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Descubra por que a letra do médico é um mistério científico

Você já se perguntou por que tantas receitas médicas parecem escritas em outro idioma? A resposta vai além da correria do consultório. Neurociência, anatomia, aprendizado motor e até influências culturais estão por trás da caligrafia indecifrável de muitos profissionais da saúde. Entender isso pode revelar muito sobre como o cérebro humano transforma pensamento em traço no papel.

Escrever à mão é uma das tarefas mais complexas que nosso corpo realiza. Ela exige que o cérebro coordene, em tempo real, os olhos, os músculos das mãos e os movimentos finos dos dedos. Tudo isso enquanto organizamos o pensamento em palavras. Fatores como lateralidade (ser destro ou canhoto), postura e até a firmeza da pegada influenciam no resultado final da letra. E sim, isso varia de pessoa para pessoa.

No caso dos médicos, o cenário é ainda mais desafiador. A rotina intensa, o grande volume de pacientes e a necessidade de escrever rápido favorecem a adoção de garranchos e abreviações. Com o tempo, essa escrita apressada vira hábito. Não por acaso, leis em estados brasileiros já exigem que receitas sejam digitadas ou escritas de forma legível, numa tentativa de evitar erros e mal-entendidos na hora de interpretar indicações de remédios.

Entre o cérebro e o papel: por que nem todo mundo escreve bem?

É o que destaca recente matéria da BBC – estudos em neurociência mostram que a escrita à mão envolve regiões cerebrais ligadas à memória motora, à linguagem e à percepção visual. Pequenas variações anatômicas e diferenças no desenvolvimento dessas áreas podem impactar diretamente a caligrafia. Ou seja: sua letra pode ser difícil de ler não porque você “escreve mal”, mas porque seu cérebro organiza os movimentos de forma única.

A caligrafia dos médicos muitas vezes vem da pressão e da rapidez exigidas pela rotina intensa (Imagem: Inside Creative House/Shutterstock)

Além disso, a forma como aprendemos a escrever também conta. A infância é um período-chave, quando imitamos adultos e professores, e cada estilo de ensino influencia o resultado. Em muitos países, inclusive no Brasil, o ensino da caligrafia perdeu espaço para o uso de teclados e telas, o que significa menos tempo de prática e mais dificuldade de desenvolver uma escrita consistente.

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Outro ponto curioso é que a caligrafia também carrega marcas culturais. Em países asiáticos, por exemplo, onde a escrita exige mais precisão visual e gestual, o treino é mais rigoroso e prolongado. Já em países ocidentais, o foco no conteúdo muitas vezes supera a forma. O resultado? Letras menos padronizadas e, em muitos casos, mais difíceis de decifrar.

Letra feia, cérebro afiado

Apesar da fama, a caligrafia não diz muito sobre a capacidade intelectual de alguém. Médicos com letras difíceis de ler são prova disso. O que parece desleixo, muitas vezes, é resultado de um cérebro trabalhando rápido demais para as mãos acompanharem.

Letra de médico.
Letra difícil não indica falta de inteligência; muitas vezes, é um cérebro rápido demais para a mão acompanhar (Imagem: TippaPatt/Shutterstock)

O avanço da tecnologia e a digitalização de prontuários tendem a reduzir os riscos causados por letras ilegíveis, mas a escrita manual ainda é um traço importante da nossa individualidade. Ela carrega história, contexto e até emoção.

No fim das contas, entender por que escrevemos como escrevemos é mais do que uma curiosidade. Trata-se de uma forma de olhar para os caminhos únicos que cada mente percorre entre o pensamento e a palavra escrita.

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Fazer cócegas em si mesmo é impossível (e a ciência explica)

Você já se perguntou por que não conseguimos fazer cócegas em nós mesmos? Por mais sensível que você seja, seu cérebro simplesmente ignora o que ele mesmo está prestes a provocar. A ciência descobriu que o motivo para isso está menos nas suas terminações nervosas e mais numa habilidade surpreendente do cérebro: a capacidade de prever o futuro.

Tudo começa com uma manobra do seu próprio cérebro. Antes mesmo de você encostar o dedo na pele, o sistema nervoso já “sabe” o que está por vir. Isso porque, ao comandar um movimento, o cérebro envia uma espécie de cópia antecipada desse comando para outras áreas responsáveis pelos sentidos.

