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Ilhas Marshall: estudo revela lado B de testes nucleares dos EUA

Um novo estudo revelou que os efeitos dos testes de armas nucleares nas Ilhas Marshall foram piores do que aqueles reconhecidos publicamente pelo governo dos Estados Unidos. Os experimentos foram encerrados há quase sete décadas.

Segundo a pesquisa mais recente, todos os atóis, incluindo os atóis do sul, receberam precipitação radioativa, mas apenas três dos 24 atóis, todos do norte e habitados no momento da precipitação, passaram por exames médicos para detectar câncer.

O levantamento “O Legado dos Testes Nucleares dos EUA nas Ilhas Marshall” foi encomendado pelo Greenpeace Alemanha e realizado pelo Instituto de Pesquisa Energética e Ambiental (IEER) com base em documentos oficiais de 1945 até os dias atuais.

“Entre os muitos aspectos preocupantes do legado nuclear das Ilhas Marshall está o fato de os Estados Unidos terem concluído, em 1948, após apenas três testes, que as Ilhas Marshall não eram ‘um local adequado para experimentos atômicos’ por não atenderem aos critérios meteorológicos exigidos. Mesmo assim, os testes continuaram”, disse Arjun Makhijani, autor do relatório e presidente do IEER. 

Novo estudo mostra que todo o país foi afetado pela precipitação radioativa (Imagem: Edpats/Shutterstock)

As principais conclusões do estudo

  • As medições de radioatividade e estimativas de dose do governo dos EUA mostram que todo o país foi afetado pela precipitação radioativa;
  • Imediatamente após o teste de Castle Bravo – o maior teste de armas nucleares já realizado pelo governo dos EUA – sua capital, Majuro, foi oficialmente considerada um atol de “exposição muito baixa”. No entanto, os níveis de radiação eram dezenas de vezes, e até 300 vezes maiores, em relação aos níveis de radiação gama de fundo;
  • Testes nucleares nas Ilhas Marshall geraram exposições à radiação em todo o mundo, com “pontos críticos” detectados a oeste das Ilhas Marshall, como Colombo, Sri Lanka, e a leste, até a Cidade do México;
  • A força explosiva total detonada nas Ilhas Marshall foi de 108 megatons – o equivalente a lançar uma bomba de Hiroshima todos os dias durante vinte anos. Em termos proporcionais, estima-se que a precipitação nuclear resulte em cerca de 100.000 mortes por câncer em excesso em todo o mundo;
  • A remediação de áreas contaminadas é complexa e custosa. As Ilhas Marshall carecem de capacidade técnica em diversas áreas cruciais para a saúde, a proteção ambiental e a possibilidade de reassentamento;
  • O histórico de danos e a desconfiança em relação aos Estados Unidos são agravados pela dependência marshallesa dos Estados Unidos para financiamento e conhecimento científico e médico. Por exemplo, o Runit Dome, que abriga décadas de resíduos nucleares, foi considerado “seguro” pelo Departamento de Energia dos EUA, apesar das rachaduras e do impacto das mudanças climáticas e da elevação do nível do mar.
Greenpeace realizou missão de seis semanas pelos atóis para apoiar luta das Ilhas Marshall por compensação (Imagem: D_Zheleva/Shutterstock)

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Política desumana

Em março e abril, o Greenpeace e seu navio principal, o Rainbow Warrior, completaram uma missão de seis semanas com especialistas em radiação e cientistas independentes para conduzir pesquisas nos atóis para apoiar o governo das Ilhas Marshall em sua luta contínua por justiça nuclear e compensação.

“Os testes nas Ilhas Marshall são exemplares de uma política imperial desumana que sacrificou deliberadamente vidas humanas e ignorou as culturas do Pacífico. Como resultado desse legado nuclear, os marshalleses foram despojados de suas terras, tradições e cultura, com o povo de Bikini e Rongelap deslocado para sempre”, disse Shiva Gounden, Chefe do Pacífico do Greenpeace Austrália-Pacífico. 

“Os EUA ainda não reconhecem a extensão total do profundo impacto. No entanto, esses testes de bombas atômicas não são um capítulo encerrado e continuam tendo impacto hoje. Reparações que correspondam à extensão dos danos causados ​​pelos testes já deveriam ter sido feitas há muito tempo.”

