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Crânio misterioso pertence a espécie humana desconhecida

Em 1958, foi descoberto o crânio de um indivíduo que viveu na China há 300 mil anos. Sua origem permanece um mistério desde então e, agora, ficou ainda mais intrigante: autores de um estudo publicado no American Journal of Biological Anthropology apontam que o crânio não pertence a nenhuma espécie humana conhecida.

Entenda:

  • Um crânio de 300 mil anos anteriormente relacionado aos neandertais não pertence a nenhuma espécie humana conhecida;
  • Autores de um novo estudo apontam que o espécime, chamado de Maba 1, possui algumas semelhanças com hominídeos como o Homo erectus, Homo sapiens e o Homo heidelbergensis;
  • Sua origem exata, entretanto, ainda permanece um mistério.
Crânio desconhecido tinha sido relacionado aos neandertais. (Imagem: Fractal Pictures/Shutterstock)

Chamado de Maba 1, o espécime foi originalmente encontrado em uma caverna na província chinesa de Guangdong, e as primeiras análises sugeriram que ele pudesse ter pertencido a um parente dos neandertais. O novo estudo, porém, parece confirmar que o crânio não pertence a nenhum grupo hominídeo registrado.

Leia mais:

Estudo não conseguiu determinar origem exata do crânio

Após analisar detalhadamente as estruturas internas de Maba 1 com tomografia computadorizada, os pesquisadores descobriram uma combinação de características encontradas em outras espécies de hominídeos, com a “morfologia geral do crânio” mais parecida com a do H. erectus. Por outro lado, o lobo frontal foi considerado curto demais para pertencer à espécie.

Estatuetas douradas enfileiradas para ilustrar a evolução do homem a partir do macaco
Crânio desconhecido tem semelhanças com várias espécies de hominídeos. (Imagem: Alexas_Fotos/Pixabay)

“Maba 1 foi considerado um ‘neandertal chinês’ devido à semelhança manifestada na região facial. No entanto, este estudo não encontrou características exclusivamente pertencentes ao H. neanderthalensis nas estruturas internas de Maba 1”, escrevem os pesquisadores no artigo.

Crânio desconhecido tem semelhanças com o Homo sapiens

O novo estudo também refutou a hipótese anterior de que o crânio pertencesse a um Denisovano, já que as tomografias mostraram que seu cérebro era muito menor do que o de um hominídeo dessa espécie. Por outro lado, a equipe identificou algumas semelhanças significativas com espécies do Pleistoceno Médio, como o Homo sapiens e o Homo heidelbergensis.

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Fósseis submersos revelam que humanos antigos habitaram ilha isolada

Cientistas encontraram mais de 6.700 fósseis de animais em uma ilha artificial na Indonésia, incluindo restos de dois crânios de hominídeos. Além de revelar um mundo submerso ‘perdido’, a descoberta mostra que a ilha não estava tão isolada quanto se pensava e abre novas portas para entender a migração dos humanos antigos.

O estudo foi publicado em quatro partes na revista Quaternary Environments and Humans e levanta a possibilidade de contatos até então desconhecidos entre espécies ancestrais diferentes.

Fósseis submersos revelam passado da ilha artificial

Até agora, a única evidência de fósseis de humanos antigos era na ilha de Java, na Indonésia. Acreditava-se que, há mais de 130 mil anos, quando o nível do mar estava 100 metros abaixo do que está hoje, o Homo erectus saiu de Java e viveu em mais ilhas da ‘Sundaland’.

Como explicou o site Science Alert, Sunda é a maior plataforma submersa do mundo. No passado, ela era um fio de terra entre o continente asiático e as ilhas Bornéu, Sumatra e Java. No entanto, os fósseis encontrados anteriormente estavam restritos à Java.

Plataforma de Sunda, onde ficam as ilhas (Imagem: listfiles/Kanguole/Wikimedia Commons/CC BY-SA 4.0)

A pesquisa encontrou mais exemplares, em sua maioria de animais. Eles estavam em um vale fluvial submerso em um estreito entre duas ilhas de Sundaland, que com o tempo foi preenchido com areia fluvial.

De acordo com a pesquisa, os exemplares datam de cerca de 140 mil anos atrás. Nessa época, Sundaland parecia a savana africana, com presença de hipopótamos, crocodilos, elefantes, grandes felinos e animais com casos. A maioria já está extinta na região.

