Talvez você nem imagine, mas a cera de ouvido pode estar intimamente ligada à sua saúde. Segundo cientistas, descobrir mais sobre este material pegajoso pode ser muito importante no diagnóstico de algumas doenças.
Oficialmente chamada de cerúmen, ela é uma mistura de secreções de dois tipos de glândulas que revestem o canal auditivo externo: as glândulas ceruminosas e sebáceas. Isso então é misturado com cabelos, pedaços de pele morta e outros detritos corporais até atingir uma consistência cerosa.
Cera de ouvido guarda informações valiosas
Os pesquisadores explicam que, uma vez formada no canal auditivo, a cera agarra-se às células da pele enquanto viaja de dentro para fora da orelha.
Esta viagem acontece a uma velocidade de cerca de 20 milímetros por dia.
A função mais provável desta substância é manter o canal auditivo limpo e lubrificado.
Ela também serve para evitar que bactérias, fungos e outros hóspedes indesejados, como insetos, entrem em nossas cabeças.
No entanto, a cera de ouvido pode ser ainda mais importante, uma vez que guarda informações sobre a saúde da pessoa.
Secreções cerosas podem refletir as reações químicas internas do nosso corpo
Nos últimos anos, vários estudos descobriram que a consistência da cera de ouvido pode revelar informações valiosas sobre a saúde das pessoas. Por exemplo, mulheres que apresentam uma consistência mais molhada podem ter uma chance até quatro vezes maior de câncer de mama.
A substância também pode revelar a existência de um distúrbio genético raro que impede o corpo de quebrar certos aminoácidos encontrados nos alimentos, o que leva a um acúmulo de compostos voláteis no sangue e na urina.
E a molécula responsável por esta condição pode ser encontrada na cera de ouvido.
Cera de ouvido pode ajudar até mesmo na identificação de câncer (Imagem: Jezperklauzen/iStock)
Até mesmo a Covid-19 pode ser detectada dessa forma. Além dela, doenças como diabetes tipo 1 ou 2, assim como problemas cardíacos podem ser identificados nas orelhas dos pacientes. Tudo isso porque a capacidade das secreções cerosas pode refletir as reações químicas internas do nosso corpo.
Em outras palavras, a cera de ouvido age como um indicador de diversas doenças. É claro que exames adicionais são necessários para confirmar os diagnósticos, mas os nossos ouvidos devem passar a receber muito mais a atenção dos médicos no futuro.
Quem nunca passou por isso? Basta ouvir uma música, ou até um trechinho, e, de repente, ela começa a tocar repetidamente na sua mente. Você tenta focar em outras coisas, mas o refrão insiste em voltar.
Esse fenômeno, conhecido como earworm (literalmente, “verme de ouvido”), é mais comum do que parece. Cerca de 90% das pessoas relatam que já vivenciaram essa experiência em algum momento da vida.
Mas por que certas músicas grudam tanto? A resposta envolve uma combinação de fatores neurológicos, psicológicos, culturais e até sociais.
O que são Earworms?
Earworms é um termo emprestado do alemão Ohrwurm, usado desde meados do século XX. Em inglês, sua primeira aparição conhecida foi no romance Flyaway, de Desmond Bagley (1978).
Homem ouvindo atentamente ao seu redor | Imagem: pathdoc/Shutterstock
Entretanto, o conceito foi popularizado pelo professor James Kellaris, da Universidade de Cincinnati, para descrever o fenômeno em que trechos de músicas se repetem involuntariamente na mente.
Na ciência, isso é chamado de Involuntary Musical Imagery (IMI): a repetição espontânea de fragmentos melódicos de músicas marcantes.
Apesar do nome curioso, earworms não são uma condição médica como a palinacusia, que envolve alucinações auditivas reais. Eles são apenas impressões mentais de músicas que parecem tocar na cabeça.
Por que isso acontece?
Pesquisadores identificaram múltiplos fatores que explicam por que certas músicas “grudam” mais do que outras.
Mulher ouvindo sons do ambiente com atenção | Crédito: Janeberry (shutterstock)
Um deles é o funcionamento do nosso próprio cérebro. Estudos mostram que, quando ouvimos uma música familiar, o córtex auditivo continua a reproduzir mentalmente o som mesmo depois de ele ter parado. Esse “eco mental” é mais intenso quando a melodia é simples, repetitiva e contém variações inesperadas.
A neurocientista Jessica Grahn, da Universidade do Oeste de Ontario, explica que a música ativa regiões cerebrais associadas não só ao som, mas também ao movimento, à emoção e à recompensa. Isso cria um circuito muito potente, e até persistente, que favorece a repetição involuntária.
O que torna uma música pegajosa?
Nem toda música vira earworm. Há características específicas que tornam certos trechos mais suscetíveis a esse efeito.
Canções com refrões repetitivos, batidas marcantes e letras simples costumam ter maior potencial de “grudar”. É o caso de hits como “Despacito” ou até jingles publicitários criados propositalmente para serem memoráveis.
Estudos indicam que mais de 75% dos earworms envolvem músicas com letra, e cerca de 90% desses casos se concentram nos refrões.
Isso acontece porque essas partes costumam reunir ritmo, melodia e palavras em uma combinação ideal para a memorização inconsciente.