Quando o cérebro falha em prever, até o toque próprio pode surpreender (Imagem: earthphotostock/Shutterstock)

Essa habilidade do cérebro de prever os próprios movimentos pode parecer banal, mas é uma estratégia poderosa: ela ajuda a filtrar o que não representa risco e a focar no que pode ser uma ameaça real. Afinal, não faz sentido gastar energia processando o toque da sua própria mão. Mas e quando esse sistema falha?

Quando o cérebro se engana

  • O sistema de previsão sensorial do cérebro é tão eficiente que, na maioria das vezes, a gente nem percebe que ele está funcionando;
  • Pessoas com certas condições neurológicas, como a esquizofrenia, por exemplo, podem sentir cócegas ao se tocarem. O cérebro delas tem dificuldade para distinguir ações próprias de estímulos externos;
  • Segundo neurocientistas ouvidos pelo Live Science em um artigo recente, isso acontece porque o “relógio interno” que antecipa essas sensações pode estar desregulado;
  • O cérebro não consegue prever o toque de forma precisa, e o resultado é que ele reage como se o estímulo viesse de fora. Para essas pessoas, até um movimento feito por elas mesmas pode parecer inesperado — e, portanto, gerar aquela reação típica de cócegas.

Essas descobertas abrem caminhos importantes para compreender melhor doenças mentais e distúrbios de percepção, mostrando que nossas sensações não dependem apenas do corpo, mas, principalmente, da forma como o cérebro interpreta o mundo ao nosso redor.

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Cérebro interpreta o toque e reduz a resposta aos estímulos próprios (Imagem: Master1305/Shutterstock)

Cócegas em si mesmo? Difícil!

A incapacidade de se fazer cócegas pode parecer apenas uma peculiaridade engraçada, mas revela um princípio mais profundo: sentir é, antes de tudo, um ato de interpretação. Não há neutralidade na percepção, tudo passa pelo crivo cerebral.

Esse processo, mapeado por pesquisadores com técnicas, como magnetoencefalografia, mostra que o cérebro reage com menos intensidade a estímulos que ele mesmo gerou. O toque só vira cócega quando foge do script.

No fim, o que nos faz rir não é o toque em si — é o fato de ele nos pegar de surpresa.

Mulher e criança fazendo cócegas uma na outra
Ato de “previsão” do cérebro ajuda a entender não só as cócegas (Imagem: fizkes/Shutterstock)

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Como um experimento ambicioso dividiu a comunidade científica sobre nossa consciência

A busca por entender a consciência humana tem gerado mais teorias do que respostas claras no campo da neurociência. “Na área da consciência, já existem tantas teorias que não precisamos de mais“, afirma Oscar Ferrante, neurocientista da Universidade de Birmingham (Inglaterra), ao The New York Times. Uma pesquisa de 2021 identificou 29 teorias diferentes sobre o tema.

Projeto que buscou a pacificação

Em 2018, um grupo ambicioso de cientistas liderado por Lucia Melloni, do Instituto Max Planck para Estética Empírica, decidiu adotar abordagem inovadora. “Não somos incentivados a abandonar nossas próprias ideias“, reconheceu Melloni, que reuniu 41 cientistas para formar o Consórcio Cogitate.

A proposta era revolucionária: uma “colaboração adversarial“, onde defensores de teorias rivais trabalhariam com pesquisadores neutros para testar suas hipóteses simultaneamente. O consórcio selecionou duas principais teorias para o confronto:

  • Teoria do Espaço Neuronal Global: Desenvolvida por Stanislas Dehaene, defende que a consciência surge quando regiões frontais do cérebro transmitem informações sensoriais para todo o órgão;
  • Teoria da Informação Integrada: Criada por Giulio Tononi, propõe que a consciência resulta do processamento complexo de informações em diferentes compartimentos cerebrais que se integram para formar uma experiência unificada.
Cérebro humano ainda tem grandes mistérios a serem desvendados (Imagem: SOLDATOOFF/Shutterstock)

Experimento ambicioso

Durante dois anos, os pesquisadores planejaram meticulosamente o experimento. A partir de 2020, examinaram 267 voluntários em oito laboratórios distribuídos por Estados Unidos, Europa e China.

