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Ponto de encontro entre sapiens e neandertais descoberto

É um capítulo surpreendente da nossa pré-história: Homo sapiens e neandertais não apenas coexistiram, como também compartilharam muito mais do que território. Durante anos, a ciência buscou entender quando esses encontros aconteceram. Agora, uma nova pesquisa revela onde eles ocorreram com mais precisão do que nunca.

Ao mapear a distribuição geográfica dessas duas espécies no sudoeste da Ásia e sudeste da Europa, pesquisadores conseguiram localizar o provável cenário do primeiro contato entre nós e nossos parentes mais próximos, no fim do Pleistoceno.

A análise revelou um ponto de sobreposição geográfica claro entre as duas espécies humanas, as Montanhas Zagros. Essa imponente cadeia montanhosa, situada no planalto persa, se estende pelos atuais territórios do Irã, norte do Iraque e sudeste da Turquia.

Um encontro facilitado pela geografia

É o que diz recente artigo publicado plea IFLScience – as Montanhas Zagros criaram as condições perfeitas para este encontro. É que a região abriga uma variedade impressionante de ecossistemas e paisagens, com recursos naturais capazes de sustentar grandes populações humanas ao longo do tempo.

Mais que um refúgio montanhoso, Zagros serviu como corredor biológico entre continentes (Imagem: Sama.GH/Shutterstock)

Durante as mudanças climáticas do Pleistoceno, esse corredor natural ligando zonas frias do norte às regiões mais quentes do sul teria servido como uma rota de migração. Ao conectar diferentes grupos humanos em trânsito, neandertais e Homo sapiens puderam coexistir e interagir.

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Além da geografia, o registro arqueológico reforça a importância das Zagros. A área concentra inúmeros sítios pré-históricos com fósseis e artefatos atribuídos tanto a neandertais quanto a Homo sapiens, fornecendo pistas valiosas sobre seus modos de vida. Sobretudo como suas histórias se entrelaçaram.

Um passado que ainda vive em nós

Mais de 40 mil anos depois, o legado desse cruzamento entre espécies ainda está em nós. Desde 2010, quando cientistas sequenciaram o genoma completo do neandertal, ficou claro: a história da humanidade moderna é, claro, uma história de mistura.

Até 4% do nosso DNA carrega vestígios neandertais (Imagem: Gorodenkoff/Shutterstock)

Estudos genéticos posteriores revelaram que entre 1% e 4% do DNA de pessoas não africanas vivas hoje tem origem neandertal. Ou seja, traços herdados desses antigos encontros continuam presentes em boa parte da população mundial, mesmo que muitos nem desconfiem disso.

Essas heranças vão muito além da curiosidade científica. Elas influenciam características físicas, como o formato do nariz, e até predisposições comportamentais e de saúde. A genética neandertal pode estar ligada a um limiar de dor mais baixo, maior sensibilidade a infecções como a COVID-19 e até uma maior tendência à depressão. O passado, ao que tudo indica, ainda nos escreve por dentro.

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Um peixe comum na sua dieta tem um dom: um olho migra para o outro lado da cabeça em nome da evolução

O linguado é conhecido por ser um peixe versátil na culinária, podendo ser usado com diferentes combinações e receitas. Esse animal faz parte do grupo dos peixes chatos, que possuem corpo oval e achatado.

Uma outra característica da família dos linguados é bastante peculiar e chama atenção de pesquisadores: ele nasce com um olho de cada lado da cabeça, mas, durante a vida, um dos olhos migra para o outro lado. No final das contas, os peixes desse grupo ficam com dois olhos de um só lado da face.

Essa peculiaridade levantou dúvidas na comunidade científica sobre a evolução desses animais. Alguns pesquisadores chegaram até a duvidar da Teoria da Evolução de Darwin, a mais estabelecida na ciência. Agora, já sabemos o que acontece. Confira.

Peixe chato vive no fundo do mar, com apenas uma face virada para cima (Imagem: I, Luc Viatour/Wikimedia Commons)

Linguado e outros peixes têm dois olhos de um mesmo lado da cabeça

A anatomia é estranha, mas tem suas vantagens. O linguado e mais outras 800 espécies de peixes chatos vivem deitados no fundo do mar, com os olhos fixos na água acima. Quando alguma presa passa, eles atacam. Nesse caso, ter um dos olhos fechados na areia não seria de muita utilidade.

Mas essa característica intriga pesquisadores. A teoria da evolução mais conhecida é a de Charles Darwin, que propõem que os animais evoluem através da seleção natural. Aqueles que têm características mais vantajosas sobrevivem e passam essas características para as próximas gerações. Aqueles que não as têm, desaparecem.

O linguado e seus parentes fizeram alguns cientistas duvidarem dessa teoria. Um deles foi o biólogo britânico St. George Jackson Mivart. Ele argumentou que seria impossível que a migração lenta de um dos olhos para o outro lado da cabeça seria vantajosa em todas as etapas. Ou seja, em algum momento durante esse movimento, a característica não seria uma vantagem e poderia eliminar os animais.

