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Novo método pode produzir “nanomaterial milagroso” sem ácido tóxico

Pesquisadores da Universidade Técnica de Viena (TU Wien) testaram um novo método sem compostos tóxicos para produzir EC-MXene, um nanomaterial com diversas funções. Os antigos processos envolviam substâncias perigosas e etapas complexas, sendo pouco seguros para os cientistas.

Os nanomateriais bidimensionais (2DM) MXene são conhecidos por suas vastas possibilidades de aplicação. Eles podem servir para tecnologias de armazenamento de energia até lubrificantes de alto desempenho.

“MXenes são uma classe de materiais 2D com alto potencial de industrialização devido às suas excelentes propriedades e variedade composicional. No entanto, garantir alta eficiência de corrosão no processo de síntese sem o uso de produtos químicos tóxicos, perigosos ou não sustentáveis é um desafio”, escreveu a equipe no novo estudo.

O novo método é mais seguro para os cientistas. (Imagem: TU Wien)

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Nanomaterial pode ser produzido sem ácido

A comunidade cientifica começou a explorar os materiais em duas dimensões após a descoberta do grafeno em 2004. Sete anos depois, em 2011, pesquisadores sintetizaram pela primeira vez os MXenes: pequenas camadas de carbonetos ou nitretos metálicos com excelentes propriedades elétricas, mecânicas e ópticas.

O mais estudado dessa classe é o carboneto de titânico (TiC). Ele é obtido ao se remover camadas de um material conhecido como fase MAX. Cientistas faziam isso tradicionalmente com o ácido fluorídrico (HF), porém, ele é extremamente tóxico para seres humanos e o meio ambiente.

A equipe de pesquisa viu no uso de processos eletroquímicos a possibilidade de alcançar a mesma qualidade na produção de MXene que o método a base de HF.

No estudo, o grupo introduziu o método de voltametria de pulso reverso. Essa técnica consiste em aplicar pulsos controlados de uma corrente elétrica para quebrar seletivamente as ligações de alumínio na fase MAX sem danificar o resto da estrutura do material.

A descoberta do grafeno (estrutura molecular da ilustração) mudou a química para sempre e inaugurou os nanomateriais. (Imagem: Saumitra R Mehrotra & Gerhard Klimeck / Wikimedia Commons)

Os métodos anteriores diminuíam a atividade da superfície rapidamente, comprometendo a qualidade do processo. A nova abordagem gera pequenas bolhas de hidrogênio que limpam e reativam a superfície do material, mantendo a reação por mais tempo e melhorando o rendimento.

Ao final do processo, os EC-MXenes apresentaram baixo teor de flúor. Segundo os pesquisadores, essa é uma propriedade de superfície específica e sinal de uma boa estabilidade.

“A síntese eletroquímica pulsada é fundamental para a reativação da superfície na interface dos eletrodos, o que resulta em melhor esfoliação e qualidade dos EC-MXenes. Isso abre caminho para o aumento de escala e a industrialização sustentável dos MXenes”, concluíram os pesquisadores.

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Cientistas provaram água pesada para descobrir o gosto. O que descobriram?

Na década de 1930, o cientista Klaus Hansen bebeu a substância conhecida como “água pesada” para testar se ela faz mal a humanos. Depois dele, Harold Urey e Gioacchino Failla seguiram a ideia para ver se seu sabor era bom e, mais recentemente, pesquisadores da Universidade Hebraica descobriram que ela pode ser doce se for altamente pura.

Para entender o que é a água pesada, é preciso olhar detalhadamente para a composição dos átomos. Elementos se definem pelo número de prótons que compõem os seus núcleos atômicos. O hidrogênio tem um, o hélio tem dois e por aí vai.

O número de nêutrons pode variar, com diferentes elementos precisando de quantidades distintas para manter sua estabilidade. Há integrantes da tabela periódica com diversas versões, nomeadas de isótopos, sendo variadas pelas diferentes quantidades de nêutrons.

A descoberta da D2O

A proposição de que a água pesada poderia existir começa em 1920. Na época, o químico e físico Ernest Rutherford criou a hipótese de que um isótopo mais pesado de hidrogênio era possível e seria composto por um nêutron a mais.

No entanto, somente uma década depois o físico Harold C. Urey conseguiu provar a existência do composto idealizado por Rutherford. Por esse feito, ele ganhou o Prêmio Nobel de Química.

Com ajuda do doutor E.W Washburn, Urey desenvolveu o método eletrolítico para a separação de isótopos de hidrogênio. Por meio da técnica, a dupla conseguiu estudar as propriedades do deutério, uma variação do hidrogênio.

Modelo em 3D da D₂O. (Imagem: StudioMolekuul / Shutterstock)

A água comum é composta por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio, tendo a fórmula H₂O. Porém, os cientistas provaram que é possível ligar o deutério com o oxigênio para fazer a molécula da água pesada, a D₂O.

Essa variante é encontrada na natureza misturada com a água comum, sendo cerca de 0,015% dela. As pesquisas de Urey e outros cientistas descobriram que suas propriedades são uteis e podem ser aplicadas em reatores nucleares.

Pesquisadores que experimentaram a água pesada

O farmacologista Klaus Hansen deu um passo além e foi o primeiro a provar uma grande dose em alta concentração de D₂O. Com o suporte de um grupo de cientistas, preparados para realizar os socorros de emergência se necessário, ele tomou vários goles.

Hansen presumiu que concentrações altas de água pesada podem ser letais para humanos e animais. Mas, ele não sabia em qual quantidade. O pesquisador sobreviveu ao experimento e descreveu o sabor do composto.

“Imediatamente tive uma sensação de queimação seca na boca e então não consegui mais sentir nada. Primeiro minha mente ficou excitada e impressionada com um sentimento de crise. Eu tive um choque. Então eu disse a mim mesmo, ‘Fique quieto — você está simplesmente passando por uma experiência menor.’ Então tudo acabou. Eu podia ver, ouvir, respirar, sentir e andar como antes”, comentou o pesquisador na revista Time.

Uma amostra histórica de "água pesada", embalada em uma cápsula selada
Uma amostra histórica de “água pesada”, embalada em uma cápsula selada. (Imagem: Alchemist-hp / Wikimedia Commons)

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O ato de Hansen inspirou Urey a fazer um teste de sabor. Um dos cientistas de sua equipe manteve a amostra por um tempo curto na boca e depois cuspiu. Outro realizou o mesmo procedimento, mas engoliu a água.

“Nenhum de nós conseguiu detectar a menor diferença entre o gosto da água destilada comum e o gosto da água pesada pura”, Urey escreve sobre o experimento.

Novas pesquisas trazem um sabor doce

Análises mais aprofundadas da água pesada descobriram que ela tem um sabor doce em comparação com a água comum. Uma pesquisa da Universidade Hebraica de Israel com a Academia Tcheca de Ciências demonstrou que os humanos são capazes de distinguir D₂O de H₂O pelo gosto.

Em contraste, os ratos que participaram do experimento não preferem a D₂O, indicando provavelmente não a perceberam como doce.

O estudo utilizou modelagem de homologia e simulações da dinâmica molecular para resolver o debate sobre o sabor da água pesada. Eles mostraram que o gosto adocicado é mediado pelo receptor gustativo humano TAS1R2/TAS1R3. Com isso, abriram caminho para estudos futuros mais detalhados sobre o mecanismo de ação da D₂O.

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