Há um ano, cientistas alertaram sobre um grande evento de branqueamento de corais ao redor da Terra. Mas o fenômeno, descrito como “sem precedentes” em um novo comunicado, parece ser mais sério do que imaginávamos: já atingiu 84% dos recifes do mundo e, nesse ritmo, pode trazer consequências desastrosas.
Entenda:
Um evento de branqueamento “sem precedentes” está afetando os corais ao redor da Terra;
O relatório mais recente estima que 84% dos recifes já foram atingidos;
O branqueamento acontece quando os corais enfrentam fatores ambientais estressantes – como o excesso de calor da queima de combustíveis fósseis;
Os recifes expelem algas responsáveis por dar cor e produzir energia, e, além de ficarem brancos, também são expostos à doenças e correm risco de morte;
Além de benefícios à vida marinha, os recifes de corais são aliados dos seres humanos, fornecendo alimentos, empregos e proteção.
Branqueamento de corais é o mais grave já registrado. (Imagem: Ethan Daniels/Shutterstock)
A Iniciativa Internacional para os Recifes de Coral (ICRI), que publicou a declaração na quarta-feira (23), explica que os eventos de branqueamento são provocados, principalmente, por altas temperaturas no mar – tendo em vista que 90% do excesso de calor liberado na queima de combustíveis fósseis é armazenado pelos oceanos.
O fenômeno de branqueamento acontece quando os corais são expostos a fatores ambientais estressantes – neste caso, o calor extremo.
Diante dessas situações, os recifes expelem algas que fornecem cor e produzem energia, e, além de ficarem brancos, também são expostos a doenças e podem acabar morrendo.
Além de sustentarem cerca de um terço de toda a vida marinha, os recifes de corais também trazem benefícios aos seres humanos que, como apontam pesquisadores, equivalem a US$ 10 trilhões e vão desde alimentos a empregos e proteção.
Calor gerado pela queima de combustíveis fósseis é principal causa do branqueamento de corais. (Imagem: Lane V. Erickson/Shutterstock)
Branqueamento de corais já aconteceu outras vezes
Ainda que este seja o mais preocupante, outros casos de branqueamento dos corais já aconteceram ao longo da história. O primeiro deles foi registrado no início da década de 1980, e outros dois se passaram por volta de 2010 e 2016.
“Os recifes de corais são o sinal da humanidade para muito mais do que apenas as mudanças climáticas. O que escolhermos fazer para salvá-los, tanto das mudanças climáticas quanto do consumo excessivo em nossas economias, determinará seu futuro e afetará toda a vida na Terra e a qualidade de vida de todos até o final deste século e além”, destaca David Obura, fundador da CORDIO East Africa, no comunicado da ICRI.
Embora invisíveis a olho nu, os vórtices aquáticos estão entre os fenômenos mais fascinantes e poderosos dos oceanos.
Esses gigantescos redemoinhos de água têm características matemáticas similares às dos buracos negros do espaço, pois formam estruturas tão densas e fechadas que tudo o que entra dificilmente consegue sair.
Assim como seus equivalentes cósmicos, os vórtices aquáticos giram em torno de um centro, isolando e transportando tudo o que está dentro deles por longas distâncias.
Os vórtices aquáticos, também conhecidos em inglês como “Eddies”, são fundamentais para a dinâmica oceânica. Eles afetam desde o transporte de nutrientes e carbono até a formação de ondas de calor e frio marinhas em diferentes profundidades.
Além disso, têm ganhado destaque na climatologia por influenciar diretamente os ciclos biogeoquímicos e as variações extremas de temperatura nos oceanos.
O que são vórtices aquáticos?
Os vórtices aquáticos são massas circulares de água que se desprendem das grandes correntes oceânicas e passam a girar de forma independente.