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São mais de 800 espécies na família dos peixes chatos (Imagem: Alfred Brehm – Tierleben/Wikimedia Commons)

Mas a teoria de Darwin prevaleceu, graças a outros parentes do linguado. Segundo o The New York Times, no começo dos anos 2000, pesquisadores descobriram que os parentes genéticos mais próximos do peixes chatos não são nada como eles. Na verdade, são grandes nadadores que passam a vida em mar aberto, como atuns e barracudas.

Isso sugere que, em alguma etapa da evolução, o linguado evoluiu para ganhar essa característica e se diferenciou de seus ancestrais. Uma pesquisa de 2018 descobriu que isso aconteceu há 66 milhões de anos, quando um asteroide atingiu a Terra e eliminou mais da metade das espécies daqui. A extinção em massa separou várias linhagens e forçou esses peixes a se estabeleceram no fundo do mar.

Linguado é um dos peixes chatos que mais conhecemos, por sua popularidade na alimentação (Imagem: yamada taro/Domínio Público)

Como essa migração acontece?

A mudança de hábitos levou à adaptação evolutiva. Um estudo de 2008 analisou fósseis de duas espécies antigas de peixes chatos e descobriu que eles tinham olhos dos dois lados da cabeça. No entanto, em algum momento, um dos olhos passou a ficar mais perto do topo do crânio.

A pesquisa documentou essa migração, com o olho indo aos poucos para o outro lado da cabeça.

Atualmente, sabemos como esse processo funciona:

  • O linguado e seus parentes nascem com um olho de cada lado;
  • Durante a metamorfose para a vida adulta, hormônios da glândula tireoide ativam genes do crânio do peixe que fazem o olho mudar de forma. Ele passa a ser empurrado para uma nova posição, do outro lado da cabeça.
  • Nesse processo, outros genes estimulam o crescimento de neurônios para que o olho continue conectado ao cérebro enquanto ‘viaja’ para o outro lado.

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E o que acontece depois que essa mudança é concluída?

Uma vez que a migração está completa, os peixes ficam com uma visão binocular para cima. Eles vivem deitados na areia no fundo do mar, escondidos, enxergando tudo que passa acima deles.

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Uma nova espécie humana pode surgir em Marte? Especialista explica

Todas as sextas-feiras, ao vivo, a partir das 21h (pelo horário de Brasília), vai ao ar o Programa Olhar Espacial, no canal do Olhar Digital no YouTube. O episódio da última sexta-feira (23) (que você confere aqui) repercutiu e comentou os possíveis desafios e evoluções pelos quais a espécie humana passaria para poder conquistar Marte.

A professora e astrobióloga Mírian Forancelli Pacheco explicou durante o programa as adaptações que o Homo sapiens teria de passar para poder viver no Planeta Vermelho. Pacheco é mestre em Arqueologia, doutora em Geociências e pós-doutora em Física Nuclear pela Universidade de São Paulo (USP). Desde 2013, é docente na Universidade de São Carlos (UFSCar) em Sorocaba e Chefe do Laboratório de Paleobiologia e Astrobiologia na mesma instituição.

Durante a entrevista, o astrônomo e apresentador Marcelo Zurita conversou a professora sobre como a humanidade poderia colonizar o território marciano e qual o futuro da espécie em outro astro. “A conquista de Marte — um sonho que tem impulsionado a humanidade por décadas — está cada vez mais próxima de se tornar realidade”, disse Zurita.

Mírian Pacheco é professora de Paleontologia da Universidade Federal de São Carlos Campus Sorocaba. (Imagem: Olhar Digital)

Como conquistar Marte?

No estágio atual, a humanidade terá de desenvolver uma forma mais viável e econômica de chegar a Marte, segundo a professora. Pacheco defende que os seres humanos deveriam começar por bases lunares, pois gastariam menos combustível saindo da Lua do que da Terra. A velocidade de escape no satélite terrestre é menor, o que facilitaria o lançamento dos foguetes.

Ao se chegar no Planeta Vermelho, os raios ultravioleta (UV) e a atmosfera rarefeita seriam os primeiros desafios. No passado, Marte perdeu seu campo magnético e tem menos proteção à radiação UV – que é danosa aos seres humanos, podendo causar mutações e consequentemente doenças como o câncer.

“Teríamos que fazer postos semipermanentes para que os seres humanos pudessem se estabelecer. Essas bases teriam de ter ar respirável no interior e proteção contra radiação UV”, explicou Pacheco.

A alimentação viria logo em seguida. O Planeta Vermelho está distante do Sol, recebendo apenas 44% da energia solar que a Terra recebe, segundo a pesquisadora. O solo também é impróprio, o que leva a duas alternativas: a aquaponia – sistema de plantação que integra peixes e plantas numa estrutura aquática – ou a desintoxicação do regolito marciano.

“A gente precisa transformar o solo marciano em algo mais parecido com o da Terra. A terraformação a longo prazo seria uma possibilidade real”, comentou a professora

Pacheco vê o processo de terraformação – a alteração de propriedades como a atmosfera, temperatura, topografia e ecologia, do Planeta Vermelho para adaptá-lo aos seres humanos – como algo possível. Porém, ela explica que a tecnologia necessária é algo para gerações futuras, não sendo realizável nas próximas décadas ou séculos.

Colônia em Marte: ilustração
Representação artística de uma futura colônia humana em Marte. (Imagem: e71lena / Shutterstock)

Espécie humana sofreria adaptações?

