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O que é o Transtorno do Devaneio Excessivo e como ele impacta a saúde?

Você já se pegou perdido em pensamentos, criando mundos imaginários ou diálogos inteiros em sua mente enquanto o mundo real parecia passar despercebido? Embora sonhar acordado seja algo comum e, muitas vezes, saudável, há situações em que isso ultrapassa os limites do controle e passa a comprometer a vida cotidiana.

Esse fenômeno é conhecido como transtorno do devaneio excessivo, uma condição ainda pouco reconhecida oficialmente pela medicina, mas que tem chamado a atenção de especialistas e pacientes ao redor do mundo.

Entenda o que é o transtorno do devaneio excessivo, como ele se manifesta, seus possíveis gatilhos, impactos na saúde mental e física, e os caminhos possíveis para diagnóstico e tratamento. Também discutiremos como a ciência está olhando para esse fenômeno e quais são os principais relatos de quem vive com essa condição. Entender o transtorno é o primeiro passo para desmistificá-lo e promover mais saúde e qualidade de vida.

O que é o Transtorno do Devaneio Excessivo?

O transtorno do devaneio excessivo, também chamado de Maladaptive Daydreaming (MD) em inglês, é caracterizado por fantasias intensas, prolongadas e recorrentes que substituem significativamente a interação com o mundo real.

Essas fantasias geralmente são muito vívidas, envolvem personagens fictícios, cenários elaborados e até trilhas sonoras internas, funcionando como uma espécie de fuga da realidade.

Imagem: Nazarova Mariia / Shutterstock

Diferentemente do devaneio comum, que costuma ser breve e inofensivo, o transtorno é marcado pela perda de controle sobre a atividade imaginativa. Pessoas com esse quadro podem passar horas imersas em suas fantasias, negligenciando responsabilidades diárias, relações pessoais e o autocuidado. Esse comportamento pode interferir profundamente na vida acadêmica, profissional e social do indivíduo.

Apesar de não estar listado oficialmente no DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), muitos profissionais da saúde mental reconhecem o transtorno a partir de relatos consistentes de pacientes e de pesquisas emergentes sobre o tema.

Sintomas e comportamentos comuns

Entre os principais sintomas do transtorno do devaneio excessivo, destacam-se:

  • Fantasias vívidas e complexas, frequentemente com enredos contínuos, como se fossem séries ou filmes internos;
  • Movimentos repetitivos durante o devaneio, como balançar o corpo, andar em círculos ou fazer expressões faciais;
  • Dificuldade de concentração em tarefas do cotidiano devido à invasão frequente dos devaneios;
  • Desejo de se isolar para continuar o devaneio sem interrupções;
  • Sensação de euforia ou alívio emocional ao mergulhar nas fantasias;
  • Culpa ou frustração por perder tempo e deixar de realizar atividades importantes;
  • Capacidade preservada de distinguir fantasia e realidade, diferentemente de condições psicóticas.

É importante destacar que, mesmo sabendo que os cenários imaginados não são reais, a pessoa pode preferir a fantasia à realidade, especialmente em contextos de estresse ou sofrimento emocional.

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(Imagem: Pavlova Yuliia/Shutterstock)

Causas possíveis

Embora as causas exatas do transtorno do devaneio excessivo ainda não sejam totalmente compreendidas, estudos e relatos indicam alguns fatores que podem contribuir para o desenvolvimento da condição:

  • Traumas na infância ou vivências de abuso emocional, físico ou negligência;
  • Isolamento social e dificuldades de integração com outras pessoas;
  • Condições psiquiátricas associadas, como depressão, ansiedade, TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo) e TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade);
  • Falta de estímulo cognitivo ou ambientes monótonos, que incentivam a fuga para o mundo interno;
  • Alto nível de criatividade, muitas vezes presente em pessoas com habilidades artísticas, narrativas ou sensibilidade emocional aguçada.

Não há um único gatilho, mas sim uma combinação de fatores psicológicos, emocionais e ambientais que podem predispor alguém ao transtorno.

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O impacto na saúde mental e física

O transtorno do devaneio excessivo pode ter consequências sérias quando não identificado e tratado. A principal delas é a perda de funcionalidade, já que a pessoa deixa de realizar atividades essenciais para seu bem-estar e desenvolvimento. Isso pode incluir desde a higiene pessoal até a execução de tarefas no trabalho ou nos estudos.

A longo prazo, os impactos incluem:

  • Quadros de ansiedade e depressão, agravados pela percepção de improdutividade e isolamento;
  • Insônia e distúrbios do sono, especialmente quando o devaneio se intensifica durante a noite;
  • Problemas de saúde física, como sedentarismo, má alimentação e dores musculares decorrentes de posições mantidas por longos períodos;
  • Dificuldades de relacionamento, já que os laços sociais reais são substituídos por vínculos imaginários com personagens das fantasias;
  • Baixa autoestima e sentimento de inadequação social.

Esses efeitos fazem com que o transtorno vá além de um simples hábito inofensivo, passando a ser um obstáculo real para uma vida saudável e plena.

Imagem: Grupo Braços Abertos/Reprodução

Diagnóstico: um desafio clínico

Um dos maiores desafios em relação ao transtorno do devaneio excessivo é o diagnóstico, justamente por não estar oficialmente reconhecido nos manuais de saúde mental. Muitos pacientes vivem anos com os sintomas sem sequer saber que há um nome para o que sentem.

