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Em setembro de 2023, cientistas identificaram misteriosas ondas sísmicas com intervalos de 90 segundos. O mais impressionante é que o fenômeno foi detectado em várias partes do mundo. No mês seguinte, a Terra voltou a tremer, embora isso tenha acontecido por menos tempo e com menor intensidade.
Mais de um ano e meio depois, pesquisadores finalmente decifraram o que aconteceu. De acordo com um novo estudo publicado na revista Nature Communications, os abalos foram causados por um enorme tsunami.
Deslizamento de parte de uma geleira causou ondas de 200 metros de altura (Imagem: FOTOKITA/Shutterstock)
Ninguém ficou sabendo do tsunami na época
As ondas de 200 metros de altura atingiram o Fiorde Dickson, na Groenlândia.
O megatsunami se formou quando um pedaço enorme de rocha e gelo se desprendeu de uma altura de 1,2 quilômetros e caiu na água.
Dados sísmicos sugerem que o fenômeno percorreu a maior parte da enseada, mas desapareceu quando atingiu o mar aberto.
Parte destas enormes ondas, entretanto, acabou ficando presa dentro do local, causando uma movimentação agitada das águas por dias consecutivos.
Apesar da força do evento, absolutamente ninguém ficou sabendo disso na época.
As primeiras suspeitas de que algo diferente havia ocorrido na região surgiram após relatos de grandes ondas em uma base naval dinamarquesa (desocupada naquele período) que fica na Ilha Ella, perto de onde ocorreu o tsunami.
Imagem de satélite do fiorde após deslizamento que causou o megatsunami na Groenlândia (Imagem: Copernicus/Sentinel-2)
Evento foi causado pelas mudanças climáticas
O tremor causado pelo tsunami chamou a atenção por ser diferente do que geralmente se detecta quando ocorrem terremotos. As ondas sísmicas costumam durar minutos ou, no máximo, horas. Mas, neste caso, foram nove dias. Durante este período, as águas do Fiorde Dickson oscilaram de um lado para o outro a cada 90 segundos.
Os pesquisadores descartaram outros possíveis fenômenos oceanográficos e se concentraram no tamanho e no impacto do seiche (onda de ressonância que ocorre em corpos de água confinados). Os resultados sugerem que o fenômeno gerou uma força de aproximadamente 500 Giga Newtons na parede do fiorde, que enviou ondulações por todo o globo.
O que tornou este evento excepcionalmente poderoso e globalmente detectável foi a geometria do fiorde. Uma curva acentuada perto da saída do fiorde efetivamente prendeu o seiche, permitindo que ele reverberasse por dias. Os impactos repetidos da água contra as paredes do fiorde agiram como um martelo atingindo a crosta terrestre, criando ondas sísmicas de longo período que se propagaram ao redor do globo. Essa combinação incomum de escala, duração e geometria tornou o sinal sísmico desses eventos regionais forte o suficiente para ser detectado em todo o mundo.
Estudo publicado na revista Nature Communications
Evento causou ondas sísmicas com intervalos de 90 segundos (Imagem: MuhsinRina/Shutterstock)
Ainda segundo os cientistas, o deslizamento de terra que desencadeou o enorme tsunami foi causado pela deterioração de uma geleira. As camadas de gelo da Groenlândia estão derretendo a um ritmo acelerado devido às mudanças climáticas. Embora eventos como o registrado em setembro de 2023 sejam raros, o aumento das temperaturas do planeta devem tornar os tsunamis causados por deslizamentos mais frequentes.
Em 2023, um sinal sísmico anormal foi captado globalmente e persistiu por nove dias, oscilando a cada 90 segundos. Um mês depois, um evento igual apareceu e durou uma semana. Esse fenômeno intrigou cientistas ao redor do mundo, até que um grupo de pesquisadores trouxe uma solução inédita para o mistério.
Dois estudos de 2024 sugeriram que esses eventos teriam sido produzidos por uma dupla de tsunamis causados por deslizamentos de terra que criaram um seiche — uma “onda estacionaria” — que ressoou no Fiorde de Dickson, na Groenlândia. Os choques abalaram a crosta terrestre com intensidade o suficiente para serem detectados em outros continentes. Porém, nenhuma observação direta foi feita, apenas modelos numéricos e simulações.
