Encontrar planetas como a Terra em sistemas estelares distantes pode ser algo mais perto da realidade graças a um algoritmo revolucionário desenvolvido por cientistas europeus. Usando aprendizado de máquina, a IA identificou 44 estrelas que podem abrigar planetas rochosos semelhantes ao nosso – e localizados na chamada “zona habitável”, onde as condições podem permitir vida como a conhecemos.
A pesquisa liderada pela astrônoma Jeanne Davoult, do Centro Aeroespacial Alemão (DLR), usou dados simulados gerados pelo Modelo de Berna, um sistema sofisticado que cria milhares de cenários planetários artificiais. O objetivo? Treinar o algoritmo para reconhecer padrões que indiquem a presença de mundos potencialmente habitáveis.
Um algoritmo caçando planetas
Os resultados, publicados no periódico Astronomy & Astrophysics, são impressionantes. Após ser treinado em mais de 53 mil sistemas simulados, o modelo alcançou uma precisão de até 99% ao prever quais estrelas têm maior chance de hospedar planetas do tamanho da Terra. Entre os principais indicadores estão a massa, o raio e o período orbital do planeta mais interno detectado em cada sistema.
Por exemplo, Davoult descobriu que, em torno de estrelas do tipo G como o nosso Sol, a existência de um mundo do tamanho do nosso na zona habitável parece mais provável se o raio do planeta detectável mais interno for maior que 2,5 vezes o raio da Terra, ou se tiver um período orbital maior que 10 dias. Curiosamente, sistemas com gigantes gasosos externos, como o nosso Júpiter, parecem ter maior probabilidade de também abrigar planetas rochosos internos.
Agora, com essas 44 candidatas identificadas, os astrônomos podem focar seus telescópios em alvos promissores, economizando tempo e recursos. E isso é apenas o começo. No futuro, o algoritmo será aplicado aos dados da missão PLATO, da Agência Espacial Europeia, que promete descobrir milhares de novos exoplanetas.
Ao observarmos o céu noturno, é comum identificar padrões formados pelas estrelas, que muitas vezes lembram objetos, figuras ou formas conhecidas. Desde os tempos antigos, diferentes culturas atribuem significados e nomes a esses desenhos celestes.
Entre essas formações estão os chamados asterismos, estruturas que, embora não sejam oficialmente reconhecidas como constelações, são amplamente usadas para facilitar a navegação astronômica e a localização de estrelas.
Eles representam um elo entre o conhecimento científico moderno e a observação ancestral do cosmos.
O que é um asterismo?
Asterismo é o nome dado a um padrão reconhecível de estrelas no céu que forma uma figura, como um triângulo, uma colher ou uma linha brilhante.
A nebulosa NGC-1999, que fica a 1,4 mil anos-luz de distância na Terra, na constelação de Órion, é uma nebulosa de reflexão. Imagem: Tragoolchitr Jittasaiyapan – Shutterstock
Esses desenhos, visíveis a olho nu, não são considerados constelações formais, mas ainda assim ajudam observadores a se localizar no céu noturno.
Enquanto as constelações foram oficialmente definidas pela União Astronômica Internacional (UAI), os asterismos são construções populares, criadas por culturas ao longo da história para facilitar a navegação e a identificação de regiões celestes.
A diferença entre constelação e asterismo está principalmente na oficialidade e abrangência. Uma constelação é uma área do céu com fronteiras claramente definidas, como Leão ou Escorpião.
Já o asterismo é apenas um agrupamento de estrelas dentro de uma ou mais constelações. Eles podem ser parte de uma constelação (como o Cruzeiro do Sul, que é ao mesmo tempo constelação e asterismo) ou compostos por estrelas de várias constelações diferentes.
Um dos asterismos mais conhecidos do Hemisfério Norte é o Grande Carro (ou Big Dipper), que faz parte da constelação Ursa Maior.
Ele forma a figura de uma grande concha ou colher e tem sido usado há séculos como uma ferramenta para localização no céu. Prolongando-se em linha reta a partir das duas estrelas frontais do Grande Carro, é possível encontrar a Estrela Polar, que está alinhada com o Polo Norte Celeste.
Constelações de Ursa Maior e Ursa Menor, com a estrela Polaris na ponta. Crédito: Mycola – iStockphotos
Outro exemplo importante é o Triângulo de Verão, composto pelas estrelas Vega (da constelação Lira), Altair (da constelação Águia) e Deneb (da constelação Cisne).
Esse triângulo imaginário se destaca durante os meses mais quentes no Hemisfério Norte e serve como ponto de partida para localizar outras estrelas e constelações.
Já no Hemisfério Sul, o Cruzeiro do Sul é um asterismo notável e culturalmente importante, presente até mesmo em bandeiras de países como Brasil, Austrália e Nova Zelândia.
