O Google está sob fogo cruzado. Após perder dois importantes processos antitruste nos EUA, a gigante da tecnologia vê seu domínio nas buscas online ameaçado, suas ações estagnadas e promotores federais exigindo a venda de ativos como o Chrome, o Android e sua rede de anúncios.
A menos que consiga reverter essas decisões nos tribunais — um caminho longo e incerto — a empresa poderá ser forçada a se reestruturar radicalmente.
Mas, em vez de resistir, o Google poderia optar por uma saída estratégica: antecipar-se aos tribunais e promover sua própria cisão, como analisa do New York Times. Seria um movimento ousado, no estilo do Vale do Silício — dividir-se antes de ser dividido.
“Partes” do Google se valorizariam caso sejam separadas
- “Os investidores não querem cortes pontuais. Querem uma cisão radical”, afirma Gil Luria, analista da D.A. Davidson.
- Em uma nota recente, Luria propôs que o Google se desmembre em várias empresas independentes, o que, segundo ele, poderia quase dobrar seu valor de mercado — hoje na casa dos US$ 2 trilhões.
- O cálculo de Luria sugere que partes como YouTube, Waymo e Google Cloud estão subvalorizadas dentro do conglomerado.
Além da valorização acionária, uma separação poderia reacender a cultura inovadora que fez do Google um ícone da tecnologia. “Engenheiros brilhantes, livres da burocracia de um gigante, podem criar algo tão revolucionário quanto o buscador original”, diz Luria.
O momento não poderia ser mais sensível: o Departamento de Justiça dos EUA quer que o Google se desfaça de negócios-chave para reduzir seu poder de mercado. A defesa, no entanto, promete apelar, e os embates judiciais podem se arrastar por anos.
Especialistas apoiam cisão
A proposta de Luria não está sozinha. Gene Munster, da Deepwater Asset Management, diz que a lógica de uma cisão faz sentido neste caso: “Pode ser uma das raras ocasiões em que dividir uma empresa realmente cria valor para os acionistas.”
Há precedentes. A AT&T, sob pressão semelhante na década de 1980, se dividiu voluntariamente. A Microsoft também enfrentou um processo antitruste em 2000, resistiu à cisão, mas ficou estagnada por uma década até se reinventar sob nova liderança.
Apesar dos argumentos favoráveis, o Google se mostra relutante. A empresa defende que forçar a divisão de plataformas como o Android e o Chrome — desenvolvidas ao longo de anos e oferecidas gratuitamente — afetaria negativamente usuários, empresas e a segurança digital.
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Um porta-voz reforçou que o Google segue inovando e destacou que o YouTube foi a plataforma de streaming mais vista dos últimos dois anos, segundo a Nielsen.
Para alguns, no entanto, tamanho não é mais vantagem. “A cisão só prejudicaria quem se beneficia hoje do poder de mercado do Google”, afirma o advogado Barry Barnett. Startups, concorrentes e consumidores poderiam se beneficiar de um ambiente mais competitivo.
Há ainda um obstáculo importante: a estrutura acionária do Google. Mudanças significativas só aconteceriam com o aval dos fundadores Larry Page e Sergey Brin — e eles, até hoje, mantêm forte controle e apego ao legado que criaram.
Mas, como disse Adam Kovacevich, ex-executivo do Google: “Larry e Sergey gostam de movimentos ousados. Nunca diga nunca.”

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