Alguns cientistas acreditam que a humanidade poderia se adaptar e evoluir em Marte. O Olhar Digital noticiou a entrevista de Scott Solomon, professor de biociências na Universidade Rice, nos EUA, em que ele apresenta o Homo martianus: uma possível evolução do H. sapiens para o ambiente marciano.

Durante o Olhar Espacial, Pacheco e Zurita comentaram sobre a nova hipótese. A professora explicou que Solomon considera uma evolução rápida para o grupo de humanos que chegaria em Marte. As adaptações ocorreriam em algumas centenas de anos. “Uma população pequena com a seleção natural agindo pode sofrer transformações muito rápidas”, comentou a astrobióloga.

Pacheco disse que a densidade óssea aumentaria, pois os seres humanos precisariam ser mais resistentes. “A nossa densidade óssea tenderia a evoluir para densidades maiores, por conta da relação com a gravidade e da gestação humana. Precisaríamos de uma pélvis mais resistente para o trabalho de parto”, comentou a professora.

A cor de pele dos seres humanos também se alteraria. A cientista defende que haveria um aumento da produção de eumelanina, o pigmento que causa o escurecimento da pele e protege o material genético humano dos raios UV.

Se o caso for extremo, um novo pigmento apareceria. “De acordo com Solomon, poderia surgir por mutação um novo tipo de pigmento que seria mais eficiente em proteger nosso material genético dos raios UV. A nossa cor poderia ser outra”, disse Pacheco.

E se o ser humano evoluir em Marte? Como serão nossos parentes extraterrestres? Crédito: Flavia Correia via DALL-E/Olhar Digital

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Tecnologia: um fator fundamental

A professora criticou a falta de consideração da tecnologia como influência na evolução em Marte proposta por Solomon. Os postos marcianos poderiam atenuar as condições ambientais e o processo evolutivo ocorreria de forma diferente. “Nossa evolução está entrelaçada com a tecnologia”, defendeu Pacheco.

Ao desconsiderar fatores como sociedade e tecnologia, o professor norte-americano deixou de lado aspectos fundamentais da evolução, segundo a astrobióloga. Ela explicou que o desenvolvimento tecnológico é também uma forma de evolução.

“No caso da nossa espécie, temos coevoluido muito com a tecnologia. Se pensarmos bem profundamente, ela não deixa de ser biológica porque é produzida pelo ser humano. Assim como os castores constroem barragens, a tecnologia é um produto da nossa espécie”, disse Pacheco.

A professora definiu o conceito de Solomon como um pensamento arrojado e otimista, mas que as bases cientificas ainda precisam de testes na espécie humana, um dilema ético a ser debatido. Mesmo assim, Pacheco afirmou que não deixa de sonhar com a conquista de Marte e os desdobramentos sociais e científicos que a realização desse sonho podem trazer para a humanidade.

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Olhar Espacial: Marte pode dar origem a uma nova espécie de humanos?

Se a humanidade conseguir colonizar Marte, estaremos diante de um dos maiores desafios da história: viver em um planeta totalmente diferente da Terra. Com menos gravidade, ar rarefeito e radiação intensa, nosso vizinho pode exigir mudanças profundas no corpo humano ao longo do tempo. E o possível desenvolvimento de uma nova espécie humana no Planeta Vermelho é o tema do Programa Olhar Espacial desta semana.

A ideia de viver em Marte parece estar cada vez mais próxima, levantando questões que vão além da tecnologia, como, por exemplo: será que, com o tempo, os humanos se tornariam algo diferente do que somos hoje?

A gravidade de Marte equivale a apenas um terço da terrestre. A atmosfera é fina e composta quase totalmente por dióxido de carbono. O planeta também não tem campo magnético para nos proteger da radiação cósmica e solar. Ou seja, Marte é um ambiente hostil para os nossos corpos.

Mesmo com roupas espaciais e abrigos seguros, viver ali seria um desafio constante. Mas alguns cientistas acreditam que poderíamos nos adaptar – e evoluir. Um dos nomes que defende essa ideia é Scott Solomon, professor de biociência na Universidade Rice, nos EUA. 

Conforme noticiado no Olhar Digital, Solomon acredita que viver por gerações em Marte pode nos levar a uma nova etapa evolutiva. Segundo ele, os humanos marcianos poderiam mudar tanto que deixariam de ser Homo sapiens, dando origem a uma nova espécie: o Homo martianus.

Representação artística elaborada com Inteligência Artificial de um extraterrestre em Marte. Será que os homenzinhos verdes da ficção cientpifica podem um dia se tornar realidade? Crédito: Flavia Correia via DALL-E/Olhar Digital

Um dos principais motores dessa transformação seria a radiação. Na Terra, ela é bloqueada pela atmosfera e pelo campo magnético. Já em Marte, a exposição constante pode causar mutações genéticas, o que poderia acelerar a evolução.

As mutações no DNA nem sempre são negativas. Muitas vezes, elas permitem que uma espécie se adapte melhor ao ambiente. Em Marte, a taxa de mutação seria maior, o que aumentaria a diversidade genética entre os colonos.

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Os humanos em Marte serão verdes?

Outra possível mudança seria na pele. A melanina, pigmento natural que protege contra radiação, poderia ter um papel importante. Pessoas com mais eumelanina (tipo específico de melanina que deixa a pele mais escura), talvez fossem naturalmente mais resistentes em Marte.

