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O olhar sempre no horizonte. Foi assim que mestre Yoda descreveu Luke Skywalker (Mark Hamill) em Star Wars: Os Últimos Jedi (2017). Seu último momento no plano terreno foi igual um dos seus primeiros na franquia: observando o pôr do sol. O rover Perseverance, da NASA, teve um momento parecido em Marte.
Parecido, mas oposto. Enquanto Luke se perdia em pensamentos ao olhar para o “pôr do sol binário“, o carrinho da NASA “observou” (leia-se: capturou imagens) os últimos momentos da madrugada. Skywalker olhava para dois sóis. O rover da NASA, para uma das duas luas de Marte.
Em meio à paz e solidão em Marte, rover da NASA tira foto de uma das luas do planeta
Não há muita agitação no planeta vermelho. Marte é silencioso, desabitado e isolado, exceto pelos robôs exploradores que trabalham incansavelmente para revelar seus mistérios.
Rover da NASA capturou cena rara e impressionante na cratera Jezero, em Marte (Imagem: NASA/JPL-Caltech/MSSS)
Se pudéssemos estar lá, o único som que ouviríamos seria o sussurro do vento marciano. Nada de multidões ou barulho – a menos, claro, que fôssemos surpreendidos por uma das famosas tempestades de areia marciana.
Em meio a esse cenário de paz e solidão (ou seria solitude?), uma nova imagem chama a atenção. O rover Perseverance capturou uma cena rara e impressionante na cratera Jezero, onde toca sua missão.
A foto foi tirada no escuro, antes do amanhecer marciano, às 4h27 (horário local) do dia 1º de março de 2025, conforme divulgado pela NASA.
O robô apontou sua câmera (Navcam esquerda) para o céu e, com uma exposição de 52 segundos, registrou um ponto de luz muito especial: Deimos, a menor e mais distante das duas luas de Marte.
O Perseverance apontou sua câmera para o céu e registrou Deimos, a menor e mais distante das duas luas de Marte (Imagem: NASA/JPL-Caltech)
Com apenas 16 quilômetros de diâmetro e orbitando a cerca de 20 mil quilômetros da superfície marciana, Deimos se parece com uma estrela brilhante vista da superfície do planeta.
Marte tem duas luas: Fobos e Deimos. Elas receberam seus nomes em homenagem aos filhos do deus da guerra Ares (ou Marte, na mitologia romana). Eles significam medo (Fobos) e pavor (Deimos).
Possíveis destinos para as luas de Marte
Esses pequenos corpos celestes, com formato irregular, ainda guardam vários mistérios. Cientistas querem entender melhor sua origem e seu destino.
Lua e Marte fotografados bem próximos a partir de Córdoba, na Argentina, em 15 de agosto de 2020 (Imagem: Sergio Scauso/APOD NASA)
Estudos indicam que Fobos, a lua mais próxima de Marte, tem se aproximado do planeta. E pode se despedaçar um dia, o que formaria um anel ao redor do equador marciano.
Deimos, por estar mais distante, provavelmente escapará desse destino. Mas o que vai acontecer com ela ainda é incerto.
Imagens como essa, feitas por robôs solitários na superfície de Marte, ajudam os cientistas a montar o quebra-cabeça do planeta vermelho. E entender melhor nosso vizinho silencioso no Sistema Solar.
Toda semana, noPrograma Olhar Espacial, exibimos duas imagens astronômicas que se destacaram na semana que passou. E na última semana, apresentamos um curioso fenômeno astronômico e um belíssimo teste mal sucedido. Confira:
Loop de Marte
[ Créditos: Tunc Tezel ]
A primeira imagem é uma composição de fotos registradas entre setembro de 2024 e maio de 2025 mostrando o movimento aparente de loop realizado pelo planeta Marte no céu. Neste movimento, o planeta parece estar em movimento retrógrado, mas na verdade, essa impressão ocorre pelo fato da Terra estar ultrapassando o Planeta Vermelho em sua órbita. O loop e o período retrógrado ocorrem com todos os planetas com órbitas além da órbita terrestre, mas Marte, por estar mais perto, é o que apresenta o loop mais evidente e bonito, como o visto nessa fantástica imagem.