Visão aérea do fiorde de Dickson, na Groenlândia. (Imagem: NASA)
Em um novo estudo, pesquisadores de Oxford realizaram as primeiras observações com dados do satélite da missão Surface Water Ocean Topography (SWOT), lançado em 2022 pela NASA. O grupo utilizou informações de altimetria – medição feita pela gravação do tempo necessário para um pulso de radar sair de um satélite, ir para a Terra e retornar ao equipamento.
Com a técnica, a equipe mediu com precisão a superfície da água e pôde mapear a elevação das ondas no fiorde em diversos momentos após os tsunamis. Os mapas demonstraram declives transversais claros, com dois metros de diferença, que ocorreram em direções opostas, mostrando que a água se movia para frente e para trás através do canal.
“A análise com SWOT é um divisor de águas para o estudo de processos oceânicos em regiões como fiordes, onde os satélites anteriores tinham dificuldade de enxergar”, disse Thomas Monahan, autor do estudo e estudante na Universidade e Oxford, em um comunicado.
Visualização dos efeitos globais dos tsunamis no fiorde de Dickson de 2023 produzida pelo pesquisador Stephen Hicks
Para provar sua teoria, a equipe conectou essas observações com pequenas movimentações da crosta terrestre a milhares de quilômetros do local. Com isso, eles puderam reconstruir as características da onda, mesmo em períodos não captados pelo satélite.
A equipe também calculou as condições climáticas e de maré para comprovar que esses fatores não influenciaram o resultado das observações. Assim, o grupo pôde entender a origem do fenômeno que chacoalhou o mundo por nove dias em 2023.
“Este estudo é um exemplo de como a próxima geração de dados de satélite pode solucionar fenômenos que permaneceram um mistério no passado. Agora, conseguiremos obter novas percepções sobre eventos oceânicos extremos, como tsunamis, tempestades e ondas gigantes”, concluiu o professor Thomas Adcock, do departamento de Engenharia de Oxford.
Uma equipe de pesquisadores da Universidade de Queensland (Austrália) identificou um bloco de calcário de dimensões gigantescas arrancado do alto de um penhasco de 30 metros e lançado a mais de 200 metros para o interior da ilha de Tongatapu, em Tonga, há cerca de 6,9 mil anos.
Esta imagem mostra o quão alto é o pedregulho em relação a uma pessoa (Imagem: Martin Kohler [CC BY 4.0])
Batizada pelos moradores locais como Maka Lahi (“pedra grande”, em língua tonganesa), a rocha pesa aproximadamente 1,18 mil toneladas e mede cerca de 14 x 12 x 6,7 metros — o equivalente ao volume de uma casa de dois andares, relata o IFLScience.
O achado ocorreu quando o doutorando Martin Köhler e seus colegas consultavam agricultores à beira da costa em busca de indícios de pedregulhos movidos por tsunamis. “Era fim de tarde e um fazendeiro mencionou essa pedra”, relatou Köhler. “Fiquei chocado ao encontrá-la tão longe do mar, coberta pela vegetação. Não há outra explicação que não a força de uma onda descomunal.”
Pedregulho de quase duas mil toneladas foi lançado por enorme tsunami
Por meio de simulações numéricas, os cientistas estimaram que um tsunami com picos de até 50 metros de altura e duração mínima de 90 segundos teria sido necessário para deslocar o bloco de cima do penhasco até sua localização atual;
Esses valores excedem, em muito, a maior onda de tsunami já registrada e contrariam as projeções para eventos ocorridos durante o Holoceno, período iniciado há cerca de 11,7 mil anos;
Para precisar a época do evento, a equipe analisou o depósito de calcário formado nas faces laterais da rocha após sua imobilização;
Como esse tipo de revestimento não sobrevive ao spray marinho e se desgasta durante o transporte por água, sua presença indica que Maka Lahi repousa no sítio atual há 6,89 mil anos, segundo datação por isótopos.
