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Animais extintos estão retornando? Descubra a verdade por trás da desextinção

Desextinção – ou “ressurreição” de espécies extintas – não é uma ideia nova. Nos últimos anos, no entanto, esse conceito ganhou um fôlego com o avanço da biotecnologia e da engenharia genética

Empresas como a Colossal Biosciences, com sede no Texas, EUA, têm se destacado nesse campo. Seus projetos focam em usar tecnologias como a edição de genes para tentar trazer de volta animais como o mamute lanoso, o lobo terrível e o tilacino (tigre da Tasmânia), além de outras espécies.

Em poucas palavras:

  • Desextinção é o nome dado à proposta de usar engenharia genética e parentes vivos para recriar espécies que já não existem mais;
  • Empresas como a norte-americana Colossal Biosciences produzem versões modernas de animais como mamutes e lobos terríveis, com traços dos originais;
  • Esses animais são híbridos e não réplicas fiéis, pois o DNA antigo disponível é incompleto;
  • Isso levanta a dúvida: estamos revivendo espécies extintas ou criando algo novo?
  • Mesmo sem cópias exatas, os cientistas esperam restaurar funções ecológicas e ajudar na conservação.

Essas tentativas recentes ganharam grande visibilidade – e não é difícil entender por quê. O público imediatamente associa a ideia de “desextinção” a imagens de criaturas como o mamute ou até mesmo ao famoso filme Jurassic Park, com seus dinossauros ressuscitados por engenharia genética. No entanto, a realidade científica é um pouco mais complexa do que simplesmente trazer de volta animais que já não existem mais.

Empresa diz ter ressuscitado o lobo-terrível, extinto há 12 mil anos. Será? Crédito: Andrew Zuckerman / Colossal Biosciences

Mamute lanoso pode ser realmente trazido de volta à vida?

Para “ressuscitar” o mamute lanoso, os cientistas da Colossal estão utilizando o genoma de elefantes asiáticos como base, com o objetivo de criar um animal que compartilhe algumas das características dos mamutes, como pelagem espessa, resistência ao frio e adaptação ao ambiente da tundra. 

O projeto não se baseia em um processo de clonagem do mamute em si, mas na edição genética do genoma de elefantes modernos para incorporar os genes específicos que conferem as características da espécie pré-histórica.

Conforme destaca Timothy Hearn, professor sênior de Bioinformática na Universidade de Anglia Ruskin, Reino Unido, em um artigo publicado no site The Conversation, a dificuldade em ressuscitar espécies extintas vai além do simples fato de obter amostras de DNA antigo. 

Empresa criou rato com características do extinto mamute-lanoso. Crédito: Colossal Biosciences

Hearn explica que o genoma de muitas dessas espécies extintas está fragmentado, o que significa que, para preencher as lacunas genéticas, os cientistas precisam recorrer a parentes vivos das criaturas originais, como o elefante asiático, por exemplo. Isso resulta na criação de um organismo híbrido, que pode se assemelhar fisicamente a um mamute, mas não é uma cópia exata da espécie extinta.

A “ressurreição” do lobo-terrível e o tigre da Tasmânia

Em um dos projetos mais notáveis da Colossal, o lobo terrível (Canis dirus) foi “ressuscitado” com base no lobo cinzento. Os cientistas inseriram 20 edições genéticas no genoma de um lobo moderno para imitar características-chave do lobo terrível, como o tamanho maior e a estrutura física adaptada para o frio. 

No entanto, a quantidade de modificações genéticas necessárias para recriar um lobo terrível genuíno é imensa. Com apenas 20 edições, os animais resultantes ainda são muito mais próximos dos lobos modernos do que de seus ancestrais extintos. Isso levanta a pergunta: estamos criando uma cópia exata de um animal extinto ou apenas uma espécie moderna com traços de uma antiga?

Além do mamute e do lobo terrível, a Colossal Biosciences está trabalhando para “ressuscitar” o tilacino, o famoso tigre da Tasmânia, e o dodô, uma ave extinta que viveu nas Ilhas Maurício até o século XVII. 

Representação de um dodô
Outro animal que pode ser “desextinto” é a ave africana dodô. Crédito: Colossal Biosciences

O projeto do tilacino envolve o uso de um parente próximo – o dunnart de cauda gorda, um pequeno marsupial – para criar um organismo com características do tilacino. Segundo Hearn, embora o conceito de trazer essas espécies de volta à vida seja empolgante, o que se está criando não são cópias perfeitas, mas sim versões modernas modificadas geneticamente para se assemelhar aos animais extintos.