Os asterismos também são valiosos na educação astronômica. Como são fáceis de visualizar e memorizar, eles ajudam iniciantes a se familiarizarem com o céu noturno.
Alguns são visíveis mesmo em áreas urbanas, onde a poluição luminosa torna difícil identificar constelações completas. São como atalhos visuais que introduzem os curiosos à astronomia, funcionando quase como placas de trânsito estelar.
Vale destacar que diferentes culturas podem reconhecer diferentes asterismos. Antes da padronização das constelações pela UAI, em 1922, muitos povos já mapeavam o céu com base em padrões próprios. Isso faz dos asterismos uma ponte entre ciência e tradição, unindo conhecimento astronômico moderno com saberes antigos.
Uma pesquisa publicada sexta-feira (4) na revista Nature Astronomy confirma uma teoria importante da astrofísica: supernovas do Tipo Ia podem surgir da colisão de duas estrelas anãs brancas – remanescentes estelares que já esgotaram seu combustível.
Os cientistas observaram um sistema estelar a 150 anos-luz da Terra, formado por duas anãs brancas que orbitam uma à outra. Segundo cálculos, essas estrelas devem colidir dentro de 23 bilhões de anos, resultando em uma poderosa explosão.
Em poucas palavras:
Acaba de ser confirmada a teoria de que supernovas do Tipo Ia podem surgir da colisão de duas anãs brancas;
Um sistema com duas anãs brancas, a 150 anos-luz da Terra, foi identificado como candidato a essa colisão;
A explosão deve ocorrer dentro de bilhões de anos e terá brilho uniforme, útil para medir distâncias cósmicas;
Esse sistema vai ultrapassar o limite de Chandrasekhar, necessário para desencadear a supernova;
É o primeiro sistema com massa e tempo adequados para causar uma supernova do Tipo Ia detectado;
A descoberta explica por que esses sistemas são raros de observar, apesar das supernovas serem comuns;
O achado ajuda a entender a evolução estelar e melhora as medições sobre a expansão do Universo.
Essa explosão é conhecida como supernova do Tipo Ia. Essas supernovas têm brilho uniforme, o que as torna úteis para medir distâncias cósmicas com precisão. São, por isso, chamadas de “réguas do Universo”.
Conceito artístico de uma anã branca binária desencadeando uma supernova do Tipo Ia. Crédito: Universidade de Warwick / Mark Garlick
Atração gravitacional condena as estrelas à destruição
Até agora, havia apenas hipóteses de que colisões entre anãs brancas poderiam causar essas supernovas. Com essa descoberta, foi identificado o primeiro sistema que comprova essa teoria na prática.
O sistema foi batizado de WDJ181058.67+311940.94. As duas estrelas completam uma volta uma em torno da outra a cada 14 horas, o que indica uma proximidade extrema entre elas.
Com o tempo, a gravidade fará com que se aproximem ainda mais até colidirem. Quando isso ocorrer, a massa somada das estrelas ultrapassará o chamado “limite de Chandrasekhar”, desencadeando a supernova. Esse limite é de 1,4 vezes a massa do Sol. Quando uma anã branca excede esse valor, torna-se instável e explode. No caso desse sistema, a massa total é de 1,56 vezes a massa solar.
Simulação das etapas da evolução temporal da anã branca binária WDJ181058,67+311940,94 perto da fusão. Crédito: Munday et al., Nat. Astron., 2025
Segundo James Munday, astrofísico da Universidade de Warwick, esse é o primeiro sistema do tipo que atende aos critérios de massa e tempo para gerar uma supernova do Tipo Ia em escala comparável à idade do Universo.
“Encontramos um sistema que cumpre os dois critérios. E ele está próximo de nós, o que sugere que há muitos outros na galáxia esperando para ser descobertos”, explicou Munday ao site ScienceAlert.
Anã branca é o remanescente de uma estrela comum, como o Sol, após ela consumir seu combustível. A estrela libera suas camadas externas e seu núcleo colapsa, formando um objeto muito denso e quente.
Esses objetos têm massa semelhante à do Sol, mas são do tamanho da Terra. Embora não produzam mais energia, continuam brilhando por bilhões de anos. Cerca de 97% das estrelas do Universo terminarão como anãs brancas.
Muitas dessas estrelas estão em sistemas binários, onde duas anãs brancas orbitam juntas. A colisão entre elas pode gerar supernovas do Tipo Ia, desde que estejam suficientemente próximas e tenham massa suficiente.
Animação duas estrelas muito densas se fundindo e explodindo em uma supernova. Crédito: Observatório Europeu do Sul (ESO)
O problema é que, até então, os sistemas observados ou não tinham massa suficiente ou levariam mais tempo que a idade do Universo para colidir. Este novo sistema resolve essa lacuna.
