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Esqueleto traz primeira prova física de combate entre leão e gladiador romano

Pela primeira vez na história, arqueólogos encontraram provas físicas de um gladiador que lutou contra um leão. A descoberta ocorreu em York, no Reino Unido, e oferece uma confirmação concreta de uma das cenas mais icônicas da cultura do Império Romano: o confronto direto entre homem e animal.

Até hoje, o que se sabia sobre essas lutas vinha de textos antigos, esculturas e mosaicos. Filmes e séries ajudaram a popularizar essas histórias, mas nenhuma evidência física havia sido localizada – nenhum osso humano com marcas típicas de ataque por animais selvagens.

Isso mudou com a análise de um esqueleto batizado de 6DT19, encontrado em York há cerca de 20 anos. A ossada foi descoberta durante escavações no quintal de uma casa, quando os proprietários planejavam uma reforma e se depararam com indícios de um cemitério.

Diversas obras de arte retratam lutas entre gladiadores e grandes felinos. Crédito: Sofoklo – Shutterstock

Mais de 80 gladiadores foram sepultados no local

Arqueólogos descobriram mais de 80 esqueletos no local, a maioria de homens jovens. Muitos apresentavam lesões compatíveis com combates violentos. Os ferimentos e o padrão de sepultamento sugeriam que aquelas pessoas poderiam ter sido gladiadores.

O esqueleto 6DT19 despertou atenção por uma razão específica: havia marcas estranhas no osso do quadril. Eram pequenos sulcos que não combinavam com cortes de espada ou impactos comuns em batalhas humanas.

Outros especialistas já haviam cogitado que as marcas fossem mordidas de um animal de grande porte, como um leão. Mas, ninguém havia conseguido provar isso até o estudo liderado pelo antropólogo Tim Thompson, da Universidade Maynooth, na Irlanda, que foi publicado na quarta-feira (23) na revista PLOS One.

Primeira evidência concreta de que homens lutaram contra grandes felinos

Para chegar a uma conclusão, Thompson e sua equipe precisaram de uma base de comparação. Eles recorreram a zoológicos britânicos, pedindo acesso a ossos de animais mortos por grandes felinos como leões, tigres e chitas.

Com o material em mãos, os cientistas iluminaram os ossos com uma grade de luz especial e criaram mapas tridimensionais das mordidas. Depois, fizeram o mesmo com o esqueleto 6DT19 e compararam os padrões de marca.

O resultado foi surpreendente: as marcas no osso do gladiador eram compatíveis com a mordida de um leão. A semelhança nos ângulos, profundidade e espaçamento das marcas eliminou outras possibilidades.

Lesões nos ossos de um esqueleto humano encontrado em York, no Reino Unido, são consistentes com marcas de mordidas de animais. Crédito: Thompson et al., 2025, PLOS One

A descoberta representa a primeira evidência física direta de que gladiadores lutaram contra grandes felinos, como sugerem os relatos históricos. Um símbolo do entretenimento brutal promovido pelos romanos.

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Segundo Thompson, a mordida no quadril não parece ter sido fatal. A hipótese mais provável é que o homem já estivesse ferido ou inconsciente quando foi atacado. O leão teria mordido e arrastado o corpo, como fazem com presas na natureza.

A antropóloga Kathryn Marklein, da Universidade de Louisville, que não participou da pesquisa, afirmou ao jornal The New York Times que esse achado ajuda a compreender melhor como Roma usava a violência como espetáculo e mecanismo de poder.

Trazer leões de regiões distantes e colocar humanos para lutar com eles era uma maneira de mostrar força. Era um lembrete cruel do que poderia acontecer com quem desobedecesse ao Império. “Era mais do que entretenimento”, disse Marklein. “Era um teatro de dominação. Quem assistia entendia o recado: respeite Roma ou arrisque terminar assim”.

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Exploradores com um cânion no fundo do cenário.

Crime atual já era prática desde o Império Romano

Evasão fiscal é um crime tão antigo quanto a invenção dos impostos. No entanto, uma nova pesquisa revelou que essa pratica era considerada tão séria no Império Romano que as penas variavam entre multas pesadas, exílio permanente e, em última instância, execução pública. Os historiadores traduziram e analisaram um documento que registra um desses casos.