Em julho, o Greenpeace e o Rainbow Warrior comemorarão mais um aniversário de 40 anos: o bombardeio do Rainbow Warrior I pelo serviço secreto francês, que tentava interromper a campanha do Greenpeace contra os testes nucleares na Polinésia Francesa (Maohi Nui). 

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Qual é o local mais atingido por armas nucleares do planeta?

No nordeste do Cazaquistão, próximo à cidade de Semey, repousa um lago com um legado perigoso: o Lago Chagan, também conhecido pelo apelido de “Lago Atômico”.

Formado pela força colossal de uma explosão nuclear soviética em 1965, este corpo d’água serve como um lembrete sombrio do poder destrutivo e das consequências permanentes dos testes nucleares.

Principal local de testes nucleares da União Soviética

A cratera que hoje abriga o Lago Chagan, com seus imponentes 100 metros de profundidade e 400 metros de largura, é o resultado direto de um experimento nuclear conduzido pela União Soviética.

A vasta área serviu por quatro décadas como o principal campo de testes nucleares da URSS, palco para um total de 456 detonações, sendo 116 delas realizadas na superfície e 340 no subsolo.

O Lago Chagan, também conhecido como “Lago Atômico”. (Imagem: Druschba 4CC BY-SA 4.0, via Wikimedia Commons)

O marco inicial desta era nuclear para os soviéticos ocorreu em 29 de agosto de 1949, com a detonação da sua primeira bomba atômica, a RDS-1, no próprio Local de Testes Nucleares de Semipalatinsk, apelidado de “O Polígono”.

Este evento demonstrou o avanço tecnológico da União Soviética, rompendo o monopólio nuclear americano, e também acendeu a temida corrida armamentista que moldou a Guerra Fria. Ao longo dos anos seguintes, uma variedade de armamentos foi testada em Semipalatinsk, desde dispositivos de fissão até as devastadoras bombas termonucleares.

O Lago Chagan permanece como um lembrete perigoso do poder e do legado das explosões nucleares. Imagem: The Official CTBTO Photostream via Wikimedia Commons (CC BY 2.0).

Lugar “Ideal” para experimentos nucleares

A escolha de Semipalatinsk como local de testes não foi aleatória. Seu isolamento geográfico e a relativa facilidade de isolamento de áreas povoadas o tornavam um local “ideal” para os experimentos nucleares soviéticos.

No entanto, essa avaliação ignorou a presença de diversas aldeias nos arredores e a proximidade da cidade de Semey, que abrigava mais de um milhão de habitantes. Essa população foi exposta diretamente à precipitação radioativa liberada pelas inúmeras explosões na superfície, sem qualquer aviso por parte das autoridades soviéticas.

Placa de aviso de radiação
(Imagem: Milan Sommer/Shutterstock)

Consequências na saúde

As consequências para a saúde da população local foram devastadoras. O contato com partículas radioativas no ar e a ingestão de alimentos contaminados levaram a um aumento significativo no risco de diversas doenças crônicas.

Estudos realizados desde o final da década de 1980 documentam um impacto considerável na incidência de câncer, doenças da tireoide, distúrbios imunológicos e malformações congênitas entre os residentes da região.

Já em 1958, médicos do Dispensário Número 4 em Semipalatinsk e cientistas do Instituto de Biofísica da Academia de Ciências Médicas da URSS observaram que 22% dos indivíduos examinados apresentavam sintomas relacionados à doença crônica por radiação.

O legado sombrio da radiação não se limita aos efeitos físicos. Pesquisas recentes também destacam o trauma psicológico sofrido pelos moradores locais, marcado pelo estresse e pela ansiedade persistente em relação aos potenciais efeitos da radiação em sua saúde e no futuro de suas famílias.

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O Lago Atômico hoje

  • A última explosão nuclear soviética em Semipalatinsk ocorreu em 1989.
  • Com o colapso da União Soviética e a posterior independência do Cazaquistão, o local de testes foi finalmente fechado.
  • O Lago Atômico, antigamente palco de destruição, agora serve como um alerta silencioso sobre as cicatrizes deixadas pela era nuclear.
  • As pesquisas sobre as populações que viveram e ainda vivem na região continuam sendo fundamentais para compreender os efeitos a longo prazo da radiação, não somente nos indivíduos expostos, mas também nas futuras gerações.

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