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Por que “ressuscitar” animais extintos?

Esses projetos são exemplos de biologia sintética, um campo científico que envolve o redesenho de organismos existentes para realizar funções específicas. O objetivo dessas iniciativas, de acordo com Hearn, não é criar cópias exatas de animais extintos, mas sim restaurar características funcionais ou ecológicas desses animais – como o impacto que o mamute tinha sobre os ecossistemas da tundra. 

A ideia é reintroduzir esses animais no ambiente, mesmo que não sejam geneticamente idênticos às suas versões antigas, para desempenharem papéis ecológicos perdidos ao longo do tempo.

Além disso, é importante entender que, ao trabalhar com o DNA fragmentado de espécies extintas, estamos lidando com um processo que não é uma “ressurreição” genuína. O DNA preservado dessas espécies é incompleto, o que significa que a ciência não pode simplesmente replicá-las de forma precisa. As modificações genéticas, portanto, são inevitáveis, e o que resulta são criaturas que podem se assemelhar aos antigos animais, mas não são cópias exatas deles.

Por outro lado, há iniciativas científicas que visam a preservação de espécies ameaçadas, como o caso do rinoceronte branco do norte. Com apenas duas fêmeas restantes, ambas inférteis, os cientistas estão utilizando técnicas como clonagem e reprodução assistida para tentar restaurar a população dessa espécie. 

Este é um exemplo de um esforço mais próximo da verdadeira “preservação” de uma espécie, pois as células de rinocerontes brancos do norte ainda existem e estão sendo usadas para criar embriões viáveis. Isso difere dos projetos de desextinção, que lidam com espécies já desaparecidas.

Cientistas também estão considerando usar a biotecnologia para aumentar a diversidade genética de populações ameaçadas ou para tornar as espécies mais resistentes a doenças e mudanças climáticas. Nesse contexto, as técnicas de desextinção podem se transformar em uma ferramenta para preservar a biodiversidade, em vez de trazer de volta animais do passado.

Conforme explica Hearn, a palavra “desextinção” sugere um retorno do passado, mas na prática estamos criando novos organismos, com características de espécies extintas, mas geneticamente diferentes. O que estamos testemunhando não é uma verdadeira ressurreição, mas uma reinterpretação do passado por meio de tecnologias avançadas.

Em resumo, embora a ciência de desextinção tenha feito grandes avanços, os animais que estão sendo criados não são recriações exatas de suas versões extintas. Eles são, na melhor das hipóteses, versões modernizadas, adaptadas para preencher lacunas ecológicas e restaurar funções que foram perdidas com o desaparecimento dessas espécies. 

Ou seja, em vez de ressurreição, estamos lidando com um processo de “reimaginação” da natureza. E, no final, isso pode ser tão valioso quanto (ou até mais) para a conservação da biodiversidade e o equilíbrio dos ecossistemas.

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Lobo extinto realmente voltou à vida em laboratório?

Conforme noticiado pelo Olhar Digital, em um feito científico que evoca cenas da popular série “Game of Thrones“, pesquisadores de uma empresa estadunidense de biotecnologia e engenharia genética revelaram o nascimento de três filhotes de lobo cinzento com genes de lobo terrível, uma espécie que existiu há cerca de 12 mil anos.

Isso foi anunciado como se o lobo extinto tivesse voltado à vida em laboratório – mas, erá que foi isso mesmo que aconteceu?

Empresa afirma ter restaurado lobo de 12 mil anos pela primeira vez por meio da “ciência da desextinção”. Crédito: Colossal Biosciences

Na segunda-feira (7), a Colossal Biosciences causou alvoroço ao divulgar o nascimento de três lobos com traços genéticos do extinto lobo-terrível, batizados de Romulus, Remus e Khaleesi. A empresa afirmou que restaurou a espécie pela primeira vez por meio da “ciência da desextinção”. Segundo comunicado, o feito representa o retorno do lobo-terrível ao ecossistema tantos milênios depois de seu desaparecimento.

Em poucas palavras:

  • Três filhotes com genes do extinto lobo-terrível nasceram em um laboratório nos EUA;
  • A empresa responsável afirma ter usado biotecnologia para recriar a espécie após 12 mil anos;
  • Especialistas contestam, dizendo que os animais são apenas lobos cinzentos com pequenas modificações genéticas;
  • Cientistas destacam que aparência e comportamento similares não bastam para definir uma espécie extinta;
  • Para muitos, o projeto exagera seus resultados e serve mais para publicidade do que para avanços científicos reais.