Gráfico mostra a quantidade de água necessária para mover o rochedo (Imagem: Kohler et al., Geologia Marinha, 2025 [CC BY 4.0])
Embora ainda não haja consenso sobre o gatilho do tsunami, Köhler e seus colegas suspeitam que o colapso de uma encosta vulcânica submarina a sul de Tongatapu tenha gerado a onda gigantesca. Futuras sondagens do fundo oceânico devem ajudar a confirmar essa hipótese.
No mesmo arquipélago, outra rocha colossal — a Maui Rock — foi transportada por uma onda menor há cerca de 500 anos, partindo de um penhasco mais baixo e percorrendo distância reduzida.
No Japão, o bloco Obiishi, embora maior, exigiu tsunami de porte inferior por se situar quase ao nível do mar. Na tradição tonganesa, essas formações são conhecidas como “pedras arremessadas por Maui”, em referência ao semideus que, segundo a lenda, atirava rochas gigantes ao perseguir galinhas.
O estudo, publicado em acesso aberto na revista Marine Geology, ganha relevância após o tsunami de 2022 em Tonga, que deixou seis mortos e destruiu resorts. Para a coautora Dra. Annie Lau, “compreender a magnitude e a frequência desses eventos é vital para planejar defesas costeiras e sistemas de alerta, especialmente em ilhas vulneráveis a desastres naturais”.
Esse penhasco em Tonga mostra que não estamos a salvo de tsunamis mesmo a tal altura (Imagem: Annie Lau [CC BY 4.0])
O Chile registrou um tremor no extremo sul do país, às 8h58 do horário local. O terremoto aconteceu no mar, a 10 km de profundidade. Após a identificação, o país emitiu um alerta de tsunami e pediu que a região costeira de Magallanes, onde o evento aconteceu, fosse esvaziada.
Segundo o Centro Sismológico Nacional da Universidade do Chile, o tremor foi de magnitude 7.5, a 218 km ao sul da cidade de Puerto Williams, na região de Magallanes. Já de acordo com o Serviço Geológico dos EUA (USGS), foi de magnitude 7.4.
A agência de notícias Reuters completou que o terremoto foi na passagem de Drake, entre o Cabo Horn e a Antártica. O evento também foi sentido no sul da Argentina.
Site do governo dos EUA reproduziu alerta de tsunami (Imagem: Reprodução/NOAA)
Após terremoto, Chile pediu evacuação da região
Após a identificação do tremor, o Serviço Nacional de Prevenção e Resposta a Desastres alertou para que a região no Chile e a praia no território da Antártica fossem esvaziadas por uma possível ameaça de tsunami. Por enquanto, trata-se de um estado de preocupação associado a tsunamis de pequena magnitude.
Segundo a CNN, o presidente chileno, Gabriel Boric, fez um apelo pelas redes sociais: “Estamos pedindo a evacuação da costa em toda a região de Magallanes”. Ele ainda afirmou que recursos do governos estão a disposição.
Llamamos a evacuar borde costero en toda región de Magallanes. En estos momentos nuestro deber es prevenir y hacer caso a autoridades. COGRID regional y nacional están comenzando. Todos los recursos del Estado están a disposición. https://t.co/2qAA3TGEcN
O Serviço Hidrográfico e Oceanográfico do Chile estimou que, nas próximas horas, ondas devem chegar às cidades do extremo sul do país e às praias da Antártida, onde bases de pesquisa estão alocadas;
À Reuters, o Instituto Antártico do Chile (INAHC) informou que as bases também estão sendo desocupadas.
A Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (NOAA) destacou que as ondas devem varia entre 0,3 e 1 metros na Antártida, e de 1 a 3 metros no Chile.
Imagine um paredão de água atravessando o Atlântico para engolir a costa brasileira. Foi esse o pesadelo encenado pela Netflix na série Inferno em La Palma. O enredo é baseado em um estudo de 2001, que sugeria que o colapso do vulcão Cumbre Vieja, na Espanha, poderia gerar um megatsunami capaz de atingir o Brasil.