A descoberta foi feita com dados do levantamento astronômico DBL (Deep Blue Survey), que analisa objetos no céu com alta precisão. Com base nesses dados, os cientistas identificaram o padrão orbital do sistema WDJ1810+3119.
Esse achado resolve uma antiga dúvida: se as supernovas do Tipo Ia são tão comuns, por que é tão raro encontrar seus sistemas de origem? Agora sabemos que eles existem, mas são difíceis de detectar.
Embora a explosão só vá acontecer daqui a bilhões de anos – bem depois do fim da Terra e do Sol – a descoberta é relevante agora, pois ajuda os cientistas a entender melhor a evolução do Universo. Além disso, abre caminho para identificar outros sistemas semelhantes. Isso pode melhorar as estimativas sobre a frequência dessas supernovas e refinar nossas medições cósmicas.
Confirmar que duas anãs brancas podem gerar uma supernova do Tipo Ia mostra que mesmo os corpos estelares considerados “mortos” ainda podem protagonizar eventos extremos no cosmos.
Com isso, os cientistas conseguem, pela primeira vez, associar com segurança parte das supernovas do Tipo Ia da Via Láctea à colisão de anãs brancas. Antes, essa relação era apenas teórica.
A descoberta oferece uma janela para entender não só o destino dessas estrelas, mas também como as galáxias se formam e se transformam ao longo do tempo. Mesmo que o espetáculo final ainda demore bilhões de anos, já aprendemos muito com ele.
Nós não podemos ouvir, mas as estrelas podem, sim, fazer música. Pelo menos é isso que os cientistas da Universidade Nacional da Austrália revelaram em um estudo publicado na revista Nature nesta quarta-feira (2).
Esses “sons” das estrelas não são apenas melodia, eles podem revelar alguns mistérios da formação da nossa própria galáxia, e nos colocar mais perto de entender a composição dos astros.
Basicamente, os astrônomos traduziram o que chamados de “terremotos estelares” para frequências sonoras. Esses terremotos são variações no brilho de luz desses astros.
Os terremotos analisados são do aglomerado estelar chamado M67. Os resultados da análise mostram que existe um período de pausa na evolução das estrelas, o que ajuda a medir a idade delas com precisão.
Prometida para aparecer a cada 80 anos no céu, a “estrela” na verdade é um pico de brilho provocado por uma explosão nuclear descontrolada resultante do “abraço mortal” entre duas estrelas. Crédito: xleviathanx – Shutterstock
“Starquakes ocorrem em certas estrelas, levando a um ciclo contínuo de brilho e escurecimento. Ao observar cuidadosamente essas pequenas flutuações de brilho, podemos ouvir o ritmo musical de uma estrela”, disse a Dra. Reyes em comunicado.
“Essas flutuações são como notas musicais, semelhantes às vibrações de uma corda ou ao zumbido de um tambor, que podem ser traduzidas em frequências. Cada frequência nos diz mais sobre o tamanho da estrela, composição química e estrutura interna”, completou.
Quando uma estrela envelhece, sua estrutura interna muda, alterando seu núcleo. Isso também faz com que essa estrela emita uma frequência diferente. “Estudamos as frequências emitidas por estrelas neste aglomerado à medida que evoluíram para subgigantes e gigantes vermelhas – algo que nunca havia sido totalmente explorado antes”, disse o Dr. Reyes.
“Esta pesquisa nos ajuda a entender melhor como as estrelas evoluem e fornece uma nova ferramenta para estimar sua idade, o que é crucial para estudar a evolução da nossa galáxia.”
Estrelas anãs brancas podem ser corpos celestes mortos, mas isso não significa que tudo ao seu redor precise estar desprovido de vida. Um novo estudo sugere que planetas orbitando essas estrelas podem, de fato, sustentar processos fundamentais para a vida, desafiando conceitos anteriores sobre habitabilidade no cosmos.
A pesquisa foi conduzida pelo cientista Caldon Whyte, do Florida Institute of Technology, e se concentra na possibilidade de processos biológicos ocorrerem em planetas que orbitam anãs brancas. Até então, acreditava-se que a instabilidade térmica desses corpos estelares tornava a vida impossível em suas proximidades.
Representação artística do Telescópio Espacial James Webb (JWST), da NASA (Imagem: Dima Zel / Shutterstock.com)
No entanto, o avanço das observações do Telescópio Espacial James Webb (JWST) levou os pesquisadores a desenvolverem um modelo capaz de avaliar essa possibilidade de forma mais detalhada. Os resultados da pesquisa foram publicados em dezembro de 2024, no The Astrophysical Journal Letters.