Com o tempo, a seleção natural poderia favorecer esses traços ou até gerar pigmentos novos, diferentes dos que conhecemos na Terra. Assim, as antigas ideias sobre “homenzinhos verdes” podem ganhar um novo sentido, agora com base na ciência.

Essas mudanças seriam gradativas, mas, num ambiente tão extremo, o processo evolutivo pode ocorrer mais rápido do que esperamos. Além da biologia, isso traz perguntas éticas, sociais e filosóficas. E se os humanos nascidos em Marte não conseguirem mais viver na Terra? E se se tornarem tão diferentes que formem um novo grupo humano? O que isso significaria para nossa identidade como espécie?

Para debater esse tema instigante, o Olhar Espacial desta sexta-feira (23)recebe Mírian Forancelli Pacheco. Bacharel em ciências biológicas pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), ela é mestre em Arqueologia, doutora em Geociências e pós-doutora em Física Nuclear pela Universidade de São Paulo (USP). Professora da Universidade de São Carlos (UFSCAR) em Sococaba desde 2013 e Chefe do Laboratório de Paleobiologia e Astrobiologia na mesma instituição, Mírian atua nas áreas de Fossildiagênese, Tafonomia Experimental, Paleometria e Astrobiologia.

Mírian Forancelli Pacheco é a convidada desta sexta-feira (23) do Programa Olhar Espacial, para falar sobre a evolução humana em Marte. Crédito: Arquivo Pessoal

Não perca!

Como assistir ao Programa Olhar Espacial

Apresentado por Marcelo Zurita, presidente da Associação Paraibana de Astronomia – APA; membro da SAB – Sociedade Astronômica Brasileira; diretor técnico da Rede Brasileira de Observação de Meteoros – BRAMON e coordenador nacional do Asteroid Day Brasil, o programa é transmitido ao vivo, todas às sextas-feiras, às 21h (horário de Brasília), pelos canais oficiais do veículo no YouTubeFacebookInstagramX (antigo Twitter)LinkedIn e TikTok.

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Buraco mais profundo da Terra revela pistas sobre evolução do planeta

Um estudo publicado em 2024 revelou que uma equipe internacional de cientistas cavou o buraco mais profundo da Terra, chegando a 1,2 quilômetro no fundo do mar. A expedição responsável aconteceu entre abril e junho de 2023.

Com o feito, os pesquisadores conseguiram recuperar amostras do manto terrestre, capazes de fornecer pistas importantes sobre essa evolução da camada terrestre.

Perfuração aconteceu a bordo da uma plataforma (Imagem: JOIDES Resolution/Reprodução)

Buraco mais fundo da Terra fica no fundo do mar

A perfuração aconteceu a bordo da plataforma JOIDES Resolution, na região do Maciço Atlantis, na cordilheira submarina a oeste da Dorsal Mesoatlântica. Foram 1,2 quilômetros no fundo do mar.

Na região, rochas do manto terrestre ficam expostas, facilitando a coleta e estudo. A equipe reuniu 886 metros de material rochoso da camada terrestre, uma taxa de sucesso impressionante para a empreitada. Isso porque expedições anteriores conseguiram coletar 200 metros de material.

Ao site New Scientist, Johan Lissenberg, autor principal da pesquisa, revelou que a intenção era perfurar 200 metros do manto. No entanto, o processo deu tão certo que a equipe decidiu continuar, culminando no buraco mais fundo da Terra.

Análise das rochas do manto pode revelar segredos da evolução da Terra (Imagem: Johan Lissenberg/Science/Reprodução)

Rochas oferecem pistas sobre a evolução da Terra

  • O manto terrestre fica entre a crosta e o núcleo, e corresponde a 80% do volume do planeta;
  • A região é formada por rochas de silicato, que oferecem pistas sobre a evolução da Terra;
  • Apesar da profundidade alcançada na expedição, a equipe não chegou a atingir a Descontinuidade de Mohorovičić, também conhecida como “Moho”, uma região de fronteira entre a crosta e o manto.

Como falamos, o estudo foi publicado em 2024 e tem grande potencial nas descobertas sobre o interior do planeta. No entanto, o governo dos Estados Unidos encerrou o financiamento das operações da JOIDES Resolution, o que deve impactar nesse tipo de pesquisa daqui para frente.

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DNA revela segredos sobre a evolução dos mamutes

A análise de materiais genéticos está ajudando os cientistas a entender mais sobre a vida dos mamutes. Uma nova pesquisa, por exemplo, mostra como estes animais antigos surgiram, migraram e se adaptaram às mudanças climáticas.

No mais recente trabalho, pesquisadores descobriram que as criaturas que viveram no nosso planeta há um milhão de anos eram muito diferentes dos animais que foram extintos há apenas alguns milhares de anos.