A descrição de crime está escrita num papiro encontrado no Deserto da Judeia. O grupo de pesquisadores analisou o artefato e descobriu que os criminosos realizaram um esquema de falsificação de documentos e venda de alforrias – libertação de escravos – ilícitas, tudo para evitar o pagamento de impostos nas províncias romanas da Judeia e da Arábia.

Os dois sonegadores eram conhecidos. Um deles, Gadálias, tinha ligações com a elite administrativa local e já havia sido condenado por extorsão e falsificação, além der ser famoso por roubar e não comparecer aos julgamentos.

O segundo era Saulo, registrado como o mentor do esquema e “amigo e colaborador” de Gadálias. A equipe de pesquisa acredita, com base nos nomes e na localização, que a dupla seria composta por dois homens judeus.

Imagem do papiro em infravermelho. (Imagem: Shai Halevi/Israel Antiquities Authority)

Acusados podem ter lutado contra o Império Romano

A trama de sonegação aconteceu durante um período conflituoso da história. O imperador Adriano reinava por volta de 130 d.C., quando Simão bar Kochba, um chefe guerrilheiro, liderou uma revolta popular que resultou numa guerra entre o povo judeu e o Império Romano. A revolta foi reprimida e a população judaica se dispersou para fora da Judeia.

“É possível que sonegadores de impostos como Gadálias e Saulo, que eram inclinados a desrespeitar a ordem romana, estivessem envolvidos nos preparativos [da revolta]”, disse Anna Dolganov, historiadora que decifrou o pergaminho, em entrevista ao New York Times.

A pesquisadora acredita que o papiro tenha sido encontrado em 1950 por beduínos vendedores de antiguidades. Segundo ela, o artefato poderia estar escondido em Nahal Hever, um cânion a oeste do Mar Morto, onde alguns rebeldes de Bar Kochba se refugiaram ao fugir dos romanos.

Exploradores com um cânion no fundo do cenário.
Exploradores no cânion de Nahal Hever. (Imagem: Benno Rothenberg /Meitar Collection / National Library of Israel / The Pritzker Family National Photography Collection / CC BY 4.0)

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Esquema de sonegação era complexo

A pesquisa revela que o crime de Gadálias e Saulo foi confirmado por um informante às autoridades romanas. O texto também sugere que o denunciante era o próprio Saulo, que pôs a culpa em seu comparsa Queréias para proteger a si mesmo da punição. 

O cenário mais provável era de que Saulo, da Judeia, vendia vários escravos para Queréias, da Arábia, sem a documentação adequada. Ao serem comercializados através da fronteira entre as províncias,  os escravos supostamente desapareciam dos bens de Saulo na Judeia. Mas, como permaneciam fisicamente com ele, Queréias, o comprador, poderia optar por não declarar os escravizados na Arábia.

“Assim, no papel, os escravos desapareciam na Judeia, mas nunca chegavam à Arábia, tornando-se invisíveis para os administradores romanos. A partir de então, todos os impostos sobre esses escravos podiam ser evitados”, explicou a historiadora.

Os romanos tinham um sistema sofisticado para evitar a sonegação e examinar o comércio de escravizados. As taxas chegavam a 4% sobre a venda de escravos e 5% sobre as alforrias. “Se algum documento estivesse faltando ou parecesse suspeito, os administradores romanos investigavam”, comentou a pesquisadora.

Portão de Adriano feito por volta de 130 d.C.
Portão de Adriano feito por volta de 130 d.C. (Imagem: Joe Wallace / Wikimedia Commons)

O julgamento foi intenso, diz o estudo

Para ocultar a falsidade ideológica de seu parceiro, Gadálias, filho de um tabelião, falsificou as notas de venda e outros documentos. Quando as autoridades desvendaram o caso, a dupla procurou e pagou um concelho municipal em troca de proteção.

Durante o julgamento, Saulo atribuiu a culpa pelas irregularidades no comércio de escravos a Queréias. Gadálias culpou seu pai pelas falsificações.

Para os pesquisadores, as motivações da dupla ainda são desconhecidas. “Por que os homens correram o risco de libertar um escravo sem documentos válidos permanece um mistério”, disse Dolganov.

A equipe apresentou algumas hipóteses:

  • Ao simular a venda de escravos e libertá-los, a dupla estaria cumprindo um dever da cultura judaica de libertar escravizados em determinados períodos e situações.
  • Poderiam estar lucrando com o sistema de captura de pessoas, sua escravização e depois libertação dentro do Império Romano
  • Gadálias e Saulo poderiam também ser traficantes de pessoas

O papiro não revelou o veredito do caso jurídico. Mas, os historiadores acreditam que Gadálias, por ser membro da elite local, poderia ter recebido uma morte mais misericordiosa: a decapitação. Para Saulo, idealizador do esquema, o fim pode ter sido mais tenebroso.