Já a segunda imagem exibe um turbilhão de plasma formado durante a reentrada da Starship da SpaceX em seu último voo de teste. A imagem mostra um brilhante e caótico fluxo de plasma, resultado do choque da nave espacial com as moléculas da atmosfera terrestre. O Nono Voo de Teste da Starship conseguiu não sofrer uma ‘rápida desmontagem não-programada’ nos primeiros minutos de voo, como ocorreu nos dois últimos testes. Entretanto, muitas coisas deram errado e a espaçonave planejada para levar a humanidade de volta à Lua e até Marte acabou sendo destruída por esse mesmo plasma gerou belas imagens no momento em que tudo deu errado. Original em:https://x.com/SpaceX/status/1925929228232474849
Dando início à “turnê” de junho pelos planetas do Sistema Solar, a Lua começa o mês visitando Marte, em um fenômeno conhecido como conjunção astronômica – quando dois ou mais astros compartilham a mesma ascensão reta (coordenada equivalente à latitude terrestre).
Segundo o guia de observaçãoInTheSky.org, isso aconteceu às 6h48 da manhã (horário de Brasília) deste domingo (1). Naquele momento, a Lua e Marte estavam abaixo da linha do horizonte, ou seja, não apareciam na paisagem celeste. No entanto, esta noite, eles ainda poderão ser vistos muito próximos um do outro.
Configuração do céu no momento da conjunção entre a Lua e Marte neste domingo (1). Crédito: SolarSystemScope
De São Paulo, por exemplo, o par estará visível na direção noroeste do céu entre 18h e 22h30, mais ou menos. A Lua estará em magnitude de -11.4, enquanto a de Marte estará em 1.3, com ambos na constelação de Leão. Quanto mais brilhante um objeto parece, menor é sua magnitude (relação inversa). O Sol, por exemplo, que é o corpo mais brilhante do céu, tem magnitude aparente de -27.
O par não estará próximo o suficiente para caber no campo de visão de um telescópio, mas será visível a olho nu ou através de um par de binóculos.
Mas, como saber qual pontinho brilhante próximo da Lua será Marte? Simples. Pela proximidade com a Terra, o planeta sempre aparece bastante luminoso no céu, e sua cor característica – o vermelho – torna bem fácil identificá-lo.
Desta vez, ele estará posicionado ao sul da Lua. Então, olhe para ela, procure uma bolinha brilhante alaranjada logo abaixo e, pronto – você verá Marte.
A dois dias da fase crescente, a Lua é vista próxima a Marte na noite deste domingo (1), algumas horas após a conjunção entre os dois astros. Crédito: Stellarium web
Depois de Marte, a Lua passa por Saturno (19), Vênus (22), Mercúrio (27), fechando o mês novamente próxima do Planeta Vermelho (29). Essa série de conjunções que o satélite faz mensalmente ocorre porque ele orbita a Terra aproximadamente no mesmo plano em que os planetas orbitam o Sol, chamado plano da eclíptica.
O característico tom avermelhado de Marte sempre chamou atenção, evocando associações com deuses e a operações bélicas. Na mitologia grega, Ares, o deus da guerra, era frequentemente ligado a essa cor. Curiosamente, a estrela mais brilhante da constelação de Escorpião, Antares, ganhou esse nome por sua tonalidade avermelhada, que remete a Ares, significando “Anti-Ares”.
Mais tarde, com o domínio romano na Europa, Ares foi renomeado como Marte, nome que também foi dado ao planeta e permanece em uso até hoje. A tonalidade vermelha marciana é resultado de uma combinação de fatores complexos. E essa interação se dá entre a composição da superfície do planeta, sua atmosfera e fenômenos geológicos. Saiba mais aqui.
Conforme noticiado pelo Olhar Digital, Elon Musk anunciou que a SpaceX planeja pousar os primeiros foguetes Starship em Marte já em 2026. A missão inicial será sem tripulação e tem como objetivo testar o pouso e a entrada na atmosfera do planeta. Esses testes vão fornecer dados importantes para as futuras viagens com astronautas e carga. O plano faz parte de um projeto maior: construir uma cidade habitável no Planeta Vermelho.