Você pode acessar os estudos separadamente aquiaquiaqui e aqui.

Comparação entre resto de crânio submerso (esquerda) e o crânio de um H. erectus (direita) [Imagem: Berghuis et al., QEH , 2025]

Descoberta revela segredos sobre migração humana

Entre os fósseis de animais, havia restos de dois exemplares de crânios de Homo erectus. A descoberta revela que a população humana antiga não estava isolada apenas em Java, mas viveu entre as ilhas da região.

Segundo Harry Berghuis, arqueólogo e autor principal das pesquisas, isso mostra que os humanos se dispersaram do continente asiático para Java. Os H. erectus podem até ter entrado em contato com outras espécies que viviam na Ásia, como os neandertais e denisovanos.

O estudo deu mais detalhes:

  • Como falamos, o local se assemelhava à savana africana. Por ser uma região seca, é provável que os humanos tenham permanecido nos rios de Sundaland, que forneceriam água potável e oferta de peixes para alimentação;
  • Os hominídeos também podem ter aproveitado para caçar outros grandes animais selvagens que se alimentavam ou se hidratavam nos rios;
  • Em comunicado, Berghuis afirmou que marcas de cortes nos fósseis de tartarugas aquáticas e ossos quebrados de bovinos indicam caça e consumo dos animais.

Leia mais:

As descobertas ajudam a levantar hipóteses sobre os hábitos de humanos antigos e sobre a migração e contato dos nossos ancestrais. Inclusive, se realmente houve contato entre os Homo erectus e outras espécies, é possível que haja troca genética. Porém, essa possibilidade ainda precisa de mais evidências.

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Fundo do mar revela segredos da evolução humana guardados por 140 mil anos

Quatro estudos separados publicados na revista científica Quaternary Environments and Human analisaram fósseis de um ancestral humano extinto encontrados no fundo do mar, na Indonésia. Os ossos pertencem ao Homo erectus, uma espécie que viveu há centenas de milhares de anos. 

A descoberta desses restos mortais indica que essa população, até então desconhecida, pode ter convivido com humanos mais modernos. Os fósseis estavam em um local submerso que já foi terra firme na última era do gelo.

Mais de seis mil fósseis de animais marinhos e terrestres também foram sugados do fundo do mar junto com esse achado, por máquinas de um projeto de construção na ilha de Java,  especificamente no Estreito de Madura. Essa é a primeira vez que cientistas encontram fósseis humanos em áreas que estavam submersas desde o fim da última era glacial, quando o nível do mar era bem mais baixo do que hoje.

Na linha “A”, imagens reais de um fragmento frontal do Homo erectus com toro supraorbital dextral. Na linha “B”, imagens renderizadas de superfície 3D baseadas em tomografia computadorizada. Em “C” e “D”, imagens renderizadas de superfície 3D baseadas em TC de MS1 em orientações diferentes. Crédito: H.W.K. Berghuis et. al

Homo erectus indonésio conviveu com outros ancestrais humanos

Há cerca de 140 mil anos, a região conhecida como Sundaland era uma imensa planície com rios, peixes, tartarugas, tubarões de água doce e grandes animais terrestres como elefantes, búfalos e o extinto Stegodon. Esses campos férteis ligavam várias ilhas, como Java e Madura, ao continente asiático. Durante as glaciações, o mar recuava e revelava essas terras, que se tornavam importantes áreas de caça.

A presença do Homo erectus nessa região mostra que ele aproveitava essas áreas ricas em alimento. Esse grupo habitava as margens dos rios e caçava tanto animais aquáticos quanto terrestres. Os pesquisadores também encontraram marcas de cortes nos ossos de alguns animais, o que indica que eles abatiam tartarugas e grandes mamíferos de forma organizada.

Curiosamente, os cientistas perceberam que os Homo erectus caçavam animais bovídeos – parecidos com bois – em idade adulta, quando eram mais nutritivos. Esse tipo de caça seletiva é uma prática mais típica de humanos modernos. Isso levanta a hipótese de que o Homo erectus indonésio tenha aprendido essa técnica com outros grupos humanos que viviam na região.