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Descoberta pode reescrever a história do Império Romano na Alemanha

Arqueólogos vão passar os próximos dois anos examinando 4 mil tijolos do Império Romano vindos da cidade de Tréveris, na Alemanha. O objetivo da pesquisa é entender como esses blocos eram produzidos e distribuídos, além de compreender como a cidade foi estruturada e sua importância na época.

Tréveris era conhecida como a capital germânica do Império Romano. Ela ganhou destaque entre os séculos I e V, sendo uma grande metrópole ao norte dos Alpes.

Por sua influência política e econômica, se tornou a residência imperial durante as dinastias Constantiniana e Valentiniana. Nesse período, a cidade passou por transformações de larga escala em sua estrutura e planejamento urbano. Os romanos utilizaram vários formatos de tijolos cozidos para construir os edifícios monumentais que hoje contam a história do local. 

No início do século XX, uma equipe de pesquisadores recuperou 4 mil tijolos estampados dessa época, mas eles permaneceram guardados e pouco estudados. Agora, um novo grupo planeja examinar o material um século depois.

“Presumimos que a maioria dos tijolos estampados data da Antiguidade Tardia. Isso nos permite realizar uma análise abrangente de como a cerâmica de construção era produzida e utilizada durante esse período”, afirmou o Dr. Thomas Schmidts, professor da Universidade Goethe e participante do estudo, em um comunicado.

O Portão Negro em Tréveris, um dos monumentos da época do Império Romano (Imagem: Sergii Figurnyi / Shutterstock)

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Uso de tecnologia irá revelar oficinas romanas

A nova pesquisa irá utilizar análises arqueométricas, uma abordagem científica que une diversas áreas do conhecimento. Os pesquisadores determinarão a composição química dos tijolos para identificar os materiais utilizados em sua produção. Isso permitirá o grupo rastrear a origem dessas matérias-primas, podendo localizar oficinas onde os artesãos faziam os blocos.

O foco é entender a infraestrutura complexa da cidade. Os arqueólogos pretendem estudar, com a análise dos artefatos, o período de expansão e avanço tecnológico do Império Romano.

Tijolos estudados têm marcas e escritas romanas
Tijolos estudados têm marcas e escritas romanas. (Imagem: M. Scholz.)

Com o exame da distribuição das oficinas no espaço da cidade, eles buscam entender como era a fabricação dos tijolos e para onde os romanos os levavam. “Isso permitirá a identificação de projetos de edifícios públicos e estatais até então desconhecidos”, escreveu a equipe no projeto de pesquisa.

“As descobertas do projeto não só ampliarão nosso conhecimento sobre cerâmica de construção da Antiguidade Tardia, mas também servirão como um modelo de estudo que integra metodologias arqueológicas e arqueométricas, ajudando-nos a reconstruir o desenvolvimento histórico de Tréveris”, concluíram os pesquisadores.

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Vala comum com 150 soldados do Império Romano é encontrada na Áustria

Arqueólogos do Museu de Viena identificaram uma vala comum com cerca de 150 soldados romanos no bairro de Simmering, na capital austríaca. A descoberta ocorreu durante as obras para a reforma de um campo de futebol em outubro passado. Agora, análises confirmam que os restos mortais são do século 1 e indicam um evento militar catastrófico.

De acordo com a agência de notícias AP News, os esqueletos estavam desordenados e entrelaçados, o que sugere uma morte violenta em batalha. Segundo os pesquisadores, os homens tinham entre 20 e 30 anos e apresentavam ferimentos compatíveis com espadas, lanças e projéteis. Acredita-se que tenham sido vítimas de um conflito entre o Império Romano e tribos germânicas.

Em poucas palavras:

  • Arqueólogos encontraram 150 soldados romanos enterrados em Viena, na Áustria;
  • Os esqueletos indicam um massacre em batalha contra tribos germânicas;
  • O enterro em massa é raro, já que o comum para a época era a cremação;
  • Novas escavações podem revelar mais ossadas e evidências do conflito;
  • Pesquisadores analisam os restos mortais para entender a vida e a guerra romana.
Encontrar os corpos enterrados dos primeiros soldados romanos é algo extremamente raro. Crédito: Reiner Riedler, Museu de Viena

“Enterros de corpos inteiros eram uma exceção no Império Romano daquela época, pois a cremação era a prática predominante”, explicou Kristina Adler-Wölfl, chefe de arqueologia da cidade. O costume da cremação seguiu até o século 3 d.C., tornando essa descoberta extremamente rara.