Expansão das zonas habitáveis
As chamadas zonas habitáveis em torno de estrelas são geralmente fáceis de definir para corpos como o Sol e outras estrelas da sequência principal, que possuem temperaturas estáveis por longos períodos.
No caso das anãs brancas, que são restos de estrelas como o Sol que esgotaram seu combustível nuclear e colapsaram, a situação é diferente.
Esses corpos passam o restante de sua existência esfriando gradualmente, tornando a zona habitável ao seu redor cada vez mais estreita.
Isso significa que a região onde a água líquida pode existir sem congelar também vai se reduzindo com o tempo.
Diante disso, os cientistas questionaram se um planeta orbitando uma anã branca poderia manter processos essenciais para a vida por um período de sete bilhões de anos — o tempo máximo estimado de habitabilidade para um planeta parecido com a Terra nessa região.
Nosso Sistema Solar pode não ser o único modelo com zona habitável (Imagem: Withan Tor / Shutterstock.com)
Energia suficiente para a vida
O estudo analisou dois processos fundamentais: fotossíntese, que permite que as plantas convertam luz solar, água e dióxido de carbono em energia, e abiogênese induzida por radiação ultravioleta (UV), que sugere que a radiação UV pode ter ajudado a origem da vida na Terra.
Os cientistas simularam um planeta semelhante à Terra orbitando uma anã branca e analisaram a quantidade de energia recebida ao longo dos sete bilhões de anos. Os resultados foram surpreendentes: o planeta obteve energia suficiente para sustentar tanto a fotossíntese quanto a abiogênese induzida por UV durante esse período.
“Isso não é comum na maioria das estrelas”, afirmou Whyte em um comunicado. “Algo como o Sol, claro, pode fornecer energia suficiente, mas anãs marrons e anãs vermelhas, que são menores que o Sol, não fornecem energia suficiente nas faixas de UV e fotossíntese.”
As descobertas podem mudar o foco da busca por vida no universo. Até então, sistemas com anãs brancas eram considerados locais improváveis para abrigar vida. Agora, os cientistas sugerem que essas regiões devem ser reavaliadas com mais atenção.
“Estamos dando a eles a confiança de que esses sistemas estelares valem o investimento de tempo e dinheiro”, concluiu Whyte.
O Telescópio Espacial James Webb, da NASA, mirou numa região densa e empoeirada da Nebulosa da Chama. E registrou o fraco brilho infravermelho de anãs marrons jovens – objeto que é quase uma estrela. Isso é difícil, senão impossível, para a maioria dos telescópios. E só foi possível graças a décadas de dados coletados por meio de outro telescópio: o Hubble.
Localizada a cerca de 1,4 mil anos-luz da Terra, a Nebulosa da Chama é um berço de formação estelar que existe há menos de um milhão de anos. Nela, há objetos tão pequenos que seus núcleos nunca serão capazes de fundir hidrogênio como as estrelas completas – são as anãs marrons, muitas vezes chamadas de “estrelas fracassadas“.
Com o tempo, o brilho dessas anãs se torna muito tênue. E elas ficam muito mais frias do que outros tipos de estrelas. Por isso observá-las é tão difícil. Mas não impossível – pelo menos, para o telescópio James Webb.
Equipe de astrônomos usa telescópio James Webb para entender formação de estrelas e planetas
Uma equipe de astrônomos usou a capacidade do Webb para explorar o limite de massa mais baixo das anãs marrons dentro da Nebulosa da Chama. O que eles descobriram: objetos flutuando livremente com cerca de duas a três vezes a massa de Júpiter.
Imagem em infravermelho capturada pelo telescópio James Webb destaca três objetos de baixa massa na Nebulosa da Chama (Imagem: NASA, ESA, CSA, STScI, M. Meyer – Universidade de Michigan)
“O objetivo deste projeto foi explorar o limite fundamental de baixa massa do processo de formação de estrelas e anãs marrons”, disse o autor principal do estudo, Matthew De Furio, da Universidade do Texas em Austin, em comunicado publicado pela NASA.
A fragmentação de estrelas e anãs marrons
O limite de baixa massa procurado pela equipe é definido pela fragmentação. Nesse processo, grandes nuvens moleculares se fragmentam em unidades menores e menores. Tanto estrelas quanto anãs marrons se originam dessas nuvens.
A fragmentação depende de vários fatores. Entre os principais, está o equilíbrio entre temperatura, pressão térmica e gravidade.
Conforme os fragmentos se contraem por conta da gravidade, seus núcleos aquecem. Se um núcleo for grande o suficiente, começará a fundir hidrogênio. Então, a pressão externa criada por essa fusão contra-ataca a gravidade, o que impede o colapso e garante a estabilização do objeto (leia-se: estrela).