Mas será que isso é mesmo possível? Como funciona a colonização de um planeta? Os desafios vão muito além da tecnologia!
O Olhar Digital News recebeu Mírian Pacheco, chefe do Laboratório de Paleobiologia e Astrobiologia da UFSCar. Acompanhe!
O rover Perseverance da NASA tirava sua foto comemorativa de 1500 dias em Marte quando um inesperado redemoinho apareceu ao fundo. Ele estava na área “Witch Hazel Hill”, na borda da cratera Jezero, local que tem explorado nos últimos cinco meses.
O Sol estava alto no horizonte, o que proporcionou uma boa iluminação, permitindo que o vórtice de poeira, a cinco quilômetros de distância, pudesse ser captado pela câmera. A fotografia também permitiu que a equipe de engenharia da missão pudesse conferir a situação da máquina. O grupo analisou o acumulo de poeira e condição dos instrumentos.
Ao fundo, é possível observar um redemoinho de poeira (“dust devil” em inglês) (Imagem: NASA/JPL-Caltech/MSSS)
A nova “selfie” é uma junção de 59 fotos tiradas com a câmera WATSON (Sensor Topográfico de Grande Angular para Operações e Engenharia), localizado na ponta do braço robótico do rover. A imagem mostra o equipamento de sensoriamento remoto da máquina olhando para a câmera.
Há também uma versão com o sensor olhando para baixo, observando o poço de “Bell Island”. Essa variação necessitou de três fotos a mais para ser gerada.
“Para conseguir essa aparência de selfie, cada imagem do WATSON precisa ter seu próprio campo de visão. Isso significa que tivemos que fazer 62 movimentos precisos do braço robótico. O processo todo leva cerca de uma hora, mas vale a pena”, disse Megan Wu, cientista de imagens da missão, em um comunicado.
“Ter o redemoinho de poeira ao fundo a torna um clássico. Esta é uma ótima foto”, comentou Wu. (Imagem: NASA/JPL-Caltech/MSSS)
O desgaste da Perseverance é um sinal de sua longa jornada por Marte. Até o momento da imagem, o rover viajou por mais de 36 quilômetros e coletou 37 rochas e pedregulhos.
“Após 1.500 sóis, podemos estar um pouco empoeirados, mas nossa beleza vai além da superfície. Todos os nossos sistemas e subsistemas estão funcionando perfeitamente, e nossos incríveis instrumentos continuam a fornecer dados que alimentarão descobertas científicas nos próximos anos”, concluiu Art Thompson, gerente de projetos do Perseverance.
Conforme noticiado pelo Olhar Digital, Elon Musk anunciou que a SpaceX planeja pousar os primeiros foguetes Starship em Marte já em 2026. A missão inicial será sem tripulação e tem como objetivo testar o pouso e a entrada na atmosfera do planeta. Esses testes vão fornecer dados importantes para as futuras viagens com astronautas e carga. O plano faz parte de um projeto maior: construir uma cidade habitável no Planeta Vermelho.
A SpaceX pretende iniciar uma presença humana permanente em Marte. Em uma apresentação do projeto na quinta-feira (29), Musk explicou que os primeiros astronautas enviados vão instalar sistemas básicos para a sobrevivência, como geração de energia, áreas de pouso e moradias provisórias. Também vão buscar formas de usar os recursos do próprio planeta, como água e minerais, para reduzir a dependência da Terra.
Elon Musk fala ao público sobre os planos da SpaceX de colonizar Marte e erguer uma cidade no planeta. Crédito: SpaceX/Reprodução X
Segundo o empresário, já existe até um local favorito para estabelecer a primeira colônia humana em Marte: Arcádia Planitia, uma planície vulcânica no hemisfério norte.
Em um comunicado divulgado após a apresentação, a SpaceX diz que a construção de uma cidade autossuficiente exigirá o envio de milhões de toneladas de carga e mais de um milhão de pessoas. Para isso, devem ser realizados lançamentos diários do megafoguete Starship. As viagens devem ser intensificadas durante as janelas de transferência, que ocorrem a cada 26 meses, quando Marte está mais próximo da Terra.
