shutterstock_2497349479-1

Seis lições que a IA generativa tem nos deixado

Vivemos uma era em que a inteligência artificial generativa não é apenas um avanço tecnológico — é um revelador brutal. Mais do que ferramenta, ela é espelho. Um espelho de alta precisão que reflete com crueza não só o que somos, mas aquilo que, por conveniência ou covardia, escolhemos fingir ser.

Projetamos nela nossa obsessão por produtividade, nossa fixação por escala, nosso desdém pelo tempo e, principalmente, nossa crescente impaciência com tudo aquilo que é humano demais: o erro, a hesitação, a travessia lenta.

Desde o surgimento do ChatGPT, da Midjourney e de suas inúmeras derivações, temos nos encantado com a capacidade das máquinas de simular o humano. Mas talvez o que nos incomode de verdade não seja o espanto com o que elas fazem — e sim o que isso revela sobre nós. A IA não nos ultrapassa: ela nos desmascara.

A generatividade da máquina escancara a estagnação do humano.

Nunca foi tão fácil produzir — e, paradoxalmente, tão difícil emocionar. A IA generativa trouxe à tona uma constatação incômoda, muitas vezes velada sob o volume de entregas: grande parte do que já se criava antes era, na verdade, superficial, redundante, automatizado sem automação.

A diferença agora é que a mediocridade ganhou concorrência — e ela é rápida, gratuita, escalável e, ironicamente, mais eficiente do que muitos humanos que a alimentam.

A IA generativa torna a produção rápida, mas a mediocridade agora é mais eficiente e escalável (Imagem: Boy Anthony/Shutterstock)

De acordo com a Gartner, até 2026, 90% de todo o conteúdo digital será gerado por máquinas. Isso significa que, no novo paradigma, não competiremos mais por agilidade ou quantidade — mas por sentido, por significância.

O talento, antes diferencial, torna-se pré-requisito básico. O que nos distingue, no fim, não é mais a capacidade de entregar, mas a de interpretar, emocionar, transcender. Sentir, em profundidade, tornou-se um ato de resistência.

A IA tornou o conteúdo abundante. Mas não necessariamente relevante. Nunca se escreveu tanto — e nunca se disse tão pouco. Em meio a esse dilúvio de informações, a confiança tornou-se um recurso escasso, quase clandestino. Ela já não se conquista pelo conteúdo em si, mas pela reputação de quem o oferece e, sobretudo, pelas razões pelas quais o faz.

A inflação de conteúdo expôs a escassez de autenticidade.

O novo protagonismo não será dos que produzem mais, mas dos que dizem com propósito. Curadores, líderes de pensamento, vozes éticas e conscientes emergem como faróis em meio ao nevoeiro do conteúdo genérico.

A curadoria crítica — que separa o essencial do ruidoso, o verdadeiro do verossímil — assume papel de urgência civilizatória.

A IA não é neutra — e tampouco é ingênua.

Um dos maiores equívocos contemporâneos é tratar a inteligência artificial como algo imparcial, puro, inodoro. Isso é, no mínimo, perigoso. A IA aprende com o que já foi dito — e perpetua, com verniz de eficiência, os mesmos preconceitos que tentamos, há séculos, desconstruir. Racismo algorítmico, desigualdade de gênero, eurocentrismo epistêmico: tudo isso ganha fluidez, escala e polidez na voz da máquina.

AI ethics
Tratar a IA como imparcial é perigoso, pois ela perpetua preconceitos históricos com a fluidez e eficiência da máquina (Imagem: Ole.CNX/Shutterstock)

Não faltam exemplos. O DALL·E, ao gerar imagens de liderança exclusivamente masculina e branca. Os sistemas de moderação enviesados. As bases de dados treinadas sobre conteúdos que refletem o mundo como ele é — e não como deveria ser. A tecnologia, sem a crítica humana, apenas reafirma a ordem vigente. E isso é tudo, menos inovação.

Escalamos a tecnologia — mas negligenciamos a governança.

Enquanto as aplicações de IA evoluem em ritmo exponencial, as regulamentações rastejam em compasso analógico. Essa assimetria é grave. Temos tratado a inovação como valor absoluto, sem ponderar sua ambiguidade essencial: toda tecnologia pode libertar ou aprisionar, democratizar ou explorar, dependendo de quem a controla — e com quais interesses.

Regulamentações acompanham devagar o avanço da IA, ignorando os riscos de controle e interesses envolvidos (Imagem: ImageFlow/Shutterstock)

O AI Act, aprovado pela União Europeia em 2024, é um alento. Mas ainda rascunha as complexidades envolvidas em temas como autoria intelectual, manipulação de massas, privacidade de dados e desinformação.

E no Brasil? A pauta ainda é periférica, quando deveria ser central. Enquanto isso, empresas seguem monetizando, sem freios, um campo que deveria ser tratado com responsabilidade e ética coletiva.

A ameaça real não é a IA — é a ausência de um projeto humano

A frase “a IA não vai roubar seu emprego, mas alguém que usa IA vai” tem servido como mantra nos corredores corporativos. Mas é raso demais para o abismo que se abre. A pergunta mais urgente não é quem será substituído — mas por que seguimos formando pessoas para serem substituíveis.

IA versus humanos
A frase “a IA não vai roubar seu emprego, mas alguém que usa IA vai” tem servido como mantra nos corredores corporativos. (Imagem: Leonardo Santtos/Shutterstock)

A IA escancara a obsolescência de funções humanas que sempre foram mais operacionais do que intelectivas, mais repetitivas do que reflexivas. É preciso redesenhar, com urgência, não apenas o que chamamos de trabalho — mas o que chamamos de valor, de criação, de inteligência. A IA é só o gatilho.
O que está em jogo é nossa própria relevância enquanto espécie criadora

A maior lição da IA generativa não é sobre a máquina — é sobre a humanidade que deixamos adormecer

Ela nos obriga a encarar nossa preguiça intelectual, nossa terceirização da autoria, nosso fascínio por atalhos. Nos lembra que ter acesso ao conhecimento não é o mesmo que compreendê-lo. Que escrever bem não é o mesmo que pensar bem. Que produzir rápido não é o mesmo que viver com profundidade.