Imagem com elementos fornecidos pela NASA sobre vórtices aquáticos no Oceano Antártico. (Imagem por: Emre Akkoyun / Shutterstock)
Eles podem variar de poucos quilômetros até mais de 100 km de diâmetro e durar desde algumas semanas até dois anos. Durante esse tempo, mantêm uma borda bem definida que impede que a água externa entre e que a interna escape, formando um microcosmo marítimo com características químicas e térmicas próprias.
No interior desses vórtices, a água é relativamente estável, o que permite a proliferação de microorganismos como fitoplâncton e bactérias.
Esses organismos viajam com o vórtice, levando consigo nutrientes, lipídios, carbono orgânico e até poluentes como óleo ou lixo. Por isso, os vórtices também são chamados de “táxis aquáticos” ou “food trucks do oceano”, por transportarem energia e matéria de regiões produtivas para zonas pobres em nutrientes.
Como funcionam os vórtices oceânicos?
Os vórtices aquáticos nascem do desprendimento de correntes maiores, como a Corrente do Golfo ou a Corrente de Humboldt. Esse desprendimento pode ser causado por instabilidades dinâmicas nas margens continentais, diferenças de temperatura e salinidade, ou ainda pela ação do vento e da rotação da Terra (efeito Coriolis).
Existem dois tipos principais:
Vórtices anticiclônicos (AEs): giram no sentido horário no hemisfério norte (e anti-horário no sul), geralmente carregando água mais quente e provocando subsidência (afundamento);
Vórtices ciclônicos (CEs): giram no sentido contrário, trazendo águas frias de camadas profundas para a superfície.
Esses movimentos verticais promovem uma mistura de nutrientes e alteram as condições físicas e biológicas da água.
Como foram descobertos?
A primeira representação conhecida de uma corrente oceânica, a Corrente do Golfo, foi feita por Benjamin Franklin em 1769.
Formação de redemoinhos ao largo da costa italiana. Imagens de satélite em cores naturais permitem visualizar com clareza a beleza das estruturas oceânicas quando os sedimentos evidenciam os padrões das correntes marítimas. Elementos desta imagem fornecidos pela NASA. (Imagem por: BEST-BACKGROUNDS / Shutterstock)
No entanto, apenas no século XX cientistas perceberam que essas correntes davam origem a redemoinhos secundários — os vórtices. O avanço das tecnologias espaciais, como satélites altimétricos e boias oceanográficas, permitiu observar milhares desses fenômenos ao redor do globo.
Hoje, com missões como a SWOT (Surface Water and Ocean Topography), é possível detectar vórtices com menos de 10 km de diâmetro e acompanhar seu deslocamento em tempo real.
Por que os vórtices aquáticos são comparados aos buracos negros?
A analogia entre vórtices aquáticos e buracos negros surgiu quando matemáticos descobriram que, em termos de comportamento de fluxo, os dois sistemas são semelhantes.
Ambos formam estruturas fechadas com fronteiras bem definidas, onde tudo o que entra tende a ficar preso por um tempo. No caso dos vórtices, essa “prisão” permite o transporte eficiente de água, calor, carbono e organismos por milhares de quilômetros.
Assim como os buracos negros distorcem o espaço ao seu redor, os vórtices distorcem o campo de velocidade da água. Cientistas do Swiss Federal Institute of Technology e da University of Miami identificaram que rastrear um vórtice é tão desafiador quanto localizar um buraco negro: é necessário identificar seus “limites geográficos” para saber onde começa e termina.
A importância ecológica e climática dos vórtices
Vórtices aquáticos exercem influência direta sobre os ecossistemas marinhos e o clima global. Estudos realizados na região de afloramento costeiro na Mauritânia revelaram que esses redemoinhos transportam até 10 mil toneladas de carbono orgânico por ano, além de quase mil tipos diferentes de lipídios.
Imagem com elementos fornecidos pela NASA de Vórtices Aquáticos de Catalina. Ao largo da costa sul da Califórnia, a interação entre os ventos, sistemas meteorológicos e a topografia costeira dá origem a vórtices atmosféricos. (Imagem por: BEST-BACKGROUNDS / Shutterstock)
Muitos desses compostos, como ácidos graxos essenciais, são fundamentais para a cadeia alimentar marinha, já que não podem ser sintetizados por organismos superiores como peixes e zooplâncton.