Colonizar Marte pode “salvar a humanidade”, segundo Musk
Embora esteja, em média, a 225 milhões de km do nosso planeta, Marte tem condições que tornam a colonização possível. Apesar do frio, há luz solar suficiente para gerar energia. A atmosfera rarefeita é composta principalmente de gás carbônico, o que pode ser aproveitado para o cultivo de plantas em ambientes controlados, ajudando a produzir alimentos localmente.
Ilustração de parte da cidade que Elon Musk quer construir em Marte. Crédito: Divulgação/SpaceX
Outro ponto favorável é a gravidade, que equivale a cerca de um terço da terrestre. A SpaceX explica que isso facilita o transporte de materiais pesados e a construção de estruturas. Além disso, um dia em Marte tem duração parecida com o da Terra, o que pode tornar a adaptação humana mais simples.
Musk acredita que colonizar Marte é uma forma de garantir o futuro da humanidade. “É importante estabelecer uma base autossustentável em Marte porque ela estará suficientemente distante da Terra para que, no caso de uma guerra, tenha mais chances de sobreviver do que uma base lunar. Se houver uma terceira guerra mundial, queremos garantir que haja uma semente da civilização humana em outro lugar para trazê-la de volta e encurtar a duração das trevas”, disse o empresário em uma entrevista ao jornal The Guardian em 2018.
Nem mesmo as recentes explosões da Starship são capazes de abalar a confiança de Elon Musk no projeto. Em uma apresentação divulgada pela SpaceX, o bilionário revelou que pretende ver o maior foguete do mundo chegando a Marte em 2026.
“A SpaceX está planejando pousar as primeiras Starships em Marte em 2026. Esses primeiros veículos coletarão dados essenciais sobre a entrada e o pouso, servindo como precursores para futuras entregas de tripulação e carga à superfície marciana”, disse a empresa em nota divulgada após a apresentação.
2026 é um ano crucial para isso. O Planeta Vermelho e a Terra se alinham adequadamente para missões interplanetárias apenas uma vez a cada 26 meses. A próxima oportunidade surge em novembro e dezembro de 2026.
Para que isso seja possível, uma nova versão da Starship será lançada. A próxima versão do veículo, conhecida como Versão 3, terá 124,4 m de altura quando totalmente empilhada, disse Musk durante a apresentação. Dessa forma, ela será capaz de chegar a Marte.
O objetivo é começar os testes com essa versão do veículo ainda em 2025. “Pretendemos lançá-la pela primeira vez no final deste ano”, disse Musk. Com o planejamento, ele pretende ter a Starship pronta para Marte em até um ano.
Ilustração de cidade em Marte (Imagem: Divulgação/SpaceX)
Colonização de Marte é o objetivo final
De acordo com Musk, há 50% de chance de a SpaceX conseguir enviar naves para Marte em 2026. As primeiras unidades não levarão humanos, mas robôs humanóides Optimus, da Tesla. “Seria uma imagem épica — ver o Optimus andando pela superfície de Marte”, completou Musk.
Após 2026, o próximo passo consiste em enviar 20 Starships para o Planeta Vermelho. Nessa etapa, a expectativa é que já haja humanos a bordo. O cronograma prevê que elas serão enviadas entre 2028 e 2029.
“Supondo que as primeiras missões sejam bem-sucedidas e pousem com sucesso, enviaremos humanos na próxima missão e realmente começaremos a construir a infraestrutura em Marte”, disse Musk.
Já existe até um local favorito para estabelecer a primeira colônia humana em Marte: Arcádia Planitia, uma planície vulcânica no hemisfério norte do Planeta Vermelho.
“Os primeiros exploradores humanos a visitar Marte estabelecerão as bases para uma presença permanente na superfície. Os objetivos da missão incluirão o levantamento de recursos locais, a preparação de superfícies de pouso, a instalação de geração de energia e a construção de habitats”, afirmou a SpaceX.
Os planos são ainda mais ousados para o futuro. Na terceira janela, entre 2030 e 2031, o objetivo é lançar 100 Starships para Marte. Já em 2033, outras 500 devem pousar no Planeta Vermelho.