IA e criatividade.
Cada vez somos mais confrontados pela IA com nossa preguiça intelectual e a ilusão de que rapidez e acesso ao conhecimento substituem reflexão e profundidade (Imagem: Bishop Iuliia/Shutterstock)

A inteligência artificial é uma ferramenta de poder imenso — mas perigosa quando utilizada por uma sociedade que ainda não aprendeu a lidar com sua própria ignorância, sua superficialidade e sua pressa.

No fim das contas, o maior legado da IA generativa pode ser paradoxal: nos forçar a lembrar o que significa ser humano. Não no sentido biológico, mas existencial. Preservar, diante da máquina que tudo simula, aquilo que nunca deveria ser simulado: o espanto, a dúvida, a experiência, a consciência. E, talvez, a beleza de não saber.

O post Seis lições que a IA generativa tem nos deixado apareceu primeiro em Olhar Digital.

hackers-e1703599213784-1024x576

Hackers: como lidar com a cibersegurança na era da IA Generativa?

A Inteligência Artificial (IA) Generativa cresce exponencialmente, trazendo benefícios que vão da automatização de processos à geração de insights estratégicos. No entanto, essa expansão também amplia os desafios da segurança cibernética, tornando essencial a adoção de medidas preventivas.

Para se ter uma ideia, a Associação de Defesa de Dados Pessoais e do Consumidor (ADDP) aponta que os crimes cibernéticos aumentaram 45% no Brasil em 2024. Isso significa que uma em cada quatro pessoas são alvos de golpes. Hackers estão se adaptando e usando IA para criar ataques mais sofisticados e difíceis de identificar.

Um dos exemplos é o uso das deepfakes, técnica baseada em IA para criar imagens e áudios falsos que parecem reais. Segundo a Sumsub, plataforma de verificação de identidade, essa prática cresceu 830% no Brasil entre 2022 e 2023. Trata-se de uma tática para manipular informações, explorar a credibilidade de figuras públicas e induzir fraudes. Não à toa, as figuras de famosos e celebridades são muito utilizadas por criminosos nesta abordagem.

Os ataques de phishing também se tornaram mais sofisticados. A consultoria de cibersegurança Redbelt Security estima que mais de 3,5 milhões de brasileiros foram vítimas desses golpes em 2023. O crescimento de dispositivos conectados e da coleta constante de dados sensíveis precisam, mais do que nunca, de uma proteção digital reforçada.

Fortalecendo a segurança digital

Diante dessas ameaças, empresas e usuários precisam reforçar suas estratégias de defesa. O setor de tecnologia tem um papel fundamental na proteção de plataformas e serviços de IA Generativa, garantindo que novas soluções não se tornem ferramentas para ataques cibernéticos. Além do desenvolvimento de tecnologias mais seguras, a educação digital é essencial.

A falta de conscientização sobre práticas básicas de segurança amplia as vulnerabilidades e compromete a confiança na inovação.

Enfatizar a importância de se preocupar com a privacidade, segurança e veracidade das informações nunca é demais.

A falta de conscientização e de práticas adequadas sobre tópicos ligados à cibersegurança não só eleva vulnerabilidades digitais, como também trava o desenvolvimento da IA como uma ferramenta de inovação, que precisa ser uma aliada dos seres humanos na sociedade e no mercado.

Cibersegurança nas empresas deixou de ser opção — é necessidade estratégica (Imagem: shutterstock/Rawpixel.com)

Só com esse olhar proativo sobre a educação digital é que a população estará ciente de assuntos que parecem básicos, mas não são. Um grande exemplo disso é o conhecimento completo dos dados pessoais que estão compartilhando.

Parece “chover no molhado” dizer que não é recomendável abrir informações sensíveis em sites ou formulários suspeitos, ou que a gente precisa usar senhas fortes e diferentes para cada serviço on-line, mas definitivamente essa é uma tecla que deve ser batida constantemente.

Leia mais:

Podemos citar a importância de utilizar fontes confiáveis e reconhecidas no momento de se informar, como portais de notícias estabelecidos e organizações respeitáveis. Principalmente quando entramos no mérito das deepfakes, procurar evidências que corroborem um determinado assunto em mais de um canal e comparar conteúdos não é perda de tempo, mas sim uma forma de certificar que se trata de algo real. Cada vez mais, precisaremos desenvolver um “ceticismo crítico” a respeito das notícias, imagens e vídeos que vemos em aplicativos de mensagens e redes sociais.

Ilustração de deepfake de rosto de mulher
Deepfakes crescem no Brasil e viram arma poderosa para fraudes digitais (Imagem: metamorworks/Shutterstock)

É com esses passos mais “simples” de engenharia social que outras defesas podem ser adotadas. Medidas de proteção como anonimização e criptografia, por exemplo, são ótimas provas de como reduzir riscos e complementar as barreiras contra cibercriminosos.

Lembre-se: a evolução da IA é irreversível. Portanto, sua segurança deve acompanhar esse ritmo. Todos precisam assumir um compromisso contínuo com essa missão e abraçar uma mudança cultural que valoriza o pensamento crítico. Somente assim vamos caminhar para um futuro verdadeiramente inovador.

O post Hackers: como lidar com a cibersegurança na era da IA Generativa? apareceu primeiro em Olhar Digital.