DNAs que nunca haviam sido sequenciado foram analisados

  • Durante o trabalho, uma equipe da Universidade de Estocolmo e do Centro de Paleogenética da Suécia analisou os genomas mitocondriais de 34 mamutes cujo DNA nunca havia sido sequenciado antes.
  • Todos os exemplares viveram na América do Norte e na Sibéria durante a época do Pleistoceno, também conhecida como Idade do Gelo.
  • No entanto, pelo menos 11 deles são ainda mais antigos, datando do Pleistoceno Inferior e Médio há mais de 129 mil anos.
  • As conclusões foram descritas em estudo publicado na revista Molecular Biology.
Análise de DNA revelou informações sobre o passado destes animais (Imagem: Billion Photos/Shutterstock)

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Mamutes se dividiram em três grupos genéticos

Segundo os cientistas, os principais ramos da árvore genealógica do mamute se relacionam com grandes mudanças no clima da Terra. O trabalho aponta que os animais surgiram na Sibéria e que as mudanças no tamanho e no movimento da população desempenharam um papel fundamental na forma como diferentes grupos genéticos surgiram.

Ainda de acordo com os pesquisadores, os mamutes no Pleistoceno Superior Moderno se dividiram em três grupos genéticos, todos os quais compartilharam um ancestral comum mais recente há cerca de 780 mil anos.

Evolução dos mamutes está ligada com as mudanças no clima (Imagem: Daniel Eskridge/Shutterstock)

A análise ainda identificou um gargalo populacional significativo ocorrido há cerca de 285 mil anos, provavelmente reduzindo a diversidade genética dos animais. Depois disso, houve uma explosão de novas linhagens, possivelmente ligadas às mudanças climáticas.

A extinção destas criaturas antigas aconteceu a partir de 10 mil a.C. Acredita-se que a combinação entre a caça intensa por humanos e a diminuição da vegetação devido às mudanças climáticas no final da Era do Gelo levaram ao declínio da espécie. Algumas populações isoladas sobreviveram até 2 mil a.C. na Ilha de Wrangel.

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Homo martianus: uma nova espécie de humanos poderia evoluir em Marte

Durante milhões de anos, o corpo humano foi moldado pelas condições da Terra: gravidade estável, atmosfera rica em oxigênio, água líquida e proteção contra radiações. Cada detalhe da nossa biologia funciona em sintonia com esse ambiente. Mas, o que aconteceria se passássemos a viver em outro planeta, como Marte?

A ideia de colonizar Marte é antiga e parece estar cada vez mais próxima da realidade. Empresas e agências espaciais estudam formas de levar seres humanos para viver por lá. No entanto, esse objetivo vai muito além de apenas construir uma base com comida, ar e abrigo. A questão mais complexa é como o corpo humano reagiria – e evoluiria – em um ambiente tão diferente do nosso.

Em Marte, a gravidade equivale a apenas um terço da que sentimos aqui. A atmosfera é rarefeita e composta quase inteiramente por dióxido de carbono. A superfície do planeta é bombardeada por radiação cósmica e solar, já que Marte não tem um campo magnético como o da Terra. Ou seja, o ambiente é hostil para nossa espécie.

Representação artística de uma futura colônia humana em Marte. Crédito: e71lena – Shutterstock

Mesmo com roupas espaciais e abrigos subterrâneos, a vida em Marte seria uma luta diária para sobreviver. Ainda assim, alguns cientistas acreditam que os humanos poderiam se adaptar com o tempo. 

Um deles é Scott Solomon, professor de biociência na Universidade Rice, nosEUA. Em entrevista ao site IFLScience, ele explicou como viver em Marte pode levar a mudanças evolutivas profundas na nossa espécie. “Se os humanos realmente conseguirem criar colônias permanentes em outros planetas, isso nos colocaria em uma rota evolutiva totalmente nova”.

Segundo ele, viver em Marte por várias gerações pode gerar mudanças no corpo, nos genes e na aparência dos colonos. Com o passar do tempo, essas alterações podem ser tão significativas que os marcianos humanos deixariam de ser apenas Homo sapiens – talvez surgisse até uma nova espécie: o Homo martianus.

Radiação acelera mutações genéticas

Um dos principais fatores de mudança seria a radiação. Na Terra, estamos protegidos por uma atmosfera espessa e por um campo magnético que nos defende da radiação solar e cósmica. Já em Marte, essa proteção não existe. O resultado é uma exposição contínua a altos níveis de radiação.

Mesmo com equipamentos de proteção, a radiação pode causar mutações no DNA. Essas alterações genéticas nem sempre são prejudiciais. Na verdade, são a base do processo de seleção natural, que permite às espécies se adaptarem ao ambiente ao longo do tempo.

Ilustração mostra a radiação solar destruindo a atmosfera de Marte. Crédito: NASA

Solomon explica que, em Marte, a taxa de mutação genética seria mais alta. Isso aumentaria a diversidade dentro da população de colonos, o que pode acelerar o processo evolutivo. A radiação, portanto, poderia se tornar um motor da evolução humana fora da Terra.

Além disso, doenças como o câncer podem se tornar mais comuns por causa da radiação. Isso representa um desafio médico, mas também é um fator que pode pressionar o corpo a desenvolver defesas mais eficientes ao longo das gerações.

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Qual será a cor dos humanos marcianos?

Outra possível mudança evolutiva está na pele. A melanina é o pigmento responsável pela cor da pele e pela proteção contra radiação. Um tipo específico de melanina, chamado eumelanina, oferece proteção maior. Pessoas com mais eumelanina têm pele mais escura e são mais resistentes aos danos causados pela radiação ultravioleta.