A hipótese ganhou visibilidade com a ficção, mas não se sustenta diante das evidências científicas mais recentes. Ao longo das últimas duas décadas, pesquisadores coletaram novos dados sobre a geologia da região e aprimoraram os modelos de simulação de tsunamis.
Em entrevista ao Olhar Digital, a geóloga Alice Westin Teixeira, do Instituto de Geociências da USP, desmonta o mito do tsunami na costa brasileira com dados atualizados e explica por que estamos de fora do roteiro de tragédias geológicas globais.
O tsunami da Netflix não passa de ficção — e a ciência prova isso
Modelos mais avançados e dados coletados nas últimas décadas mostram que o Cumbre Vieja dificilmente entraria em colapso da forma explosiva imaginada em 2001. Em vez de uma massa gigantesca de terra deslizando de uma só vez para o mar, os deslizamentos na região ocorrem de forma gradual, com fragmentos pequenos e em velocidades bem menores.
Erupção do vulcão Cumbre Vieja, em La Palma, Espanha (Imagem: NeyroM/Shutterstock)
Essas descobertas colocam o chamado “megatsunami do Atlântico” no campo da ficção. Como destaca um artigo do site The Conversation, a hipótese original foi superestimada. Nenhum dos mais de 17 eventos vulcânicos registrados nas Ilhas Canárias desde o século XV gerou ondas capazes de cruzar o oceano.
O texto foi escrito pelas especialistas Hannah Little (Universidade de Liverpool), Janine Krippner (Universidade de Waikato) e Katy Chamberlain (Universidade de Liverpool).
Além disso, o Brasil está longe das zonas sísmicas mais perigosas do planeta. “Hoje sabemos que esse tipo de tsunami é extremamente improvável”, reforça Alice Westin. Segundo a geóloga, sem o choque entre placas tectônicas, megaterremotos e ondas gigantes simplesmente não fazem parte da nossa realidade geológica.
Por que o Brasil é um dos lugares mais seguros do mundo contra desastres naturais
Ao contrário de países como Japão, Indonésia ou Chile, o Brasil está localizado sobre uma placa tectônica estável, distante dos limites onde ocorrem os grandes choques geológicos. Isso significa que aqui não há o acúmulo de tensão necessário para provocar terremotos devastadores — e, por consequência, tsunamis de grande escala.
Sem falhas tectônicas ativas, país permanece imune a grandes terremotos (Imagem: Allexxandar/Shutterstock)
Embora pequenos tremores sejam registrados ocasionalmente no Brasil, eles são fracos e raramente provocam danos. Quando há algum transtorno, o problema costuma estar na vulnerabilidade das construções. Como explica Alice Westin, os abalos sentidos por aqui são leves demais para causar estragos em estruturas bem planejadas.
A mesma lógica vale para ondas gigantes. Sem falhas geológicas ativas sob o mar próximo à costa, não há energia suficiente acumulada para empurrar colunas de água rumo ao continente. Em tempos de desinformação viral, a ciência segue sendo a âncora mais firme contra o pânico — e, felizmente, ela está do lado do Brasil nessa história.
Você pode acompanhar a entrevista na íntegra!
O tsunami que atingiu o Brasil
No dia 1º de novembro de 1755, um tsunami atingiu o litoral do Nordeste brasileiro, destruindo algumas habitações. Duas pessoas desapareceram. O maremoto teve origem em um terremoto ocorrido em Lisboa.
O tema foi abordado pela Rede Sismográfica Brasileira em um vídeo com o professor aposentado do Instituto de Geociências e ex-chefe do Observatório Sismológico da UnB, José Alberto Vivas Veloso, autor do livro Tremeu a Europa e o Brasil também.
O trabalho serviu como ponto de partida para uma pesquisa da UERJ, em parceria com cientistas portugueses, que buscou — e encontrou — evidências físicas da chegada desse tsunami. Até então, o fenômeno era conhecido apenas por meio de registros artísticos e documentos históricos, como livros, cartas e pinturas da época.
