terra, oferecem um vasto potencial de energia limpa a partir de recursos renováveis, como correntes oceânicas e ondas.

Novo estudo revelou mais uma importância dos oceanos

  • O desenvolvimento de energia renovável marinha ainda está em seus estágios iniciais em comparação com a energia eólica e solar.
  • Um desafio é identificar os locais mais viáveis e economicamente viáveis para projetos de energia das correntes oceânicas.
  • Embora muitos estudos tenham se concentrado na avaliação dos recursos energéticos das correntes oceânicas regionais, ainda faltava uma avaliação global baseada em dados reais.
  • Mas isso acaba de mudar a partir de um trabalho de pesquisadores da Florida Atlantic University, dos Estados Unidos.
  • As descobertas foram descritas em estudo publicado na revista Renewable Energy.
Cientistas identificaram capacidade das correntes oceânicas de gerar eletricidade (Imagem: hirokoro/Shutterstock)

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Correntes oceânicas podem gerar eletricidade

Os pesquisadores exploraram o potencial de captura de energia cinética dos oceanos, com foco na estimativa da densidade de potência e sua variação ao longo do tempo e do local. O PIB inclui cerca de 1.250 boias rastreadas por satélite que medem as correntes oceânicas e suas posições.

Durante o trabalho, a equipe usou mais de 43 milhões de pontos de dados de março de 1988 a setembro de 2021. Os resultados revelam que as águas da costa leste da Flórida e da África do Sul exibiram consistentemente altas densidades de energia, tornando-as ideais para gerar eletricidade a partir das correntes oceânicas.

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Águas da costa leste da Flórida e da África do Sul são ideais para gerar eletricidade (Imagem: Satit Sewtiw/Shutterstock)

Especificamente, essas regiões apresentaram densidades de potência acima de 2.500 watts por metro quadrado, um valor 2,5 vezes mais denso em energia do que um “excelente” recurso de energia eólica. As águas relativamente rasas – cerca de 300 metros de profundidade – aumentam ainda mais sua adequação para extrair energia usando turbinas de corrente oceânica. Em contraste, regiões como o Japão e partes da América do Sul não mostraram densidades de potência semelhantes nessas profundidades.

Outra descoberta importante do estudo foi a precisão das estimativas de densidade de potência dos oceanos. Na América do Norte e no Japão, os cálculos foram altamente confiáveis, proporcionando confiança nas previsões do potencial de energia. No entanto, áreas como a África do Sul e partes da América do Sul, particularmente no norte do Brasil e na Guiana Francesa, foram mais difíceis de avaliar devido a dados limitados ou condições de água altamente variáveis.

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