Com isso, é possível imaginar que, com o tempo, a seleção natural favoreceria pessoas com mais eumelanina em Marte. Ou talvez surjam pigmentos novos, com cores e funções diferentes das que conhecemos na Terra. Quem sabe seja dessa forma que apareçam os famosos “homenzinhos verdes” da ficção científica – só que por meio da evolução real.

Essas mudanças não ocorreriam da noite para o dia. A evolução é um processo lento e pode levar séculos ou milênios para gerar uma nova espécie. Mas, num ambiente tão diferente quanto Marte, a velocidade do processo pode ser maior do que imaginamos, segundo Solomon.

Representação artística elaborada com Inteligência Artificial de um extraterrestre em Marte. Será que os homenzinhos verdes da ficção cientpifica podem um dia se tornar realidade? Crédito: Flavia Correia via DALL-E/Olhar Digital

Colonos de Marte enfrentam dilemas éticos e sociais

Além das questões biológicas, há desafios sociais e éticos que vêm com a vida fora da Terra. Se humanos nascerem e crescerem em Marte, será que poderão voltar para a Terra? Será que seus corpos aguentariam a gravidade mais forte? Ou será que já seriam tão diferentes que não se adaptariam mais ao planeta de origem?

Solomon também alerta para um risco de desigualdade entre os habitantes da Terra e os colonos de Marte. Se surgirem diferenças físicas, genéticas ou culturais muito grandes, a humanidade pode se dividir em dois grupos distintos. Isso levanta discussões sobre inclusão, direitos e até sobre o que significa ser humano.

Ele ainda aponta que a ficção científica pode ajudar a refletir sobre essas possibilidades. Autores do gênero têm explorado esses cenários há décadas, levantando questões sobre identidade, evolução e sociedade em contextos extraterrestres.

“Tudo isso (cultura, política, identidade) estará em jogo”, diz Solomon. “Acho que a ficção científica pode nos ajudar a pensar sobre o que vem pela frente”.

Com a ciência e a tecnologia avançando rapidamente, imaginar humanos vivendo em Marte já não é mais apenas fantasia. E se isso acontecer, talvez o futuro nos apresente uma nova espécie nascida entre as estrelas.

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‘Crocodilo do terror’ caçava dinossauros há 75 milhões de anos, revela estudo

Um antepassado dos crocodilos modernos foi descoberto por uma equipe de pesquisadores. O mais impressionante é que este enorme réptil pré-histórico caçava e se alimentava de dinossauros na América do Norte.

Chamado de “crocodilo do terror”, ele vagava por rios e estuários há cerca de 75 milhões de anos.

As marcas de dentes desta criatura antiga foram encontradas em ossos de dinossauros do período Cretáceo, confirmando a teoria dos cientistas.

Evolução permitiu a caça de presas maiores

  • Segundo os pesquisadores, estes crocodilos se adaptaram para comer os dinossauros.
  • O animal já possuía glândulas que permitiam tolerar a água salgada.
  • Dessa forma, eles foram capazes de se espalhar pelo continente e alcançar pântanos em ambos os lados do mar interior e ao longo da costa atlântica na América do Norte.
  • Nestas regiões existiam presas maiores, o que obrigou que o réptil pré-histórico evoluísse para incluir dinossauros em sua dieta.
  • As conclusões foram descritas em estudo publicado na revista Communications Biology.
Representação artística de um crocodilo atacando um dinossauro (Imagem: Elenarts/Shutterstock)

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Crocodilos antigos podem ser ‘elo perdido’

Os “crocodilos do terror” chegaram a ter 8 metros de comprimento. Esse tamanho monstruoso permitiu que eles se alimentassem de praticamente tudo o que existia nas regiões pantanosas há milhões de anos atrás.

Anteriormente, os fósseis desta espécie confundiram os cientistas. Eles foram encontrados em ambos os lados do vasto mar interior e não se sabia como o réptil havia conseguido atravessar este corpo de água salgada que se espalhava por mil quilômetros.

Fóssil de boca de crocodilo antigo mostra tamanho descomunal do animal (Imagem: Patrick Hatt/Shutterstock)

Após novas análises, os cientistas descobriram que muitos crocodilianos tinham uma característica antiga de tolerância à água salgada, que se perdeu nos jacarés atuais.

Os especialistas também usaram dados moleculares de crocodilianos modernos para estabelecer a diferença entre estes animais.

Dessa forma, foi possível concluir que a árvore genealógica se dividiu muito antes de os jacarés modernos surgirem. Isso explica porque existiam outros crocodilianos muito maiores, inclusive o caçador de dinossauros.

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Como marmotas encerraram um debate científico 154 anos

A ideia de que ter um ou mais amigos próximos pode influenciar seu bem-estar é bem plausível e aceita por cientistas. Porém, existe uma discussão de que se é possível que o ambiente social em que você está inserido possa também afetar seu “estado de espírito” e suas habilidades pessoais.

Um exemplo é a cultura do seu local de trabalho ou estudo, que pode influenciar na sua produtividade. Muitos pesquisadores defendem que isso é, de certa forma, óbvio. Porém, esse tema gera muitos debates na área das ciências biológicas.