A escavação começou com a identificação de 129 esqueletos, mas o número aumentou conforme os trabalhos avançavam. Os arqueólogos acreditam que ainda há mais ossos no local, reforçando a hipótese de que o sítio arqueológico guarda registros de um massacre.

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Local pode trazer detalhes dos conflitos do Império Romano

Michaela Binder, que lidera a equipe de escavação, destacou a importância do achado. “Existem grandes campos de batalha na Alemanha onde armas foram encontradas, mas localizar os corpos dos combatentes é algo inédito na história romana”, afirmou. Para os pesquisadores, o local pode revelar detalhes desconhecidos sobre as estratégias militares e os conflitos da época.

A análise arqueológica dos restos mortais determinou que os homens foram mortos em batalha. Crédito: Reiner Riedler, Museu de Viena

A equipe continuará analisando os esqueletos para determinar suas origens, condições de vida e possíveis marcas de doenças ou desnutrição. Além disso, os arqueólogos esperam encontrar vestígios de armaduras, armas e outros objetos que ajudem a reconstruir o contexto do combate.

O Museu de Viena informou que a pesquisa está apenas no início e que novas descobertas podem surgir à medida que as escavações progridem. Apresentado ao público pela primeira vez na quarta-feira (2), o achado lança luz sobre um episódio violento da presença romana na região e pode modificar o que se sabe sobre a expansão e os conflitos do Império no norte da Europa.

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Guerreiros que invadiram o Império Romano tem origem revelada

As invasões dos chamados bárbaros, mais conhecidos hoje como povos germânicos, foi um dos motivos que levou à queda do Império Romano. No entanto, sabemos pouco sobre qual era realmente a origem destas pessoas que mudaram o mundo há milhares de anos.

De acordo com um novo estudo, estas tribos eram compostas por um povo miscigenado, misturando ancestrais de vários lugares da Europa e da Ásia. Este é o caso dos hunos, do famoso rei Átila, apelidado de “o Flagelo de Deus”.

Povo sempre foi descrito com um ar místico

Comandados pelo famoso líder, os hunos chegaram muito perto de conquistar a cidade de Roma no ano 452 d.C. Antes disso, devastaram uma série de territórios romanos na Itália, na Gália (atual França) e em outros pontos da Europa.

Os escritores da Antiguidade descrevem este como um povo bárbaro e quase animalesco que teria vindo de alguma região distante do leste. Dizia-se que eram exímios cavaleiros nômades, mas a real origem deles sempre foi um mistério.

Estátua do rei Átila, principal figura do povo huno (Imagem: butterfly’s dream/Shutterstock)

Uma das suspeitas é que eles tivessem alguma relação com os chamados xiongnu, cavaleiros das estepes que chegaram a formar um império na atual Mongólia por volta do século I d.C. A principal hipótese é que este povo tenha se deslocado para o oeste com o passar do tempo, dando origem aos hunos.

Os relatos dos próprios romanos podem indicar como isso teria acontecido. Isso porque os registros apontam que os hunos costumavam incorporar povos derrotados, criando uma miscigenação deste povo antigo.

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Hunos conquistaram uma vasta extensão de terras e até invadiram o Império Romano (Imagem: ArapSeyhi/Shutterstock)

Análises de DNA confirmaram origem dos hunos

  • Durante o trabalho, os pesquisadores compararam o material genético de pessoas que morreram no antigo território dos hunos, entre os séculos V d.C. e VI d.C., com o de uma ampla gama de povos da mesma época e de séculos anteriores espalhados pela Europa e pela Ásia.
  • O resultado da análise é que quase sempre as pessoas enterradas nas sepulturas associadas à cultura dos hunos possuem origem genética mista, abrangendo tanto ancestrais europeus quanto originários da Ásia Central.
  • Ainda assim, em alguns casos, foi possível identificar uma ligação direta entre alguns desses indivíduos miscigenados e antigos membros da elite imperial xiongnu.
  • As descobertas foram descritas em estudo publicado na revista PNAS.

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