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Desextinção de lobo-terrível é controversa

A declaração gerou entusiasmo, mas também muitas dúvidas na comunidade científica. Para o geneticista Jeremy Austin, diretor do Centro Australiano de DNA Antigo, a Colossal criou apenas um lobo cinzento modificado que lembra a imagem idealizada de um lobo-terrível. 

Em entrevista ao site Science Alert, ele destacou que as diferenças morfológicas entre os canídeos são sutis e que fósseis não garantem uma reconstrução visual precisa do animal extinto.

Beth Shapiro, bióloga evolucionista da Colossal, defendeu que o conceito de espécie é subjetivo. Ao site New Scientist, ela afirmou que todos podem discordar sobre o que define uma espécie – e que todos podem estar certos. Segundo a cientista, se o animal parece, age e cumpre o papel da espécie extinta, isso basta.

Filhotes criados em laboratório pela Colossal Biosciences, que se refere a eles como a “ressuscitação” do lobo-terrível. Crédito: Colossal Biosciences

Mas Austin não comprou esse argumento. Comparou a retórica da empresa à fábula “As Roupas Novas do Imperador”. Para ele, a Colossal “vendeu” um lobo-terrível que não passa de um lobo branco e cinza. “Não acho que isso represente a desextinção de forma alguma”.

Outro cético é Adam Boyko, geneticista da Universidade Cornell, em Nova York. Ao jornal The New York Times, ele destacou que os filhotes não foram criados em ambientes que reproduzam o comportamento ou dieta dos lobos-terríveis, o que compromete a transmissão de traços culturais e biológicos importantes da espécie original.

O que um animal precisa para ser “ressuscitado”?

Segundo Boyko, os filhotes têm apenas 20 genes do lobo-terrível. Ele questiona se esse número é suficiente para considerar o animal “ressuscitado”. “Pode ser que precisemos de 2 mil genes para chegar perto”, alertou. Para ele, o impacto genético real ainda é incerto.

A própria Colossal reconheceu ao Science Alert que não está criando um lobo-terrível idêntico ao original, mas uma versão inspirada na espécie. 

Austin ressaltou que seriam necessárias dezenas ou até centenas de milhares de alterações genéticas para recriar o animal com precisão. “Dizer que temos um lobo-terrível só porque ele é branco é ignorar tudo o que sabemos sobre genética e evolução”. Segundo ele, sem rigor científico, a promessa da desextinção acaba soando mais como marketing do que como ciência.

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Avanço genético pode permitir cultivo de tomates e berinjelas maiores

Cientistas descobriram novas modificações genéticas que podem aumentar o crescimento de tomates e berinjelas, oferecendo um potencial para melhorar a produtividade agrícola, especialmente em países em desenvolvimento. A pesquisa foi publicada na revista Nature.

Embora a engenharia genética em plantas seja uma prática milenar, os avanços recentes permitem manipular genes específicos para otimizar o tamanho, a resistência e o sabor das plantas.

Atualmente, pesquisadores estão mapeando os genomas de 22 plantas da família nightshade, que inclui tomates, berinjelas e batatas.

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Uma nova análise, liderada pela Universidade Johns Hopkins e o Laboratório Cold Spring Harbor, revelou duplicações genéticas em algumas dessas plantas.

Manipulação de genes permite controlar o tamanho de vegetais, além de outras características como resistência e sabor – Imagem: Martina Simonazzi/Shutterstock

Descobertas do estudo

  • Os cientistas investigaram essas duplicações e descobriram que genes duplicados influenciam características como o tempo de floração e o tamanho da fruta.
  • Ao editar esses genes em plantas de nightshade, notaram que a modificação de um gene duplicado em berinjelas e tomates resultava em frutas maiores com mais lóculos (cápsulas que contêm sementes).
  • Esse achado pode ajudar a aumentar a produção dessas culturas.

Michael Schatz, coautor do estudo, destacou a importância de estudar várias espécies de plantas em conjunto, o que pode abrir novas possibilidades para melhorar alimentos em todo o mundo, como tomates e berinjelas, além de gerar novas variedades alimentícias.

Aproveitamos décadas de trabalho em genética de tomate para avançar rapidamente as berinjelas africanas e, ao longo do caminho, encontramos genes inteiramente novos em berinjelas africanas que avançam reciprocamente os tomates.

Michael Schatz

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Estudos de espécies de vegetais em conjunto pode levar a avanços na produção de alimentos (Imagem: nnattalli/Shutterstock)

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