Ilustração dos robôs Optimus, da Tesla, em Marte (Imagem: Divulgação/SpaceX)
Desafios da SpaceX
A Starship fez nove lançamentos até hoje, sendo o primeiro deles em 2023. Os três últimos, todos realizados este ano, resultaram em explosões. Será que a SpaceX estará pronta para uma estratégia tão ousada já no próximo ano? Apesar do otimismo, Musk reconhece a preocupação.
O bilionário afirma que cada lançamento é um novo aprendizado, que aproxima a empresa de seu objetivo. “Com cada lançamento — especialmente nos primeiros dias da Starship —, aprendemos mais e mais sobre o que é necessário para tornar a vida multiplanetária e melhorar a Starship a ponto de ela poder levar, no final das contas, centenas de milhares, se não milhões, de pessoas a Marte”.
Lançamento do nono voo de teste do megafoguete Starship, da SpaceX, em 27 de maio de 2025. Crédito: SpaceX
Isso não significa que as coisas estão fáceis. Além dos desafios atuais enfrentados pelo maior foguete do mundo, a SpaceX ainda vai precisar de um sistema de abastecimento no espaço para chegar a Marte. A Versão 3 terá a capacidade de ser abastecida em órbita, mas nem essa versão, nem o sistema foram testados ainda.
Os planos, definitivamente, são ousados, e a pressão sobre a SpaceX será grande nos próximos anos, já que a missão Artemis 3, da NASA, prevista para 2027, usará uma Starship como módulo de pouso para levar o homem à Lua. Se a empresa estará pronta para tudo isso em tão pouco tempo, só o futuro dirá.
Novas observações da missão Mars Express da Agência Espacial Europeia (ESA) revelaram imagens da peculiar cratera marciana Deuteronilus Cavus. Essa estrutura geológica se formou entre 4,1 e 3,7 bilhões de anos atrás e sua complexidade é um reflexo dos processos que formaram o Planeta Vermelho.
A cratera tem 120 quilômetros de diâmetro e é preenchida por uma mistura de formações rochosas, canais, planícies e mesas — blocos de pedra que resistiram a erosão. Segundo evidências ao redor do local, a depressão se originou por ação vulcânica.
No decorrer do tempo, essa estrutura passou por uma ampliação de seu tamanho devido à ação da água líquida e do gelo. Se comparada às medidas da época de seu surgimento, ela quase dobrou. As evidências para a presença de fluxos de águas estão na borda, onde há sinais de erosão deixados pela passagem do líquido.
Na região da cratera há evidências da presença de canais de água no passado. (Imagem: ESA/DLR/FU Berlin)
A transição entre a beira e o fundo de Deuteronilus Cavus apresenta formações lisas. “Os fluxos arredondados e de topo suave vistos estendendo-se da base da parede da cratera são ‘aventais de detritos’: remanescentes de geleiras cobertas de rocha que provavelmente se formaram quando o clima marciano permitiu que o gelo se acumulasse nas latitudes médias de Marte”, escreveu a agência em um comunicado.
Marcas escuras em Marte
Para além da borda, as rochas são rugosas, o terreno é liso e tem cristas sutis. Essas marcas são evidências de atividade vulcânica e podem indicar o caminho por onde a lava fluiu e depois resfriou, segundo o site IFLScience.
A maior evidência de vulcanismo é a presença de marcas escuras na maior parte do fundo de Deuteronilus Cavus. A análise espectral feita pela equipe da ESA revelou que elas são compostas por cinzas vulcânicas e argila. Esta ultima sugere a existência de um acúmulo de água no local em um passado distante.
Manchas escuras são uma mistura de cinzas com argila. (Imagem: ESA/DLR/FU Berlin)
A riqueza geológica da cratera poderá servir como um laboratório natural para cientistas que desejam estudar os processos que moldaram o Planeta Vermelho. “A depressão rica em características, Deuteronilus Cavus, nos permite explorar uma série de processos geológicos ao longo da complexa história de Marte”, concluiu a ESA.
Pela primeira vez, cientistas conseguiram observar diretamente um processo que ajuda a explicar por que Marte perdeu sua atmosfera. Os resultados do estudo foram publicados na quarta-feira (28) na revista Science Advances. Segundo os pesquisadores, esse mecanismo chamado “pulverização catódica” pode ter sido decisivo para o planeta perder o ar e a água ao longo do tempo.