As ondas não foram muito altas, variando entre 1 e 2 metros, mas o volume de água foi significativo, alcançando até 4 quilômetros de distância da linha da costa.
As informações indicam que o terremoto de 1755 foi o maior já registrado na Europa, atingindo 8,7 graus na escala Richter. Lisboa foi devastada, assim como grande parte do sul da Espanha e do Marrocos.
Poucos registros oficiais foram preservados, mas estima-se que entre 20 mil e 30 mil pessoas tenham morrido — embora algumas fontes apontem para até 100 mil mortes. A tragédia marcou o início da era moderna nos estudos sismológicos.
Sobre o Brasil, a geóloga Alice Westin Teixeira explica: “não há possibilidade de tragédia no Brasil como essas que vemos em outros países. Vamos supor que aconteça um terremoto em Lisboa daquela magnitude. É muito improvável que isso aconteça e que chegue aqui no Brasil (um tsunami). E, mesmo que chegue, é improvável que cause um tragédia. A tragédia é praticamente impossível”.
O vulcãoCumbre Vieja, localizado na ilha de La Palma, na Espanha, entrou em erupção pela última vez em 2021. A explosão liberou grandes quantidades de lava, além de nuvens de fumaça.
Apesar de ficar a noroeste da África, próximo da costa do Marrocos e do Saara Ocidental, este vulcão poderia ameaçar também o Brasil. Isso porque, dependendo da força da explosão, ela teria o potencial de provocar um tsunami na costa brasileira, mas essa hipótese é muito, muito distante. E, cientificamente, um tanto rejeitada.
Por exemplo: um estudo do pesquisador estadunidense George Parara-Carayannis, presidente da Tsunami Society International, apontou que um colapso dessa magnitude é “extremamente raro e nunca ocorreu na história registrada“.
Parara-Carayannis ainda disse que as pesquisas mais recentes que preveem tsunamis originados por uma erupção do Cumbre Vieja têm base em suposições equivocadas.
“[Uma] atenção e publicidade inapropriadas da mídia a tais resultados probabilísticos têm criado ansiedade desnecessária de que megatsunamis poderiam ser iminentes e devastar populações costeiras em localidades distantes da origem – nos oceanos Atlântico e Pacífico”, continuou.
Vulcão Cumbre Vieja entrou em erupção pela última vez em 2021 (Imagem: Oscar Garcia-Dils/Shutterstock)
Possibilidade é considerada bastante remota
As projeções indicam que, em um cenário longínquo e catastrófico, ondas gigantes poderiam atingir toda a costa brasileira, de norte a sul.
Outros países banhados pelo Oceano Atlântico também seriam afetados.
Mas, calma, não é preciso entrar em pânico.
Pesquisadores explicam que seria necessário um colapso sem precedentes na história do nosso planeta para que o pior acontecesse.
Ou seja, esta é uma possibilidade considerada bastante remota.
Como mostrou reportagem da VEJA, uma série de pesquisas mostra que a chance de um megatsunami é quase impossível e não se sustenta em evidências científicas. A matéria cita a avaliação do Serviço Geológico dos Estados Unidos de que é “altamente improvável” um cenário do tipo. Provavelmente, levaria centenas de milhares de anos para um deslizamento de terra tão grande.
Apesar de o vulcão ter passado por erupções, nenhuma delas desencadeou um deslizamento de terra massivo — muito menos dessa magnitude. Na pior das hipóteses, uma erupção comum causaria ondas de 2 metros, semelhantes às de uma tempestade.
Falta informação sobre como se proteger de tsunamis, alerta pesquisador brasileiro
Apesar de um tsunami no Brasil ser algo muito distante, alguns especialistas destacam que a população brasileira deveria ser conscientizada. É o que defende o geólogo Mauro Gustavo Reese Filho, da Universidade Federal do Paraná.
O pesquisador brasileiro aponta a falta de cuidados preventivos na costa do nosso país. E afirma que deveriam existir sistemas de alarme que possibilitassem a evacuação de áreas atingidas por ondas gigantes ou outros desastres relacionados.