Colagem de imagens da Nebulosa da Chama mostra imagem do Hubble à esquerda, enquanto as duas inserções à direita são imagens do James Webb (Imagem: NASA, ESA, CSA, M. Meyer – University of Michigan, A. Pagan – STScI)
No entanto, fragmentos cujos núcleos não são compactos e quentes o suficiente para queimar hidrogênio continuam a se contrair enquanto irradiam seu calor interno.
A fragmentação cessa quando um fragmento se torna opaco o suficiente para reabsorver sua própria radiação, o que interrompe o resfriamento e impede o colapso adicional.
Teorias colocaram o limite inferior desses fragmentos em algum lugar entre uma e dez massas de Júpiter. O estudo em questão, publicado no Astrophysical Journal Letters, reduz significativamente essa faixa.
“Encontramos menos objetos com cinco vezes a massa de Júpiter do que objetos com dez vezes a massa de Júpiter”, disse De Furio. “E encontramos muito menos objetos com três vezes a massa de Júpiter do que objetos com cinco vezes a massa de Júpiter. Não encontramos nenhum objeto com massa abaixo de duas ou três vezes a de Júpiter.”
Legado do Hubble
Embora o Hubble não consiga observar anãs marrons na Nebulosa da Chama com massa tão baixa quanto o Webb consegue, o telescópio foi crucial para identificar candidatos para estudos mais aprofundados.
Na imagem do Hubble, os objetos de baixa massa estão escondidos pela densa poeira e gás da região; nas imagens do Webb, eles aparecem devido à sensibilidade do telescópio à luz infravermelha tênue (Imagem: NASA, ESA, CSA, Alyssa Pagan – STScI)
“Ter dados [coletados por meio] do Hubble nos últimos 30 anos nos permitiu saber que esta é uma região realmente útil para estudar a formação de estrelas”, disse De Furio. Ele se referiu aos “pedaços” da Nebulosa da Chama investigados pela equipe por meio do Webb.
“É um salto quântico em nossas capacidades em relação ao que entendíamos com o Hubble. O Webb realmente está abrindo um novo campo de possibilidades, entendendo esses objetos”, explicou o astrônomo Massimo Robberto, do Instituto de Ciências do Telescópio Espacial.
Investigar anãs marrons a fundo é importante porque pode ajudar a ciência a entender melhor como estrelas e planetas se formam.
Próximos passos
A equipe vai continuar estudando a Nebulosa da Chama por meio das ferramentas espectroscópicas do Webb. O objetivo é detalhar ainda mais os diferentes objetos dentro de seu casulo empoeirado.
“Há uma grande sobreposição entre as coisas que poderiam ser planetas e as coisas que são anões marrons de massa muito, muito baixa”, disse Michael Meyer, da Universidade de Michigan. “E esse é o nosso trabalho nos próximos cinco anos: descobrir o que é o quê e por que.”
Observar o céu noturno é uma experiência fascinante, e tanto telescópios quanto binóculos podem ser ferramentas poderosas para explorar as estrelas, planetas e outros corpos celestes.
No entanto, a escolha entre um e outro depende de vários fatores, como nível de experiência, facilidade de uso, orçamento e o que exatamente se deseja observar.
Enquanto os telescópios oferecem maior ampliação e detalhes para objetos distantes, os binóculos são mais portáteis e versáteis, sendo ideais para iniciantes. Mas qual é o melhor para cada caso?
Qual é melhor para observar o céu: telescópio ou binóculo?
Crédito: AstroStar – Shutterstock
A escolha entre telescópio e binóculo depende do que se espera da observação astronômica. Os telescópios são mais indicados para quem deseja observar detalhes finos da Lua, planetas, nebulosas e galáxias distantes. Eles possuem lentes e espelhos de grande ampliação, permitindo uma visão mais profunda do cosmos. No entanto, exigem montagem e ajustes mais delicados, além de serem menos portáteis.
Já os binóculos são ideais para iniciantes ou para quem busca uma experiência mais prática e intuitiva. Com eles, é possível observar constelações inteiras, enxergar melhor aglomerados estelares e até identificar luas de Júpiter ou os anéis de Saturno em modelos mais avançados. Além disso, binóculos são mais fáceis de transportar e não exigem tripés ou ajustes complexos.
Para quem está começando, um binóculo 10×50 pode ser uma excelente opção, pois oferece um equilíbrio entre ampliação e campo de visão. Já os entusiastas mais avançados podem se beneficiar de um telescópio refletor com abertura de pelo menos 70 mm para visualizar detalhes mais profundos do céu.
O que analisar na hora de comprar o melhor telescópio ou binóculo?
