Conhecida por abrigar a maior biodiversidade do planeta e funcionar como um grande filtro de carbono, a maior floresta tropical do mundo está no centro de uma nova corrida global: a Bacia Amazônica agora também atrai atenção por seus minerais estratégicos, essenciais à chamada energia limpa – como lítio, cobre, níquel e cobalto.
Esses minerais são fundamentais para fabricar baterias de carros elétricos, turbinas eólicas, painéis solares e até armas de alta tecnologia. No entanto, a extração desses recursos ameaça repetir velhos erros. A busca por “minerais verdes” pode causar novos danos ao meio ambiente e às comunidades locais.
Em poucas palavras:
- Rica em biodiversidade e carbono, a Amazônia agora atrai mineradoras atrás de metais estratégicos para energia limpa;
- Lítio, cobre e cobalto são disputados para fabricar baterias, turbinas e painéis, mas extraí-los ameaça florestas;
- Países amazônicos, como Brasil e Bolívia, viram alvos de potências globais que disputam influência sobre seus minérios;
- A mineração ilegal cresce, polui rios e fortalece grupos armados, enquanto a fiscalização continua frágil e desigual;
- Para evitar novo ciclo de destruição, é preciso combinar justiça ambiental, participação local e regulação eficaz e global.
Historicamente, a Amazônia já foi moldada por ciclos de exploração. Borracha, madeira, carne e soja são exemplos de atividades impulsionadas por interesses externos. Agora, o foco é o subsolo.
O Brasil é destaque nesse cenário, com o Complexo de Carajás, no Pará, que abriga uma das maiores minas de ferro do mundo, além de cobre, manganês e ouro. Mineradores internacionais também exploram bauxita no município paraense de Paragominas, reforçando o papel da Amazônia nas cadeias globais.
Outros países da região amazônica também têm seus tesouros. A Bolívia tem reservas de estanho, ouro e terras raras. A Colômbia abriga o projeto Minastyc, que extrai tântalo e nióbio. Equador, Guiana e Suriname também se abrem para novos projetos.
Floresta Amazônica vira alvo de disputa por áreas de exploração
A China, líder no refino de terras raras, amplia investimentos na América do Sul. Está presente no triângulo do lítio (Argentina, Chile e Bolívia) e mira também o Brasil e o Peru. EUA, Europa, Japão e Canadá reagem, buscando fornecedores fora da influência chinesa.
Com isso, a floresta vira alvo de disputas por áreas de exploração. Em muitos casos, os locais são remotos, com pouca infraestrutura e fiscalização. Dados da Rede Amazônica de Informação Socioambiental e da Agência Nacional de Mineração mostram que várias concessões minerárias se sobrepõem a terras indígenas e unidades de conservação.
De acordo com um artigo publicado pelo cientista político canadense Robert Muggah no site The Conversation, a falta de controle favorece práticas ilegais.
Cofundador do Instituto Igarapé, uma organização independente dedicada à integração das agendas de segurança pública, climática e digital e espaço cívico, e da Bioverse, uma startup de inteligência florestal, Muggah afirma que dissidentes das FARC e milícias armadas controlam parte do comércio de coltan e ouro na Colômbia. No Brasil, o garimpo ilegal cresce na área do Tapajós, apesar das ações governamentais.

Além do desmatamento, a contaminação de rios por mercúrio afeta a vida aquática e intoxica comunidades ribeirinhas e indígenas. A crise vai além do ambiental: a mineração ilegal enfraquece o poder do Estado, corrompe autoridades e aumenta a violência. Na Venezuela, o Arco Mineiro do Orinoco virou palco de conflitos entre o Exército e grupos armados, com trabalho forçado e destruição em larga escala.
Países amazônicos buscam melhorar a regulação
Segundo Muggah, alguns países tentam melhorar a regulação. A Colômbia criou um registro digital para rastrear a origem dos minerais. O Brasil conta com o Código Florestal e órgãos como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Bolívia e Equador oferecem plataformas com dados ambientais, mas a fiscalização ainda é falha, principalmente em áreas de fronteira.
A comunidade internacional também tenta ajudar. Programas como a Iniciativa para a Transparência nas Indústrias Extrativas (EITI) propõem maior controle e participação social. A Convenção da Organização das Nações Unidas Contra o Crime Organizado Transnacional também é citada como ferramenta de cooperação. No entanto, sem apoio dos governos e da sociedade, esses mecanismos pouco avançam.
O grande desafio é encontrar equilíbrio. Como fornecer os minerais que o mundo precisa para abandonar os combustíveis fósseis sem causar novos danos à Amazônia? Para Muggah, não basta reduzir as emissões se isso significar destruir florestas, contaminar rios e desrespeitar povos tradicionais.
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Energia limpa: mineração irregular pode provocar novo ciclo de destruição
Soluções incluem melhorar a fiscalização, consultar as comunidades afetadas e adotar tecnologias menos poluentes. Formalizar a mineração artesanal e promover a economia local também são caminhos possíveis. No entanto, nenhuma dessas medidas é suficiente sem uma mudança na lógica de exploração.
A Amazônia não pode ser vista apenas como um depósito de recursos. É um ecossistema vital para o planeta, que regula o clima, abriga culturas diversas e oferece caminhos alternativos de desenvolvimento. Se a transição para a energia limpa repetir os padrões de exploração do passado, será apenas mais um ciclo de destruição.
Neste momento decisivo, a região enfrenta uma encruzilhada. Ou se torna mais uma fronteira sacrificada às demandas globais, ou se transforma em exemplo de uma transição justa e sustentável. A escolha feita agora pode definir não apenas o futuro da Amazônia, mas também o rumo da economia verde no mundo inteiro.
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