Além disso, os vórtices estão associados a ondas de calor e frio submarinas (conhecidas como marine heatwaves e cold spells).
Cerca de 50% dessas anomalias extremas abaixo de 100 metros de profundidade ocorrem dentro de vórtices anticiclônicos ou ciclônicos, o que mostra o papel crucial desses redemoinhos na intensificação de eventos térmicos extremos, principalmente em regiões como a Corrente do Brasil, o Golfo do México e o Atlântico Sul.
Há vórtices aquáticos perto do Brasil?
Sim, há registros de vórtices oceânicos associados à Corrente do Brasil e à Confluência Brasil-Malvinas, uma região rica em atividade eddítica no Oceano Atlântico Sul.
Esses fenômenos são monitorados por satélites e boias do projeto PIRATA (Prediction and Research Moored Array in the Tropical Atlantic), que registra variações de temperatura e salinidade.
Embora não sejam tão frequentes quanto em regiões como o Pacífico Norte, sua presença já foi associada a alterações na distribuição de peixes e até no espalhamento de manchas de óleo.
Bilhões de anos atrás, o planeta Terra não era azul. É o que sugere um estudo recente, publicado na Nature Ecology & Evolution. Nele, pesquisadores apontam que os primeiros oceanos do planeta podem ter sido verdes. E isso pode ser útil para a busca de vida alienígena.
Pesquisadores da Universidade de Nagoya, no Japão, usaram simulações químicas para entender como a luz atravessava os mares no período Arqueano, entre 4 e 2,5 bilhões de anos atrás.
Oxigênio produzido por bactérias reagiu com ferro nos oceanos, o que teria deixado suas águas verdes
A vida surgiu ao menos 800 milhões de anos após a formação da Terra, há cerca de 4,5 bilhões de anos. Mesmo sem vida, os oceanos já existiam e recebiam ferro liberado por fontes hidrotermais.
Oceanos recebiam ferro liberado por fontes hidrotermais antes de existir vida na Terra (Imagem: Governo dos EUA)
As primeiras formas de vida fotossintéticas foram as cianobactérias. Elas surgiram por volta de quatro bilhões de anos atrás. Esses microrganismos usavam pigmentos chamados ficobilinas, além da clorofila, para captar a luz solar.
Com a chegada das cianobactérias, começou o Grande Evento de Oxigenação, há cerca de 2,4 bilhões de anos. O oxigênio produzido por elas reagiu com o ferro dos oceanos, o que criou partículas semelhantes à ferrugem.
Reação entre cianobactérias e ferro dos oceanos criou partículas semelhantes à ferrugem, o que teria deixado oceanos verdes (Imagem: Takashi Tsujino/Universidade Nagoya)
Essas partículas absorviam luz azul e vermelha e refletiam luz verde. Por isso, os oceanos da época podem ter tido coloração esverdeada, segundo os pesquisadores envolvidos no estudo.
Liderados por Taro Matsuo, os pesquisadores envolvidos nos estudo em questão concluíram que a luz verde dominava os oceanos primitivos. E que as cianobactérias evoluíram para usar ficobilinas como a ficoeritrina, pigmento capaz de absorver essa luz com eficiência.
Essa adaptação pode ter sido essencial para que esses microrganismos prosperassem.
Pesquisa sobre oceanos pode ajudar busca por vida alienígena, diz cientista que liderou o estudo
Para Matsuo, os apontamentos da sua pesquisa amplia as possibilidades de encontrar vida em outros planetas.
Embora planetas azulados frequentemente indiquem a presença de água, ele sugere que os astrônomos ampliem o espectro de cores na busca por mundos potencialmente habitáveis.
Segundo Matsuo, planetas com oceanos verdes podem ser mais fáceis de detectar com sensores espaciais.