Liderada pela cientista planetária Shannon Curry, da Universidade do Colorado, nos EUA, a equipe analisou dados coletados durante nove anos pela sonda MAVEN, da NASA, que orbita Marte desde 2014. Eles procuravam por sinais claros da pulverização atmosférica, um fenômeno que até então era apenas teórico.
Esse tipo de pulverização acontece quando partículas carregadas do vento solar, como íons, são aceleradas em direção à atmosfera de Marte. Como o planeta não possui um campo magnético forte como o da Terra, essas partículas atingem diretamente os gases atmosféricos, fazendo com que átomos e moléculas sejam lançados para o espaço.
É como se o Sol “bombardeasse” Marte com energia, arrancando pedaços da sua atmosfera. Quando isso ocorre, alguns átomos ganham energia suficiente para escapar da gravidade do planeta, sendo expulsos para o espaço. Com o tempo, esse processo contribui para o enfraquecimento da atmosfera.
Processo deixou Marte seco, frio e com atmosfera rarefeita
Detectar esse fenômeno não é fácil. É preciso observar ao mesmo tempo o campo elétrico do vento solar, a presença de íons e os átomos neutros sendo lançados. A MAVEN é a única espaçonave com os instrumentos certos e a órbita adequada para fazer essas medições simultâneas, tanto no lado claro quanto no lado escuro de Marte.
Sol “bombardeia” Marte com energia, arrancando pedaços da sua atmosfera. Crédito: ESA / DLR / FUBerlin / AndreaLuck, CC BY 3.0
A equipe focou na análise do gás argônio, usado como marcador do processo. Eles descobriram que, em altitudes acima de 350 km, a quantidade de argônio muda de acordo com a orientação do campo elétrico solar. Isso indica que os isótopos mais leves estão sendo expelidos, deixando os mais pesados para trás.
Esses dados foram reforçados por observações feitas durante uma tempestade solar em 2016, quando o efeito da pulverização se intensificou. Os cientistas concluíram que o processo é mais ativo do que se imaginava e pode ter sido um dos principais motivos para Marte ter se tornado um planeta seco, frio e com atmosfera rarefeita.
Todas as sextas-feiras, ao vivo, a partir das 21h (pelo horário de Brasília), vai ao ar o Programa Olhar Espacial, no canal do Olhar Digital no YouTube. O episódio da última sexta-feira (23) (que você confere aqui) repercutiu e comentou os possíveis desafios e evoluções pelos quais a espécie humana passaria para poder conquistar Marte.
A professora e astrobióloga Mírian Forancelli Pacheco explicou durante o programa as adaptações que o Homo sapiens teria de passar para poder viver no Planeta Vermelho. Pacheco é mestre em Arqueologia, doutora em Geociências e pós-doutora em Física Nuclear pela Universidade de São Paulo (USP). Desde 2013, é docente na Universidade de São Carlos (UFSCar) em Sorocaba e Chefe do Laboratório de Paleobiologia e Astrobiologia na mesma instituição.
Durante a entrevista, o astrônomo e apresentador Marcelo Zurita conversou a professora sobre como a humanidade poderia colonizar o território marciano e qual o futuro da espécie em outro astro. “A conquista de Marte — um sonho que tem impulsionado a humanidade por décadas — está cada vez mais próxima de se tornar realidade”, disse Zurita.
Mírian Pacheco é professora de Paleontologia da Universidade Federal de São Carlos Campus Sorocaba. (Imagem: Olhar Digital)
Como conquistar Marte?
No estágio atual, a humanidade terá de desenvolver uma forma mais viável e econômica de chegar a Marte, segundo a professora. Pacheco defende que os seres humanos deveriam começar por bases lunares, pois gastariam menos combustível saindo da Lua do que da Terra. A velocidade de escape no satélite terrestre é menor, o que facilitaria o lançamento dos foguetes.