Hoje, alguns profissionais utilizam a Escala de Devaneio Excessivo de Somer (nomeada em homenagem ao psicólogo Eli Somer, que cunhou o termo em 2002) para avaliar a intensidade e frequência dos devaneios. Essa escala inclui perguntas sobre a duração dos episódios, o impacto na vida cotidiana e a dificuldade em controlar os devaneios.

No entanto, o diagnóstico ainda depende, em grande parte, de uma anamnese cuidadosa e da escuta ativa por parte do profissional, além da disposição do paciente em compartilhar seu mundo interno.

Tratamento e estratégias de enfrentamento

Embora ainda não exista um protocolo oficial de tratamento, algumas abordagens têm se mostrado eficazes para lidar com o transtorno do devaneio excessivo:

  • Psicoterapia cognitivo-comportamental (TCC): ajuda o paciente a identificar gatilhos, modificar padrões de pensamento e desenvolver estratégias para retomar o controle da mente.
  • Técnicas de mindfulness e meditação: promovem o foco no presente e reduzem a tendência a escapar para fantasias.
  • Organização da rotina: criar horários fixos e metas realistas pode ajudar a reduzir o tempo gasto em devaneios.
  • Grupos de apoio online: comunidades de pessoas que compartilham experiências semelhantes têm se tornado uma ferramenta poderosa de acolhimento e troca de estratégias.
  • Tratamento de comorbidades: em muitos casos, tratar a depressão, a ansiedade ou o TDAH subjacente pode atenuar os sintomas do transtorno.

O transtorno do devaneio excessivo ainda é uma condição envolta em dúvidas e preconceitos, mas seu impacto na saúde é real e merece atenção. Ao compreender que sonhar acordado pode deixar de ser apenas um hábito inofensivo e passar a interferir na vida cotidiana, damos o primeiro passo para promover o autoconhecimento e a busca por ajuda profissional.

Se você se identificou com os sintomas descritos, saiba que não está sozinho. Cada vez mais pessoas ao redor do mundo estão reconhecendo o transtorno e encontrando caminhos de cuidado e acolhimento. O importante é lembrar: fugir da realidade pode parecer seguro, mas viver plenamente é o verdadeiro desafio e também a maior conquista.

As informações presentes neste texto têm caráter informativo e não substituem a orientação de profissionais de saúde. Consulte um médico ou especialista para avaliar o seu caso.

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Você se acha feio por causa das redes? Pode ser dismorfia facial; entenda

Quem nunca se comparou com outras pessoas ao passar horas em uma rede social? Falar do impacto da internet na saúde mental pode parecer batido, mas não perdeu sua importância. É que, cada vez mais, jovens adultos apresentam sinais de condição que afeta como vemos e nos sentimos em relação ao nosso corpo e aparência.

O transtorno dismórfico corporal (TDC) não é uma preocupação “normal” com a imagem. 80% das pessoas diagnosticadas sofrem de ideação suicida ao longo da vida e 24% a 28% tentaram tirar a própria vida, segundo pesquisa conduzida nos Estados Unidos.

“Quando consideramos se alguém está sofrendo de TDC, geralmente perguntamos: a pessoa está pensando sobre essas falhas percebidas por pelo menos uma hora por dia? E as preocupações causam sofrimento emocional significativo ou prejuízo no funcionamento diário?”, explicou a psiquiatra Katharine Phillips ao The Cut.

Tratamento sugerido inclui terapia cognitivo-comportamental (TCC) (Imagem: :Wirestock/iStock)

Em conversa com a reportagem, a estudante Nika Motiie, 20 anos, contou que não passa um dia sem se fotografar, acumulando mais de 50 mil selfies em seu rolo de câmera. “Estou tentando analisar como os outros me veem para saber como eles acham que eu pareço. É um ciclo exaustivo, mas parece a única maneira de entender ou controlar como pareço para os outros”, afirmou.

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Cirurgias podem piorar a situação

  • Recorrer a intervenções estéticas pode ser um “caminho fácil”, mas as chances de o paciente ficar insatisfeito com o resultado é grande;
  • Um estudo com 50 pessoas diagnosticadas com TDC descobriu que 81% delas não aprovaram o novo visual;
  • “Esses pacientes tendem a ter baixa autoestima, altas expectativas e ser perfeccionistas“, afirmou Michelle Hure, dermatologista cosmética e médica em San Jose, Califórnia (EUA), à reportagem. “Muitas vezes, eles pulam de provedor em provedor, procurando seu próximo tratamento”;
  • Por isso, o tratamento sugerido é a terapia cognitivo-comportamental (TCC), que busca ensinar as pessoas a superar os pensamentos obsessivos e comportamentos repetitivos. Medicamentos também podem auxiliar nesse processo, com recomendações individualizadas.

“Quanto mais as pessoas estão cronicamente online, mais elas se concentram em características inatingíveis ou difíceis de atingir — como pele de ‘vidro’, simetria facial perfeita ou ‘lifting’ que só pode ser alcançado por meio de cirurgia. É difícil dizer o que é realisticamente possível quando filtros e Photoshop são a norma”, concluiu a Dra. Hure.

80% das pessoas diagnosticadas com TDC sofrem de ideação suicida (Imagem: Guillermo Spelucin Runciman/iStock)

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