Abertura da lente e ampliação
A abertura da lente é um dos fatores mais importantes na escolha de um telescópio ou binóculo. No caso dos telescópios, quanto maior a abertura (medida em milímetros), mais luz o equipamento coleta, resultando em imagens mais nítidas e detalhadas. Modelos com 70 mm a 130 mm de abertura são ideais para iniciantes, enquanto os mais avançados podem ultrapassar 200 mm.
Para binóculos, a ampliação é representada por dois números, como 10×50. O primeiro número indica o zoom, e o segundo, o diâmetro da lente objetiva em milímetros. Um binóculo 10×50 ou 15×70 é excelente para observação astronômica, oferecendo boa ampliação sem perder campo de visão.
Peso e portabilidade
Se a ideia é observar o céu de diferentes locais, a portabilidade pode ser um fator decisivo. Binóculos são mais leves e fáceis de carregar, enquanto telescópios exigem tripés e suportes para uma observação estável. Modelos dobráveis de binóculos são ainda mais compactos, mas podem ter menor capacidade de captação de luz.
Para quem busca um telescópio portátil, os modelos refratores com abertura menor são boas opções, pois são mais leves e fáceis de montar.
Telescópios precisam de um tripé resistente, especialmente os modelos de grande ampliação. As montagens altazimutal (mais simples) e equatorial (mais precisa) influenciam diretamente na experiência de observação.
Já os binóculos podem ser segurados à mão, mas em ampliações acima de 15x, é recomendado o uso de um tripé para reduzir tremores e garantir uma visualização mais estável.
Preço e custo-benefício
Os binóculos costumam ser mais acessíveis do que os telescópios. Um bom binóculo 10×50 pode custar menos que um telescópio básico, oferecendo uma experiência rica para quem está começando. No entanto, se o objetivo é explorar detalhes profundos do céu, um telescópio refletor de 70 mm a 130 mm pode ser um excelente investimento.
O telescópio espacial James Webb, da Nasa, captou imagens impressionantes que mostram novos detalhes de um sistema estelar em formação. O Lynds 483 está a 650 anos-luz de distância na constelação Serpens e tem um formato curioso de ampulheta. Um ano-luz é igual a 9,46 trilhões de quilômetros.
A nuvem vertical é formada por duas estrelas que ejetam gás e poeira nas cores laranja, azul e roxo. O espetáculo visual foi captado usando luz infravermelha próxima de alta resolução do telescópio que é considerado o principal observatório de ciência espacial do mundo.
Protoestrelas têm expelido gás e poeira em jatos rápidos e compactos ao longo de dezenas de milhares de anos. Mas alguns fluxos são ligeiramente mais lentos e, segundo a Nasa, acabam “tropeçando” no espaço.
Ilustração da constelação Serpens (Imagem: Nasa/Reprodução)
Isso pode gerar um atrito entre compostos recentes e antigos, desencadeando reações químicas que produzem diversas moléculas, como monóxido de carbono, metanol e vários outros compostos orgânicos, de acordo com a agência espacial.
Na foto, as duas protoestrelas podem ser vistas no centro da ampulheta, em um disco horizontal. Acima e abaixo desse disco, onde a poeira é mais fina, é possível observar a luz brilhante das estrelas em uma espécie de cone laranja semitransparente.
“Daqui a milhões de anos, quando as estrelas terminarem de se formar, cada uma delas poderá ter aproximadamente a massa do nosso Sol. Seus fluxos terão limpado a área — varrendo essas ejeções semitransparentes. Tudo o que pode permanecer é um pequeno disco de gás e poeira onde planetas podem eventualmente se formar”, explica a Nasa.
Nome do sistema solar homenageia a astrônoma americana Beverly T. Lynds (Imagem: IAU/Divulgação)
O trabalho começou lá atrás…
O sistema solar Lynds 483 homenageia a astrônoma americana Beverly T. Lynds, que estudou nebulosas “escuras” e “brilhantes” no início dos anos 1960. Ela catalogou as coordenadas e características de cada objeto a partir de chapas fotográficas captadas pelo projeto Palomar Observatory Sky Survey, na Califórnia.
Segundo a Nasa, o material ajudou na criação futura de mapas detalhados de densas nuvens de poeira onde as estrelas se formam — conteúdo fundamental para pesquisas da comunidade astronômica antes do acesso generalizado à internet.
Astrônomos e observadores do céu noturno têm aguardado com muita expectativa desde que foi anunciado que uma “nova estrela” surgiria na paisagem celeste até setembro de 2024. Por enquanto, nada – no entanto, especialistas garantem que isso ainda pode acontecer a qualquer momento.