Águas na Ilha Iwo, no Japão, são verdes por serem ricas em ferro (Imagem: Taro Matsuo/Arquivo pessoal)
Águas ricas em ferro, como as da Ilha Iwo, no Japão, são visivelmente mais brilhantes, segundo o pesquisador.
“Isso nos leva a pensar que oceanos verdes podem ser observáveis a distâncias maiores, tornando-os mais fáceis de detectar”, disse Matsuo, em comunicado. Fica a dica, astrônomos.
Já mostramos aqui no Olhar Digital que 70% da superfície da Terra é coberta por água – e quase a totalidade dela fica nos oceanos. Informamos também que o homem visitou e conhece apenas 5% das profundezas dos mares. Trata-se de um número bem pequeno, mas que pode melhorar com uma nova tecnologia da Nasa.
A Agência Espacial americana, em parceria com a CNES (a agência espacial francesa), lançou em 2022 um satélite batizado de SWOT: Surface Water and Ocean Topography. O dispositivo usa dados gravitacionais para revelar características do relevo do nosso planeta.
Antes, os satélites mais antigos usavam pulsos de radar para tentar desenhar esse retrato. Já os navios e outras embarcações utilizavam um sonar.
Nenhuma dessas tecnologias, porém, conseguiu trazer tantos detalhes como essa nova da Nasa. Um estudo científico publicado na revista Science já trazia esse quadro no fim do ano passado. E a agência acaba de divulgar um vídeo que mostra o que podemos chamar de ‘verdadeiro fundo do mar‘.
Montanhas e colinas no abismo
A animação acima traz o recorte de como é o fundo do mar nas costas do México, América do Sul e Península Antártica.
No vídeo, as regiões coloridas em verde são mais altas em relação às regiões coloridas em roxo.
Como já dissemos, os mapas usam dados baseados em gravidade para revelar características que os pesquisadores nunca tinham visto antes.
Por causa de sua massa maior, colinas abissais onduladas e vulcões submarinos, chamados montes submarinos, exercem uma atração gravitacional mais forte do que seus arredores.
Este método permite que o SWOT detecte essas “montanhas” e outras características que eram muito pequenas para satélites mais antigos encontrarem.
Os pesquisadores, por exemplo, agora sabem que essas colinas, formadas onde as placas tectônicas se separam umas das outras, cobrem cerca de 70% do fundo do oceano.
De acordo com os autores do estudo, isso as torna o relevo mais comum do planeta Terra.
Aplicações práticas
Em um nível prático, os mapas podem ajudar submarinos a navegar com mais segurança por terrenos oceânicos antes misteriosos. Os detalhes também devem ajudar no trabalho de instalação e manutenção de cabos de telecomunicações subaquáticos.
A Nasa desenvolve um trabalho de excelência buscando levar o homem para o espaço, mas também continua de olho no nosso próprio planeta – Imagem: bluefish_ds/Shutterstock
Vale destacar que a pesquisa usando dados do SWOT ainda está em andamento – ou seja, devemos esperar por novas descobertas no futuro.
E não somente sobre o relevo marinho. O satélite foi projetado para fazer muito mais do que mapear o fundo dos oceanos. Ele também é capaz, entre outras coisas, de medir a altura da água de rios, lagos e córregos.
O plano é que ele entregue, nos próximos anos, o primeiro levantamento completo sobre a água na superfície da Terra.
Cientistas da Universidade Beihang, na China, desenvolveram um pequeno robô para exploração das profundezas oceânicas. Em um feito inédito, o dispositivo foi testado com sucesso na Fossa das Marianas, a região mais profunda do oceano na Terra, localizada no Pacífico. Durante o experimento, o robô demonstrou a capacidade de nadar, rastejar e planar de forma autônoma a uma profundidade de 10.600 metros.
Além do robô, os pesquisadores também desenvolveram um gripador macio, que pode ser acoplado a um robô rígido. Esse mecanismo foi testado no Mar da China Meridional, onde foi enviado a 3.400 metros de profundidade para coletar pequenos organismos marinhos, como estrelas-do-mar e ouriços, diretamente do leito oceânico.