Os participantes jogaram videogames projetados para medir sua percepção consciente. Em um deles, deveriam capturar discos coloridos em movimento e indicar quando notavam um rosto desfocado atravessando a tela. Para garantir resultados abrangentes, utilizaram três técnicas diferentes:

  • Eletrodos inseridos temporariamente no cérebro de pacientes com epilepsia;
  • Ressonância magnética funcional (fMRI, na sigla em inglês) para medir o fluxo sanguíneo cerebral;
  • Magnetoencefalografia para registrar campos magnéticos do cérebro.

Resultados e controvérsia

Em 2022, a análise dos dados revelou que ambas as teorias fizeram algumas previsões corretas sobre o funcionamento cerebral durante experiências conscientes, mas, também, apresentaram falhas significativas. “Ambas as teorias estão incompletas“, concluiu Ferrante.

Quando Lucia Melloni apresentou os resultados em conferência em Nova York (EUA) em junho de 2023, a reação foi explosiva. O artigo do consórcio, submetido à Nature, recebeu duras críticas de revisores.

Hakwan Lau, neurocientista da Universidade Sungkyunkwan (Coreia do Sul) e defensor de sua própria teoria da consciência, liderou as críticas. Ele questionou, publicamente, se o projeto, realmente, testava as teorias adequadamente e ajudou a redigir uma carta aberta criticando tanto o experimento quanto a Teoria da Informação Integrada.

O grupo “IIT-Concerned“, com 124 especialistas signatários, classificou a Teoria da Informação Integrada como pseudociência, argumentando que suas implicações (como a possibilidade de plantas terem algum nível de consciência) são absurdas.

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Impacto na comunidade científica

A publicação da carta, em setembro de 2023, desencadeou intenso debate nas redes sociais e revistas científicas. Tononi e seus colegas responderam duramente, afirmando que a carta dos críticos “tinha muito fervor e poucos fatos“.

Quando o artigo do Consórcio Cogitate foi finalmente publicado na Nature, continuou dividindo opiniões. Anil Seth, neurocientista da Universidade de Sussex (Inglaterra), elogiou a escala do estudo e suas descobertas sobre as deficiências de cada teoria: “É um trabalho tremendo.”

Por outro lado, os críticos mantiveram sua posição. Joel Snyder, psicólogo da Universidade de Nevada (EUA), afirmou que o experimento não era um teste preciso de nenhuma das teorias, pois suas previsões poderiam ser geradas também por outras teorias.

Futuro da pesquisa sobre a consciência

Apesar das controvérsias, Seth ainda vê valor em confrontar teorias, mesmo que isso não leve os cientistas a abandonarem suas próprias ideias. “O melhor que podemos esperar de uma colaboração adversarial bem-sucedida é que outras pessoas possam mudar de opinião.”

Ilustração digital de de inteligência artificial em forma de um cérebro humano estilizado com circuitos eletrônicos brilhando em azul, flutuando em um ambiente surreal de grades quânticas e partículas entrelaçadas
Experimento ambicioso estudou pessoas por dois anos (Imagem: Pedro Spadoni via DALL-E/Olhar Digital)

O estudo talvez não tenha reduzido a lista de teorias da consciência, mas, certamente, demonstrou que, quando se trata de entender como surge nossa experiência subjetiva do mundo, o debate científico pode ser tão complexo quanto o próprio fenômeno estudado.

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Você sabe por que sentimos cócegas? Veja o que diz a ciência

Por que quando sentimos cócegas temos aquela sensação misteriosa que nos faz contorcer e gargalhar, mesmo quando não há nada engraçado acontecendo? É como se nosso corpo tivesse um botão secreto de “risada automática”, ativado por toques inesperados. Seria nosso corpo nos pregando peças? Ou será que existe explicações científicas por trás dessa reação peculiar? 

As cócegas são uma sensação intrigante e complexa, com nuances que vão além da simples reação física. A ciência ainda não desvendou completamente todos os seus mistérios, mas algumas teorias se destacam.