A ideia central desse debate é a seleção multinível, um braço da teoria da seleção natural. A hipótese mais aceita sobre como a evolução funciona. Basicamente, os organismos com mais características que se adaptem ao ambiente tem mais chances de sobreviver e se reproduzir e, por consequência, gerar mais descendentes.

Seleção natural e Seleção Multinível

Segundo os pesquisadores Conner Philson e Daniel T. Blumstein, da Universidade da Califórnia, “a seleção natural age sobre as características de um organismo individual. Por exemplo, mamíferos com mais amigos geralmente vivem mais e têm mais descendentes. A característica sob seleção, nesse caso, é o número de conexões sociais”.

Imagem: frank60 / Shutterstock

O que isso quer dizer é que: ao mesmo tempo que essa teoria se aplica a indivíduos, ela também pode ser identificada em grupos. Ou seja, a seleção também acontece em traços de comportamento e relacionamento intra-específico.

De acordo com o artigo do The Conversation, um exemplo disso é que “viver em um grupo mais social e interconectado pode ser benéfico para os membros desse grupo, o que significa que as características do grupo estão sob seleção. Na natureza, isso implica que indivíduos em grupos bem conectados podem viver mais tempo”.

As habilidades de sobrevivência desses animais que estão inseridos em uma comunidade também são aprimoradas. Conforme informado por Philson e Blumstein “Grupos bem conectados podem ser melhores em encontrar recursos limitados ou detectar predadores. As características do grupo como um todo é que estão sob seleção nesse caso”.

Ainda segundo os pesquisadores “a seleção multinível pode até favorecer características que parecem contraditórias nos níveis individual e coletivo. Por exemplo, isso pode significar que a seleção favorece indivíduos mais reservados, ao mesmo tempo em que favorece grupos muito sociais — ou o contrário”.

Muito debate sobre essa hipótese já aconteceu

Essa hipótese gera discussões desde que Charles Darwin era vivo. Em 1871, quando o precursor da teoria da evolução publicou seu livro “A Descendência do Homem” os primeiros debates acerca do assunto começaram.

Crédito: CC0 Creative Commons

As únicas evidências que teoricamente comprovam a tese foram produzidas em laboratórios, nunca na natureza. Mesmo esse tipo de experimento sendo produtivo, uma conclusão ainda não foi definida e com isso o debate segue aceso há pelo menos 150 anos.

Nenhum trabalho de campo sobre o assunto foi publicado durante todo esse tempo, até agora.

De acordo com a pesquisa, “a estrutura dos grupos dos quais as marmotas fazem parte pode ser tão importante para a sobrevivência quanto — ou até mais do que — os relacionamentos amigáveis que elas mantêm individualmente com outras marmotas”.

Espionando as marmotas

Conseguir evidências o suficiente para confirmar a hipótese da seleção multinível leva um bom tempo por conta da quantidade imensa de dados requeridos. Cientistas de um laboratório no Colorado estavam estudando esses animais desde 1962 e armazenando suas informações.

Em 2003 eles resolveram prestar mais atenção nas interações sociais das marmotas. Então, todos os roedores aos arredores do Rocky Mountain Biological Laboratory foram marcados com identificadores e catalogados.

Grupo de marmotas
Grupo de marmotas identificados pela pesquisa (Imagem: D.T. Blumstein)

Uma equipe foi designada para investigar mais a fundo suas interações sociais. Ao longo dos mais de 20 anos de investigação foram observadas:

  • 42.369 interações sociais afiliativas únicas, como: brincadeiras e cuidados mútuos;
  • 1.294 indivíduos únicos;
  • 180 grupos sociais distintos;
  • Tamanho dos grupos: variando de 2 a 35 marmotas;
  • Tempo de vida das marmotas (algumas viveram até 16 anos);
  • Número de filhotes que cada animal teve por ano

Utilizando esses dados, Conner e Daniel mapearam as redes de conexões das marmotas. “Nosso objetivo era identificar quantos relacionamentos sociais cada marmota tinha, quem estava conectado a quem e qual era a estrutura geral de cada grupo”, disseram os pesquisadores.

Conclusões e aplicações da pesquisa

Com os dados coletados e catalogados, eles chegaram a duas perguntas cruciais:

  • Como os relacionamentos sociais afetam a sobrevivência e a reprodução dos indivíduos — ou seja, quais características individuais estão sob seleção?
  • Como os grupos sociais afetam a sobrevivência e a reprodução dos indivíduos — em outras palavras, quais características do grupo estão sob seleção?

Relacionamentos sociais individuais, como brincar ou se limpar mutuamente, afetam diretamente quanto tempo as marmotas vivem e quantos filhotes elas têm. A característica individual sob seleção é o número de conexões sociais. Em alguns casos, indivíduos mais reservados foram favorecidos.

Grupos sociais mais conectados aumentam a chance de sobrevivência e reprodução dos membros, ajudando na busca por recursos e na detecção de predadores. A característica sob seleção nesse nível é a estrutura do grupo. O impacto do grupo pode ser igual ou até maior que o dos laços individuais.

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Usando uma abordagem estatística chamada análise contextual, o estudo confirmou a existência de seleção multinível no comportamento social: tanto os laços sociais quanto os grupos influenciam a sobrevivência e a reprodução. A seleção multinível pode também ser relevante para humanos. A forma com que nos portamos como grupos é diretamente afetada por essa teoria.