Ilustração da Fossa das Marianas, o local mais profundo dos oceanos (Imagem: Oliver Denker / Shutterstock.com)
Desafios da exploração das profundezas
Cerca de 70% da superfície terrestre é coberta pelos oceanos, mas apenas uma pequena fração dessas regiões foi explorada.
Isso se deve às condições extremas do fundo do mar, incluindo temperaturas extremamente baixas, escuridão permanente e uma pressão esmagadora.
Com os avanços tecnológicos, esses desafios estão sendo superados.
As atuais embarcações de exploração profunda, que geralmente contam com tripulação humana, podem interferir nos ecossistemas que pretendem estudar.
O novo robô da Universidade Beihang surge como uma alternativa que minimiza esse impacto.
Como funciona o robô subaquático
O diferencial do robô está em sua capacidade de alternar entre diferentes modos de locomoção. Ele conta com barbatanas traseiras para nadar, conjunto de pernas para rastejar e nadadeiras peitorais dobráveis que permitem planar. Esses elementos armazenam energia elástica em altas pressões, facilitando deslocamentos mais rápidos em grandes profundidades.
Quando o robô muda a posição de suas pernas, ele alterna automaticamente entre diferentes tipos de movimento. Esse mecanismo inovador permite que o dispositivo se adapte às condições do ambiente subaquático, promovendo uma exploração mais eficiente.
Coleta em grandes profundezas com uma garra de metamaterial (Imagem: Fei Pan et al. / Science Robotics)
O futuro da exploração marinha
Nos últimos anos, robôs de exploração marinha ajudaram a revelar maravilhas inexploradas do oceano. Em 2024, por exemplo, o Instituto Schmidt para Oceanos registrou uma migração massiva de caranguejos, um verme marinho psicodélico brilhante e possíveis 60 novas espécies nas águas do Chile.
Com os resultados promissores dos testes realizados na Fossa das Marianas e no Mar da China Meridional, os cientistas da Universidade Beihang esperam que essas pequenas máquinas contribuam para ampliar o conhecimento sobre os ambientes de grande profundidade e a vida exótica que habita essas regiões ainda misteriosas.
Um novo relatório sobre a crise climática global foi divulgado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), a agência climática da ONU. O documento traz diversos dados preocupantes. Um deles diz respeito ao aquecimento dos oceanos.
O trabalho aponta que os níveis recordes de gases de efeito estufa elevaram as temperaturas a um recorde histórico em 2024. E que as consequências disso poderão ser sentidas por milênios nos ecossistemas marinhos.
Situação dos oceanos pode ser irreversível
O relatório afirmou que as temperaturas médias anuais ficaram 1,55ºC acima dos níveis pré-industriais no ano passado, superando o recorde anterior de 2023 em 0,1ºC.
Este aumento acelerou drasticamente a perda de geleiras e gelo marinho, elevando o nível do mar e aproximando o mundo do limite de 1,5°C estabelecido pelo Acordo de Paris.
Projeções climáticas também indicam que o aquecimento dos oceanos deve continuar por todo o século XXI, mesmo em cenários de redução nas emissões de carbono.
Além disso, a acidificação das águas deve apresentar um cenário semelhante.
Segundo os cientistas da OMM, os efeitos podem ser irreversíveis em escalas de tempo centenárias a milenares, como é o caso.
Aumento das temperaturas dos oceanos intensificam derretimento de geleiras (Imagem: Lovelypeace/Shutterstock)
O documento destaca que o calor dos oceanos atingiu o nível mais alto já registrado e a taxa de aquecimento está se acelerando, com o aumento das concentrações de CO₂ nas águas também elevando os níveis de acidificação.
Ao mesmo tempo, as geleiras e o gelo marinho continuaram a derreter em um ritmo acelerado, o que, por sua vez, elevou o nível do mar a um novo patamar. De 2015 a 2024, ele aumentou em uma média de 4,7 milímetros por ano, em comparação com 2,1 mm de 1993 a 2002.