As cócegas são uma resposta fisiológica e neurológica complexa que envolve interações entre o sistema nervoso, a pele e o cérebro. A sensação de cócegas é geralmente dividida em dois tipos: knismesis e gargalesis.

  • Knismesis: é uma sensação leve, semelhante a um formigamento, que pode ser causada por um toque suave, como o de uma pena ou um inseto caminhando sobre a pele. Esse tipo de cócega geralmente não provoca risos, mas pode causar uma sensação de desconforto ou coceira.
  • Gargalesis: é uma sensação mais intensa, que provoca risos e é causada por um toque mais firme e repetitivo, como quando alguém faz cócegas em outra pessoa. Esse tipo de cócega está mais associado ao riso e à interação social.

Por que nós sentimos cócegas?

A sensação de cócegas está relacionada à ativação de receptores sensoriais na pele, que enviam sinais ao cérebro através do sistema nervoso.

Quando a pele é tocada de forma leve ou repetitiva, os receptores sensoriais, especialmente os relacionados ao tato e à pressão, são ativados. Esses sinais são processados em áreas do cérebro como o córtex somatossensorial (que interpreta o toque) e o córtex cingulado anterior (que está associado à sensação de prazer ou desconforto).

O riso que acompanha as cócegas, especialmente no caso da gargalesis, está ligado à ativação do hipotálamo, uma região do cérebro envolvida em respostas emocionais e comportamentais. O hipotálamo está conectado ao sistema límbico, que regula emoções, e ao sistema de recompensa, o que pode explicar por que as cócegas podem ser tanto prazerosas quanto desconfortáveis.

Cócegas nos pés são causadas por um toque leve ou fricção que irrita as inúmeras terminações nervosas da região (Imagem: Oleksii Synelnykov / Shutterstock)

Acredita-se que a imprevisibilidade do toque seja um fator crucial para a sensação de cócegas. Quando tocamos a nós mesmos, o cérebro antecipa a sensação e a reação é minimizada.

Um estudo francês descobriu que a esquizofrenia pode afetar a capacidade do cérebro de diferenciar entre sensações autoproduzidas e externas, fazendo com que as pessoas com a doença sintam cócegas em si mesmas.

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Há várias teorias sobre a função evolutiva das cócegas:

  • Proteção: a sensibilidade ao toque leve (knismesis) pode ter evoluído como um mecanismo de proteção contra insetos ou parasitas que caminham sobre a pele. A sensação de cócegas alertaria o indivíduo para a presença de um potencial perigo, como um inseto venenoso ou um parasita.
  • Desenvolvimento social e vínculos: as cócegas que provocam riso (gargalesis) podem ter um papel importante no desenvolvimento social e na formação de vínculos, especialmente entre pais e filhos ou entre indivíduos de um grupo. O riso é uma forma de comunicação não verbal que fortalece os laços sociais e promove a coesão do grupo.
  • Treino de defesa: alguns pesquisadores sugerem que as cócegas podem ser uma forma de “treino” para situações de luta ou fuga. A sensibilidade a toques em áreas vulneráveis do corpo, como as axilas ou a barriga, pode ajudar a desenvolver reflexos de proteção.
Os animais sentem cócegas?

Sim, muitos animais sentem cócegas, especialmente mamíferos sociais como primatas e ratos. Estudos mostram que ratos emitem sons ultrassônicos (semelhantes ao riso humano) quando recebem cócegas, e primatas, como chimpanzés, também riem durante interações de cócegas. Isso sugere que as cócegas têm uma função social e evolutiva em várias espécies.Por que sentimos cócegas e os animais também sentem, imagem mostra mão fazendo cócegas em cachorro

Você sabia que a sensibilidade a cócegas varia de pessoa para pessoa e podem ser influenciadas por fatores psicológicos, como humor e ansiedade? A ciência ainda está estudando as cócegas, e nem tudo foi descoberto.

Para saber mais sobre o assunto, estudos como “The mystery of ticklish laughter”, “Laughing rats and the evolutionary antecedents of human joy?” e  “Why can’t you tickle yourself?” são alguns exemplos interessantes. Se você tiver acesso a bibliotecas universitárias ou plataformas como PubMed, Springer, ou JSTOR, poderá encontrar esses e outros trabalhos para leitura detalhada.

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