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‘Jantar acompanhado’ pode ser a chave da evolução da vida complexa

Uma pesquisa publicada nesta segunda-feira (31) na revista Nature Physics revela que um organismo unicelular chamado stentor pode cooperar com outros da mesma espécie para melhorar sua alimentação. Embora não tenha cérebro ou sistema nervoso, essa criatura microscópica consegue formar colônias que aumentam o fluxo de água ao seu redor, facilitando a captura de alimentos.

Os stentores fazem parte de um grupo chamado protistas e são gigantes entre os seres unicelulares. Eles podem atingir o tamanho da ponta de um lápis afiado e vivem em lagoas e ambientes aquáticos. Para se alimentar, usam pequenos cílios que criam correntes na água e direcionam bactérias e algas microscópicas até suas bocas.

No entanto, quando a comida é escassa, esse mecanismo pode não ser suficiente. Foi observando esse problema que os cientistas descobriram que os stentores podem melhorar suas chances de capturar presas se juntando em grupos. Quando agem em conjunto, eles criam um fluxo de água mais forte e eficiente.

Os stentors em forma de trombeta, um dos maiores organismos unicelulares conhecidos na Terra, às vezes se agrupam – mas até agora não se sabia ao certo o objetivo disso. Crédito: Shashank Shekhar / Universidade Emory

A união faz a força

Pesquisadores da Universidade Emory, nos EUA, realizaram experimentos para entender como esses organismos interagem. O estudo foi liderado pelo biofísico Shashank Shekhar, que comparou essa cooperação ao comportamento de seres humanos organizados. “Eles formam essa estrutura de ordem superior, como o que fazemos como humanos”.

Para visualizar os movimentos da água ao redor dos stentores, os cientistas usaram gotas de leite em uma placa de Petri. Sob o microscópio, o líquido se misturava com a água e revelava redemoinhos criados pelos cílios desses organismos. Shekhar descreveu o efeito como semelhante ao movimento das estrelas na famosa pintura “A Noite Estrelada”, de Vincent van Gogh.

Os experimentos mostraram que, quando estão sozinhos, os stentores produzem apenas pequenas correntes d’água. Mas, quando se agrupam, os fluxos se combinam e se tornam mais fortes, aumentando a quantidade de alimento capturado. Isso sugere que esses microrganismos unicelulares podem cooperar de maneira eficiente, mesmo sem um sistema nervoso.

Os movimentos criados pelos stentors foram comparados com o cosmos rodopiante de “A Noite Estrelada”, de Vincent van Gogh. Crédito: Shashank Shekhar / Universidade Emory

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Além disso, a equipe observou que os stentores se aproximavam e se afastavam repetidamente, como se estivessem sendo repelidos por um ímã. Esse comportamento intrigou os pesquisadores, que decidiram analisá-lo mais detalhadamente.

As gravações feitas no microscópio mostraram que os pares de stentores nem sempre eram iguais em força. Um dos organismos gerava um fluxo de água mais intenso que o outro. Quando se aproximavam, esse fluxo mais forte beneficiava o vizinho mais fraco, permitindo que ele capturasse mais presas.

Esse comportamento levou os cientistas a identificarem uma estratégia que Shekhar chamou de “comportamento promíscuo”. Ou seja, os stentores estão constantemente mudando de posição dentro do grupo para encontrar parceiros que gerem fluxos de água mais fortes. Dessa forma, eles maximizam sua capacidade de alimentação e aumentam as chances de sobrevivência.

Em uma placa de Petri, os cientistas estudaram a dinâmica dos fluidos dos stentors interagindo uns com os outros. Crédito: Shashank Shekhar / Universidade Emory

A pesquisa sugere que a formação de grupos entre seres unicelulares pode ter sido um passo crucial para a evolução dos organismos multicelulares. Segundo William Ratcliff, biólogo evolutivo do Instituto de Tecnologia da Geórgia, esse tipo de cooperação pode ter influenciado a evolução das presas também.

Evolução da vida vai além da genética e da química

Ratcliff explica que quando predadores unicelulares como os stentores se organizam para capturar melhor suas presas, essas presas precisam desenvolver estratégias para sobreviver. Uma dessas estratégias pode ter sido a formação de grupos, o que levou à evolução de organismos multicelulares.

“Se você é uma única célula, você é o jantar”, afirmou Ratcliff ao jornal The New York Times. “Mas se você pode formar grandes grupos de células, agora você é grande demais para ser comido.” Isso sugere que os predadores não foram os únicos a se beneficiar da cooperação. Suas presas também evoluíram para se proteger.

A pesquisa destaca que a evolução da vida não depende apenas de mutações genéticas ou processos bioquímicos, mas também de fatores físicos, como o movimento da água. Segundo Shekhar, a física pode ter desempenhado um papel fundamental no desenvolvimento da multicelularidade.

“Sempre pensamos em genes e produtos químicos, mas também há uma forte base física no desenvolvimento da vida multicelular”, disse. “Mesmo algo como o fluxo de água poderia ter afetado a evolução”.

O estudo abre novas possibilidades para entender como os primeiros organismos vivos da Terra começaram a cooperar entre si, o que pode ter sido um fator essencial para a complexidade da vida que existe hoje.

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