Em entrevista ao site Live Science, Harold Berghuis, autor principal de um dos estudos e pesquisador da Universidade de Leiden, na Holanda, essa estratégia pode ter sido desenvolvida de forma independente. No entanto, ele também considera possível que tenha ocorrido um tipo de troca cultural entre o Homo erectus e outras espécies humanas. “Isso abriria novas possibilidades para entender como diferentes grupos humanos antigos interagiam entre si”.

Pesquisadores encontraram os ossos de Homo erectus entre mais de 6.000 fósseis dragados no Estreito de Madura, na Indonésia. Crédito: Harold Berghuis

Árvore genealógica da humanidade é complexa

O Homo erectus é uma das espécies mais importantes da nossa linha evolutiva. Ele surgiu há cerca de dois milhões de anos e foi o primeiro ancestral a ter um corpo parecido com o nosso. Também foi o primeiro a sair da África e se espalhar por regiões como o sudeste da Ásia. Outros grupos humanos, como os neandertais e denisovanos, vieram depois, mas ainda é pouco claro como esses grupos conviveram ou influenciaram uns aos outros.

A árvore genealógica da humanidade é bastante complexa, especialmente no sudeste asiático. De acordo com Berghuis, por volta de 350 mil anos atrás, o Homo erectus começou a ser substituído por espécies mais modernas. Mesmo assim, ele sobreviveu na ilha de Java até cerca de 117 mil anos atrás. Já os Homo sapiens, nossa espécie, chegaram à região cerca de 77 mil anos atrás.

A descoberta só foi possível graças a uma grande obra de construção realizada entre 2014 e 2015 no Estreito de Madura. Durante o projeto, mais de cinco milhões de metros cúbicos de areia e rochas foram retirados do fundo do mar perto da cidade de Surabaya, com o objetivo de criar uma ilha artificial. Esse processo, chamado dragagem, envolve sugar sedimentos do fundo do mar com uma espécie de aspirador gigante.

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Apesar do impacto ambiental da dragagem, que pode prejudicar ovos e animais pequenos, ela também trouxe à tona fósseis valiosos. O sedimento foi descarregado em uma área onde seria construída a nova ilha. Foi nesse local que Berghuis, atuando como consultor, passou semanas procurando fósseis. No último dia de trabalho, ele finalmente encontrou um fragmento de crânio humano.

Berghuis levou o osso ao hotel e o comparou com imagens de fósseis de neandertais encontrados no Mar do Norte. A semelhança era grande, mas análises posteriores confirmaram que se tratava de um Homo erectus, provavelmente um adolescente ou adulto jovem. Outro fragmento encontrado por ele também pertencia a um indivíduo da mesma espécie, mas ainda em idade infantil.

Os cientistas não conseguiram determinar como esses indivíduos morreram. Ainda assim, os fósseis representam apenas uma parte das descobertas. Os pesquisadores identificaram resquícios de 36 espécies diferentes entre os 6.372 fragmentos recuperados. Um destaque entre eles foram os restos de dragões-de-komodo, lagartos gigantes que ainda existem em algumas ilhas da Indonésia.

Esses répteis são conhecidos por caçar animais grandes usando mordidas venenosas e bactérias. Hoje, estão ameaçados de extinção, mas os estudos sugerem que, naquela época, eram os principais predadores das planícies de Sundaland. Segundo Berghuis, os dragões-de-komodo podem ter dominado o ecossistema local por milhares de anos. As descobertas ajudam a montar um retrato mais completo da vida antiga no sudeste asiático.

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Ossos de 250 mil anos reforçam que o Homo naledi desafia as teorias evolutivas

Um artigo publicado na sexta-feira (28) na revista eLife reforça a ideia de que o Homo naledi, uma espécie extinta de hominídeo, enterrava seus mortos há cerca de 250 mil anos. Em 250 páginas de novas evidências, a pesquisa segue as conclusões de estudos anteriores, que sugerem que essa espécie tinha comportamentos complexos, como o enterro deliberado de corpos.

Essa descoberta desafia a concepção mais difundida de que apenas os humanos modernos e os neandertais realizariam tais práticas.