Vamos entender:
Na constelação de Corona Borealis (Coroa do Norte), a cerca de três mil anos-luz da Terra, há um sistema estelar binário chamado T Coronae Borealis, que é normalmente muito fraco para ser visto a olho nu;
No entanto, mais ou menos a cada 80 anos, as trocas entre suas duas estrelas, que estão gravitacionalmente presas em um “abraço mortal”, provocam uma explosão nuclear descontrolada conhecida como nova recorrente;
A luz dessa explosão viaja pelo cosmos e faz parecer que, de repente, uma nova estrela surgiu no céu por alguns dias, apelidada de “Blaze Star”, em razão de seu brilho intenso.
Imagem conceitual da explosão de brilho que marca o surgimento da nova T Coronae Borealis, um evento que acontece a cada cerca de 80 anos. Crédito: Centro Espacial Goddard/NASA
Também conhecida como “Estrela Flamejante”, T Coronae Borealis, ou simplesmente T CrB, é um sistema binário composto por uma anã branca, pequena e quente, e uma gigante vermelha, maior e mais fria. A anã branca é um cadáver estelar que ainda brilha – um corpo ultra-compacto, resultado do colapso gravitacional de uma estrela com massa semelhante à do Sol e que deixou de produzir energia em seu núcleo. Devido à sua alta densidade e proximidade, a anã branca absorve material da companheira, e essa matéria absorvida pode reativar a fusão nuclear em sua superfície.
Durante suas explosões de brilho, a transferência de material da gigante vermelha para a anã branca aumenta significativamente, consequentemente, a fusão nuclear na superfície também aumenta provocando sua expansão e um aumento substancial em seu brilho, alterando a magnitude do objeto de 10.0 para 2.0 – o que faz com que ele desponte como uma “nova estrela” temporária no céu.
T Coronae Borealis (T CrB) está prestes a reaparecer no céu noturno. Crédito: Laboratório de Imagens Conceituais do Centro de Voos Espaciais Goddard, da NASA
Embora as previsões indicassem que essa explosão ocorreria até setembro de 2024, seis meses já se passaram sem sinais do evento. A astrofísica Elizabeth Hays, que monitora o sistema usando o telescópio espacial Fermi ,da NASA, explicou ao site Space.com que a data da explosão de brilho ainda é imprevisível. “Simplesmente, não podemos definir isso”.
A dificuldade em prever com precisão o evento se deve ao fato de que há poucos registros históricos consistentes de erupções do sistema T CrB. A última explosão confirmada aconteceu em 1946, quando a estrela atingiu magnitude 3.0, com uma anterior ocorrida em 1866.
Constelação onde a “nova estrela” vai surgir está mais visível no céu
Acontece que, em março, Corona Borealis começa a se tornar mais visível no céu noturno, aumentando as chances de que o fenômeno seja registrado. Aqui no Brasil, a constelação pode ser vista no horizonte nordeste por volta da 1h da manhã, desaparecendo pouco antes do amanhecer.
Isso significa que, a partir de agora, cresce a chance de testemunhar o brilho repentino de T CrB (se isso acontecer), antes que a “estrela” desapareça por mais 80 anos. A cada mês, a constelação desponta duas horas mais cedo no horizonte – então, muito em breve, será um alvo fácil no céu noturno.
A cada 78 a 80 anos, a anã branca neste sistema binário acumula material suficiente de sua estrela gigante vermelha companheira para desencadear uma explosão termonuclear. Crédito: Laboratório de Imagens Conceituais do Centro de Voos Espaciais Goddard, da NASA
Se a explosão ocorrer nos próximos dias ou semanas, T CrB poderá ser observada sem equipamentos especiais, ofuscando temporariamente as estrelas próximas. O sistema binário está posicionado entre Vega, no nordeste, e Arcturus, no leste – duas das estrelas mais brilhantes do céu.
Para facilitar a observação, uma dica é encontrar a constelação Ursa Maior e seguir o arco da alça até Arcturus, que brilha com um tom alaranjado. Em seguida, localize Vega, uma estrela azulada na constelação de Lyra. Corona Borealis fica entre elas, formando um semicírculo discreto de sete estrelas. A “Blaze Star” deverá surgir perto de Epsilon CrB, a quinta estrela mais luminosa da constelação.
Quer um jeito ainda mais fácil? Você pode usar aplicativos de orientação (como Star Walk, Stellariumou SkySafari), que ajudam a localizar rapidamente qualquer objeto celeste.
Uma equipe internacional pesquisadores simulou, pela primeira vez, a formação e a evolução de uma estrela magnetar – classe com os campos magnéticos mais fortes do Universo. O artigo sobre a pesquisa foi publicado na revista Nature Astronomy nesta terça-feira (04).