Segundo ele, a simples possibilidade de ocorrência deste evento, mesmo que remota, deveria mobilizar as autoridades. Ele conclui destacando que a falta de informação é a principal causadora deste problema, uma vez que muitas pessoas sequer imaginam que um fenômeno dessa magnitude possa acontecer.
“Estudos mais recentes dizem que as chances de ocorrência são remotas e longínquas, no entanto, o estabelecimento de sistemas de alarme que possibilitam a evacuação de áreas é justificável quando se trata de vidas humanas”, afirmou, em estudo.
A possibilidade de ocorrência deste evento por si só deveria ser razão para a prevenção de todos os tipos de danos na costa brasileira, porém até o momento nada foi feito. A falta de informação é a principal causadora deste problema, pois inclusive no meio geológico muitas pessoas não sabem sobre tal fato.
Mauro Gustavo Reese Filho, geólogo da Universidade Federal do Paraná
O Brasil já passou por um tsunami?
Apesar de os pesquisadores apontarem que a chance de esse fenômeno chegar ao Brasil é remota, isso já aconteceu por aqui. Uma pesquisa de 2020, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), liderada pelo professor Francisco Dourado, do Centro de Pesquisas e Estudos sobre Desastres (Cepedes), diz que, em 1755, o país enfrentou um tsunami.
Só que esse não foi um fenômeno “comum”: ele teria sido causado por um forte terremoto que assolou Lisboa (Portugal) no mesmo ano. Vale lembrar que os países estão separados por um Oceano Atlântico.
Como visto na publicação acima, a Rede Sismográfica Brasileira tratou do tema no X, na qual há um vídeo do professor aposentado do Instituto de Geociências e ex-chefe do Observatório Sismológico da UnB, José Alberto Vivas Veloso, falando sobre o assunto.
As informações do estudo dão conta de que o terremoto de 1755 foi o maior que a Europa já viu, atingindo 8,7 graus na escala Richter. Lisboa foi destruída, bem como grande parte do sul de Espanha e Marrocos. Foi por conta dele que um tsunami atingiu Irlanda e Caribe.
Poucos são os registros, mas estima-se que entre 20 mil e 30 mil pessoas faleceram; contudo, outros dados dão conta de que as mortes chegaram a 100 mil. Como diz a BBC, O ocorrido deu início à era moderna nos estudos sismológicos.
O trabalho de Dourado e sua equipe baseou-se em levantamento histórico do professor Alberto Veloso, que escreveu o livro “Tremeu a Europa e o Brasil também“. Foram estudados 270 quilômetros e 22 praias localizadas entre Rio Grande do Norte e o sul de Pernambuco.
Veloso diz: “No início da tarde de 1º de novembro de 1755, um tsunami atingiu o litoral do Nordeste. Ele penetrou terra adentro, destruiu habitações modestas e desapareceu com duas pessoas. Isso é desconhecido da maioria dos brasileiros.”
Além disso, foram deixadas quatro cartas da época que relatam o fenômeno, escritas pelo arcebispo da Bahia, pelos governadores de Pernambuco e da Parayba e por um militar. Elas estão sob a guarda do Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa.
Ocorrência de tsunami no Brasil dependeria de erupção de grande magnitude (Imagem: Willyam Bradberry/Shutterstock)
Uma carta de 10 de maio de 1756 retrata o acontecimento, registrado em 1 de novembro de 1755. “As águas transcenderam os seus limites e fizeram fugir os habitantes das praias.”
Outra que também aparece no estudo e foi escrita em 4 de março de 1756, diz que, “em Lucena e Tamandaré, a enchente do terremoto entrou pela terra adentro coisa de uma légua (4 a 5 km) terra adentro e levou algumas casas de palhoça e falta um rapaz e uma mulher”.
Os pesquisadores documentaram evidências de que o tsunami provocado pelo terremoto de Lisboa chegou às costas brasileiras. Análises revelaram microorganismos e elementos químicos em praias brasileiras que só poderiam ter sido transportados por grandes ondas. O estudo começou com simulações matemáticas do possível trajeto do tsunami antes de prosseguir com investigações de campo.