O que você vai ler aqui:

  • Fósseis do H. naledi foram encontrados em 2013, mostrando uma espécie bípede com habilidades manuais, apesar de ter um cérebro menor que o dos humanos modernos;
  • Esse hominídeo pode ter enterrado seus mortos há 250 mil anos, desafiando a ideia de que apenas humanos modernos e neandertais praticavam enterros;
  • Estudos de 2017 e 2023 sugerem que o H. naledi enterrava seus mortos intencionalmente e criava arte nas cavernas;
  • Estudo recente traz novas evidências de enterros planejados e artefatos de pedra, indicando práticas funerárias intencionais, mas ainda gerando controvérsias;
  • As gravuras nas cavernas sugerem que o H. naledi tinha habilidades simbólicas, possivelmente relacionadas a rituais ou crenças.
Reconstrução 3D do Homo naledi. Créditos: John Gurche / Mark Thiessen / National Geographic

Os fósseis de Homo naledi foram encontrados em 2013, no sistema de cavernas Rising Star, na África do Sul, onde os pesquisadores identificaram mais de 1.500 ossos de diferentes indivíduos. 

Eles eram bípedes, com cerca de 1,5 metro de altura e pesavam em média 45 quilos. Apesar de possuírem cérebros menores que os dos humanos modernos, suas mãos eram hábeis, o que gerou discussões sobre a complexidade de suas habilidades.

Em 2017, a equipe de Lee Berger, um dos principais pesquisadores envolvidos nas escavações, sugeriu pela primeira vez que o H. naledi havia enterrado seus mortos de forma intencional. 

Essa hipótese foi reforçada em 2023, com a publicação de três estudos no servidor de pré-impressão bioRxiv, que apresentaram novas evidências de enterros e até mesmo gravuras nas paredes das cavernas. Esses estudos indicaram que o H. naledi não apenas sepultava seus mortos, mas também decorava o espaço ao redor dos enterros com figuras abstratas feitas em rochas.

Os dados apresentados na revisão atual aprofundam a ideia de enterros intencionais. Entre as novas descobertas, estão poços rasos e ovais, com restos humanos que estavam cobertos por sedimentos, indicando que os corpos foram dispostos de maneira planejada. Um artefato de pedra encontrado ao lado de um esqueleto sugere que esse hominídeo pode até ter feito oferendas funerárias.

No entanto, o entendimento de enterros deliberados por H. naledi ainda gera controvérsia. Sheela Athreya, antropóloga da Universidade Texas A&M, nos EUA, está entre os especialistas que levantam questionamentos sobre a interpretação dos dados. Em uma entrevista ao site Live Science em 2023, ela apontou que as evidências, embora interessantes, não são conclusivas o suficiente para afirmar com certeza que o enterro foi uma prática consciente, sugerindo que outras explicações poderiam ser consideradas.

Esquema das duas características de sepultamento descobertas na Caverna Rising Star. (A) A posição dos enterros em relação às escavações de 2013-2016 é delineada por área quadrada. (B) Fotografia das principais características do enterro. A característica 1 é o corpo de um espécime adulto de Homo naledi. O recurso 2 mostra pelo menos um corpo juvenil na borda do local do enterro. (C) e (D) são ilustrações que mostram como os ossos foram posicionados dentro das sepulturas. Créditos: Berger et al.

No novo estudo, a equipe de Berger revisou suas conclusões e detalhou ainda mais os processos envolvidos nos enterros. Uma nova linha do tempo que vai da morte à decomposição dos corpos foi adicionada, ajudando a explicar como os corpos chegaram ao sistema de cavernas. Com isso, os pesquisadores esperam responder às críticas e demonstrar que as práticas funerárias de H. naledi eram, de fato, intencionais e sistemáticas.

Essa revisão gerou reações dentro da comunidade científica. Alguns especialistas, que antes estavam céticos, agora consideram as evidências mais robustas. Um revisor afirmou que os dados fornecidos pela equipe de Berger sugerem práticas de enterros repetidas e padronizadas. No entanto, outro revisor manteve uma postura cautelosa, afirmando que mais estudos independentes seriam necessários para confirmar essas conclusões.

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Gravuras nas cavernas podem ser símbolos de luto do Homo naledi

Além dos enterros, outro estudo de 2023 revelou que o H. naledi também praticava algum tipo de arte. Foram encontradas gravuras em forma de linhas e símbolos nas paredes das cavernas. Essas marcas, feitas em superfícies preparadas, sugerem que a espécie usava ferramentas para criar arte, o que indica uma capacidade simbólica bem desenvolvida.