Este tipo de estrela de nêutrons – incrivelmente densa, diga-se – é central no panorama de fenômenos cósmicos extremos, como hipernovas e explosões de raios gama. No entanto, sua origem é um mistério. Mas a pesquisa ajuda (e muito) na compreensão sobre elas.
Como pesquisadores simularam origem e evolução do tipo de estrela mais denso do Universo
Os núcleos de estrelas com massa oito vezes maior que a do Sol colapsam por conta da gravidade ao final da vida delas. Isso marca o início da explosão da estrela numa supernova. As camadas externas são ejetadas, enquanto o núcleo se contrai violentamente. É assim que estrelas de nêutrons – o objeto conhecido mais denso do Universo – se formam.
Para você ter ideia: uma colher de chá da matéria de uma estrela de nêutrons pesa um bilhão de toneladas – equivalente a 100 mil Torres Eiffel.
Estrela de nêutron é o objeto conhecido mais denso do Universo (Imagem: Nazarii_Neshcherenskyi/Shutterstock)
Geralmente, dá para observar estrelas de nêutrons por meio de ondas de rádio. Mas algumas emitem poderosas explosões de raios-X e raios gama. Essas são comumente chamadas de “magnetares” – porque suas emissões são causadas pela dissipação de campos magnéticos extremos (um milhão de bilhões de vezes mais intensos que os da Terra).
Origem das estrelas magnetares
Como os campos magnéticos dos magnetares desempenham um papel crucial nos fenômenos luminosos com os quais estão associados, cientistas trabalham para entender sua origem. Várias teorias foram propostas. A mais promissora sugere a geração do campo magnético por meio da ação de um dínamo na proto-estrela de nêutrons, logo após a explosão começar.
“A ação do dínamo permite que um fluido condutor, como plasma, com movimentos suficientemente complexos, amplifique e mantenha seus próprios campos magnéticos contra os efeitos difusivos, que os enfraquecem”, explica Paul Barrère, pesquisador de pós-doutorado no Departamento de Astronomia da Faculdade de Ciências da Universidade de Genebra e segundo autor do estudo em questão, em comunicado publicado no site da universidade.
Pesquisadores sugeriram cenário alternativo para simular campo magnético de estrela magnetar (Imagem: LMPA/AIM/IRFU/DRF/CEA Saclay)
Muitos desses dínamos exigem uma rotação rápida do núcleo da estrela progenitora para serem eficazes. No entanto, essas velocidades de rotação são pouco compreendidas devido à falta de observações. Paul Barrère e os pesquisadores Jérôme Guilet e Raphaël Raynaud, do Departamento de Astrofísica do CEA Saclay, estudaram, portanto, um cenário alternativo.
Eles sugerem que a proto-estrela de nêutrons seja acelerada por parte da matéria ejetada inicialmente durante a supernova, que depois cai de volta sobre a superfície da estrela. “Isso torna o nosso novo cenário de formação independente da rotação da estrela progenitora”, diz Barrère.
O mecanismo favorecido para amplificar o campo magnético nesta proto-estrela de nêutrons é um tipo específico de dínamo, conhecido como dínamo Tayler-Spruit. “Esse mecanismo se alimenta da diferença de rotação dentro da estrela e de uma instabilidade do campo magnético”, explica o pesquisador.
O cenário proposto por Barrère, Guilet e Raynaud se concentra apenas nos primeiros segundos após a supernova, o que é muito breve em comparação à idade dos magnetares observados. É aí que entra a colaboração com cientistas das universidades de Newcastle e Leeds, especializados na evolução das estrelas de nêutrons.
Equipe simulou, pela primeira vez, a evolução de uma estrela de nêutrons com campo magnético produzido pelo dínamo Tayler-Spruit (Imagem: Nazarii_Neshcherenskyi/Shutterstock)
Assim, a equipe simulou, pela primeira vez, a evolução de uma estrela de nêutrons com campo magnético produzido pelo dínamo Tayler-Spruit. A simulação foi numa escala de tempo de um milhão de anos.
A estrela de nêutrons simulada neste estudo reproduz as características observacionais dos chamados magnetares de campo fraco, descobertos em 2010. Esses magnetares têm dipolos magnéticos que são de dez a cem vezes mais fracos do que os dos magnetares clássicos.
Este estudo, portanto, demonstra que esses magnetares provavelmente se formam em proto-estrelas de nêutrons aceleradas pela acreção de matéria da supernova. E nas quais o dínamo Tayler-Spruit opera.
“Nosso trabalho representa um grande avanço em nossa compreensão dos magnetares e abre perspectivas muito interessantes no estudo de outros efeitos de dínamo”, diz Barrère. “Nossos resultados sugerem que cada dínamo deixa sua marca na configuração complexa do campo magnético e, portanto, na emissão observada dos magnetares.”