Na praia de Pontinhas (PB), pesquisadores identificaram camada de areia grossa contendo vestígios do fenômeno. Segundo a pesquisa da UERJ, as ondas que atingiram a praia de Lucena (PB) alcançaram entre 1,7 e 1,8 metro de altura, enquanto em Tamandaré (PE), as ondas chegaram a 1,8-1,9 metro, com volume substancial de água.
Estas ondas penetraram significativamente no continente: até quatro quilômetros em áreas próximas a rios e na região da Ilha de Itamaracá (PE), 800 metros em Tamandaré e 300 metros em Lucena.
Em publicação na Revista da USP (2018), o professor Veloso examina a classificação de ondas gigantes registradas no Brasil como possíveis “tsunamis”. Ele observa que tsunamis são raros, mas podem ocorrer em qualquer oceano ou mar, variando em tamanho e impacto.
O artigo questiona: “Já ocorreu, ou poderá acontecer, um tsunami no Brasil?” A resposta não é simples. A explicação tradicional para a ausência de tsunamis no Brasil é a raridade de terremotos submarinos de grande magnitude na região. Contudo, Veloso adverte que a falta de registros históricos não exclui a possibilidade futura, mesmo que remota, de um tsunami significativo.
“O desconhecimento de abalos significativos no passado e o não registro de sismos fortes na atualidade não asseguram situação similar para o futuro.” Veloso analisa cinco casos de “manifestações marinhas incomuns” no litoral brasileiro:
São Vicente (SP), em 1541;
Salvador, em 1666;
Cananeia (SP), em 1789;
Baía de Todos os Santos (BA), em 1919;
Arquipélago de São Pedro e São Paulo (PE), em 2006.
A maioria destes eventos não foi precedida por atividade sísmica ou vulcânica, descaracterizando-os como tsunamis genuínos. Os incidentes em Cananeia e na Baía de Todos os Santos tiveram origem em terremotos de baixa magnitude.
O estudo identificou um tremor que gerou ondas semelhantes a um pequeno tsunami. Embora modesto, este caso é significativo por representar a validação de um “minitsunami” brasileiro.
O vulcão Cumbre Vieja, localizado na ilha de La Palma, na Espanha, entrou em erupção nas últimas horas. Cientistas já haviam detectado um aumento na atividade sísmica na região e a explosão liberou grandes quantidades de lava, além de nuvens de fumaça.
Apesar de ficar a noroeste da África, próximo da costa do Marrocos e do Saara Ocidental, este vulcão pode ameaçar também o Brasil. Isso porque, dependendo da força da explosão, ela teria o potencial de provocar um tsunami na costa brasileira.
Possibilidade é considerada bastante remota
As projeções indicam que, neste caso, ondas gigantes poderiam atingir toda a costa brasileira, de norte a sul.
Outros países banhados pelo Oceano Atlântico também seriam afetados.
Mas calma, não é preciso entrar em pânico.
Pesquisadores explicam que seria necessário um colapso sem precedentes na história do nosso planeta para que o pior acontecesse.
Ou seja, esta é uma possibilidade considerada bastante remota.
Falta informação sobre como se proteger de tsunamis, alerta pesquisador brasileira
Apesar de um tsunami no Brasil ser algo muito distante, alguns especialistas destacam que a população brasileira deveria ser conscientizada. É o que defende o geólogo Mauro Gustavo Reese Filho, da Universidade Federal do Paraná.
O pesquisador brasileiro aponta a falta de cuidados preventivos na costa do nosso país. E afirma que deveriam existir sistemas de alarme que possibilitassem a evacuação de áreas atingidas por ondas gigantes ou outros desastres relacionados.
Ocorrência de tsunami no Brasil dependeria de erupção de grande magnitude (Imagem: Willyam Bradberry/Shutterstock)
Segundo ele, a simples possibilidade de ocorrência deste evento, mesmo que remota, deveria mobilizar as autoridades. Ele conclui destacando que a falta de informação é a principal causadora deste problema, uma vez que muitas pessoas sequer imaginam que um fenômeno dessa magnitude possa acontecer.