Fatores pessoais e contextuais
Além das características musicais, fatores individuais também influenciam na frequência e intensidade dos earworms.
Adolescente ouvindo música no celular | Crédito: KiyechkaSo (shutterstock)
Pessoas com maior sensibilidade auditiva ou com formação musical têm mais chances de experimentar o fenômeno com frequência.
O mesmo vale para quem apresenta quadros de Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), Ansiedade Generalizada (TAG) ou Transtorno do Espectro Autista (TEA), condições que favorecem padrões repetitivos de pensamento.
O contexto também importa. Momentos de tédio, estresse ou divagação mental, como quando estamos no trânsito, tomando banho ou fazendo tarefas repetitivas, são especialmente propícios para que os earworms apareçam. Emoções intensas ou lembranças ligadas a determinada música também podem funcionar como gatilho.
A pesquisadora Vicky Williamson, da Universidade de Londres, identificou que até mesmo estímulos visuais ou verbais relacionados à canção, como uma palavra escrita ou uma situação específica, podem despertar um earworm. Isso ajuda a explicar por que músicas que remetem a fases importantes da vida (mesmo que inconscientemente) tendem a retornar com frequência.
Embora dois terços das pessoas relatem que os earworms são neutros ou até agradáveis, um terço os considera irritantes ou perturbadores. Para essas pessoas, a experiência pode ser comparável a uma “coceira mental” difícil de aliviar.
Homem incomodado com barulhos | Crédito: DimaBerlin (shutterstock)
O psiquiatra Srini Pillay, da Universidade de Harvard, aponta que o estresse pode aumentar a incidência de earworms. Quando você está sobrecarregado, o cérebro tende a se fixar em um estímulo repetitivo, como forma de auto-regulação, explica Pillay em um artigo publicado no blog da Universidade.
Como lidar com músicas que não saem da cabeça?
Se o fenômeno se torna incômodo, algumas estratégias podem ajudar. Uma delas é cantar a música inteira, do início ao fim. Muitas vezes, o que se repete mentalmente é apenas um fragmento mal resolvido da canção. Completar o ciclo ajuda o cérebro a “encerrar” o processo.
Mulher incomodada com barulhos externos | Crédito: Krakenimages.com (shutterstock)
Outra técnica eficaz é substituir a música por outra: o famoso “virar o disco”. Trocar um earworm por outro pode parecer estranho, mas oferece variedade mental e, em muitos casos, alivia o desconforto.
Por outro lado, tentar suprimir o pensamento pode ter o efeito contrário. Esse comportamento ativa o chamado “processo irônico”, pelo qual quanto mais se tenta não pensar em algo, mais ele ocupa nossa mente. Em vez disso, o ideal é buscar distrações envolventes ou mudar o foco para tarefas que exijam concentração ativa.
Um novo estudo coloca em xeque a ideia de que a origem da linhagem neandertal estava associada a uma perda significativa de diversidade genética. A dúvida surgiu após análises em estruturas do ouvido interno de duas coleções de fósseis feitas por uma equipe internacional de acadêmicos da Universidade Binghamton e da Universidade Estadual de Nova York.
O estudo publicado na Nature Communications mediu a diversidade morfológica nos canais semicirculares em áreas responsáveis pelo nosso senso de equilíbrio. Foram feitas observações em fósseis encontrados em Atapuerca, na Espanha, Krapina, na Croácia, além de sítios da Ásia Ocidental.
“O desenvolvimento das estruturas do ouvido interno é conhecido por estar sob controle genético muito rígido, uma vez que elas são completamente formadas no momento do nascimento. Isso torna a variação nos canais semicirculares um proxy ideal para estudar relações evolutivas entre espécies no passado”, explicou o professor de antropologia Rolf Quam.
Pesquisadores analisaram área responsável pelo senso de equilíbrio em humanos (Imagem: Reprodução)
Encontrados em Atapuerca, os chamados “pré-neandertais” datam de cerca de 400.000 e são considerados “ancestrais neandertais claros”;
Já os neandertais surgiram há cerca de 250.000 anos dessas populações que habitaram o continente eurasiano entre 500.000 e 250.000 anos atrás;
A coleção mais completa de neandertais primitivos é datada de aproximadamente 130.000 anos atrás e foi identificada no sítio croata de Krapina;
Os pesquisadores compararam as amostras dos neandertais “clássicos” de diferentes idades e origens geográficas para calcular a diversidade morfológica com os demais;
O resultado revelou uma perda drástica de diversidade genética entre os primeiros neandertais e os neandertais “clássicos” posteriores;
A perda genética é conhecida como “gargalo” e pode ser associada a uma redução no número de indivíduos de uma população;
No caso dos neandertais, os dados de DNA antigo indicam que o declínio na variação genética ocorreu há aproximadamente 110.000 anos.
Gráfico mostra queda da variação genética entre neandertais (Imagem: Reprodução)
“Ficamos surpresos ao descobrir que os pré-neandertais de Sima de los Huesos exibiram um nível de diversidade morfológica semelhante ao dos primeiros neandertais de Krapina”, disse Alessandro Urciuoli, autor principal do estudo. “Isso desafia a suposição comum de um evento de gargalo na origem da linhagem neandertal.”