Ao se chegar no Planeta Vermelho, os raios ultravioleta (UV) e a atmosfera rarefeita seriam os primeiros desafios. No passado, Marte perdeu seu campo magnético e tem menos proteção à radiação UV – que é danosa aos seres humanos, podendo causar mutações e consequentemente doenças como o câncer.
“Teríamos que fazer postos semipermanentes para que os seres humanos pudessem se estabelecer. Essas bases teriam de ter ar respirável no interior e proteção contra radiação UV”, explicou Pacheco.
A alimentação viria logo em seguida. O Planeta Vermelho está distante do Sol, recebendo apenas 44% da energia solar que a Terra recebe, segundo a pesquisadora. O solo também é impróprio, o que leva a duas alternativas: a aquaponia – sistema de plantação que integra peixes e plantas numa estrutura aquática – ou a desintoxicação do regolito marciano.
“A gente precisa transformar o solo marciano em algo mais parecido com o da Terra. A terraformação a longo prazo seria uma possibilidade real”, comentou a professora
Pacheco vê o processo de terraformação – a alteração de propriedades como a atmosfera, temperatura, topografia e ecologia, do Planeta Vermelho para adaptá-lo aos seres humanos – como algo possível. Porém, ela explica que a tecnologia necessária é algo para gerações futuras, não sendo realizável nas próximas décadas ou séculos.
Representação artística de uma futura colônia humana em Marte. (Imagem: e71lena / Shutterstock)
Espécie humana sofreria adaptações?
Alguns cientistas acreditam que a humanidade poderia se adaptar e evoluir em Marte. O Olhar Digital noticiou a entrevista de Scott Solomon, professor de biociências na Universidade Rice, nos EUA, em que ele apresenta o Homo martianus: uma possível evolução do H. sapiens para o ambiente marciano.
Durante o Olhar Espacial, Pacheco e Zurita comentaram sobre a nova hipótese. A professora explicou que Solomon considera uma evolução rápida para o grupo de humanos que chegaria em Marte. As adaptações ocorreriam em algumas centenas de anos. “Uma população pequena com a seleção natural agindo pode sofrer transformações muito rápidas”, comentou a astrobióloga.
Pacheco disse que a densidade óssea aumentaria, pois os seres humanos precisariam ser mais resistentes. “A nossa densidade óssea tenderia a evoluir para densidades maiores, por conta da relação com a gravidade e da gestação humana. Precisaríamos de uma pélvis mais resistente para o trabalho de parto”, comentou a professora.
A cor de pele dos seres humanos também se alteraria. A cientista defende que haveria um aumento da produção de eumelanina, o pigmento que causa o escurecimento da pele e protege o material genético humano dos raios UV.
Se o caso for extremo, um novo pigmento apareceria. “De acordo com Solomon, poderia surgir por mutação um novo tipo de pigmento que seria mais eficiente em proteger nosso material genético dos raios UV. A nossa cor poderia ser outra”, disse Pacheco.
E se o ser humano evoluir em Marte? Como serão nossos parentes extraterrestres? Crédito: Flavia Correia via DALL-E/Olhar Digital
A professora criticou a falta de consideração da tecnologia como influência na evolução em Marte proposta por Solomon. Os postos marcianos poderiam atenuar as condições ambientais e o processo evolutivo ocorreria de forma diferente. “Nossa evolução está entrelaçada com a tecnologia”, defendeu Pacheco.
Ao desconsiderar fatores como sociedade e tecnologia, o professor norte-americano deixou de lado aspectos fundamentais da evolução, segundo a astrobióloga. Ela explicou que o desenvolvimento tecnológico é também uma forma de evolução.
“No caso da nossa espécie, temos coevoluido muito com a tecnologia. Se pensarmos bem profundamente, ela não deixa de ser biológica porque é produzida pelo ser humano. Assim como os castores constroem barragens, a tecnologia é um produto da nossa espécie”, disse Pacheco.
A professora definiu o conceito de Solomon como um pensamento arrojado e otimista, mas que as bases cientificas ainda precisam de testes na espécie humana, um dilema ético a ser debatido. Mesmo assim, Pacheco afirmou que não deixa de sonhar com a conquista de Marte e os desdobramentos sociais e científicos que a realização desse sonho podem trazer para a humanidade.