Nível do mar continua aumentando (Imagem: Yevhen Prozhyrko/Shutterstock)
O trabalho finaliza alertando que as mudanças citadas podem prejudicar o tipo de circulação geral dos oceanos, afetando o clima em todo o mundo. E faz um apelo para que ações efetivas sejam adotadas para conter a crise climática.
O avanço tecnológico, especialmente com o boom da inteligência artificial, está causando um aumento da demanda global de eletricidade. Este cenário tem gerado temores de que as fontes tradicionais de energia não deem conta do recado.
Mas existe uma alternativa para este problema. Os oceanos, que cobrem mais de 70% da superfície da Terra, oferecem um vasto potencial de energia limpa a partir de recursos renováveis, como correntes oceânicas e ondas.
Novo estudo revelou mais uma importância dos oceanos
O desenvolvimento de energia renovável marinha ainda está em seus estágios iniciais em comparação com a energia eólica e solar.
Um desafio é identificar os locais mais viáveis e economicamente viáveis para projetos de energia das correntes oceânicas.
Embora muitos estudos tenham se concentrado na avaliação dos recursos energéticos das correntes oceânicas regionais, ainda faltava uma avaliação global baseada em dados reais.
Mas isso acaba de mudar a partir de um trabalho de pesquisadores da Florida Atlantic University, dos Estados Unidos.
As descobertas foram descritas em estudo publicado na revista Renewable Energy.
Cientistas identificaram capacidade das correntes oceânicas de gerar eletricidade (Imagem: hirokoro/Shutterstock)
Os pesquisadores exploraram o potencial de captura de energia cinética dos oceanos, com foco na estimativa da densidade de potência e sua variação ao longo do tempo e do local. O PIB inclui cerca de 1.250 boias rastreadas por satélite que medem as correntes oceânicas e suas posições.
Durante o trabalho, a equipe usou mais de 43 milhões de pontos de dados de março de 1988 a setembro de 2021. Os resultados revelam que as águas da costa leste da Flórida e da África do Sul exibiram consistentemente altas densidades de energia, tornando-as ideais para gerar eletricidade a partir das correntes oceânicas.
Águas da costa leste da Flórida e da África do Sul são ideais para gerar eletricidade (Imagem: Satit Sewtiw/Shutterstock)
Especificamente, essas regiões apresentaram densidades de potência acima de 2.500 watts por metro quadrado, um valor 2,5 vezes mais denso em energia do que um “excelente” recurso de energia eólica. As águas relativamente rasas – cerca de 300 metros de profundidade – aumentam ainda mais sua adequação para extrair energia usando turbinas de corrente oceânica. Em contraste, regiões como o Japão e partes da América do Sul não mostraram densidades de potência semelhantes nessas profundidades.
Outra descoberta importante do estudo foi a precisão das estimativas de densidade de potência dos oceanos. Na América do Norte e no Japão, os cálculos foram altamente confiáveis, proporcionando confiança nas previsões do potencial de energia. No entanto, áreas como a África do Sul e partes da América do Sul, particularmente no norte do Brasil e na Guiana Francesa, foram mais difíceis de avaliar devido a dados limitados ou condições de água altamente variáveis.
Pesquisadores estimaram a linha do tempo dos processos que adaptaram os oceanos para a formação da vida. Eles propõem que os mares, antes muito ácidos e quentes, chegaram ao pH certo para hospedar os primeiros organismos cerca de 500 milhões de anos após a formação da Terra.
O termo pH (potencial hidrogeniônico) é uma medida da concentração de íons de hidrogênio em uma solução aquosa. Quando o nível é inferior a 7, o composto é considerado ácido, enquanto graus mais elevados indicam que a solução é alcalina.