As gravuras, que foram feitas em locais próximos aos enterros, podem indicar que esse espaço subterrâneo tinha um significado cultural para os H. naledi. Segundo o antropólogo Agustín Fuentes, da Universidade de Princeton, o enterro dos mortos e a criação dessas marcas podem estar relacionados a rituais ou crenças compartilhadas, como o luto. Isso apontaria para uma forma de comportamento simbólico, semelhante ao que vemos em humanos modernos.

Ainda assim, a interpretação das gravuras gerou divisões entre os especialistas. Alguns, como Athreya, questionam se essas marcas podem realmente ser atribuídas a um pensamento simbólico intencional. Eles argumentam que as evidências não são fortes o suficiente para afirmar que essas gravuras foram feitas com um propósito abstrato claro.

Além disso, persiste a dúvida sobre como o H. naledi acessava as cavernas, um ponto importante para entender o comportamento desse hominídeo. O sistema Rising Star é de difícil acesso, o que levanta questões sobre como eles conseguiram entrar nesse ambiente. Alguns cientistas, como Jonathan Marks, da Universidade da Carolina do Norte, sugerem que pode haver outras explicações para esse acesso, o que poderia impactar as interpretações sobre os comportamentos dos H. naledi.

Enquanto os debates continuam, as novas evidências sobre os comportamentos do Homo naledi estão mudando nossa visão sobre as capacidades dessa espécie. Se confirmadas, essas descobertas podem ampliar a compreensão sobre as origens do comportamento simbólico e das práticas funerárias entre os primeiros hominídeos. 

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Nossos antepassados usavam pedras vulcânicas de forma inusitada

Esferas de basalto naturais podem ter sido usadas como um tipo de ferramenta por espécies de hominídeos por mais de um milhão de anos. É o que sugere um novo estudo publicado na revista científica Quaternary International.

Nas últimas décadas, diversos itens que datam do período Pleistoceno, entre 2,5 milhões e 11,7 mil anos atrás, foram coletados em regiões da Europa, Ásia e África. Acredita-se que eram usados como ferramentas de percussão a implementos de caça.

A análise recente se concentrou no acervo da região de Melka Kunture, Etiópia, onde foram encontrados líticos globulares naturais, denominados “esferas”. As peças são feitas de basalto vulcânico, diferentemente daquelas encontradas nas áreas vizinhas, de calcário.

Itens analisados foram encontrados na Etiópia (Imagem: Dmitry_Chulov/iStock)

“É possivelmente a primeira evidência do uso de formas naturais para atividades variadas, e isso aconteceu repetidamente ao longo de mais de 1 milhão de anos de evolução humana em Melka Kunture”, diz a arqueóloga Margherita Mussi, autora do artigo.

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Como foi feita a pesquisa?

  • As esferas utilizadas na análise do estudo foram coletadas em oito locais: Gombore IB, Atebella II, Garba XII, Gombore II-1, Gombore II-2, Garba IIIE, Gotu III e Garba I;
  • Gombore IB foi o sítio habitado mais antigo, datado de 1,7 milhões de anos atrás, e continha  5.000 ferramentas de pedra , três esferas e dois fósseis de ossos do braço de um Homo cf. ergaster humerus;
  • Já Garba I, III e II eram os sítios mais jovens, datados de cerca de 0,6 milhões de anos atrás, com 22 esferas e mais de 7.000 ferramentas líticas.
  • A cientista analisou peso, formato, tamanho e evidências de cicatrizes de lascas de cada uma das esferas; ela concluiu que as peças foram levadas deliberadamente aos locais onde foram encontradas, excluindo métodos naturais de transporte, como a água.
Pedras são feitas de basalto vulcânio, e não de calcário como as demais (Imagem: Mussi/Reprodução)

“Estou convencida de que os duros vulcânicos eram usados ​​para lascar/retocar ferramentas líticas, enquanto os mais macios, de lapilli, eram usados ​​para esfregar vegetais/peles ou outras coisas”, explica a pesquisadora.

O estudo fornece novos insights sobre a evolução do comportamento das ferramentas nos primeiros hominídeos, na transição de Homo erectus para H. heidelbergensis. “Esta é uma boa evidência de como os hominídeos estavam explorando cuidadosamente qualquer novo recurso e usando-os habilmente”, conclui.

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