A classificação dos oceanos modernos é ligeiramente alcalina, com um pH em torno de 8,1. O dióxido de carbono liberado na atmosfera tem mudado isso, resultando em mares mais ácidos. Ao se elevar o nível de acidez, os oceanos tornam-se incompatíveis com a vida porque dificultam a formação de moléculas orgânicas, explicam os cientistas.
Kit de fitas coloridas usado para medir o pH de uma substância.
(Imagem: Alvy16 / Wikimedia Commons)
Publicada na revista Nature Geoscience, a pesquisa estima que as condições primitivas do planeta geraram oceanos ácidos. Porém, tudo mudou com os processos tectônicos, que alteraram a química dos mares.
Acúmulos de água com pH mais baixo existiam em baías isoladas. Mas, eles tinham pouca conexão com os oceanos globais. “Para compreender a origem da vida, torna-se importante compreender quando e como a Terra começou a acolher um oceano com um pH mais neutro”, disse o primeiro autor do estudo, Meng Guo, ex-aluno da Universidade de Yale e pós-doutorando presidencial na Universidade Tecnológica de Nanyang, em Singapura, em um comunicado.
Os mares eram ácidos e quentes
Guo e o professor Jun Korenaga estimaram o tempo que os processos da história natural terrestre levaram para chegar a um ponto compatível com a vida. Eles modelaram as taxas de intemperismo dos silicatos do fundo do mar, o movimento dos primeiros protocontinentes e a captura do dióxido de carbono da atmosfera.
A partir disso, chegaram ao resultado de que o pH oceânico da época era por volta de 5. Foram necessários 500 milhões de anos para atingir a neutralidade. Os pesquisadores se guiaram por uma série de estudos sobre a Terra antiga publicados pelo grupo de Korenaga.
Microrganismos também estão presentes nos locais mais profundos dos oceanos. (Imagem: Osman Temizel / Shutterstock.com)
“Acho que a principal razão pela qual somos capazes de fazer esta modelagem agora é que a nossa compreensão da tectônica da Terra primitiva melhorou drasticamente nos últimos anos”, disse Korenaga, professor de ciências planetárias e da Terra da Faculdade de Artes e Ciências de Yale
O processo de neutralização se deu por meio do intemperismo e da movimentação das placas tectônicas. Eles propõem que os oceanos eram inicialmente quentes e ricos em magnésio, o que acelerou a intempérie de rochas que produzem compostos alcalinos ou retêm dióxido de carbono, o que diminuiu a acidez.
Uma resposta leva a inéditas perguntas
A pesquisa levanta novas questões. A Terra tem 4,54 bilhões de anos e os relógios moleculares estimam que a vida surgiu há 4,2 bilhões de anos. Esse período é anterior ao que os pesquisadores constataram como ideal pelo pH dos oceanos.
“Modelar a evolução a longo prazo do pH dos oceanos é um problema notoriamente difícil, pois envolve quase todos os componentes do sistema terrestre: a atmosfera, o oceano, a crosta e o manto”, diz Guo
Cientistas dizem que LUCA, organismo ancestral comum universal , era similar aos procariontes. (Imagem: fusebulb/Shutterstock)
No entanto, os novos conhecimentos podem ser a resposta para a questão de onde a vida começou. As principais hipóteses são em fontes termais no fundo do mar ou em lagoas insulares.
Os autores reconhecem que, segundo outras pesquisas, os oceanos da Terra poderiam ser alcalinos desde o início do planeta. Contudo, as poucas rochas daquela época que sobreviveram não são do tipo que preserva o registro do pH em que se formaram.
Descobertas além da história natural
A equipe disse que as suas descobertas vão além das transformações primitivas da Terra. Elas podem revelar também o papel que esses processos desempenham no clima moderno.
Entender a origem da vida terrestre também abre margem para melhorar a busca por vida extraterrestre. Por isso, a pesquisa foi apoiada, em parte, por uma bolsa de astrobiologia da NASA. Se Guo e Korenaga estiverem certos, a procura por organismos além da Terra poderá ser mais precisa ao olhar com maior atenção o pH dos ambientes em outros planetas.